Governo do bispo sobre sua própria casa

Se alguém não tem sua mulher ou um ou mais dos seus filhos em sujeição, terá ele idoneidade para ser um bispo?

(1 Timóteo 3:5 e Tito 1:6).

Para os que não estão acostumados com a linguagem bíblica, esclarecemos que a função de bispo na igreja é a de um supervisor, também chamado ancião ou presbítero. Segundo lemos no Novo Testamento cada uma das igrejas primitivas tinha uma pluralidade deles.

Para boa ordem nos ajuntamentos de novos convertidos ao Evangelho de Cristo, ou “igrejas”, o apóstolo Paulo instruiu seus colaboradores Timóteo e Tito a estabelecer supervisores em cada um desses locais, e citou certas qualidades morais e espirituais para que fossem reconhecidas as pessoas idôneas para essa função. Esse é o padrão que serve de modelo para todas as igrejas.

Os supervisores são constituídos pelo Espírito Santo (Atos 20:28) e o normal é que cada igreja tenha alguns (Filipenses 1:1), embora não seja exato dizer que uma igreja não possa existir sem eles, pois acontece, especialmente nas igrejas mais novas. Só o Espírito Santo de Deus pode designar supervisores, e é Ele quem coloca o desejo de assumir essa responsabilidade no coração do crente, bem como o habilita para isso. Não se pode fazer um supervisor mediante uma eleição pelos membros de uma igreja nem por ordenação eclesiástica.

É da responsabilidade dos membros de uma igreja, apenas reconhecer aqueles homens em seu meio que foram feitos supervisores pelo Espírito Santo de Deus (1Tessalonicenses 5:12-13). Foi o que fizeram Timóteo e Tito naquelas igrejas que ainda desconheciam como fazê-lo, pois não possuíam o Novo Testamento impresso para conhecimento de todos, como agora temos.

O reconhecimento pode ser formalizado em uma reunião da igreja para torná-lo público, mas também pode ser informal quando os membros da igreja sabem, como que instintivamente, quem são aqueles que Deus constituiu para esse nobre serviço à igreja e demonstram ter essas características. Não é preciso que se use nomes como supervisor, presbítero, bispo, ancião, pastor ou outros para distinguí-los: sua própria personalidade, caráter e dedicação ao rebanho deverão ser suficientes para os identificar. Se uma igreja não puder reconhecer supervisores habilitados dentro dela, deve pedir a Deus em oração que os levante para si.

Feito este preâmbulo, vamos à pergunta em foco, que concerne apenas a uma das características que convêm a um supervisor, mas muito importante. Ela tem como base 1 Timóteo 3:4: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia”. Na realidade temos aqui duas condições, relacionadas entre si, ou seja:

QUE GOVERNE BEM A SUA PRÓPRIA CASA

 “Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (1 Timóteo 3:5).

Se alguém não sabe governar a sua própria casa, falta-lhe sabedoria, amor aos que ali estão e/ou dedicação, três coisas essenciais também para um bom ministério. É uma lacuna que precisa ser preenchida antes dele se tornar apto para a tarefa muito mais difícil de cuidar da igreja de Deus. Para governar bem a sua própria casa, um homem deverá conhecer intimamente todos os seus, dar-lhes um bom exemplo para seguir e ensiná-los como andar no caminho do Senhor. Além de apoio e segurança, ele deve mostrar carinho, tratá-los com dignidade, e saber evitar excesso de severidade ou uma indulgência injusta.

Note-se bem a diferença em autoridade: como cabeça da família, ele pode governá-la ao seu modo, e o seu sucesso vai mostrar se é um bom pai de família que teme a Deus. Mas como um dos supervisores da igreja ele estará cuidando, ou ministrando, na igreja de Deus, em obediência aos ditames do supremo Pastor, o Senhor Jesus. Existe uma tendência errada em pensar que o supervisor ocupa uma posição de honra eclesiástica superior dentro da igreja, envolvendo pouca ou nenhuma responsabilidade, enquanto que na realidade é de trabalho, e é de serviço humilde prestado aos demais como servo de Cristo.

Em sua própria casa, o número de pessoas é relativamente pequeno, são geralmente todos aparentados com ele e os filhos serão muito mais novos do que ele. Na igreja o número será maior, e maior a diversidade de caráter, idade, experiência e temperamentos. Se ele não conseguir, com a autoridade que tem, governar a sua casa bem, é muito improvável que ele tenha condições para assumir como ministrante o cuidado de que necessita uma igreja.

TENDO OS SEUS FILHOS EM SUJEIÇÃO
com toda a modéstia


Enquanto seus filhos estiverem morando com ele, devem ser ensinados desde tenra idade a respeitarem, honrarem e obedecerem aos seus pais, que é um dos velhos mandamentos reiterados no Novo Testamento. O pai que sabe governar a sua casa, não só ensina isso aos seus filhos, mas exige deles obediência enquanto estiverem com ele, responsabilizando-se ele próprio pelos atos dos filhos. A condição com toda a modéstia, é da parte dos filhos, ou seja, eles reverenciam seu pai pela pessoa que ele é - não o temem por medo de serem punidos, mas aceitam a sua posição de autoridade digna, respeitada, honrada, justa, pura. Devem ser “filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes” (Tito 1:6). Depois que os filhos crescem e saem de casa para formar a sua própria família, a responsabilidade do pai termina. Os supervisores da igreja devem se sentir solidários com os membros da igreja, especialmente os mais novos, orientando-os e disciplinando-os para que se conduzam bem nos caminhos do Senhor, dando-lhes todo o apoio para que cresçam e amadureçam na fé.

A propósito, note-se que não é dito que a esposa deve estar em sujeição, como os filhos. A esposa, adulta, sendo crente como o marido, “deve sujeitar-se em tudo a ele como a igreja está sujeita a Cristo” (Efésios 5:24). Além do mais, como todo marido crente, ele deve “amar sua mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Quando a esposa não está em sujeição ao seu marido, isso é um claro indício de que ela realmente nunca recebeu a Cristo como seu Senhor e Salvador. Seu infeliz marido pode governar bem a sua casa, mas não pode impor a sua autoridade sobre a esposa rebelde e não poderá ser considerado culpado se, tendo ele cumprido com o seu dever, o casamento for desfeito por iniciativa dela.

EM CONCLUSÃO
A resposta sucinta à pergunta que nos é feita é a seguinte:

Se uma esposa não se sujeita ao seu marido, no Senhor, ela está em falta e se ele lhe mostra amor como é do seu dever, ele é inculpável. A falta de sujeição da esposa não prova necessariamente que ele não governa bem a sua casa. Mas se os filhos de um homem são indisciplinados, isso é evidência de que lhe falta sabedoria, ou de que ele está fugindo à sua responsabilidade, o que realmente o desabona para uma maior responsabilidade na igreja como o bispado.

autor: R David Jones.