O tempo da consciência

Gênesis 3:25 a 8:19

 

O tempo da consciência começou no dia em que Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim do Éden, assim desobedecendo ao único mandamento que Deus lhes dera, que resultava em punição se não fosse cumprido. Isto é relatado em Gênesis 3:5.

O Senhor então amaldiçoou a serpente e lhe declarou: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). Este versículo é conhecido como "o primeiro evangelho". Prediz a hostilidade eterna entre a serpente (que representa Satanás - Apocalipse 12:9) e a mulher (que representa toda a humanidade) e entre a descendência da mulher (o Messias) e a descendência de Satanás (seus agentes).

A “descendência da mulher” esmagaria a cabeça do diabo, uma ferida mortal representando a derrota total. Esta ferida foi administrada no Calvário quando o Senhor Jesus Cristo decisivamente triunfou sobre Satanás. Satanás, por sua vez, “feriu o calcanhar do Messias”, referindo-se ao Seu sofrimento e morte física, mas não foi uma derrota final, pois Ele ressuscitou dos mortos, vitorioso sobre o pecado, inferno e Satanás. O fato de ser chamado “a descendência da mulher” pode sugerir seu nascimento virginal. Observe a benevolência de Deus ao prometer o Salvador antes de pronunciar a sentença nos versículos seguintes. A responsabilidade do homem durante o tempo da consciência foi crer nessa promessa. 

Os versículos seguintes, até 24, nos contam as severas punições impostas sobre Adão e Eva por causa da desobediência, que afetam toda a sua descendência, e a sua expulsão do jardim do Éden, impedindo que comessem do fruto da árvore da vida e vivessem eternamente. Em seu ato de desobediência a Deus, imediatamente “morreram” espiritualmente, significando que perderam seu direito à comunhão com Deus, tanto eles como seus descendentes. Um dia também morreriam fisicamente, porque Deus fechou seu acesso à “árvore da vida” cujas folhas lhes permitiriam viver eternamente.

Começou então um novo tempo, o da Consciência, que durou mais de dezesseis séculos. O nome enfatiza o princípio pelo qual Deus dirigiu a humanidade nesse período, que foi a consciência do bem e do mal adquirida no jardim do Éden.  Adão viveu durante os primeiros 930 anos, e o Senhor se comunicava com ele e outros da sua descendência. Entre os Seus ditames desse tempo, temos registrados na Bíblia a obrigação dada à mulher de obedecer ao seu marido, e do marido de trabalhar para seu sustento.

Ainda não haviam sido impostos leis e decretos de conduta ao ser humano, mas ele conscientemente podia distinguir entre o “bem” e o “mal”. Em Romanos 2:15 Paulo descreve que os homens e mulheres em geral “mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os quer defendendo-os”.

Se procedesse “bem”, o homem seria feliz e seu semblante se levantaria, mas se procedesse “mal” seu semblante descairia e ele estaria em vias de ser subjugado pelo desejo do pecado, desejo este que ele deveria dominar (Gênesis 4:7). Outro teste estava na espécie de ofertas que faziam a Deus, sendo que Ele se agradava daquelas do tipo que Abel lhe trazia: “dos primogênitos e gordura das ovelhas” e não “o fruto da terra” como as de Caim. As primeiras eram proféticas do “Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo”, o Senhor Jesus Cristo (João 1:29), enquanto que o segundo é o resultado do esforço humano, incapaz de lavar os seus pecados. É uma figura, usada como lembrete da restauração prometida desde que o ser humano caiu da posição privilegiada que ocupara quando foi criado.

Neste tempo houve o primeiro homicídio, quando Caim matou Abel, sendo eles dois dos primeiros filhos de Adão e Eva. Em seguida Deus deu a Eva outro filho, chamado Sete. Adão agora era da idade de 130 anos. Disto se deduz que, entre a morte de Abel e o nascimento de Sete, Eva não teve outros filhos, pois, se houvesse, ele teria sido mencionado ao invés de Sete. Mas como Adão e Eva tiveram outros filhos e filhas (Gênesis 5:4) o número de pessoas no mundo por ocasião deste homicídio poderia já ter alcançado muitos milhares, justificando o temor de Caim de ser assassinado em vingança pela morte de Abel (Gênesis 4:14 e 15).

Como exemplos dos que procederam “bem”, nesse tempo, temos:

  • Abel, declarado “justo” por Deus mesmo (Mateus 23:35, Hebreus 11:4).
  • Enoque, que procedeu “bem”, pois andou com Deus e, ao completar a grande idade de 365 anos “não apareceu mais, porquanto Deus o tomou”, isto é, foi “trasladado para não ver a morte” (Hebreus 11:5). Enoque também foi profeta, anunciando a vinda do Senhor “com os seus milhares de santos para executar juízo sobre todos...” (Judas versículo 14).
  • Noé, “que era homem justo e perfeito em suas gerações, e andava com Deus” (Gênesis 6:9).
  • O Senhor não se fez ausente do ambiente humano durante esses primeiros séculos. O relato bíblico nos dá umas poucas instâncias de diálogos que teve com homens, mas não há motivo para pensar que foram os únicos.
  • Por outro lado, a despeito disso, a corrupção da humanidade crescente foi grande:
  • Os homens bem cedo se deram à luxúria (Gênesis 6:2).
  • Os homens piedosos eram atraídos pela formosura física de mulheres carnais, e do seu casamento vinham filhos que acompanhavam as suas mães, ímpios e distantes de Deus.
  • Surgiram os gigantes entre a população, (“nefilim” no hebraico): “eles foram os heróis do passado, homens famosos” (Gênesis 6:4, NVI), ou seja, as celebridades e ditadores cuja influência nociva levava as multidões para o mal.

Então “viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente.” (Gênesis 6:5). A humanidade havia se tornado tão má que não mais podia seguir os ditames da sua consciência. Mesmo sua consciência havia sido abafada a tal ponto, que não podia mais ser usada para orientação. Em vista disso, o Senhor decidiu terminar toda a humanidade desse tempo, mas preservar com vida as únicas oito pessoas que lhe eram fiéis: Noé, sua esposa, seus três filhos e suas esposas.

O tempo da consciência assim terminou cerca de 1.650 anos depois da criação do mundo, quando Deus destruiu toda a superfície da terra e suas criaturas que aqui viviam, mediante um gigantesco dilúvio em que “romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram” (Gênesis 7:9), salvando apenas Noé, sua esposa e seus três filhos com suas esposas, bem como casais de representantes de todos os animais e aves da terra, dentro de uma imensa arca de madeira.

A graça de Deus se vê na preservação de Caim depois que matou Abel, na salvação de Enoque da morte, e na salvação de Noé com a sua família do dilúvio para permitir novo crescimento da população humana no mundo.

autor: R David Jones.