Vivendo pela fé, com uma doença terminal

(transcrito por R. David Jones)


Sou cristão desde os 14 anos de idade, quando reconheci que Jesus Cristo é Deus e Salvador, confiei n’Ele como meu Salvador pessoal e Senhor da minha vida. Passei a fazer parte da família de Deus, com a certeza da vida eterna.

Até o início do ano de 2000, minha vida parecia transcorrer num mar de rosas. Alguns espinhos, é claro, mas boa saúde na família, filhos todos empregados, muita paz e muito amor no lar, participação agradável nos trabalhos da igreja, poucas preocupações financeiras, meu escritório de consultoria vinha se desenvolvendo bem, porém em março de 2000 aconteceu o inesperado e a minha vida mudou dramaticamente.

Fui internado em regime de urgência com um quadro de bloqueio intestinal. No dia 31/3 fui operado às pressas, tendo sido retirado um tumor cancerígeno do cólon em estado avançado, muito agressivo e com células cancerígenas já disseminadas pelo corpo.

No término da operação, o médico chamou meus familiares presentes (esposa e dois filhos), nos recriminou por ter deixado a doença chegar a um estado tão avançado e, em resposta à pergunta de um dos filhos, informou que meu estado era muito grave e a previsão médica, desde que eu me submetesse ao tratamento apropriado, seria de aproximadamente mais um ano de vida.

Fui encaminhado ao médico oncologista que, ao me receber na primeira consulta, mentalmente também previu que meu tempo de vida seria de aproximadamente nove meses a um ano. O choque foi terrível! Nossa vida poderia ter se tornado num mar de espinhos, mas não foi isso que aconteceu.

É verdade que de lá para cá tenho feito quimioterapias, intercaladas com mais três cirurgias, em virtude da metástase, inicialmente no fígado, depois no abdômen, no tórax, nos pulmões e no pescoço. Já tive quadro de confusão mental que me levou à UTI com diagnóstico de câncer no cérebro, já perdi (e recuperei) todos os meus cabelos, já tive reações de toda espécie às quimioterapias e tratamentos, já fiquei deprimido, já fiquei exultante, etc.

Atualmente apresento tumores cancerígenos nos pulmões e no tórax que vem aumentando em número e quantidade; os tumores no abdômen, no fígado e no pescoço parecem estar estacionados. Desde dezembro 2002 sou “cobaia” de um tratamento experimental de combinação de quimioterapia com transplante de células sangüíneas de parentes próximos.

Fui obrigado a reduzir minha atividade profissional e minha situação financeira tornou-se mais precária. Passei a viver mais modestamente.

O que tudo isto tem a ver com minha fé cristã?

Tem tudo a ver, pois tenho certeza daquilo que creio e esta certeza é um dos fatores principais, senão o principal, que me mantém vivo com boa qualidade de vida até hoje, e da mesma forma que a minha fé, esta certeza é totalmente racional. Senão, vejamos:

Sei que meu futuro, como de qualquer outra pessoa, apresenta três hipóteses:

  1. Deus me levar já, ou seja, eu morrer a qualquer momento. Quando enfrentamos uma doença grave somos forçados a encarar a possibilidade de morrer e isto, de um modo geral, assusta muito as pessoas. Podemos até crer, como cremos, na imortalidade da alma, mas nos apegamos muito à permanência do corpo físico aqui na terra! A minha fé não permite que eu fique apavorado com esta hipótese! O Salmo 23 diz: "ainda que eu ande pelo vale de trevas e morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo". Sei que o nosso Deus está comigo! E mais, sei para onde vou no exato momento em que deixar esta terra: um lugar onde não há mais dor, nem sofrimento, nem choro, nem morte (nem dinheiro, dívidas, repartições públicas, impostos, políticos corruptos, etc). Esta certeza não é fruto de eu ser uma pessoa melhor do que qualquer outra, de ser membro de uma igreja, de tentar praticar boas obras; é fruto, sim, da minha fé na Obra e na Pessoa do Senhor Jesus Cristo, que morreu em meu lugar na Cruz do Calvário e foi ressuscitado ao terceiro dia. Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente". Minha experiência dos últimos quatro anos confirmou que Deus retirou de mim qualquer medo da morte física que virá mais cedo ou mais tarde, pois a vida eterna é prometida por Deus e a ressurreição de Cristo é a garantia da ressurreição de todos os salvos por Deus.
  2. Deus pode me deixar aqui por mais algum tempo, curado. Em momento algum deixo de crer que Deus pode curar-me, se Ele assim desejar. Poder para isto, o Criador de todo o universo tem! O fato de me manter vivo, durante todo este tempo, e com boa qualidade de vida, é prova do Seu cuidado e carinho para comigo. Pelas razões apresentadas, acima e abaixo, tenho certeza que Ele sabe se esta é, ou não, a melhor opção para mim.
  3. Deus pode me deixar aqui por mais algum tempo, doente. A doença tem trazido muitas bênçãos para mim! Uma maior intimidade com Deus, o reconhecimento da Sua ação em cada momento do meu tratamento, um estreitamento do relacionamento com a família – que tem me apoiado incondicionalmente –, a certeza de ser muito amado por inúmeras pessoas que me apoiam e oram por mim, em todo o mundo, e a oportunidade de conhecer, trocar idéias, consolar e ser consolado por outras pessoas na mesma situação.

Como afirmei anteriormente, estas três hipóteses são aplicáveis a qualquer pessoa – “doente terminal” ou não - na face da terra. O que me deixa tranqüilo é que sou um privilegiado por ter sido salvo pela Graça de Deus, e sei que Ele está no controle da minha vida, do meu tratamento e da minha saúde.

Estou cada vez mais convicto que nada neste mundo - nem mesmo uma “doença terminal” - pode me separar do Amor de Deus que está em Cristo Jesus, meu Senhor e Salvador. Amém!

autor: William Paulo Jones.