O teste de paternidade

Leia 1 João 3:7-17


Quando a paternidade de alguém é posta em dúvida, existem exames para prová-la. Hoje em dia está em voga o uso do teste de DNA, um código genético das células de cada indivíduo, herdado dos seus pais, que é considerado praticamente infalível para identificar os pais naturais.


Mas, do ponto de vista espiritual, existem apenas duas famílias no mundo: os filhos de Deus e os filhos do diabo. A ideia de que existe uma paternidade universal de Deus e uma irmandade universal humana é uma heresia: a Bíblia não nos ensina que Deus considera toda a humanidade como Seus filhos. O Senhor Jesus disse aos líderes religiosos do Seu tempo: “Vós sois do diabo, que é vosso pai…” (João 8:44). Alguém disse que a razão por que um crente não deve se casar com um descrente, é porque vai ter problemas com o sogro…! E como isso é verdade!


Aos filhos de Deus, a quem João endereçou esta sua carta, neste texto chamados “filhinhos”, ele aponta, nos versículos 7 e 8, um teste infalível para descobrir a paternidade espiritual das pessoas. Uma tradução bem literal do original grego em que foram escritos seria: “Pequenos filhos, não permitam a ninguém levá-los a se extraviarem; aquele que está fazendo a justiça é justo, mesmo como Ele é justo, aquele que está fazendo o pecado, do diabo é, porque desde o princípio o diabo faz pecado”.


A palavra justiça tem aqui o significado da vida justa mediante a graça de Deus, que é o resultado da salvação mediante o novo nascimento em Cristo: ele faz justiça porque ele foi feito justo. A justiça de Deus é dada e aplicada em todo aquele que crê em Jesus Cristo (Romanos 3:22). O Senhor Jesus é justo, e por causa disso todos os que confiam nEle são feitos justos como Ele: Ele morreu como oferta pelo pecado, pagando a sua pena, assim tirando os pecados de todos os que creem (v. 5).


Ninguém é feito justo mediante a obediência à lei de Moisés, ou por bom comportamento, ou por dizer-se cristão, ou por ser batizado, ou por ser membro de uma igreja, ou mediante algum ritual ou por pertencer a alguma instituição religiosa. Quem não for feito justo mediante a fé em Cristo está fazendo o pecado, e é do diabo que pecou desde o princípio: ele é filho espiritual do diabo porque é igual a ele no pecado. O Filho de Deus veio para acabar com essa paternidade, e isso Ele realmente faz a todos os que confiam nEle.


Muita gente tem compreendido erradamente os versículos 9 e 10 por desconhecer a tradução literal. “Aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado” não significa cometer um pecado isoladamente, mas praticar o pecado continuamente, como hábito: isso é claramente explicado em Romanos 6. O filho de Deus tem uma natureza divina, sendo nascido de Deus. Ele almeja as coisas de Deus e detesta desobedecer-Lhe, portanto não vive continuamente na prática do pecado.


Em 1 João 2 aprendemos que é da vontade de Deus que vivamos sem pecar, mas se acontecer de um crente pecar, Ele tem um Advogado junto ao Pai para defendê-lo. No capítulo 1 somos informados que, se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e para nos purificar de toda a injustiça.


Uma vida de pecado é prova de que alguém é filho do diabo e não de Deus. Essa evidência se faz clara a todos. Os fariseus religiosos reivindicavam ser filhos de Abraão, enquanto sua conduta provou que eram filhos do diabo (João 8:33-39). “Pelos seus frutos os conhecereis”, disse o Senhor Jesus (Mateus 7:20).


Deveríamos poder encontrar algum fruto bom em nossos irmãos na fé. Não importa quem ele seja, nem o que ele declare ser, nem a sua atividade — pode até ser um diácono ou encarregado de diversos trabalhos da igreja — se alguém não produz o fruto do Espírito (amor, alegria, paz, longanimidade etc.) não é um filho de Deus.


A segunda prova no exame de paternidade é a presença ou não de amor pelos outros membros da família de Deus. Um filho de Deus ama outros que são crentes como ele. A palavra amor, muito usada nesta epístola, é uma tradução da palavra grega agapao, que também é usada para denominar o amor de Deus (João 3:16), não é a palavra phileo que é usada para expressar o amor do tipo existente entre irmãos dentro de uma família. É, portanto, diferente e superior ao amor humano.


Temos uma boa descrição desse tipo de amor em 1 Coríntios 13: o filho de Deus não aprecia necessariamente tudo o que os seus irmãos na fé fazem, dizem, e o que mais lhes interessa, mas certamente se preocupa com eles e procura ser-lhes benéfico quando surgem as oportunidades, e nunca guarda rancor em seu coração contra outro crente. Aquele que não tem cuidado pelo seu irmão em Cristo não é um filho de Deus — ele ainda pertence à família do diabo.


A mensagem de amor pela irmandade aparece desde o início do Evangelho: o Senhor Jesus o ensinou aos Seus discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”, e todos os apóstolos o ensinaram. Remonta ao tempo dos irmãos na carne Caim e Abel, quando Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. Ciúmes e inveja resultaram em homicídio por parte de Caim.


Dentro das igrejas, ciúmes e inveja da parte dos que se dizem crentes fazem mais estragos à obra de Cristo do que, talvez, qualquer outra coisa. Quantos pregadores têm inveja do sucesso de outros? Quantos têm ciúmes quando outros são escolhidos para as posições ou trabalhos mais importantes? Muitas intrigas na obra de Deus têm sua origem em ciúmes.


Não é novidade, e é até de se esperar, que o mundo deteste ou não aceite os filhos de Deus. O Senhor Jesus mesmo disse: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (João 15:18,19). Nem por isso o filho de Deus deve se fazer detestável usando de rudeza, desprezo e outras atitudes semelhantes para com os descrentes. Cuidemos para que nossa rejeição seja pela mesma razão por que Cristo foi rejeitado.


Deus conhece nossos corações e sabe se realmente nascemos de novo e somos Seus filhos. Cada um de nós pode se certificar se é um filho de Deus ou não. A prova da paternidade está neste exame: os que não são filhos de Deus, mas do diabo, se manifestam pela ausência de duas coisas: a prática da justiça e o amor pelos filhos de Deus; mas se estamos produzindo o fruto do Espírito Santo e se amamos nossos irmãos e irmãs em Cristo com o tipo de amor que Cristo revelou por nós, somos indubitavelmente filhos de Deus.

autor: R David Jones.