O perigo do materialismo

O meu pai nasceu em 1879 nos Highlands da Escócia. Ele foi criado pelos seus pais na Igreja Livre da Escócia, onde quando jovem foi convertido. Sendo a família numerosa, meu pai mudou-se para Glasgow à procura de emprego e começou a assistir aos estudos bíblicos em Shiloh Hall, Glasgow, onde aprendeu pela primeira vez a necessidade do batismo bíblico como foi realizado no Novo Testamento, e foi batizado. Ele se reuniu com os irmãos ali até 1922, quando novamente voltou para os Highlands, onde eu nasci. Em 1930 os meus pais se mudaram novamente para uma fazenda perto de Glasgow, onde ficamos até mudarmos para o Brasil em 1952.

O meu pai gostava muito de trabalhos com crianças e sempre apreciava estar na Escola Dominical, embora morasse a 7 km da igreja. Nós, os meus irmãos e eu, fomos ensinados a respeitar o Senhor e a Sua Palavra, aliás, naqueles dias, a Escócia era chamada “o país que ama a Bíblia”. Infelizmente já se foram aqueles dias.

Eu aceitei Jesus Cristo como meu Salvador em janeiro de 1938 e em 1939 iniciou-se a segunda guerra mundial que durou até 1945, de modo que a minha mocidade foi vivida na sombra da guerra quando havia muitas restrições e sofrimento, mas a vida continuou.

A nossa igreja era formada de irmãos da classe média e havia muita harmonia entre todos. Não havia obreiro de tempo integral na igreja, mas cada um desenvolvia o dom que Deus lhe tinha dado, uns ensinando, outros pregando, outros ajudando na Escola Dominical, na reunião da mocidade etc. Havia uma reunião especial no domingo à noite para os marinheiros das forças armadas que foram feridos e ficaram em um hospital grande na região. Fui batizado durante a guerra e logo depois comecei a ajudar os irmãos, acompanhando um evangelista de crianças em várias campanhas dele.

Nos séculos 19 e 20 houve vários reavivamentos no Reino Unido e, logo após, um grande desejo de evangelizar publicamente e pelas casas. Entre as duas guerras mundiais não havia muitos automóveis e os crentes iam às igrejas a pé, procurando ao mesmo tempo falar do Senhor Jesus onde moravam, estudavam e trabalhavam.

Muitos jovens sentiram o dever de levar as Boas Novas para outras terras – Índia, África e América do Sul. Os irmãos da nossa igreja gostavam de convidar missionários para darem um relatório do Trabalho do Senhor, e vibrávamos ao ouvir das dificuldades e triunfos do Evangelho em outros países. Creio que uma das coisas que une o povo do Senhor são as campanhas de evangelização, quando todos estão fazendo o máximo para ver almas convictas e convertidas. Os missionários que partiram da Escócia tiveram o mesmo desejo nos países onde foram com o Evangelho, verdadeiramente foram pioneiros.

Logo depois de terminar a guerra havia uma grande falta de moradias, e o governo começou a construir conjuntos habitacionais e houve uma mudança da população, levando muitos para mais longe da igreja, mas não criou tanto problema porque agora existiam muitos carros.

Lentamente a população começou a perder o temor que se deve ao Senhor e o respeito para com a Bíblia, a família se desmoronou, e a sociedade tornou-se MATERIALISTA. Pensaram nos seus direitos, seu conforto, seu prazer, suas férias etc. As atitudes da sociedade atingiram a vida religiosa do país, e muitos prédios das igrejas nacionais foram vendidos, ficando assim muitas pessoas sem conhecer a Bíblia. Atualmente muitas pessoas nem sabem o que é a Bíblia.

Tais atitudes atingiram também os irmãos, e muitos sucumbiram ao DESÂNIMO, mas graças a Deus existe o remédio para o desânimo, que é olhar para Jesus, o autor e consumador da fé, e Deus está abençoando o Seu testemunho. Começaram a evangelizar mais vigorosamente e se tornaram uma influência positiva na vizinhança, como resultado Deus tem chamado mais jovens para servi-Lo em tempo integral.

Estou escrevendo tudo isso para que possamos dar graças a Deus, pois essa forma de MATERIALISMO por enquanto não chegou ao Brasil. Irmãos, os bens ou a falta deles não é o problema, mas é o que fazemos com os nossos bens, e damos graças porque estamos aprendendo que Aquele que é fiel no MÍNIMO também é fiel no muito. Os crentes da Macedônia nos deram um bom exemplo quando “em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza superabundou em riquezas da sua generosidade” (Leiam 2 Coríntios 8:1-5).

Há certas coisas que, como igreja, devemos lembrar:

  • Devemos estar prontos para explicar porque nos reunimos dessa forma e sermos acessíveis às pessoas que estão CONFUSAS por causa da situação religiosa que vivemos no Brasil.
  • Devemos explicar com clareza que Deus tem um plano para o Seu povo se reunir. O plano se encontra no Novo Testamento.
  • Ir além do plano ou ficar aquém do plano será prejudicial.
  • Criticar aqueles que trabalharam muito, e que agora estão com o Senhor, não é bom. Devemos lembrar que em Hebreus 11 elogia-se os atos de fé dos servos do passado sem comentar suas falhas.
  • Lembremos que os métodos de apresentar a mensagem mudam, mas a mensagem é a mesma e é a única que pode salvar o ser humano.
  • Sendo assim, devemos nos esforçar ao máximo em apresentar o EVANGELHO e VIVER de acordo com o ele. Irmãos, é tão fácil FALAR, mas o difícil é VIVER.
  • Devemos evangelizar sempre, mas de quando em quando devemos ter uma campanha especial para que todos os membros se esforcem na distribuição de convites e literatura, buscando as pessoas para ouvir o EVANGELHO. Um esforço assim UNE OS MEMBROS DA IGREJA.
  • O evangelismo não deve ser restrito às pregações na igreja, mas devemos aproveitar TODAS AS OCASIÕES.

Ao terminar, deixe-me citar as palavras do irmão T. Renshaw, pai de André Renshaw, de Casa Branca-SP: “Os nossos grupos locais dão a sua expressão mais apropriada ao ensino bíblico quando praticam e pregam a verdade em amor. Não há nada antiquado ou inaplicável nos princípios do ensino do Novo Testamento. Ocasionalmente, porém, ouvimo-los tratados com severidade áspera. Isso é inescusável ... Lembremos que muitos crentes piedosos são achados fora dos nossos círculos. Se eles cruzam os nossos caminhos ou freqüentam as nossas reuniões, deveríamos mostrar-lhes todo amor e gentileza ... Deveriam achar entre nós uma antecipação autêntica de afinidade espiritual que será realizada plenamente quando o Senhor voltar”. Que assim seja!

autor: James D Crawford.