Falsificações

Um extrato de “Ephesians: Christian Warfare Chapter 10”

de D. M. Lloyd-Jones (1898 - 1981)


Transcrito e traduzido por R. David Jones

O povo vive agora num mundo difícil e está frustrado e confuso; está procurando algo que tem autoridade e seja capaz de ajudá-lo. Muitos dizem que, depois de examinar uma igreja cristã e não ter encontrado satisfação nela, foram levados a procurar outro caminho.

Se não ouviram nada mais do que a má representação liberal-modernista do Evangelho, não é de surpreender que procurassem as seitas, pois não existe salvação naquela pregação. É só moral e ética. Uma ortodoxia morta também é inútil e sem valor. Se o povo lá fora vê membros que são perfeitamente ortodoxos, mas estão sempre miseráveis, gemendo, sempre reclamando a respeito dos seus pecados e das suas falhas, e que parecem desgraçados e infelizes, novamente não é de admirar que se volte para as seitas.

Isso faz com que se torne mais urgente aplicarmos vários testes a essas entidades que parecem estar oferecendo ao povo exatamente o que ele quer. O simples teste “se fazem bem” não é suficiente. Elas podem fazer o povo se sentir muito feliz, podem livrá-lo de preocupação e ansiedade. Os psicoterapeutas podem produzir resultados semelhantes e ajudar a livrar se de certos temores e fobias. Existem até tratamentos físicos que podem fazê-lo.

Os testes aplicados devem ser objetivos, e baseados em alguns padrões específicos. De acordo com todo o ensinamento bíblico, o que é de final e suprema importância é o nosso relacionamento com Deus. De interesse e importância particular é o exame da maneira em que vem a bênção, de acordo com as seitas.

Em seu ensino cada seita nada dá além de uma repetição constante da sua única fórmula. Falta-lhe sempre o elemento de amplitude e grandeza, o sentido de vastidão e de glória que invariavelmente encontramos quando nos chegamos à própria Bíblia. A fórmula domina e permeia tudo; não existe nada de grandioso, glorioso e maravilhoso e não há lugar para crescimento e desenvolvimento.

A metodologia da seita não se conforma com a das Escrituras em nenhum aspecto, sendo apenas a fórmula, mais o testemunho pessoal daquilo que aconteceu com alguém como resultado de aceitar e aplicar a fórmula em sua própria vida. O mesmo resultado sobrevirá a quem for fazer o mesmo.

Mas compete-nos pregar “Jesus Cristo como Senhor”, como fez o apóstolo Paulo. Devemos expor a verdade de Deus. Não podemos ser inteiramente subjetivos, começando por nós, e terminando em nós, recomendando a Cristo apenas para conseguir várias coisas.

O ensino das seitas não só carece de base no ensino do Novo Testamento, ele é até diferente do ensino do Novo Testamento em certos aspectos:

A fórmula ou o ensino prático que elas dão nunca é o produto ou resultado da dedução tirada da doutrina do Novo Testamento. Invariavelmente as seitas começam no nível prático, o que é sempre perigoso porque faltará um padrão de julgamento. O que fazemos na prática deveria sempre ser uma dedução do que cremos; se a ordem for invertida haverá perigo fatal. O Novo Testamento sempre introduz a prática com a palavra “portanto”.

Vamos descobrir que as seitas nunca nos dão a impressão de que o que vai acontecer conosco é o resultado da Obra do Espírito Santo em nós: elas simplesmente vêm a nós como estamos e dizem: “pode começar agora, aqui está, faça isto”. A essência da vida cristã é que o Espírito Santo nos é dado, e está em nós, estejamos sempre cônscios dele ou não. Ele está sempre nos estimulando, trabalhando em nós, apontando-nos o ensinamento, possibilitando colocá-lo em prática, compreendê-lo, etc.

Nunca há muito “temor e tremor” entre as seitas: há muita fluência e muita auto-satisfação, até mesmo jactância. Não se vê muita humildade entre os devotos. Eles dizem “Não há nada que temer. Antes eu era muito diferente, mas veja-me agora, tudo está bem. Maravilhoso!” Mas Paulo diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12-13).

As seitas insistem muito que esta fórmula, este método deles, é “muito simples”. A simplicidade é a sua glória. “Maravilhoso! Assombroso!” dizem, “não se dê ao trabalho de percorrer o seu Novo Testamento. Tome esta fórmula, aplique esta idéia”. Sempre existe um elemento de infantilidade - não se reconhecem problemas, tudo é tirado do pensamento, tudo está resolvido.

Mas a Bíblia não fala dessa forma. Por exemplo, não há nada dessa animação, brilho, confiança suprema e auto-satisfação no que o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 4, ele está gloriosamente triunfando, mas como discípulo de Cristo. Há uma nota de seriedade e urgência, a consciência da imensidão do problema e a necessidade de cuidado e vigilância em Efésios 4 a 6. Estamos lutando contra poderes espirituais terríveis e qualquer noção de que tudo é “muito simples” é falsa à luz do ensinamento do Novo Testamento.

Elas oferecem a cura, a “bênção”, “de imediato”. É sempre o método do “atalho”! É por isso que sempre conseguem adeptos. Mas não é o ensino bíblico. O Novo Testamento diz ao convertido: “Você se tornou um cristão, está convertido, agradeça a Deus”. Mas também lhe diz que ele está num mundo dominado pelo diabo e que terá dificuldade até em ficar de pé. Realmente ele precisa de “toda a armadura de Deus”, terá que ser “fortalecido com poder pelo Seu Espírito no homem interior”, ele terá que ser “forte no Senhor, e na força do Seu poder”.

Ser cristão de acordo com o Novo Testamento é o resultado do trabalho da poderosa Doutrina de Cristo e dos Seus apóstolos, na qual uma pessoa crê pelo poder do Espírito, e na Obra do Espírito nele. Sua vida consiste em vigiar, em orar, em “mortificar as obras do corpo natural”, é “subjugar o corpo natural”, é “reduzi-lo à servidão” como Paulo se expressa em 1 Coríntios 9:27.

A bênção oferecida pelas seitas começa conosco, é algo para nós, é algo de que precisamos imediatamente. Pode resolver os problemas que estão nos preocupando e nos deixando perplexos, e dos quais estamos tão cônscios. Mas o método do Evangelho é bem diferente. A primeira coisa no Evangelho é trazer-nos o conhecimento de Deus como Deus, e o conhecimento do Senhor Jesus Cristo (veja João 17:3). A seguir vem o conhecimento do grande plano e propósito de Deus para o homem e o mundo, uma compreensão de toda a história e do curso do universo e do fim dos tempos! Isto é o Evangelho de Cristo. Mas essas seitas nunca mencionam tais coisas.

Nada sabem sobre santidade, ela nunca é mencionada. Santidade não só significa que eu deixo de fazer esta ou aquela coisa em particular, ou que consigo vitória sobre certos pecados, mas que eu sou feito santo. Santidade não é algo negativo, é positivo, é ser como Deus: “Sede santos, porque sou Santo”, diz o Senhor.

Elas só se propõem a ajudar-nos enquanto estamos aqui nesta vida. Não dizem uma palavra sobre a esperança da glória, nem uma palavra sobre o céu e aquela grandiosa regeneração que está para vir. O Novo Testamento dá muito maior significado ao mundo que está para vir do que ao mundo atual.

O maior teste é com respeito à Pessoa e Obra do Senhor Jesus Cristo. Qualquer movimento ou ensinamento que não faz uma absoluta necessidade central do Senhor Jesus Cristo e da Sua morte sobre a cruz e Sua gloriosa ressurreição, não é cristão, mas uma manifestação das “astutas ciladas do diabo”. Qualquer bênção recebida fora do Evangelho de Cristo é uma rejeição a Ele porque o ensino bíblico é que não há conhecimento de Deus fora do Senhor Jesus Cristo.

Não há acesso a Deus exceto através do Senhor Jesus Cristo, porque Cristo mesmo disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6). Qualquer bênção que nos for oferecida sem Ele e a Sua morte e o Seu sangue, é afinal uma negação da fé.

Cristo tem tudo, porque Ele é tudo. O apóstolo nos diz: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7). Nada existe que Ele não nos possa dar, Ele é todas as coisas, Ele é tudo e está em tudo.

Esta fé, que tem sustentado, fortalecido e abençoado os santos através dos séculos, e que já passou em todo o teste que se possa imaginar, é suficiente. Venhamos para a fonte de toda a bênção: o eterno Deus e o Seu Filho, nosso glorioso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, e o Espírito entrará em nós, e toda a nossa necessidade será suprida. Mas só assim!

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autor: R David Jones.