A primeira carta de Paulo a Timóteo (1)

CAPÍTULO 1

A missão de Timóteo em Éfeso

1 Timóteo 1:1-11

Timóteo era de Listra (Atos 16:1-2), sendo filho de pai grego e de mãe judia; sua avó era também judia; estas tinham ensinado bem as Escrituras Sagradas (o Velho Testamento) a Timóteo desde a sua infância (2 Timóteo 1:5; 3:15).

Parece que Timóteo foi convertido por Paulo na ocasião da primeira visita do apóstolo a Listra (Atos 14:6) e, algum tempo depois, Paulo o chamou para ser companheiro dele no trabalho missionário. Esteve com o apóstolo em Trôade, Filipos, Tessalônica e Bereia e, na terceira viagem, acompanhou-o por uma parte do caminho para Jerusalém (Atos 20:4). Mais tarde, esteve em Éfeso, de onde Paulo o chamou para ir a Roma (2 Timóteo 4:9-21), onde o apóstolo esperava a sentença de morte. Não se sabe se Timóteo chegou ali antes do martírio do apóstolo.

Motivos desta epístola

A – Chamar a atenção dos cristãos para a necessidade de manterem "coração puro, consciência boa e fé sem hipocrisia", em vista de falsos ensinadores terem entrado nas igrejas;

B – Animar a Timóteo na sua missão difícil, visto que ele era ainda jovem e de saúde fraca.

  • VERSÍCULOS 1-2

Paulo atribui a sua autoridade como apóstolo tanto ao Pai como ao Filho - é pelo mandato de "Deus nosso Salvador" e de "Cristo Jesus, nossa esperança", os quais são também nosso "Pai" e nosso "Senhor".

Timóteo é o "verdadeiro filho na fé" para Paulo, tendo sido convertido pela pregação (e talvez pelo sofrimento) do apóstolo (veja Atos 14:19) e este entendia bem as dificuldades que o moço encontraria em Éfeso. Por isso, deseja-lhe não somente a graça e a paz de Deus como também a Sua "misericórdia" (v. 2) - repetida na saudação da Segunda Epístola. É unicamente nestas duas Epístolas que Paulo inclui "misericórdia" na saudação. A Epístola de Judas tem semelhante saudação.

  • VERSÍCULOS 3-7

Note que o apóstolo "rogou" e não "mandou", que Timóteo ficasse em Éfeso. A tarefa seria difícil e Paulo não queria obrigar seu jovem discípulo a aceitá-la; porém, para Timóteo o menor desejo de seu "pai na fé" lhe era como mandamento do Senhor.

A tarefa de Timóteo em Éfeso, então, era a de admoestar a certas pessoas com respeito à doutrina que estavam ensinando (v. 3), também avisá-las que não desperdiçassem o tempo da igreja com discussões sobre assuntos sem importância nem utilidade no serviço evangélico (v. 4).

Acerca da doutrina, lembremo-nos de que Paulo, na sua viagem a Jerusalém, já tinha avisado aos presbíteros da igreja em Éfeso que entre eles penetrariam lobos devoradores que não poupariam o rebanho e que, dentro deles mesmos (os efésios), se levantariam homens falando coisas pervertidas para arrastar os crentes atrás deles (Atos 20:17, 29-30). Parece que isto já estava acontecendo.

O motivo da "presente admoestação" (isto é, por meio desta Epístola), era produzir entre os cristãos o amor que seria o fruto de coração puro, consciência e fé sincera nos próprios mestres. Infelizmente, alguns entre estes, não tendo estas qualidades, ensinavam só tolices, mas queriam ser considerados "mestres da Lei", iguais a Gamaliel e outros eminentes ensinadores (veja Atos 5:34 e Lucas 5:17).

  • VERSÍCULOS 8-11

O motivo principal da Lei divina, dada nos primeiros livros do Velho Testamento e resumida em Lucas 10-28, é o de revelar ao homem quão terrível é o pecado, para que ele se arrependa e receba o perdão e a salvação que o Evangelho lhe oferece. Sendo justificado diante de Deus pela fé em Cristo, o cristão pode utilizar-se da Lei para entender a vontade de Deus, a qual ele vai obedecer no Poder do Espírito Santo.

Mas que lista temos aqui de diversos tipos de pecadores! São mencionados especificamente quatorze e depois há uma condenação geral de "tudo que se opõe a sã doutrina". Não podemos negar que todas estas espécies de pecado estão se tornando cada vez mais comuns na sociedade atual. Os que praticam tais coisas são condenados pela Lei divina, estão em perigo de perdição eterna, mas "o Evangelho da glória do Deus bendito" lhes oferece salvação por meio do Senhor Jesus. Tal é a "sã doutrina" que deve ocupar os ensinadores cristãos e que "uma vez por todas foi entregue aos santos" (Epístola de Judas, v. 3).

A graça e o combate do evangelho

1 Timóteo 1:12-20

A graça de Deus para com Paulo

Neste trecho, o apóstolo salienta com gratidão a grande misericórdia de Deus para com ele próprio, não somente em salvá-lo do seu pecado, como também em fazê-lo um pregador do Evangelho e um exemplo para os crentes.

  • VERSÍCULOS 12-14

Paulo fala principalmente da sua blasfêmia e violência no tempo quando ele perseguia a igreja (Atos 8:1-3; 9:1-2). Era feito "na ignorância" e "na incredulidade" - mas isto não era desculpa, pois ele era doutor da Lei divina, esperando o Messias, porém não querendo reconhecer Jesus de Nazaré como tal.

Por isso, necessitava da "misericórdia" de Deus para ser perdoado, pois mesmo os pecados de ignorância precisam de expiação (Levítico 5:17-19; Hebreus 9:7). Como grande pecador, Paulo achou em Cristo a verdadeira misericórdia, a fidelidade e o amor, recebendo d’Ele não somente o perdão e a salvação, como também a honra de ser apóstolo.

  • VERSÍCULOS 15-16

A "palavra fiel": Eis a primeira das cinco "palavras fiéis" tratadas por Paulo nas Epístolas a Timóteo e a Tito. Todas tratam de um aspecto importante da Igreja:

  • 1 Timóteo 1:15 – O Começo da Igreja: Cristo veio…
  • 1 Timóteo 3:1 – O Controle da Igreja: os presbíteros…
  • 1 Timóteo 4:9 – A Conduta da Igreja: a piedade…
  • 2 Timóteo 2:1 – A Comunhão da Igreja: com Cristo…
  • Tito 3:8 – A Caridade da Igreja: as boas obras…

Eis o grande fato histórico do Evangelho - Jesus Cristo, o Messias, Deus em carne, “veio ao mundo” com o propósito de salvar os pecadores (Lucas 19:10). Revelou-nos o amor de Deus, "dando-se a Si mesmo em preço de redenção por todos" (1 Timóteo 2:6). Entre todos os pecadores (milhões!) salvos por Cristo, Paulo considerava-se o pior, e também o menor (Efésios 3:8).

Mesmo assim, pela infinita graça de Deus, Paulo tinha a honra de ser feito como "modelo" para todo o pecador que necessitava (e desejava) a salvação; os piores pecadores podem ser salvos e santificados pelo mesmo Salvador misericordioso que salvou a Paulo!

  • VERSÍCULO 17

Eis uma doxologia de louvor e adoração, dirigida ao único Deus e Rei eterno, sem distinção entre as Pessoas da Divindade.

Houve, naqueles dias, o "dom de profecia" nas igrejas (1 Coríntios 12:10; 14:3) e temos exemplos de profecias especiais em Atos 11:27-28; 13:1-2; 21:10-11.

  • VERSÍCULO 18

Parece que houve algumas profecias feitas na ocasião da conversão de Timóteo, ou quando foi chamado para acompanhar Paulo no trabalho evangélico. Seriam profecias de dificuldades e combates?… de tentações sutis?... de vitórias espirituais?… Quaisquer que fossem, Paulo as traz à memória de Timóteo, para animá-lo e fortificá-lo no seu combate contra os poderes satânicos, os quais fariam todo esforço para desviá-lo do seu dever e mesmo da sua fé em Cristo.

  • VERSÍCULOS 19-20

Isto já tinha acontecido com Himeneu e Alexandre, entre alguns outros. Conhecendo o ensino evangélico ("doutrina"), eles desejaram e permitiram o pecado em sua vida e, com as consciências assim corrompidas, mudaram a doutrina para fazê-la conformar com as suas vidas pecaminosas e, assim, "naufragaram" - tornando-se num perigo para os outros.
Himeneu está mencionado em 2 Timóteo 2:17, com o seu falso ensino a respeito da ressurreição. Alexandre talvez seja o mesmo que se menciona em 2 Timóteo 4:14, mas era um nome muito comum e a identificação é duvidosa.

"Entreguei a Satanás" - parece uma ação apostólica, condenando aqueles dois blasfemos a um castigo fora do comum e de origem satânica. Temos exemplos desta autoridade apostólica em Atos 5:10; 13:11 e 1 Coríntios 5:3-5,13. Note que estes casos são excepcionais; não significam que todo crente disciplinado pela igreja esteja entregue a Satanás, porém mostram, isto sim, quão grave é o pecado aos olhos de Deus.

 

autor: Richard Dawson Jones.