A persistência voluntária no pecado

 

Hebreus 10:26-31

 

O castigo por permanecer no pecado voluntariamente é a “expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários” (v. 26).

No Velho Testamento não havia sacrifícios possíveis para alguns pecados, como adultério, assassínio e blasfêmia, e os culpados tinham que sofrer a pena de morte física. Mas esta advertência é concernente à continuidade consciente e deliberada na prática do pecado, não de um pecado isolado.

Aqui a apostasia é definida como pecar deliberadamente depois de ter recebido o conhecimento da verdade. Como Judas, alguém ouve o Evangelho e sabe o caminho da salvação; finge recebê-lo, mas mais tarde deliberadamente rejeita decisiva e conclusivamente o sacrifício definitivo de Cristo. Neste caso, Deus não tem qualquer outra maneira de salvação para oferecer-lhe. A apostasia é um pecado irremediável (é de se notar que, embora o autor esteja usando a primeira pessoa no plural nesta passagem, isto não significa que ele se inclui entre os apóstatas: ao contrário vemos que ele declara definitivamente não ser um deles no versículo – v. 39).

No caso dos hebreus é citado especialmente aqui o comportamento daqueles verdadeiros crentes que deliberadamente deixam a congregação dos crentes em Cristo, voltam ao judaísmo, e continuam nele intencional e permanentemente. Estes têm como castigo a morte física (vs. 28-29), a morte na destruição de Jerusalém em 70 d.C. (vs. 25 e 27) e a perda das recompensas no tribunal de Cristo (vs. 35-36). Semelhantemente, o crente de hoje que peca voluntária e continuadamente também está sujeito à disciplina nesta vida e à perda das recompensas no tribunal de Cristo. Mas não perde a sua salvação: esta é uma dádiva eterna de Deus para todo aquele que genuinamente se arrepende dos seus pecados e confia em Jesus Cristo para a redenção das suas faltas (2 Tessalonicenses 2:16).

Os versículos seguintes demonstram a enormidade do pecado de apostasia, e a sua consequente punição. Ao falso crente que se faz apóstata, não resta qualquer esperança de escapar ao julgamento, e é impossível renová-lo ao arrependimento (capítulo 6:4-6), pois consciente e deliberadamente ele se cortou da graça de Deus em Cristo, cometendo o imperdoável pecado contra o Espírito Santo. Seu destino é uma ardente indignação que vai devorar os adversários de Deus, entre os quais eles estão incluídos (indicando uma positiva oposição a Cristo, não uma suave neutralidade).

A sua seriedade é comparada com a punição exigida pela lei de Moisés aos idólatras: deviam ser mortos sem piedade quando sua culpa era provada por duas ou três testemunhas (Deuteronômio 17:2-6). Quanto maior será o castigo de que será merecedor quem“pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça”? Explicando:

  • “Pisou o Filho de Deus”: Depois de professar ser um seguidor de Cristo, ele agora descaradamente afirma que não tem mais nada a ver com Ele, nega qualquer necessidade de ter Cristo como Salvador e definitivamente O rejeita como Senhor.
  • “Teve por profano o sangue do pacto, com que foi santificado”: Ele havia se unido aos crentes e foi “santificado” com essa associação (assim como um marido descrente é “santificado” pela esposa crente – 1 Coríntios 7:14, ou seja, ele recebe uma influência positiva que traz a possibilidade de conversão verdadeira).  Mas não recebeu Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, portanto não foi salvo, mas profanou o sangue de Cristo.
  • “Ultrajou ao Espírito da graça”: O Espírito de Deus lhe havia iluminado sobre o Evangelho da graça, condenando o seu pecado e apresentando a salvação mediante a fé em Cristo. Mas ele tinha ultrajado o gracioso Espírito ao desprezá-Lo e rejeitado a salvação que Ele ofereceu.

O povo de Israel conhecia já muito bem a justiça de Deus, tendo testemunhado o castigo que viera sobre os seus inimigos  e também experimentado o Seu castigo sobre eles próprios através dos tempos em que haviam se afastado dos Seus estatutos, e mesmo negado a Sua soberania. As palavras “minha é a vingança e a recompensa”, ditas por Deus, foram escritas por Moisés pouco antes da sua morte, e representam a Sua justiça absoluta, como Juiz supremo sobre o Universo. Portanto “vingança” aqui significa justiça absoluta, castigando ou premiando conforme o merecimento do réu.

Considerando a magnitude dos atributos de Deus, é bem compreensível a expressão “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo”. Ele é um Deus de amor, certo, mas também é perfeitamente justo, e o temor de Deus é o princípio da sabedoria, como declarou Jó: “E (Deus) disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento” (Jó 28:28).

Nada nesta passagem das Escrituras deve perturbar ou abalar os que verdadeiramente pertencem a Cristo. A passagem foi propositadamente escrita em estilo agudo, investigador e desafiante, para que todos aqueles que professam o nome de Cristo sejam alertados sobre as terríveis consequências da apostasia.

autor: R David Jones.