A heresia da “substituição”

Desde os tempos apostólicos os crentes lutam com heresias introduzidas pelo inimigo para desvirtuarem os fatos e as doutrinas bíblicas e afastá-los da sua fé. O crente deve estar sempre atento, e conhecer bem e usar a espada do Espírito que é a Palavra de Deus neste combate contra o mal.

Algumas heresias são fáceis de combater, porque não precisam de exame muito profundo para se perceber a sua falsidade à luz das Escrituras, e saltam aos olhos mesmo dos mais indoutos. Outras são muito mais sutis, geralmente tradicionais, e algumas surgiram muito cedo na história, e por isto não são combatidas com o vigor necessário. Contudo não deixam de ser nocivas e às vezes trazem efeitos desastrosos e inesperados. Vamos aqui tratar de uma das mais espalhadas através da chamada “cristandade”, sendo também uma das mais antigas e das mais tradicionais: é a heresia chamada “teologia do cumprimento” ou “teologia da substituição”.

Basicamente ela proclama que “a Igreja substituiu Israel e todas as muitas promessas feitas a Israel na Bíblia são cumpridas na igreja cristã, não em Israel”. Por conseguinte, as profecias nas Escrituras relativas à bênção e à restauração de Israel à terra prometida têm que ser espiritualizadas ou alegorizadas nas promessas de bênçãos de Deus para a Igreja. Além de claramente contradizer os ensinos claros nas Escrituras, como pode essa heresia explicar a existência contínua do povo israelita ao longo dos séculos e especialmente o seu renascimento no moderno Estado de Israel? Se Israel foi rejeitado por Deus, e não há futuro para a nação israelita, como explicar a sobrevivência sobrenatural do Seu povo ao longo de mais de dois milênios depois da fundação da Igreja de Cristo, apesar de várias tentativas de destruí-lo, até mesmo as promovidas por instituições que se denominavam cristãs? Como explicar o ressurgimento de Israel como uma nação no século XX após sua ausência por 1.900 anos?

A origem dessa heresia vem de Roma. Mesmo nos tempos apostólicos, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, assim como foram todos os escritores dos livros da Bíblia, combateu vigorosamente essa “raiz de amargura” em sua epístola às igrejas de lá (Romanos 11:25-32). No entanto, não foi eliminada e a encontramos em escritos de teólogos primordiais. A instituição católica romana, formada anos mais tarde, viu a nova aliança em Cristo como sendo substituta da Aliança Abraâmica. Ela até mesmo implica que as suas estruturas eclesiásticas são o cumprimento e a substituição das mosaicas, e Jerusalém é uma alegoria de si própria.

Recentemente, em 1965, o Concílio Vaticano II afirmou, "A igreja (de Roma) é o novo povo de Deus” e o catolicismo moderno afirma ser ele autoritativo para doutrina sobre o Novo Testamento. As instituições denominacionais protestantes modernas tomam uma variedade de posições, dependendo do grau de afastamento das heresias tradicionais dos católicos, sejam romanas ou ortodoxas.

Todavia, o Novo Testamento repetidamente prioriza Israel, como na informação do Senhor Jesus que Sua missão central era para os judeus “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 15:24), e na fórmula de Paulo: "primeiro para o judeu, depois para os gentios” (p.ex. Romanos 2:9-10). Ainda depois do início da Igreja em Jerusalém a inclusão dos gentios como iguais aos judeus nesta “seita” florescente do judaísmo também causou problemas, especialmente quando se tratava do cumprimento da lei mosaica pelos gentios. Isto foi discutido em uma assembleia daquela igreja, e também foi tema de Paulo em sua epístola aos Gálatas.

A visão de que Israel e a Igreja de Cristo são diferentes é claramente ensinada no Novo Testamento. Biblicamente falando, a igreja é completamente diferente e distinta de Israel, e os dois nunca devem ser confundidos ou usados de forma intercambiável. Aprendemos nas Escrituras que a Igreja é uma criação inteiramente nova que surgiu no dia de Pentecostes e irá continuar até que for levada ao Céu no arrebatamento (Efésios 1:9-11; 1 Tessalonicenses 4:13-17). A Igreja de Cristo não tem relação com as maldições e bênçãos para a nação de Israel. Os convênios, promessas e advertências são válidos apenas para aquela nação. A nação de Israel foi temporariamente removida do programa de Deus para o mundo durante estes últimos 2.000 anos de dispersão.

Após o arrebatamento (João 14:2-3, 1 Tessalonicenses 4:13-18), estando a Igreja ausente da Terra até o milênio, Deus vai restaurar a nação de Israel como o foco principal do Seu plano. O primeiro evento da restauração é a tribulação (capítulos 6 a 19 do Apocalipse). O mundo será julgado por rejeitar a Cristo, enquanto Israel é preparado através das provações da grande tribulação para a segunda vinda do Messias. Em seguida, quando Cristo voltar à Terra, no final da tribulação, o remanescente da nação de Israel terá reconhecido o Senhor Jesus como o seu Messias, terá se convertido e estará pronto a recebê-Lo. Serão salvos dos seus inimigos, e o Senhor estabelecerá Seu reino na Terra, com Jerusalém como sua capital. Com Cristo reinando como rei, Israel vai ser líder das nações, e representantes de todas as nações virão a Jerusalém para honrar e adorar o Rei — Jesus Cristo. A Igreja irá retornar com Cristo e os crentes reinarão com Ele por mil anos, literalmente (Apocalipse 20:1-5).

Embora a heresia da “substituição” tenha surgido já no primeiro século depois de Cristo, a atitude hostil aos judeus que ela incentivou se desenvolveu através dos séculos e culminou com o “holocausto” nazista em meados do século XX.  Não obstante, uma versão virulenta da heresia influenciou as gerações subsequentes de instituições que se denominam cristãs, e passou a contaminar o mundo durante os anos que se seguiram à segunda grande guerra, particularmente na Europa.

Essa versão não só promove o ódio ao povo judeu, mas nega a legitimidade da ocupação israelita da sua própria terra, acompanhando o interesse dos países árabes. A “espiritualização” das muitas promessas territoriais encontradas na Bíblia, feitas por Deus a Abraão e aos seus descendentes como uma nação, resultam em negar seus direitos de herança milenares dados por Deus. Em consequência dessa heresia, vemos que grande parte dos que se declaram cristãos se colocam ao lado dos seus inimigos tradicionais árabes, e condenam Israel por defender-se dos seus inimigos que usam da violência e terrorismo para sua destruição. Lembremo-nos de Zacarias 2:8... “Pois assim diz o Senhor dos exércitos: Para obter a glória Ele me enviou às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho”. As nações sobreviventes ao período da tribulação, antes da instituição do Reino de Deus na Terra, serão julgadas em função do tratamento que tiverem dado “a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos” (Mateus 25:31 a 46).

Entre as nações que hoje se reúnem como Nações Unidas, Israel apenas pode contar atualmente com uma para o seu apoio: os Estados Unidos, onde a heresia tem sido contida e atualmente 42 por cento da população israelita do mundo é acolhida. Sua “hospedagem” tem sido altamente benéfica para os Estados Unidos, pois embora constitua apenas 2 por cento da população, já contribuiu com 37 por cento de todos os ganhadores do prêmio Nobel nesse país, e se distingue notavelmente em sua política, finanças, economia, ciências e artes.

A Igreja não substituiu Israel no plano de Deus. Enquanto Deus aparentemente pode estar agora concentrando a Sua atenção principalmente na Igreja durante esta dispensação da graça, Deus não se esqueceu de Israel e um dia restaurará Israel em seu papel de nação que Ele escolheu (Romanos 11). Tanto o antigo testamento como o novo apoiam um entendimento dispensacional pré-milenarista do plano de Deus para Israel. O apoio mais forte para o milenarismo encontra-se no ensino claro de Apocalipse 20:1-7, onde está declarado sete vezes que o reino de Cristo vai durar por mil anos. Depois da tribulação, Cristo reinará com Sua igreja sobre toda a Terra durante esse período, e a nação de Israel irá conduzir todas as nações do mundo.

Finalmente, temos as exortações em Colossenses 2:8 “... cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. Também Efésios 6:14... “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça”. Continuemos, pois, firmes no verdadeiro ensino claro das Escrituras e confiantes no seu perfeito cumprimento, pois assim não seremos decepcionados.

autor: R David Jones.