As supostas contradições da Bíblia

A sua origem

O inimigo das nossas almas usou no passado, e continua usando, todos os meios de que dispõe para neutralizar a nossa arma principal, a espada do Espírito que é a Palavra de Deus.

Pouco depois de ter sido completada, e os seus 66 livros aprovados e aceitos pela maioria dos cristãos em fins do primeiro século, segundo a evidência dos mais antigos manuscritos, o diabo semeou dúvidas sobre a sua procedência e procurou incluir outros livros a fim de provocar confusão. Mas o Espírito Santo preservou a Sua espada através dos milênios e ela permanece incólume até hoje em nossas mãos.

Seguindo os planos do inimigo, as instituições apóstatas, apoiadas pelo poder público, esconderam a Bíblia durante séculos para que o povo não identificasse as inúmeras heresias que elas criavam e ensinavam. Ao esconder a Verdade, aumentavam o seu poder sobre as almas perdidas, impondo seu controle como meio de salvação em substituição ao Evangelho da graça de Deus.

Mas Deus demonstrou a Sua misericórdia levantando servos corajosos que, sob risco da própria vida, traduziram as Escrituras para a linguagem do povo e as disseminaram a preços acessíveis, trabalho esse que continua até hoje, alcançando agora até povos primitivos que são alfabetizados a fim de poder lê-las em seu próprio idioma.

O inimigo não se deu por derrotado. Induziu novas seitas a propagar traduções incorretas para afastar para si os incautos, e para pôr em dúvida o texto verdadeiramente inspirado pelo Espírito de Deus. Paralelamente, ele dirige uma campanha para desacreditar o texto sagrado, usando a falsa ciência baseada em ridículas teorias de evolução, e opiniões espalhadas por cínicos e descrentes pondo em dúvida relatos bíblicos que, segundo proclamam, não podem ser tomados seriamente em nossa idade moderna da ciência e da tecnologia.

As afirmações encontradas na Bíblia sobre a luz antes de existir o sol, um universo criado em seis dias, uma serpente e um asno que falam, o sol aparentemente voltando para trás, uma terra que tem colunas e cantos, dragões, milagres, e muitas outras coisas sobrenaturais parecem ridículas à luz da ciência moderna! São absurdas do ponto de vista materialista.

Não podemos deixar de colocar em nossas considerações o Ser criador, eterno, infinitamente superior em tudo ao ser humano, que foi por Ele planejado e criado. Tendo Deus criado o universo e tudo o que nele existe, bem como as leis “naturais” que o regem, é também perfeitamente lógico que Ele pode transgredir e mesmo revocar essas leis, bem como transformar ou destruir o universo que criou.

O ataque do inimigo sobre a temida espada do Espírito, no entanto, se recrudesce quando ele a acusa de conter contradições. Se realmente existir uma genuína contradição na Bíblia, em princípio ela deixa de ser a verdadeira Palavra de Deus, pois não se admite que uma obra de inspiração direta do Espírito Santo de Deus possa ter algum erro. Esse é um ataque sério, e devemos estar preparados para conhecer bem e defender a Bíblia contra tais alegações.

É fácil constatar que, a maioria das “contradições bíblicas” que nos são apresentadas, na realidade não são contradições, mas apenas mal-entendidos por parte de quem as apresenta. Por exemplo, as afirmações que Jesus descendeu de Adão e que Jesus descendeu de Noé podem parecer contraditórias, mas uma pequena análise indicará que, como Noé foi descendente de Adão, não existe contradição.

Algumas imaginadas contradições decorrem do fato que certas palavras ou expressões podem ser usadas em sentidos diferentes, e é até possível ter afirmações contrárias. Por exemplo, um homem pode estar livre e preso ao mesmo tempo. Isto porque está fora da cadeia, mas preso ao seu trabalho. A explicação desfaz a contradição.

Para ser uma contradição, é necessário que haja uma afirmativa e uma negativa da mesma afirmação, ambas aplicáveis na mesma ocasião e relativas ao mesmo fato e às mesmas circunstâncias. Muitas supostas contradições se desfazem quando submetidas a uma investigação em que esses fatores são considerados.

Uma das mais conhecidas “contradições” sugeridas diz respeito à justificação de Abraão: foi pela fé e não pelas obras (Romanos 4:2,3), ou foi pelas obras e não pela fé (Tiago 2:21-24)? Seria realmente uma contradição? Não, porque essas afirmações têm relacionamentos diferentes. Paulo está tratando do relacionamento com Deus, perante Quem Abraão foi justificado pela fé, enquanto que Tiago está falando sobre o relacionamento com os homens, para os quais as obras de Abraão o justificam por serem a evidência da sua fé. Não há contradição.

Outra “dificuldade” é compreender como a Bíblia pode declarar que o Senhor é o único Deus (p.ex. Isaías 45) e, ao mesmo tempo, que existem três pessoas: o Pai (Gálatas 1:1), o Filho (João 20:28) e o Espírito Santo (Atos 5:3-4). No entanto, não há contradição: quanto à Sua natureza, Deus é um só, mas se compõe de três Pessoas, o que não deixa de ser perfeitamente lógico. As afirmações têm relacionamentos diferentes.

Algumas chamadas “contradições” são geradas por um falso dilema, por exemplo, se alguns autores de livros da Bíblia declaram sua própria autoria (Lucas 1:3, João 21:24), como pode Paulo ensinar que ela toda foi inspirada, palavra por palavra, por Deus (2 Timóteo 3:16)? Sugere-se aqui que ambos não podem estar certos, logo a Bíblia tem erros. Mas é um dilema falso, porque nada impede que o Espírito Santo tenha impelido os homens a escrever usando as Suas palavras (2 Pedro 1:21).

A falta de atenção para o contexto também pode fazer com que se alegue existir uma “contradição” entre dois textos. O clássico exemplo é: a Bíblia diz: “No princípio criou Deus...” (Gênesis 1:1) e “Não há Deus” (Salmo 14:1). Obviamente não se trata de contradição, muito ao contrário, pois vemos pelo contexto da citação do Salmo que quem exclamou essa bobagem era um néscio, ou seja, incoerente, estúpido, e ignorante. É característica da Bíblia que algumas vezes ela registra ditos, comportamentos e eventos que ela não aprova. Não são relatados como exemplos para ser imitados, logo não são contradições da doutrina bíblica.

Deve-se usar discernimento para distinguir entre fatos concretos e figuras de linguagem, pois ambos são encontrados na Bíblia. As figuras de linguagem aparecem mais nos livros poéticos, mas também são encontradas dentro de algumas profecias. São atribuídos colunas e cantos à terra (Jó 9:6, Isaías 41:9), e ao céu (Jó 26:11, Jeremias 49:36), e fala-se do aparente movimento do sol sobre a terra, mas não se trata de uma aula de geologia ou astrologia. Mesmo hoje ainda se fala nos “quatro cantos da terra” e no “nascer” e no “pôr-do-sol”.

As figuras de linguagem também são usadas nas parábolas do Senhor Jesus. Não se deve dar mais atenção aos detalhes do que é necessário para compreender o ensino ali contido. Por exemplo, quando o Senhor contou a parábola do grão de mostarda Ele não estava dando uma aula de botânica – sem dúvida Ele sabia que existiam sementes ainda menores, mas não eram comuns ou mesmo conhecidas pelos seus ouvintes como a da mostarda que serviu de ilustração.

Na Bíblia também encontramos regras de ordem geral e exceções. Por exemplo, o homicídio é condenado, devendo o homicida pagar o seu crime com a sua própria vida, no entanto há exceções no caso de autodefesa, no da execução de criminosos pela autoridade legal do país etc. Não se trata de contradição. Também muitos dos princípios gerais, como os encontrados no livro de Provérbios, são normalmente aplicáveis, mas há que se cuidar para não generalizá-los de maneira inflexível.

Enfim, os ímpios sempre vão procurar motivos para justificar o seu comportamento, dos quais o descrédito com respeito à Palavra de Deus é somente um. Mas sabemos quem está fomentando os ataques que fazem contra ela, porque o diabo sabe que a Bíblia é uma arma poderosa nas mãos de todo o crente que sabe manejá-la bem: “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2:15).

Saibamos usar bem essa poderosa arma que Deus nos deu!


Os erros nas cópias e nas traduções

A Bíblia foi inspirada, palavra por palavra, por Deus (2 Timóteo 3:16), portanto ela é a absoluta verdade e não contém erros de qualquer espécie.

No entanto não dispomos dos originais, por causa dos milênios decorridos desde que os seus 66 livros foram escritos, por muitos autores em diferentes e distantes épocas, e seria praticamente impossível manter o seu conteúdo intacto, através das muitas cópias, até hoje. Ademais, as próprias palavras desaparecem ou ganham novos sentidos, de forma que os originais provavelmente seriam incompreensíveis para um leitor em nossos dias, mesmo se pudessem ser preservados em sua forma original.

A esmagadora maioria dos leitores se baseia em traduções feitas para outros idiomas, e nestas traduções nem sempre é possível encontrar um vocábulo que expresse exatamente o mesmo que o original, surgindo então incorreções e até mesmo erros. Na multiplicidade de versões da Bíblia de que dispomos hoje em português, podemos encontrar algumas que são evidentemente tendenciosas, em que seus editores torceram a tradução para apoiar a sua linha doutrinária. Em outras, editadas para reduzir o vocabulário e assim facilitar a sua leitura para os menos instruídos, foi impossível transmitir com exatidão o sentido original de algumas expressões.

O inimigo se aproveita desses argumentos para pôr em dúvida a autenticidade do texto das nossas Bíblias, sugerindo que, se existem imperfeições, fica manifesto que não pode ser de origem divina e deixa de ser confiável.

Na preservação da pureza e da perfeição dos escritos originais através dos séculos, das cópias e das traduções, o fator mais importante tem sido a ação de Deus, na pessoa do Espírito Santo. Ela é manifesta a nós com várias evidências, das quais destacamos:
■Os vestígios de relatos do dilúvio e de pessoas da antigüidade mencionadas na Bíblia desde os tempos de Noé, que estão sendo encontrados por arqueólogos na Mesopotâmia provam que o livro de Gênesis foi escrito por quem tinha conhecimento dos fatos ali relatados. Seu autor, inspirado pelo Espírito Santo, foi Moisés, como o atestam muitas passagens tanto do Velho como do Novo Testamento. Sem dúvida o seu preparo intelectual no Egito, bem como as bibliotecas que tinha ao seu dispor ao seu tempo, fizeram com que ele fosse um escriba hábil e bem informado.
■O esmero dos escribas israelitas que com profunda reverência e capricho contavam até os menores sinais ortográficos nas cópias quando as conferiam com o original (ver Mateus 5:18). O Senhor Jesus citava o Velho Testamento, dando-lhe assim plena autenticidade.
■Esse mesmo cuidado com o Velho Testamento em hebraico e aramaico continuou depois do tempo de Cristo com escribas judeus dedicados à sua conservação e transcrição. Dos livros do Novo Testamento existem mais documentos comprobatórios, da época em que foram escritos, do que qualquer outra literatura da mesma idade. Existem mais de cinco mil manuscritos no grego original, oito mil traduções para o latim, e vários manuscritos em outros idiomas para atestar a sua legitimidade.
■A harmonia encontrada entre todos os livros da coleção conhecida como Bíblia atesta a realidade de um Autor divino e o Seu cuidado na sua conservação.
■A reverência para com o Autor divino se manifestou também nas muitas publicações da Bíblia (que se distingue por ser o primeiro livro a ser impresso por Gutenberg, inventor da tipografia moderna) e nas suas traduções feitas pelos Seus servos. Tal é a sua qualidade que as traduções da Bíblia têm sido freqüentemente usadas até para fins didáticos nas escolas por causa da sua perfeição gramatical.

Os mais conceituados filólogos do antigo hebraico, aramaico e grego, idiomas usados nos originais e dos quais se conservam as cópias, são judeus ou cristãos e se empenham em manter as traduções atualizadas e fiéis aos originais, mediante revisões periódicas. As traduções espúrias não podem ser evitadas, mas podem ser combatidas mediante comparação com as que são fidedignas.

Os detratores da Bíblia, em seu esforço para apontar contradições, fazem suposições incorretas que os incautos ou mal-informados são capazes de aceitar. Por exemplo:
■Quando se deu a fuga de José e Maria para o Egito: Segundo Mateus 2:14 o Senhor Jesus foi levado para o Egito imediatamente após a visita dos magos, no entanto em Lucas 2:21-22 seus pais foram com Ele até Jerusalém, passando pelo menos um mês ali. A suposição seria que os magos chegaram até Ele quando ainda era recém-nascido, ainda na manjedoura. Uma leitura mais cuidadosa evidencia que poderia ter passado até dois anos entre os dois eventos. Não há contradição.
■O dia da crucificação: Tradicionalmente se considera que foi numa sexta-feira e a maioria dos comentaristas concordam com isto. Mas, se cuidadosamente contarmos os dias, seria numa quarta-feira. Quarta-feira cabe melhor que sexta-feira e cumpre perfeitamente a profecia dos três dias e três noites. Havia dois sábados entre o dia da crucificação e o da ressurreição:
a) O primeiro dia da festa dos pães asmos,
b) O sétimo dia da semana.
A contradição não existe na Bíblia, trata-se de diferença entre uma tradição muito antiga e o que podemos apurar do relato bíblico.

Alegam outras aparentes contradições nas descrições de detalhes encontrados nos relatos dos evangelistas, como:
■Abiatar e Aimeleque: Abiatar era filho de Aimeleque (1 Samuel 22:20), e Abiatar também tinha um filho chamado Aimeleque (2 Samuel 8:17). O Senhor Jesus disse que Davi e seus companheiros entraram na casa de Deus e comeram os pães da proposição no tempo do sumo sacerdote Abiatar (Marcos 2:26), mas em 1 Samuel 21 o sacerdote mencionado no episódio é Aimeleque. Não há contradição, pois tanto Aimeleque como Abiatar eram sacerdotes e no relato de Samuel não se informa quem era o “sumo” – vale a palavra do Senhor Jesus, sem dúvida.
■Os endemoninhados gadarenos: Marcos e Lucas falam da cura de um endemoninhado (Marcos 5:2-16, Lucas 8:27-33), e Mateus nos diz que havia dois (Mateus 8:28-32). Obviamente Mateus incluiu outro que também estava envolvido. Não há contradição, pois Marcos e Lucas não dizem que foi apenas um.
■As circunstâncias da ressurreição de Jesus Cristo: os fatos relatados nos quatro Evangelhos parecem não concordar entre si. Mas não existem contradições ao fazermos um estudo cuidadoso, lado a lado, dos relatos: eles não são coincidentes, mas perfeitamente complementares (veja uma harmonização em http://www.bible-facts.info/comentarios/nt/mateus/asuaressurreicao.htm ).

Ainda existem algumas raras e ligeiras variações entre os milhares de manuscritos antigos da Bíblia. Nenhuma delas é de qualquer importância, consistindo, por exemplo, em diferenças em números, na soletração, numa palavra ou na construção de uma frase. Na maioria dos casos, é fácil dizer pelo contexto qual deve ser o original.

Algumas contradições decorrentes de problemas de tradução também podem ser encontradas. Geralmente é porque o idioma em que uma palavra é traduzida não tem uma palavra para expressar exatamente o sentido da original, e a palavra escolhida pode ter sido usada também para traduzir outra com outro sentido, usada em outro lugar. Por exemplo, a palavra “amor” em português é usada para traduzir três palavras com sentidos diferentes no grego – neste caso existem dicionários acessíveis onde se pode verificar qual é o sentido correto do original.

Essas contradições, se houver, certamente não procederam do Autor, pois Ele não é responsável pelas deficiências dos idiomas em que a Sua Palavra foi traduzida. É notável que os idiomas originais, o hebraico, o aramaico e o grego, são dos mais expressivos, tanto que o hebraico e o grego são ainda usados hoje, adaptados para o nosso tempo.

 

autor: R David Jones.