José de Arimateia

José de Arimateia foi um homem que se tornou notável na Bíblia pelo papel que desempenhou no sepultamento do corpo do Senhor Jesus, tanto assim que é mencionado nos quatro Evangelhos (Mateus 27:57-60, Marcos 15:42-46, Lucas 23:50-55, João 19:38-42).

Sobre a sua pessoa, somos informados nestas passagens que era um homem rico, vindo de Arimateia, cidade dos judeus de onde era natural, sendo ele um homem bom e justo que também esperava o reino de Deus. Era um ilustre membro do sinédrio e se tornara discípulo de Jesus, mas oculto por medo dos judeus. Somos informados que não havia consentido no conselho e nos atos do sinédrio com relação a Jesus mas, se manifestou a sua oposição, não teve efeito algum. No entanto acabou dando um passo que lhe valeu a sua celebridade, conforme veremos a seguir.

Tendo Jesus sido crucificado, após a Sua morte o Seu corpo (como o de todos os crucificados) estava destinado a ser retirado da cruz e lançado no lixo do “vale do filho de Hinom” (ver Jeremias 32:35) para ali ser queimado. A crucificação do Messias se dera no “dia da preparação”, véspera do primeiro dia da festa dos Pães Asmos, em que todo o trabalho era proibido (sendo por isso chamado de “grande dia de sábado” para distingui-lo do sábado semanal (João 19:31, Êxodo 12:16, Levítico 23:7). Os judeus não admitiam que ficassem crucificados ou que fossem sepultados durante esse dia de festa.

O crepúsculo estava se aproximando, e foi então que José de Arimateia encheu-se de coragem, dirigiu-se a Pilatos e rogou que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus, assim manifestando publicamente o seu amor por aquele Homem. Podemos imaginar a surpresa de Pilatos, e o insulto ao sinédrio quando este ilustre membro da sua confraria publicamente tomou o lado dAquele que fora por eles desprezado, insultado e vergonhosamente crucificado. Mas Deus, em Sua sublime onisciência, já previra este notável e surpreendente acontecimento, conforme vemos em Isaías 53:9 “... deram-lhe a sepultura... com o rico na sua morte...”

Admirou-se Pilatos de que o Crucificado já tivesse morrido: não sabia que aquele Homem estava dando a Sua vida, e que Ele tinha absoluto controle sobre quando o faria. Para certificar-se, Pilatos chamou o centurião e recebeu dele a confirmação do fato, depois de obtida a prova mediante um ferimento feito no Seu lado. Pilatos então mandou que o cadáver fosse entregue a José. Note-se que José pediu pelo “corpo”, mas Pilatos mandou que lhe dessem o “cadáver”: Pilatos tinha absoluta certeza que o corpo estava mesmo sem vida, ao contrário do que têm afirmado alguns céticos, mesmo em nossos dias.

José comprou um pano de linho fino e foi até a cruz, acompanhado por Nicodemos (um fariseu que era um dos principais dos judeus e que anteriormente viera ter com Jesus de noite – João 3:1-21), que trouxe quase cinquenta quilos duma mistura de mirra e aloés. Nisto vemos o alto conceito que tinham do Senhor Jesus, suprindo o melhor que se podia adquirir para a preparação do Seu corpo para a sepultura. Até aqui haviam ocultado o seu amor pelo Mestre, mas agora iriam manifestá-lo a todos os presentes.

Foi José de Arimateia quem tirou pessoalmente o corpo da cruz e, junto com Nicodemos, envolveu-o em panos de linho com as especiarias, como os judeus costumavam fazer na preparação para a sepultura, a fim de retardar a corrupção. Mas não haveria corrupção, como Deus também havia previsto, tendo inspirado o rei Davi a profetizar no Salmo 16:10 “... pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”.

Para o sepultamento do Messias de Israel não houve pompa e cerimônias como é de praxe para figuras importantes como monarcas, heróis nacionais etc. Nem sequer se fizeram presentes os Seus familiares, discípulos e outros amigos que O haviam acompanhado quando era aclamado pelas multidões ansiosas pelos benefícios que recebiam. Todos estavam invisíveis, distantes, escondidos por medo de serem apanhados e castigados como cúmplices. É mesmo notável a ausência até dos apóstolos do Senhor Jesus, exatamente como Ele já havia previsto, em cumprimento da profecia (Zacarias 13:7), apenas é mencionada a presença de Maria Madalena e Maria mãe de José e Tiago, chamada a “outra Maria” por Mateus. Estas presenciaram tudo desde princípio até ao fim, tornando-se testemunhas valiosas para o relato de tudo o que aconteceu.

A ira, maldição e o castigo pelo nosso pecado foram sofridos e completados pelo nosso Salvador quando, logo antes de entregar o Seu espírito, Ele bradou vitoriosamente “está consumado” na cruz do Calvário. Sua alma foi para o Seol, neste caso o paraíso (Lucas 23:43), também chamado o “seio de Abraão” (Lucas 16:22), para ali aguardar a ressurreição, que se daria três dias depois.

Terminada a Sua tarefa aqui no mundo, Seus restos mortais receberam sepultura condigna. Outra vez José de Arimateia demonstrou a sua grande devoção, cedendo para esse fim o seu sepulcro novo, num jardim situado no mesmo lugar em que Jesus foi crucificado. Tinha sido escavado na rocha viva, e ainda não havia sido usado, sendo, portanto, muito apropriado para receber o Seu puríssimo corpo, livre da contaminação dos restos de outros corpos.

Depois de depositar o corpo de Jesus nesse sepulcro, José de Arimateia e Nicodemos rodaram uma grande pedra para fechar bem a porta do sepulcro e se retiraram.

Este curto relato sobre José de Arimateia nos traz as seguintes lições:

  1. Era “um homem bom e justo”: não são muitos os homens a quem são atribuídas essas qualificações na Bíblia. Mas todo o crente é capaz de obtê-las, pois nasceu de novo e tem em si o poder do Espírito Santo para vencer a carne e produzir o Seu fruto (Gálatas 5:22, Efésios 5:9).
  2. Esperava o reino de Deus: a esperança do reino de Deus está no âmago da nossa fé. O Senhor Jesus ensinou-nos a orar “venha o teu reino”, e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo é a bem-aventurada esperança que aguardamos (Tito 2:13).
  3. Era “um homem rico”: com a riqueza, vem a responsabilidade do servo de Deus. Os crentes ricos deste mundo não devem ser altivos, nem pôr a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus (1 Timóteo 6:17). Que sigam o exemplo de José de Arimateia, que colocou tudo de lado para engrandecer o seu Salvador, assim como Moisés "teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito" (Mateus 6:24, Hebreus 11:26).
  4. Era um ilustre membro do sinédrio: foi-lhe dada essa honra por causa das qualidades que possuía. Mas seu caráter íntegro fez com que se opusesse às decisões injustas do sinédrio e as desafiasse dando dignidade ao Senhor crucificado. Demonstrou que tinha em si o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Filipenses 2:5-8).
  5. Agiu na hora certa com convicção e coragem: saiu do seu esconderijo para cumprir a justiça, não medindo o risco que corria, e desta forma se destacou entre todos os homens para honrar o Messias de Deus – o primeiro a fazê-lo depois da Sua morte redentora. Sempre será lembrado por isso.
  6. Provocou uma investigação oficial para verificar se realmente Cristo estava morto: foi feita por ordem do governador Pilatos, assim eliminando qualquer dúvida sobre o fato. Era importante que isso acontecesse, e Deus pôde usar José de Arimateia para essa finalidade. Não sabemos a importância que nossos atos de justiça terão no futuro.

José de Arimateia não é mencionado mais na Bíblia. No entanto, a sua ação corajosa e importante neste momento crucial, conforme está revelada no texto bíblico, o distingue dos outros discípulos, temerosos, que eram pessoas de pouca influência em seu próprio meio e, sendo galileus, eram desprezados na metrópole de Jerusalém. Eles foram transformados em valentes pioneiros depois da ressurreição do Senhor Jesus (que viram e com Quem conviveram por poucas semanas antes da Sua ascensão), e do seu batismo pelo Espírito Santo no dia de Pentecoste.

Na ausência de mais revelações autênticas sobre ele, um século mais tarde o autor de um “evangelho de Pedro”, apócrifo, enfeitou um pouco o relato bíblico. Surgiram depois lendas contando que ele fora para a Grã-Bretanha em 63 a.D., interessado em levar o Evangelho para exportadores de metais seus conhecidos, passando um tempo no sul da Inglaterra, depois viajando para a Irlanda, fazendo milagres, inclusive livrando a Irlanda de serpentes. Ele foi nomeado “santo patrono” da cidade de Glastonbury, no sul da Inglaterra. Essas lendas e muitas outras ainda são contadas e estimulam o turismo para essas regiões, mas não merecem crédito.

autor: R David Jones.