Jejum

A prática do jejum é comum em algumas esferas, e está começando a ser incentivada em algumas igrejas, com a publicação de um livro específico escrito por um autor renomado. Uma irmã que se reúne numa igreja próxima a Londres me pediu informações sobre o que aprendemos sobre o seu uso no Novo Testamento. Em atenção ao seu pedido, escrevi este artigo e o estou publicando para o conhecimento dos nossos leitores que poderão também estar enfrentando essa situação.

Na Bíblia, "jejuar" significa "abster-se voluntariamente de comer", por exemplo, Mateus 4:2, 6:16-18, 9:14-15; Marcos 2:18-20; Lucas 5:33-35, 18:12; Atos 13:2-3. Algumas destas passagens mostram que os mestres a quem os estudiosos ou discípulos estavam ligados davam-lhes instruções especiais sobre "jejum". O Senhor Jesus ensinou a necessidade de pureza e simplicidade de motivo em nossos pedidos a Deus.

As respostas do Senhor Jesus às perguntas dos discípulos de João, e dos fariseus, revelam o propósito e método dos jejuns. Sem dúvida, durante a Sua vida Ele e Seus seguidores observaram jejuns como o do Dia da Expiação, mas Ele não impôs quaisquer "jejuns" adicionais. O que Ele ensinou era apropriado para a mudança de caráter e finalidade que Ele projetou para Seus discípulos. Sua declaração de ser o Noivo (Mateus 9:15), com referência à inadequação do jejum, demonstrou praticamente que era o Messias (Zacarias 8:19). Alguns manuscritos têm o verbo “jejuar” em Atos 10:30.

O Senhor Jesus declarou que João (Batista) marcou o fim de uma dispensação, anunciando a idade nova da graça, e mostrou que seus respectivos princípios não podem ser misturados. Tentar misturar lei e graça, seria como usar um pedaço de pano novo para remendar uma roupa velha. Quando lavada, o pedaço novo encolhe, rasgando-se do velho. A ruína seria maior ainda.

Ele preveniu Seus discípulos contra a mistura do velho e do novo... mas é o que ainda se faz em toda a cristandade. O judaísmo foi remendado e adaptado por toda parte no meio das igrejas e o vestuário velho é agora rotulado "Cristianismo". O resultado é uma mistura confusa, que não é nem o judaísmo nem o cristianismo, mas uma substituição ritualística de uma fé no Deus vivo por obras mortas. O vinho novo (suco de uva ainda não fermentado) da salvação gratuita foi despejado nos odres velhos do legalismo. O resultado está aí: os odres velhos estão arruinados e prontos a estourar, o vinho está se derramando e a maior parte do precioso suco vivificante está perdido. A lei perdeu seu terror, porque é misturada com graça, e a graça perdeu sua beleza e caráter, pois está misturada com lei e obras.

O jejum praticado por crentes, depois da ascensão de Cristo, só é mencionado em três ocasiões no Novo Testamento:

  • Por Paulo, no momento da sua conversão (Atos 9:9).
  • Pelos profetas e mestres na igreja em Antioquia antes de separarem Barnabé e Saulo para a obra missionária, por ordem do Espírito Santo (Atos 13:2-3).
  • Por ocasião da encomendação ao Senhor de anciãos nas igrejas que se reuniam em Listra, Icônio e Antioquia (Atos 14:23).

Não obstante, o jejum é agora promovido em algumas congregações cristãs como se fosse doutrina bíblica para os crentes, argumentando que:

  • "A fé precisa de oração para o seu desenvolvimento e pleno crescimento, e a oração precisa de jejum pela mesma razão. O jejum tem feito maravilhas quando usado em combinação com oração e fé". Mas se isso fosse verdade, por que não foi sequer insinuado pelo Senhor Jesus ou Seus discípulos?
  • "Desde que jejum e oração são tão proeminentes na Bíblia, os cristãos modernos devem praticá-los mais, até que recebam o poder com Deus sobre todos os poderes do diabo". No entanto, foi o Senhor Jesus quem deu poder aos Seus discípulos para "expulsar os demônios" (Marcos 3:15) e "curar doenças" (Lucas 9:1) como e quando Lhe conviesse, e Ele não exigiu que orassem e jejuassem para esse fim, nem mesmo quando prometeu que receberiam poder quando o Espírito Santo viesse sobre eles (Atos 1:8). A menção de "jejum" em Mateus 17:21 e Marcos 9:29 não consta em vários manuscritos (NVI).

Muito mais importante do que jejum é a total obediência à Palavra de Deus e dedicação em viver para Sua glória e honra. Ele nos recompensará pelo trabalho que fizermos (Apocalipse 22:12).

autor: R David Jones.