A caminho do Apocalipse

Índice

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13 (1)

Capítulo 13 (2)

Capítulo 13 (3)

Capítulo 13 (4)

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17 (1)

Capítulo 17 (2)

Capítulo 17 (3)

Capítulo 18 (1)

Capítulo 18 (2) 

Capítulo 19 (1)

Capítulo 19 (2)

Capítulo 20 (1)

Capítulo 20 (2)

Capítulo 20 (3)

Capítulo 20 (4)

Capítulo 21 (1)

Capítulo 21 (2)

Capítulo 21 (3)

Capítulo 21 (4)

Capítulo 22 (1)

Capítulo 22 (2)

 

 

 


"Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo"
Apocalipse 1:3

Capítulo 1

Sem dúvida o Apocalipse é um Livro sobremodo notável, mas há que se lamentar que existam tantos que, apesar de cristãos, o menosprezem de forma tão acentuada sob a alegação de que é impossível compreendê-lo. Isso não é verdadeiro!

Ao contemplarmos o nosso entorno, podemos concluir que nunca foi tão importante se alcançar o conhecimento da Profecia contida neste Livro, pois isso poderá fazer uma grande diferença para aqueles que a desconhecem e poderão ser colhidos de surpresa, a qualquer tempo, por uma avalanche de acontecimentos pelo fato de ninguém tê-los avisado da veracidade dos eventos nele previstos e da necessidade da Salvação que somente há em Jesus Cristo, para se livrarem de tão angustioso juízo.

O Apocalipse não é um livro de profecias, mas da Profecia (v. 3) numa unidade lógica de acontecimentos acerca das coisas que o apóstolo João "viu", que se trata da majestosa pessoa do Senhor Jesus Cristo, na ilha de Patmos; as coisas "que são", revelando profeticamente o que ocorreria com a Igreja de Deus ao longo dos séculos; e as que "hão de acontecer", que é o juízo de Deus que recairá sobre aqueles que não forem "arrebatados" para o encontro com o Senhor Jesus quando Ele vier para buscar a Sua Igreja.

Ao se falar no arrebatamento, há que se lamentar o enorme equívoco daqueles que acham que a Igreja passará pela grande tribulação, apesar de estar claríssimo nas Escrituras Sagradas de que ela não foi preparada para o dia da ira de Deus (Romanos 5:9; 1 Tessalonicenses 1:10, 5:9; Apocalipse 3:10).

Convém lembrar, que as Escrituras revelam que o iminente arrebatamento será somente para a Igreja (João 14:1-4; 1 Coríntios 15:50-58; 1 Tessalonicenses 4:13-18), e não citam mais alguém além daqueles que morreram em Cristo, e os cristãos verdadeiros que estiverem vivos por ocasião da Sua vinda. Os santos que morreram na antiga dispensação (Velho Testamento) e os que serão salvos durante a grande tribulação que há de vir sobre o mundo serão ressuscitados ao se completar o último estágio da primeira ressurreição no início do reino milenar do Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 20:6).

Os restantes dos mortos, os incrédulos de todas as épocas, serão ressuscitados somente ao final desse milênio para o grande julgamento final. Muito estranha, portanto, a afirmação de muitos que se dizem cristãos de que não haverá o reino milenar do Senhor Jesus na Terra (Apocalipse 20:4-5).

As várias interpretações confusas têm levado um grande número de pessoas ao desinteresse pela leitura desse admirável Livro e isso é de enorme importância para Satanás, cujo desejo é o de afastar os cristãos do conteúdo dessa Revelação a fim de lhes encobrir a verdade. Muitos, sem se aperceberem, estão a colaborar com os objetivos do maligno à medida que criam toda sorte de enganosas interpretações sobre o teor deste Livro.

Quando adentramos ao Apocalipse de imediato vamos ao encontro do Senhor Jesus como o revelador de Si mesmo (vs. 1-3), cujo propósito é indicado logo no seu preâmbulo: "mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer" (v. 1). Em nenhuma hipótese poderá existir mais de um entendimento acerca disso, pois o Espírito Santo é que leva aos que creem à compreensão correta deste Livro, tendo em vista que Ele é Deus (Atos 5:3-4), portanto, infalível. O Senhor Jesus deixou claramente explícito que o Espírito Santo guiaria a toda verdade aqueles que creem no Senhor Jesus e lhes anunciaria as coisas que haveriam de vir (João 16:13).

O Apocalipse não é um circo de horrores como tantos apregoam face aos acontecimentos que envolvem a grande tribulação, pois, além da plenitude das bem-aventuranças nele contidas (Apocalipse 1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7; 22:14), há promessas inefáveis de alegrias eternas aos redimidos pelo Senhor Jesus, pois toda lágrima, morte, pranto, lamento, dor, sede, impureza, abominação, mentira, fome, doença e maldição nunca mais existirão pelos séculos dos séculos (Apocalipse 21:4, 6, 27; 22:2-5). Isto é verdadeiramente maravilhoso, magnífico, aos nossos olhos.

Neste primeiro capítulo contemplamos o resumo dos pontos principais do seu conteúdo e a primeira das sete bem-aventuranças. É o único Livro que traz uma bênção especial para os que o leem, ouvem e guardam as coisas nele escritas (v. 3).

Atentemos para a plenitude existente neste Livro pelo surgimento de dezenas de citações que contêm o número "sete". Como sabemos, esse número provém de uma raiz hebraica cujo significado é "ser completo", "pleno", "ter o suficiente", que transmite a ideia de "inteireza ou perfeição". Somente neste primeiro capítulo por dez vezes lemos sobre este algarismo:

"as sete igrejas" (vs. 4, 11, 20) que se referem ao período da dispensação da graça;"os sete espíritos" (v. 4) que demonstram a inteireza da perfeição de Deus;"os sete candeeiros" que simbolizam a perfeição da luz, da verdade e do testemunho do Senhor Jesus através da Sua Igreja (vs. 12, 20);"as sete estrelas" que revelam a perfeição do Seu governo (vs. 16, 20).

Como o Apocalipse é a Revelação do Senhor Jesus Cristo, ele é totalmente centrado na Sua magnífica Pessoa, e vemos isso claramente demonstrado na visão do consagrado apóstolo:

O Senhor dos anjos que estão ao Seu serviço (v. 1);A Fiel Testemunha tanto de Deus como da Sua Palavra (v. 5); • Ele é o primogênito dos mortos (v. 5);Ele nos ama, pelo Seu sangue nos libertou, Ele é o nosso único Propiciador (v. 5);Soberano dos reis da Terra que aqui virá para estabelecer o Seu Reino Milenar (v. 5);Ele é o que há de vir para lamento de alguns e júbilo para aqueles que amam a Sua vinda (v. 7), conforme diz Paulo em 2 Timóteo 4:8;O Ancião de Dias descrito em Daniel 7:9 (v. 14);O Primeiro e o Último, e tudo mais que estiver nesse permeio (v. 17); Ele tem a chave da "morte" que é o local que recebe o corpo físico que lá permanece até a ressurreição; e do "hades" que recebe o espírito e alma no local intermediário entre a morte e a ressurreição (v. 18).

Vê-se, portanto, que o Apocalipse é um Livro para ser plenamente compreendido, pois o seu conteúdo é de Revelação, não de cobertura ou cerramento. "Revelação" tem o significado do "abrir as cortinas" ou "retirada do véu", passando a revelar algo que não mais pode permanecer oculto. Ele não é um Livro de mistérios, mas de discernimento, e vemos isso no último versículo deste primeiro capítulo (v. 20), onde o próprio Senhor deu a interpretação do significado oculto dos "sete candeeiros" e das "sete estrelas" que estão nos versículos 12 e 16. Os "candeeiros" são as igrejas e as "estrelas" os anjos das igrejas.

Saber isto, para alguns, já seria mais do que suficiente, todavia, as interpretações dadas a essa afirmação do Senhor Jesus – anjos das igrejas – têm gerado insuportáveis controvérsias que acabam provocando desinteresse nas pessoas em estudar o Apocalipse. Digno de nota é que grande parte desses que tentam interpretar o texto sagrado contido nesse Livro usam expressões como "talvez", "provavelmente", "pode ser", dentre outras colocações. Creio que seria melhor se dissessem "não sei" do que transmitir uma dúvida. Quando se escolhe não decidir, já se tomou uma decisão; por certo a pior.

É claro que há muitos que tomam decisões por interesses pessoais à medida que se identificam como sendo esses anjos pelo fato desse vernáculo ter o significado de "mensageiro", logo, esses anjos poderiam ser os que "lideram as igrejas" e com isso atenderiam os anseios daqueles que adotam o clericalismo, passando a ter um poder temporal sobre as igrejas que nunca lhes fora dado, típica obra dos nicolaítas que tanto aborrece ao Senhor, conforme lemos em Apocalipse 2:6.

Sabemos que há aqueles em nosso meio que, bem-intencionados, sustentam o ponto de vista de que esses anjos são seres humanos, e a eles apresento os meus sinceros respeitos, todavia, pessoalmente, hão de permitir que eu pense de forma diferente ao entender que essa interpretação do Senhor Jesus se trata de personificações, tanto na forma celestial da igreja observada em Jesus Cristo, onde os anjos representam o caráter que as igrejas deveriam manifestar, como na forma terrena que é manifestada pelos candeeiros ao representarem a igreja vista pelos homens.

Ao se ler a milenar história da igreja e ver os atuais usurpadores que lideram as igrejas tidas como evangélicas, fica intolerável interpretar que esses "mensageiros" são os mesmos que estão na mão direita do Senhor Jesus (v. 20). Perdoem-me, mas isso afronta ao bom senso. É palatável, portanto, entender que os anjos descritos pelo Senhor Jesus sejam símbolos incomuns para representar o caráter celestial e sobrenatural da Sua Igreja que está em Sua mão direita (vs. 16, 20), mas sob nenhuma hipótese seres humanos imperfeitos como nós.

Lastreio o meu entendimento em dois respeitados comentaristas do nosso meio acerca de Apocalipse 1:20. Escreve James Allen em seu livro: "Muitos comentaristas, talvez a grande maioria... veem esses anjos como sendo aqueles que são capacitados para governar as igrejas... A objeção a isto, que eu considero insuperável, é que um símbolo não pode ser interpretado por outro símbolo... Os candeeiros são símbolos literais da igreja, e as estrelas só podem representar seres angelicais literais". Por sua vez nos diz William MacDonald: "Os comentaristas propõem várias explicações para os anjos. Para alguns, eram seres angelicais que representavam as igrejas, da mesma forma como os anjos representam nações (Daniel 10:13, 20-21). Para outros, eram os bispos (ou pastores) das igrejas, uma explicação sem base escriturística... O termo grego (angelos) significa anjo ou mensageiro, mas em Apocalipse o primeiro significado (anjo) é bastante proeminente. Apesar das cartas serem endereçadas aos anjos, o conteúdo é, sem dúvida, dirigido a todas as igrejas".

Bem haja! Que tudo ocorra da melhor maneira possível neste nosso caminhar rumo ao há de vir, apesar do controverso existente. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 2

Após concluir aquilo que “viu” na ilha de Patmos, isto é, a visão do Senhor Jesus glorificado, nos capítulos 2 e 3 João passa a descrever as coisas “que são”, que se referem a atual era – a da graça – através das sete cartas às igrejas que, ao serem representadas no capítulo anterior pelos sete candeeiros de ouro, revelam que são independentes entre si, mas responsáveis pelos seus atos perante o Senhor que está entre elas. A plenitude dos sete candeeiros denota a universalidade da igreja desde o seu surgimento com a descida do Espírito Santo (Atos 2).

De imediato, convém deixar ressaltado que o Livro do Apocalipse não foi para ser de exclusivo conhecimento das sete igrejas mencionadas no versículo 11 do capítulo anterior, como entendem alguns equivocadamente, mas para“todas as igrejas” existentes (Apocalipse 2:23) até ao tempo do seu arrebatamento (1 Tessalonicenses 4:17).

Não há dúvidas que essas sete cartas foram dirigidas àquelas igrejas que existiam à época, portanto com uma aplicação local, mas a amplitude do conteúdo de cada carta desfaz a ideia que o seu uso fosse restrito àquelas localidades, pois as verdades nelas contidas são para todas as igrejas nas eras que haveriam de suceder, pois vemos com clareza que os elogios e condenações nelas existentes têm caráter profético e suas características continuaram a acontecer ao longo do tempo, com bastante ênfase em nossos dias, a saber:

  • Igrejas que, apesar de louváveis, deixaram o seu primeiro amor (Éfeso)
  • Igrejas que sofreram perseguição e tentação (Esmirna)
  • Igrejas que permitem o mundanismo, tornando-se mera religiosidade (Pérgamo)
  • Igrejas culpadas por falsos ensinos (Tiatira)
  • Igrejas que ignoram os grandes pecados existentes em seu meio (Sardes)
  • Igrejas com pequeno poder, apesar de sinceras (Filadélfia)
  • Igrejas que negam a Cristo através da sua postura materialista (Laodiceia)

Inobstante a isso, lemos em todas as sete cartas a expressão: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”, que transmite com absoluta clareza que a mensagem contida em cada carta é destinada a um público maior do que simplesmente a cada igreja existente naquelas localidades.

Na introdução a essas cartas lemos repetidamente outra expressão: “Ao anjo da igreja... escreve”, cujo significado dessa personificação já foi mencionado no capítulo anterior. Ainda sobre esse assunto – anjo – William MacDonald faz menção de que há os que afirmam que esses anjos seriam mensageiros humanos que foram buscar essas cartas escritas por João na ilha de Patmos para entregá-las a cada uma dessas igrejas.

A meu ver essa é uma hipótese bastante improvável pelo fato de não existir um registro confiável a esse respeito, e pelas enormes dificuldades que esses “mensageiros” teriam para chegar até aquela inóspita ilha. Além disso, teriam que conseguir a permissão do império romano para essa visita, tendo em vista que para lá iam os que foram apenados a viver no mais absoluto desterro, isolados por completo do convívio social onde viviam, por serem considerados inimigos de Roma.

É muito provável que parte daqueles que tiram a representatividade desses “mensageiros” como seres celestiais, assim o faz por discordar da teoria da igreja católica de que eles seriam os “anjos da guarda” da Igreja de Deus. Todavia, sabemos que um erro não justifica outro! O que impediria a Deus de aparelhar sete anjos para esse mister, com uma função específica, como vemos fartamente ao longo de toda a Escritura?

Deixando de lado o controverso, há que se ressaltar que esses “mensageiros”, ainda que fossem seres humanos, seriam apenas uma parte da igreja, não o todo, portanto eles não passam de personificações, como dito na crônica anterior, pois de fato o que está sendo avaliado é o caráter espiritual da igreja, não os “mensageiros” das cartas.

Por outro lado, parece que por vezes as pessoas confundem “igreja” com o local em que se reúnem, mas de fato a igreja é uma “casa espiritual” onde cada pessoa que se converte ao Senhor torna-se uma “pedra viva” desse magnífico “edifício” (1 Pedro 2:5), e, individualmente, cada uma delas, não os tais “mensageiros”, terá que prestar contas ao Senhor pelo bem ou mal que praticaram (Romanos 14:10; 1 Coríntios 3:9-16; 2 Coríntios 5:10).

Neste segundo capítulo constam quatro das sete igrejas as quais João escreveu, vamos a elas:

1. A carta a Éfeso

Do ponto de vista profético, o período prefigurado para essa igreja vai dos anos 70 até 170 a.D. Até o ano 70 todos os apóstolos, exceto João, já haviam partido para a presença do Senhor. Portanto, ela aqui representa a igreja pós-apostólica e nela vemos que a devoção inicial ao Senhor Jesus já não era a mesma de outrora (v. 4), ela estava a se tornar uma igreja caída.

Por outro lado, a igreja em Éfeso se destacou pelo seu árduo trabalho e grande perseverança na obra do Senhor (vs. 2 e 3). Ela não tolerava os que eram maus, aqueles que se diziam apóstolos, mas de fato eram mentirosos. Por sinal, esses tais são uma grande realidade em nossos dias. Ela é também louvada pela aversão que tinha pelas obras dos nicolaítas (v. 6), que seria o início do clericalismo de pseudoapóstolos que ambicionavam a supremacia da liderança da igreja, que vinha a contrariar o princípio bíblico da pluralidade de anciãos eleitos pelo Espírito Santo para essa obra (Atos 20:28).

O nicolaísmo é uma realidade em quase a totalidade da cristandade nos dias atuais. O exemplo desse comportamento se vê através daquele que queria ser o dominador do povo de Deus: Diótrefes (3 João 9-11). É inconteste a existência de muitíssimas igrejas, das mais variadas denominações, na qual há um dono que de fato é quem manda na igreja, totalmente distante de Quem verdadeiramente a instituiu.

A igreja é exortada para que se arrependesse e voltasse à prática das suas primeiras obras, para que a sua luz não deixasse de brilhar neste mundo em trevas (v. 5). Isso é condição essencial a todas as igrejas, em todas as épocas, pois os vencedores de todas elas se servirão da árvore da vida que está no paraíso de Deus (v. 7).

2. A carta a Esmirna

Esmirna é considerada a igreja perseguida, que abrange o período de 170 a 312 a.D. Essas datas correspondem ao período das grandes perseguições dos imperadores romanos, até Constantino que se professou convertido ao Senhor em 312 a.D. Se já não bastasse Roma, houve também contra ela a blasfêmia daqueles que se diziam judeus (v. 9b), e, por sua vez, o diabo também foi implacável com essa igreja (v. 10), assim como tem sido ao longo da história da igreja haja vista a quantidade de desvios doutrinários existentes no presente século.

O Senhor a trata com grande ternura, pois sabia da sua tribulação. Ela tinha aparência de pobre, mas era rica concernente às coisas espirituais (v. 9a). Sob o jugo dos imperadores romanos ela sofreu intensas perseguições, mas a maior delas, por dez anos, de 303 a 312 a.D., foi a de Diocleciano segundo dados históricos. Um historiador da Igreja estima que durante esse período cerca de cinco milhões de cristãos teriam sido martirizados pelo testemunho do Senhor Jesus Cristo. Mas, como disse Tertuliano (200 a.D.), “o sangue dos mártires se tornou a semente da Igreja”.

Apesar disso, os cristãos verdadeiros eram encorajados a serem fiéis até a morte, ou seja, jamais renunciariam a sua fé no Senhor Jesus e com isso receberiam um galardão reservado aos mártires – a coroa da vida – (v. 10). Aos cristãos autênticos, diz o Espírito: “O que vencer de modo algum sofrerá o dano da segunda morte” (v. 11). Como vimos na crônica anterior a esta, os servos de Deus serão ressuscitados e aqueles que estiverem vivos serão arrebatados para o encontro com o Senhor, pois não passarão pelo período da grande tribulação e tampouco pela segunda morte, que é o destino de todos os incrédulos (Apocalipse 20:6 e 14).

3. A carta a Pérgamo

Considerada a “Igreja do Estado” numa união desastrosa que acarretaria enormes desvios doutrinários como vemos na igreja católica dos nossos dias. Seu período vai de 312 a 606 a.D., após a conversão de Constantino que permitiu que a igreja em Roma saísse das catacumbas onde se reunia para agir livremente na superfície. Ser “cristão nominal” caiu no agrado popular e foi um meio de se obter as benesses e o poder do Império.

Em 606 a.D., Bonifácio, que era o ancião local, foi reconhecido como bispo universal, ou seja, o primeiro papa. Como diz J. Allen – “A Igreja avidamente engoliu a isca (lançada por Constantino), sacrificou a sua consciência e fidelidade ao Senhor, e a Igreja e o mundo que até então andavam separados, passaram a caminhar de braços dados”. O clericalismo, ou a doutrina dos nicolaítas, estava estabelecido como modelo para a Igreja, e isso é algo intolerável para o Senhor (v. 15).

Em termos locais, essa igreja foi reprovada pelo Senhor por permitir em seu meio doutrinas consideradas perversas inseridas por adeptos da doutrina de Balaão (v. 14) que, dentre outras coisas, estimulavam a corrupção através da união com o paganismo, um costume tipicamente babilônico, com a desenfreada prática da imoralidade e idolatria, como fez Balaão com Israel (Números 25:1-3, 31:16). Estava formalizada na igreja a prática de se pregar o Evangelho em troca do lucro financeiro, tão em voga em nossos dias.

Em virtude da enorme prática do paganismo na localidade, o Senhor afirma que em Pérgamo estava o trono de Satanás, mas havia cristãos que lá se reuniam e não negavam a fé, como Antipas, fiel testemunha que foi terrivelmente martirizado (v. 13). Por isso o Senhor convoca os cristãos autênticos para o necessário arrependimento (v. 16), e o Espírito diz às igrejas, aos que vencerem, ou seja, aqueles que perseveram na sã doutrina em qualquer época, gozarão de uma íntima comunhão com o Senhor (v 17).

4. A carta a Tiatira– 2:18-29

Na história da igreja, Tiatira representa o período de 606 até o arrebatamento da igreja. Ela se caracterizou por um desenvolvimento constante da apostasia que chega aos nossos dias através da “igreja católica” e assim permanecerá até o fim desta dispensação com a vinda do Senhor Jesus para o arrebatamento da Sua Igreja.

Ela perdeu todas as suas características e se tornou em uma grande organização. Dentre os seus constantes e grandes desvios, se não o maior, foi a divinização de Maria ocorrida em 8/12/1854, através da bula “Ineffabilis Deus” proclamada pelo papa Pio IX, que de fato proclamou o “quarteto sagrado” constituído por Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo e Maria, a “deusa mãe”. Para melhor entendimento, recomendo a leitura da minha crônica “Antes que os Demônios Assumam (1), publicada em 2009 em A Senda do Cristão, e está disponibilizada em meu site: http://www.cronicasdeumservo.com.br/ler_artigos.asp?id=86

Todavia, ela não foi sempre assim, pois o Senhor relata que além das suas boas obras havia nela outras qualidades como fé, amor, serviço e perseverança e que as suas últimas obras haviam sido mais numerosas que as primeiras (v 19). O que teria ocorrido com ela para uma queda tão grande? A resposta é a “tolerância” (v. 20). A mesma tolerância que vemos hoje no cristianismo, onde as igrejas estão a perder a sua identidade por tolerarem que o mundanismo, os pseudoapóstolos, os falsos ensinos, e até mesmo o ocultismo, tenham livre acesso ao seu meio.

Lemos nos demais versículos que as consequências foram desastrosas para aquela igreja assim como será com aquelas que estão a sucedê-la. Mas lá havia, e sempre haverá, um remanescente fiel que se conserva firme na verdade até a vinda do Senhor, e por isso nenhuma outra carga foi jogada sobre eles (vs. 24-25). A fidelidade ao Senhor será recompensada! Aos vencedores será dado o direito de reinar com o Senhor em Seu reino milenar (vs. 26-28).

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 29). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 3

Neste terceiro capítulo temos a continuidade da exposição de João sobre as coisas “que são”, ou seja, o que estava a acontecer com algumas igrejas locais que existiam naquela época. Das sete cartas escritas, constam neste capítulo as três últimas – Sardes, Filadélfia e Laodiceia – que, como as outras quatro, refletiriam as condições espirituais que afetariam as igrejas no decorrer da sua história.

Estas três cartas demonstram, respectivamente, o que ocorreu após a “reforma protestante”, no século 16, cuja luz não tardou a perder o seu brilho, seguido pelo despertar evangelístico através das obras missionárias em muitas partes do mundo, mas que lamentavelmente não impediu que a igreja se tornasse uma organização apóstata pela sua frouxidão doutrinária e institucionalização ecumênica. A igreja dos últimos dias está no mundo, como deve estar, mas o mundo passou a estar em seu meio, onde não deveria estar.

5. A carta a Sardes– 3:1-6

Embora demonstrasse, aparentemente, estar “viva”, de fato o Senhor a considerava uma “igreja morta” (v. 1). Os seus membros não possuíam uma vida espiritual “íntegra”, de fato se dedicavam a um mero ritualismo religioso, amplamente observado em nossos dias. “Não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”, diz o Senhor (v. 2). Todavia, alguns poucos que lá se reuniam eram “dignos” por permanecerem fiéis ao Senhor e à Sua Palavra (v. 4). Ela carregava um formalismo estéril, como um cadáver bem vestido, mas faltava-lhe a força vital. O Senhor a convocou para um sincero e urgente arrependimento (v. 3).

Reflitam comigo! Havia obras praticadas por essa igreja? Claro que sim (v. 1), mas o Senhor delas não Se agradava por serem imperfeitas (v. 2), elas eram inadequadas por estarem fora da Sua soberana vontade. Fica a pergunta: Será que o Senhor está a aprovar as obras hoje praticadas por aqueles que se intitulam “evangélicos”?

Por oportuno, transcrevo o pensamento de Jayro Gonçalves a respeito: “Em 1 Timóteo 6:3-6, Paulo ensina que a doutrina do Senhor Jesus é segundo a piedade e não concorda com as falsas doutrinas que os falsos mestres expõem. No versículo 5 verificamos que a motivação da atitude dos falsos mestres era a obtenção de lucros (característica notória das seitas tão em voga em nossos dias), e o faziam, descaradamente, como demonstração de piedade (“supondo que piedade é fonte de lucro”)... Eram impulsionados por uma motivação oculta de cobiça, e ensinavam que suas riquezas eram um sinal de que Deus aprovava seus ensinos”.

Do ponto de vista histórico, Sardes nos remete ao período após a grande reforma promovida em 31/10/1517, por Martinho Lutero, mas, como observamos em nosso entorno, Satanás conseguiu obstaculizar essa “reforma” levando muitas igrejas à perda da sua identidade por carregar sobre si uma ortodoxia morta da qual jamais se recuperarão. Eis aqui um exemplo claro do cristianismo meramente nominal, que se sobressai pelos aspectos que exterioriza, mas aos olhos do Senhor é um fracasso retumbante. O denominacionalismo que se desenvolveu depois da reforma de Lutero permanecerá até o arrebatamento da Igreja.

Mas o Senhor incentiva ao que vencer: “De modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida” (v. 5). O Senhor não está a sugerir que é possível a um filho de Deus perder a Salvação, pois os cristãos verdadeiros possuem a segurança eterna da Salvação, conforme vemos em João 3:16, 5:24 e 10:27-29. Os que se “perdem” são os que de fato não se convertem ao Senhor, apenas estão envolvidos com sentimentos religiosos. Portanto, “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 6).

6. A carta a Filadélfia – 3:7-13

Ufa, que alívio! Após lermos sobre a intensa corrupção doutrinária de Sardes, com o seu mortificante formalismo religioso, eis que o Senhor se dirige a esta igreja sem nenhuma acusação, assim como ocorrera com Esmirna, a igreja sofrida. Vemos em Filadélfia uma igreja autêntica em meio àquelas meramente professantes.

Para ela o Senhor Se apresenta como Aquele que tem a chave de Davi (v. 7), ou seja, a mais absoluta autoridade de abrir e fechar a porta da Sua casa sem que ninguém possa fazer o contrário. Escreve R. David Jones acerca disso: “No capítulo 1:18 de Apocalipse Ele diz que tem as chaves da morte e do inferno, mas aqui ele fala do cumprimento da profecia achada em Isaías 22:20-25, assim como Eliaquim recebeu plena autoridade sobre Jerusalém, Cristo recebeu de Deus todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18), e, como Filho sobre a Sua casa, a igreja (Hebreus 3:6)”.

O ambiente nessa localidade não era nada propício a essa igreja, pois lá estavam aqueles que se diziam judeus, mas não eram, de fato o Senhor os qualifica como sinagoga de Satanás (v. 9). Todavia, o Senhor conhecia as obras praticadas por aquela Sua igreja, que apesar da pouca força que tinha, face ao contexto em que vivia, Ele tinha posto diante dela uma porta que ninguém poderia fechar, pois ela era fiel à Sua Palavra e jamais negou o Seu Nome (v. 8).

Não há nenhum desmerecimento à Filadélfia pelo fato do Senhor afirmar que ela tinha “pouca força”. Sua força era pequena porque os que lá se reuniam eram uma minoria diante dos judeus e pagãos existentes à época. Apesar da pouca influência material, eles possuíam uma extraordinária força espiritual através da porta aberta pelo Senhor.

Aqueles cristãos confiavam plenamente no Senhor. Dada a essa absoluta fidelidade, o Senhor manteria o seu testemunho e os que eram contra eles ficariam sabendo o quanto o Senhor os amava (v. 9). Assim como foi nos inícios da igreja (Atos 14:27; 1 Coríntios 16:9; 2 Coríntios 2:12), esta porta ainda permanece aberta para aqueles que estão dispostos a manter a sã doutrina, não os ensinos de homens ou tradições religiosas, mas exclusivamente ao que está estabelecido na Palavra de Deus para a Sua Igreja.

A característica dessa igreja é vista claramente a partir de 1750 com o surgimento de um grande avivamento missionário, em muitas partes do mundo, cujo fruto dessa restauração será observado até o arrebatamento da Igreja.

Àqueles que se mantiverem na doutrina, o Senhor promete que não passarão pela grande tribulação que virá sobre a Terra (v. 10), ao contrário, serão guardados desse período através do arrebatamento da Igreja, e não em meio ou após a tribulação como asseveram alguns equivocadamente. No versículo 11 vemos que há um galardão, a coroa da perseverança, que deverá ser preservado para que ninguém o tome, pois está reservado a todo aquele que guarda o bom depósito, o modelo das sãs palavras, conforme diz Paulo em 2 Timóteo 1:11-15.

Os vencedores serão transformados em colunas gloriosas perante Deus e partilharão da vitória final do Senhor Jesus Cristo. Receberão um novo nome e habitarão na nova morada donde jamais sairão, a identificação com o Rei será completa (v. 12). Portanto, atentemos novamente para o que diz o Senhor:“quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 13).

7. A carta a Laodiceia – 3:14-22

Pois, então, chegamos ao fim! Com esta carta João encerra as coisas “que são”, ou seja, o período de existência da Igreja neste mundo. Laodiceia tipifica a igreja do fim dos tempos quando Jesus vier para buscar os que são Seus, antes do início da grande tribulação. Vemos nessa carta uma afirmação alarmante: o Senhor Jesus está fora do chamado contexto cristão: “Eis que estou à porta e bato” (v. 20), o que está a indicar que os muitos milhões que fazem parte da cristandade dos nossos dias não participarão do arrebatamento da Igreja caso não se arrependam dos desvios doutrinários praticados no formalismo religioso em que vivem (v. 19).

Ao ler essa minha afirmação, você poderá estar a indagar: “Como assim, se nunca se falou tanto no nome de Jesus como agora, há milhões de referências nos sites de busca na Internet?”. Falar em Jesus, meu caro leitor, até os demônios o fazem (Lucas 4:33-35; Atos 16:16-18; 19:13-16). Já houve quem dissesse que “é um triste erro levar o título de cristão sem o ser. É uma terrível ilusão a um não menos terrível despertar”.

Você poderá redarguir: “E a grande quantidade de sinais e milagres que estão a acontecer através dos atuais pastores, bispos, reverendos, apóstolos, profetas, patriarcas etc.?”. Você deve se lembrar dos sinais feitos pelos bruxos do faraó quando o povo de Deus estava escravizado e lá estava Moisés para libertá-los. Eles fizeram coisas impressionantes com os seus encantamentos: transformaram água em sangue e fizeram subir enorme quantidade de rãs sobre a terra do Egito (Êxodo 7:20-22; 8:6-7).

Portanto, esses sinais não são uma presunção factual da ação de Deus. O falso profeta que virá irá operar grandes sinais: fará descer fogo do céu e lhe será concedido dar fôlego à estátua do anticristo para que a imagem fale (Apocalipse 13:11-15). Você já imaginou o impacto que será ouvir uma estátua falando? Pois é, isso não virá de Deus, mas do diabo.

Você também poderá insistir em sua argumentação: “Mas o Senhor Jesus disse que os sinais e milagres acompanhariam os que creem?”. Não se esqueça do que Ele também disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus... muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muito milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”(Mateus 7:21-23).

Desnecessário acrescentar qualquer argumento sobre isso que o Senhor Jesus asseverou, mas convém citar o que William MacDonald disse a esse respeito: “Um milagre simplesmente demonstra que um poder sobrenatural está atuando, esse poder pode ser tanto divino como satânico. Satanás pode criar a ilusão de que um milagre é divino”. Lembremo-nos, sempre, das palavras do Senhor Jesus: "hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mateus 24:24).

Vejamos, então, o estado espiritual dessa igreja. Não há um único elogio para ela! Nela o Senhor não encontra nada recomendável. A sua complacência e mornidão espiritual eram duas características que colocava o Senhor para fora do seu meio (v. 15). Ela foi alcançada pelas coisas ruins das demais, desde a perda do primeiro amor pela igreja em Éfeso, passando pelo mundanismo de Pérgamo e pelo clericalismo de Tiatira. Ao chegarmos a Laodiceia vemos uma igreja em que o Senhor está a ponto de vomitá-la (v. 16). Ela é tão somente uma entidade religiosa que se denomina ser de Cristo, todavia Ele está fora dela (v. 20).

Os que lá se reuniam poderiam até pensar que estavam a fazer as coisas certas, eram bastante prósperos materialmente, como as atuais denominações evangélicas esparramadas mundo afora e que estão a pregar a enganosa “teologia da prosperidade”. Lamentavelmente essa heresia está sendo copiada até por aquelas que eram tidas como mais ortodoxas. O Senhor diz energicamente: “és um coitado, miserável, pobre, cego e nu” (v 17).

Sem dúvida uma duríssima admoestação, mas o Senhor repreende os que ama e por certo lá haveria um remanescente que se arrependeria da sua hipocrisia religiosa (v. 19). Por conta disso, o Senhor a aconselha (v. 18) para que cobrisse a vergonha da sua nudez e cegueira espiritual. Laodiceia não tinha consciência da sua imundícia espiritual, ela pensava estar “vestida” perante o Senhor, mas de fato estava despida por não conseguir enxergar que estava fora da simplicidade, santidade e autenticidade do Evangelho.

O Senhor desejava que ao menos alguns que lá se reuniam voltassem à comunhão com Ele (v. 20). Ao vencedor, àquele que conseguisse se livrar das amarras da fraude religiosa, lhe seria concedido o direito de se assentar com Ele no trono da Sua Glória (v. 21).

Finalizando este capítulo, vemos que o Senhor Se apresenta a esta igreja como “a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (v. 14) e finaliza instando-nos para que ouçamos, pela sétima vez, o que o Espírito diz às igrejas (v. 22). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 4

Neste capítulo as coisas que João “viu” e as que “são” já eram. O período da graça, o da Igreja, foi encerrado no capítulo anterior, doravante João passa a descrever as coisas que “hão de acontecer” após o Arrebatamento da Igreja.

É sobremodo notável a leitura do Apocalipse porque através dele temos a oportunidade de saber com muita antecedência os acontecimentos que hão de vir. Por incredulidade, muitas pessoas desconsideram o tremendo milagre que aconteceu na ilha de Patmos, quando João viu desfilar diante de seus olhos uma sucessão notável de eventos que ocorreriam milênios à sua frente, numa autêntica viagem ao até então desconhecido.

Essas narrativas, divinamente reveladas, não são somente para a edificação espiritual dos que creem, mas também para que outras pessoas se deem conta do incrível conteúdo deste livro, pois foi dito a João que “importa que profetizeis outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis” (Apocalipse 10:11). Por definição, o ensino correto do Apocalipse não pode deixar de ser divulgado às pessoas de todos os credos e nações. Pena que isto não esteja acontecendo em nossos dias na forma correta.

Não deixa de ser lamentável que o contraditório seja tão exacerbado a partir deste capítulo, fruto das controvérsias geradas por aqueles que se dizem entendidos, cujas consequências têm levado a imensa parte da cristandade à incompreensão dos acontecimentos contidos neste e nos próximos capítulos deste Livro e, por conta disso, subestimam a leitura do Apocalipse.

No primeiro versículo deste capítulo, já fica absolutamente claro o que está para acontecer. Diz o texto Sagrado: “Depois destas coisas...”, que coisas? É evidente que são as que lemos nos três capítulos anteriores e que se encerraram com a grande decadência espiritual da igreja do fim dos tempos (Laodiceia). Neste capítulo João vê “uma porta aberta no céu” e ouve a voz do Senhor que o convoca: “Sobe aqui e mostrar-te-ei as coisas que depois desta devem acontecer”. Diz em seguida o versículo 2: “Imediatamente fui arrebatado em espírito”, naquele exato momento João vivenciou antecipadamente o mesmo sentimento que sentirão aqueles que serão arrebatados por ocasião do encontro com o Senhor Jesus e terão a visão esplendorosa da sua nova morada. Este arrebatamento de João prefigura o arrebatamento de todo aquele que pertence ao Senhor Jesus.

Apesar daqueles que criam tantas controvérsias sobre este assunto, esteja absolutamente certo, caro leitor, que a partir deste quarto capítulo a Igreja de Deus não estará mais na Terra, pois nesta revelação se cumpre o previsto em 1 Tessalonicenses 4:13-18... “os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro... os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”. O mistério dito por Paulo em 1 Coríntios 15:51-53 aqui está revelado, na prática, quando todos os verdadeiros cristãos participarão do fantástico evento do Arrebatamento. A verdade inconteste é que os vernáculos “igreja ou igrejas” aparecem por vinte vezes, dezenove deles somente nos três primeiros capítulos deste Livro e depois ressurgirá com essa expressão somente em Apocalipse 22:16, que vem corroborar que a partir do capítulo quatro a Igreja já não mais estará aqui porque foi arrebatada para estar com o Senhor.

Convém lembrar que Daniel também teve visões acerca do tempo do fim, mas a ele foi determinado que não as revelasse, pois ainda não era chegado o momento oportuno: “Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro... porque estas palavras estão cerradas e seladas até o tempo do fim” (Daniel 12:4,9). Em 2 Coríntios 12, Paulo revela o seu arrebatamento ao terceiro céu, à morada de Deus, e lá “ouviu palavras inefáveis as quais não é lícito ao homem referir” (v. 4), e para que ele não se exaltasse demais diante das estupendas revelações, foi-lhe dado um espinho na carne a fim de que ele não se sublimasse (v. 7). Mas o tempo é chegado, e há quase dois milênios João teve o grandioso privilégio de descerrar essas revelações (Apocalipse 1:19). Jamais me atreveria a estabelecer tempo ou fixar época para que isso aconteça – o Arrebatamento da Igreja –, mas não há dúvida que esse tempo se abrevia, aquilo que era iminente passa a ser imediato.

Você pode estar a se perguntar: “Mas não consigo entender nada daquilo que João está a contemplar neste capítulo”? Esteja certo que você entenderá quando lá estiver. Por agora se detenha à leitura dos versículos que manifestam a extraordinária visão da magnitude do Trono de Deus com o esplendor dos seus detalhes. A majestosa glória da presença divina aqui está realçada pelo imenso borbulhar de cores, brilhos, relâmpagos, vozes, trovões, pelo mar de cristal, símbolo da absoluta pureza de Deus onde nenhuma sujeira passaria despercebida, e pelos quatro estupendos seres viventes, guardiões do Trono de Deus, a entoar o ininterrupto cântico de glória, honra e ação de graças àquEle que vive pelos séculos dos séculos (vs. 3 a 9). Em vez de tentar decifrar o que isso representa é mais edificante saber que você lá estará para contemplar essas extraordinárias maravilhas. Portanto, durante a leitura deste capítulo sinta-se adentrando ao magnífico ambiente celestial. O que importa, agora, é que você tenha certeza de que irá presenciar pessoalmente todos esses notáveis acontecimentos.

Quanto aos versículos 4 e 10 tem-se levantado não pouca discrepância sobre o seu contexto. Quem seriam os vinte e quatro anciãos prostrados diante do Trono de Deus? De plano, não tenho dúvida em asseverar de que se trata da Igreja arrebatada, dos redimidos pelo Senhor Jesus com seus corpos já ressurretos, libertados que foram pelo Seu sangue e por isso os fez reino e sacerdotes para Deus (Apocalipse 1:5-6).

É impossível imaginar, como alguns afirmam, que esses anciãos seriam seres celestiais com vestiduras brancas e coroados. Os versículos 8 a 10 do capítulo 5 de Apocalipse derrubam por completo esse argumento à medida que separa com absoluta clareza os grupos que lá estarão: “E, havendo tomado o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro... E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos...”. Portanto, os vinte quatro anciãos se referem exclusivamente à Igreja arrebatada. Convém lembrar que “ancião” tem por significado etimológico de “homem mais velho”, por conseguinte jamais poderiam ser seres celestiais porque estes não envelhecem como os seres humanos. Portanto, os vinte e quatro anciãos representam a Igreja no seu sacerdócio perante o Trono de Deus.

Outra argumentação é que esses vinte e quatro anciãos seriam um grupo formado por doze patriarcas, ou tribos, de Israel e os doze apóstolos do Senhor Jesus. Embora essa sugestão traga uma irresistível atração, não há nela nenhuma base bíblica para tal afirmação. Comete-se um erro crasso de interpretação, pois o Arrebatamento ocorrerá somente para os cristãos redimidos, ao passo que os santos de Israel serão ressuscitados ao final da grande tribulação, os quais serão julgados e recompensados ao entrarem no Reino Milenar do Senhor Jesus Cristo. Por oportuno transcrevo o ensino de R. David Jones no Boletim dos Obreiros 158, de março de 2011: Em preparação para o reino milenar de Jesus Cristo no mundo, haverá também a ressurreição dos demais santos: os do Velho Testamento (Isaías 26:19, Daniel 12:2), e os que morrerem durante o domínio da besta, durante a grande tribulação (Apocalipse 20:5). Com isto se conclui a primeira ressurreição. Os santos de todos os tempos, até então, viverão e reinarão com Cristo durante o milênio. Recomendo a leitura dessa excelente matéria também disponibilizada em nosso site www.obreiros.com > Arquivo > Fatos & Relatos > O Estado da Alma entre a Morte e a Ressurreição.

Uma questão se tem levantado ao longo do tempo: Por que vinte e quatro anciãos, e não doze ou sete que é o número da plenitude? Como já foi dito aqui, esses vinte e quatros anciãos exercem o sacerdócio real. Isso nos remete às instruções de Davi ao seu filho Salomão que teve a honrosa incumbência de edificar uma casa para o Senhor Deus, Davi distribuiu os sacerdotes em vinte e quatro turmas para o serviço do Templo, como representantes plenos para entrarem na casa do Senhor, segundo lhes fora ordenado por Arão, como o Senhor Deus de Israel lhe havia mandado (1 Crônicas 24:7-19). Eles representavam a plenitude do exercício desse ministério assim como os vinte e quatro anciãos estão a representar a Igreja de Deus como um todo.

Finalizando este capítulo, vemos a Igreja arrebatada nos versículos 10 e 11, na figura desses vinte e quatro anciãos, a adorar ao que vive pelos séculos dos séculos, os quais lançavam diante do trono os galardões recebidos, frutos de suas obras aqui realizadas, dizendo: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas”. Que você, meu caro leitor, lá esteja fazendo parte desse notável grupo. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 5

Assim como vimos no capítulo anterior, neste João continua contemplando as grandiosas visões da morada divina. Por certo, a esta altura dos acontecimentos proféticos, Deus estará a religar o cronômetro que fora desligado aos inícios da era da Igreja.

Essa cronometragem de tempo nos remete a Daniel que, a exemplo de João, teve revelações escatológicas da parte de Deus (Daniel 9:24-27). Todavia, a mensagem transmitida ao profeta é claríssima, não diz respeito à Igreja, mas exclusivamente a Israel e Jerusalém: “Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo (Israel), e sobre a tua santa cidade (Jerusalém)” (v. 24). Segundo o texto sagrado, o começo dessa contagem de tempo foi a partir da ordem dada para restauração de Jerusalém e, desde esse início, até ao Ungido, ao Príncipe, sessenta e nove semanas de sete anos decorreriam.

O único decreto específico que diz respeito à restauração de Jerusalém foi o do rei Artaxerxes, que autorizou formalmente Neemias para que reedificasse a cidade (Neemias 2:1-10). Sob clara inspiração divina, Neemias teve o cuidado de deixar registrada a data exata desse decreto: “No mês de nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes” (v. 1), que corresponde ao mês de março de 445 a.C.

A partir dessa data, fazendo-se a contagem de tempo dessas semanas de sete anos cada, considerando os anos de 360 dias conforme vemos no cômputo de dias do dilúvio, em Gênesis, conclui-se que o fim da era das primeiras sessenta e nove semanas de Daniel deu-se por ocasião da entrada triunfal do Senhor Jesus em Jerusalém (Lucas 19:28-44).

Daí entendermos a severidade da Sua afirmação quando abordado pelos religiosos da época para que fizesse calar o clamor da multidão que O ungia como o Rei que viria em nome de Deus: “Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lucas 19:40). Aquele momento fazia parte do contexto profético de Daniel.

Nessa oportunidade Jesus chorou ao ver Jerusalém (Lucas 19:41), porque estava oculto aos olhos daquele povo o significado daquela tão importante ocasião no calendário divino. Naquele dia o cronômetro de Deus fora travado até que se completasse a era que a seguir viria, a da Sua Igreja, que corresponde ao intervalo profético contido na revelação transmitida a Daniel.

Essa contagem, a da septuagésima semana, voltará a ser ativada após o Arrebatamento da Igreja, quando então será revelado o homem da iniquidade e a concomitante tribulação que recairá sobre este mundo. Os dramáticos acontecimentos que se sucederão, nessa última semana de sete anos, serão encerrados com a volta triunfal do Senhor Jesus para o estabelecimento do Seu Reino Milenar (Apocalipse 20:6).

Você, prezado leitor, a esta altura provavelmente está a indagar: “Por que uma introdução tão grande ao capítulo cinco de Apocalipse como esta?” Sou motivado a fazê-la para que não haja dúvida de que as calamitosas ocorrências que se seguirão a este capítulo são absolutamente integrais, tendo em vista a tendência que há de se espiritualizar esses relatos dadas as terríveis consequências que recairão sobre a humanidade incrédula, apesar de religiosa, por ocasião da grande tribulação. Tudo já está antecipadamente previsto por Deus desde a antiguidade (não deixe de ler Isaías 46:9-10), por isso a humanidade será indesculpável perante Deus, pois absolutamente tudo está revelado, inclusive o mistério que estava guardado em silêncio desde os tempos eternos – a Sua Igreja (Romanos 16:25-27).

Neste quinto capítulo de Apocalipse, o cenário que está diante de João é majestoso. No trono está o Todo-Poderoso, o Deus Criador de todas as coisas. Em Sua poderosa destra contém um livro hermeticamente selado (v. 1), cujos selos transmitem um caráter de privacidade, de propriedade exclusiva, que somente o seu legítimo dono poderá rompê-los. Todo o universo pertence a Deus, que por comodato cedeu a Terra ao homem (Salmo 115:15-16), mas pela sua desobediência a Deus ele perdeu essa posse e o usurpador, o diabo, tornou-se o deus deste mundo (2 Coríntios 4:4). A reintegração de posse ocorrerá, ela já está determinada e acontecerá na data estabelecida pelo Pai que readquiriu a Terra para Si através do sacrifício efetuado pelo Seu Filho, o único que poderá romper esses selos e assim o fará (v. 5).

Há um momento dramático nessa visão de João. Um poderoso ser angelical perguntou em alta voz quem seria digno de abrir aquele livro (v. 2). Ninguém foi achado que pudesse fazê-lo, até mesmo lançar o seu olhar sobre ele (v. 3). Perante essa indagação João passou a chorar copiosamente (v. 4) porque se não existisse alguém que pudesse abrir o livro a injustiça existente na Terra não seria corrigida, os perversos permaneceriam impunes e os justos não seriam vindicados.

Mas um dos anciãos o consola com a notável notícia de que o Senhor Jesus era o único qualificado a fazê-lo (v. 5). No versículo 6 vemo-Lo em pé entre os Seus, a Igreja arrebatada, como um Cordeiro na forma que tinha sido morto. Como Cordeiro de Deus ele pagou o preço da redenção do mundo, como Leão (v. 5) ele será o Supremo Juiz que condenará a humanidade incrédula e perversa a castigos eternos.

Aquele foi um momento de grande silêncio. Os olhos de João não mais estão fixados no livro (v. 1), nem no forte anjo (v. 2), o foco da sua visão passa a ser o Senhor Jesus que tomou para Si o livro que ninguém conseguiria abrir (v. 7). O usurpador deste mundo está com os seus dias contados – 7 anos –, a Terra finalmente se livrará de Satanás, pois o programa celestial será concluído. De imediato o silêncio é interrompido, os quatro seres viventes e a Igreja arrebatada se prostram diante do Senhor Jesus (v. 8) e entoam um novo cântico: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra" (vs. 9,10).

Este momento tem um profundo significado que é reconhecido não somente por aqueles que estão perto do Trono. Outras vozes se juntam à sinfonia celestial. Incontáveis hostes celestiais fazem parte desse magnífico coral:“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (vs. 11,12), que é acrescido por aqueles que fazem parte do cosmo: "Ouvi também a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (v. 13). Eis aqui um momento estupendo sendo revelado.

Neste novo cântico a exaltação é prestada ao Senhor Jesus. A expressão “digno és”, que antes tinha sido dirigida ao Deus Todo-Poderoso (Apocalipse 4:11), agora é a Ele dispensada em reconhecimento a extraordinária obra por Ele realizada: “com o teu sangue compraste para Deus homens... que reinarão sobre a terra” (vs. 9,10). Isto nos leva a considerar o reino milenar do Senhor Jesus aqui na Terra (Apocalipse 20:6). Sem dúvida, um grandioso privilégio.

Nesse texto a alegria da antecipação é contagiante. Essa é a mesma expectativa do salmista que descreveu o sublime louvor de toda criação ao Eterno Deus (Salmo 148:1-14). Os mais altos céus contemplarão a profunda significação do cântico angelical entoado por ocasião do nascimento do Senhor Jesus: “Glória a Deus nas maiores alturas” (Lucas 2:14). As vozes discordantes existentes neste mundo serão definitivamente silenciadas. A angústia e o gemido de toda criação (Romanos 8:22-23) não mais serão ouvidos.

O encerramento desse magnífico cântico é com um majestoso “Amém”! (v. 14). Será um momento de prostração e adoração na morada celestial, pois os selos existentes naquele livro serão rompidos e será desencadeado o juízo de Deus sobre este mundo rebelde. O cenário estará concluído. A contagem de tempo restabelecida. Os acontecimentos a seguir serão tremendos. O tempo de Deus é chegado! Resta-nos, portanto, não mais a esperança, mas a certeza de que faremos parte deste contexto divino. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 6

Este capítulo é encerrado com uma angustiante pergunta: “é chegado o grande dia da ira de Deus, quem poderá subsistir?” (v. 17). Esse “dia”insistentemente citado tanto no Antigo como no Novo Testamento a humanidade e até mesmos aqueles que se dizem cristãos não acreditam na sua chegada, tendo-o como um mito, uma lenda religiosa, pois Deus jamais, dizem eles, causaria tão grande mal à Sua criação, por ser Ele misericordioso, bondoso, amoroso, dentre outros qualificativos. Porém, enganam-se os que assim pensam, na verdade não conhecem o Deus Todo-Poderoso e a Sua Justiça. Isto me traz à lembrança o oráculo de um antigo profeta: “Na terra não há conhecimento de Deus... o meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Oseias 4:1,6).

Dentre os profetas que vislumbraram esse “dia”, Sofonias foi aquele que recebeu da parte de Deus um resumido compêndio dessa profecia. Revela-nos o inspirado profeta: “O grande dia do Senhor está perto; sim, está perto, e se apressa muito... Aquele dia é dia de indignação, dia de tribulação e de angústia, dia de alvoroço e de assolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido... E angustiarei os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor; e o seu sangue se derramará como pó, e a sua carne como esterco. Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor; mas pelo fogo do seu zelo será devorada toda a terra; porque certamente fará de todos os moradores da terra uma destruição total e apressada” (Sofonias 1:14-18). Neste capítulo, o sexto de Apocalipse, iniciamos a grande jornada rumo à Grande Tribulação determinada para este mundo desde a antiguidade.

A visão de João é fantástica! Seus olhos estão fixados no Senhor Jesus a Quem tanto amou quando aqui esteve. Ele está a contemplar a única Pessoa que poderia romper os selos daquele tão importante Livro, e assim haverá o início do juízo de Deus sobre toda Terra. Nesse instante será reiniciada a contagem de tempo estabelecida por Deus – 7 anos –, dar-se-á o início da septuagésima semana de Daniel (9:26-27).

Ao ser rompido o primeiro selo ouvem-se as poderosas vozes dos quatros seres viventes dizendo “vem” a quatro cavaleiros (v. 1). Em algumas versões equivocadamente é acrescido o verbo “ver” (vem e vê), como se o convite fosse para João, mas isso não consta no manuscrito grego, pois, de fato, essas chamadas são para esses simbólicos cavaleiros.

O primeiro cavaleiro a subir por sobre a Terra está montado em um cavalo branco, tendo um arco na mão, uma coroa na cabeça e saiu para vencer (v. 2). As características deste personagem levam muitos a uma falsa conclusão de que se trata do Senhor Jesus voltando para estabelecer um período longo de paz em Seu reino milenar. Compare com o engano mencionado pelo Senhor Jesus em Mateus 24:5.

Sem dúvida, um grave equívoco. Nesse exato momento o Senhor Jesus estará abrindo os selos do juízo de Deus no céu, logo não poderá estar na Terra; é impossível aceitar o argumento de que o Senhor Jesus terá que aguardar o comando de um dos seres viventes para entrar em ação, pois o inverso é absolutamente verdadeiro; a vinda do Senhor Jesus está estabelecida para pôr fim a Grande Tribulação e não ao início dela (Apocalipse 19:11-21).

A confusão estabelecida é pela cor branca da montaria desse cavaleiro que transmite a ideia de paz, entretanto a vinda do Senhor Jesus, também simbolicamente montado em um cavalo branco, está revelada em Apocalipse 19:11, quando aqui virá exatamente para derrotar o cavaleiro deste sexto capítulo – o anticristo –, que surgirá aparentando ser o Messias prometido a Israel e enganará a quase todos ao acenar um breve período global de paz. Na verdade se trata do “príncipe que virá” sobre a “asa das abominações” e fará um “pacto firme” com muitos por sete anos, mas na metade desse tempo ele mostrará o lado nada atraente da sua face (Daniel 9:26-27).

Com a abertura do segundo selo vemos agora o cavaleiro sobre um cavalo vermelho (vs. 3-4) cujo objetivo é o de tirar a aparente paz existente na terra. Em vez do “arco sem flecha” do cavaleiro anterior, este agora carrega uma “grande espada” que fará com que os homens se matem uns aos outros em sangrentas batalhas. Nada diferente daquilo que já havia predito o Senhor Jesus: “porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino”(Mateus 24:7), assim como Paulo em 1 Tessalonicenses 5:1-3... “Mas, irmãos, acerca dos tempos e das épocas não necessitais de que se vos escreva: porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como vem o ladrão de noite; pois quando estiverem dizendo: Paz e segurança! então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão”.

Com tamanha beligerância sobre a Terra, sob o comando do homem da iniquidade, naturalmente ocorrerão a escassez de alimentos e a pestilência generalizada que estão representadas pelos dois próximos cavaleiros que surgirão com a abertura do terceiro e quarto selos. O do cavalo preto carrega na mão uma balança, símbolo da carestia, a indicar que haverá um imenso racionamento de alimentos (vs. 5-6). Sem dúvida serão tempos assombrosamente difíceis que se agravarão com a vinda do “cavaleiro da Morte”, que está sobre o cavalo amarelo e aniquilará uma quarta parte dos viventes sobre a terra. Hoje seria algo acima de 1 bilhão e 700 milhões de almas (vs. 7-8). Quanto tempo se levaria somente para enterrar essa imensa quantidade de mortos?

Permita-me, agora, uma pausa. Ao ler até aqui você por certo está a pensar: “Ufa! Ainda bem que fui alcançado pela graça de Deus e estou livre dessas tragédias, pois antes dessas coisas acontecerem o Senhor Jesus virá buscar aqueles que são Seus, dentre eles eu”. Você está certo ao pensar assim, todavia você tem a mesma certeza a respeito dos seus parentes mais próximos? Ou daqueles que estão ao seu lado? Sem falar naqueles que são mais distantes. Por isso insisti desde os inícios desta série acerca da gravidade em se menosprezar o estudo do conteúdo deste tão importante Livro que nos revela com bastante antecedência o porvir. Através dele realmente fazemos uma viagem no tempo.

Continuemos em nossas apreciações. A abertura do quinto selo leva João a mudar de visão, agora está novamente voltada para a morada de Deus. Lá ele vê, debaixo do altar, as almas daqueles que morreram por causa da Palavra de Deus e foram vindimados por causa do testemunho dado durante o período da terrível tribulação a vir sobre a Terra (v. 9). Verdadeiramente o anticristo será cruel ao extremo com aqueles que não lhe prestarem culto e obediência. Aquelas almas clamarão ao Senhor com veemência, suplicando para seja colocado um fim a tanta crueldade (v. 10), elas serão consoladas e orientadas para que aguardem o tempo estabelecido por Deus (v. 11).

Muitas coisas ainda estarão por acontecer, sobremodo horríveis, pois estamos diante dos acontecimentos iniciais que antecedem ao “grande e terrível dia do Senhor, quem o poderá suportar” (Joel 2:11). Se esses dias não fossem abreviados, “nenhuma carne se salvaria”, diz o Senhor Jesus em Mateus 24:22. Estes acontecimentos, até aqui, são “o princípio das dores”(Mateus 24:8), portanto ainda haverá na Terra muito sofrimento nesse período de enorme angústia.

A seguir é aberto o sexto selo. Grandes distúrbios cósmicos acontecerão e por certo afetarão o campo magnético da Terra esmagando a sua crosta provocando uma sucessão de terremotos. O primeiro deles é aqui citado como “grande” (v. 12), dando a entender que será em escala mundial. Nunca é demais lembrar que dados estatísticos dão conta que o número de terremotos tem duplicado a cada dez anos, o que revela que as placas tectônicas terrestres estão sobre forte pressão.

Nos versículos 12 a 14 a Terra é tremendamente sacudida, o sol escurece, a lua adquire uma coloração nunca dantes vista, as estrelas despencam sobre o globo terrestre numa clara demonstração do catastrófico juízo divino sobre este mundo sem Deus. Cumpre-se assim a profecia de Joel: “O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o terrível dia do Senhor” (Joel 2:31).

Esse transtorno astronômico foi claramente asseverado pelo Senhor Jesus:“Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão dos céus e os poderes dos céus serão abalados”(Mateus 24:29). Os acontecimentos dramáticos contidos no versículo 14 também nos remetem a Isaías 34:4... “E todo exército dos céus se dissolverá, e o céu se enrolará como um livro; e todo o seu exército se desvanecerá, como desvanece a folha da vide e da figueira”. O imenso cataclismo removerá os montes e as ilhas de seus lugares, revelando que essas catástrofes atingirão toda a Terra.

Literalmente a Terra estará sendo varrida. Tanto os acontecimentos cósmicos como os terrestres levarão os seres humanos ao entendimento que Deus está a intervir de forma drástica em todo universo. Eles perceberão que estão diante de um enfretamento com o Todo-Poderoso e com a ira do Cordeiro (v. 16). A humanidade procurará por lugares inóspitos para se esconder, mas não achará local para se ocultar da face de Deus (v. 15). Isaías já profetizara a esse respeito há quase três milênios: “... se meterão nas fendas das rochas, e nas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para assombrar a terra”(Isaías 2:21).

É inacreditável que em meio a todo esse pânico, os seres humanos continuarão em sua altivez. Em vez de humildemente suplicarem pela compaixão de Deus, eles clamarão para que os montes e rochedos caiam sobre si para que possam se esconder de tamanha ira divina (v. 16). A pergunta que fazem demonstra a lastimável condição espiritual da humanidade: “Quem poderá subsistir?” (v. 17). Isto denota que não há nenhuma esperança em suas mentes e corações.

Haverá resposta às perguntas dos antigos profetas? “Quem poderá manter-se diante do seu furor? E quem pode subsistir diante do ardor da sua ira?”(Naum 1:6); “Quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer?” (Malaquias 3:2). Estejamos certos que haverá naquele tempo um remanescente fiel que será poupado pelo Deus misericordioso, que será preservado nesses dias tão tenebrosos.

Diante de tão triste expectação, não cerremos os nossos lábios. Cabe-nos alertar aos que ainda não creem acerca do perigo da incredulidade e da desobediência a Deus, para que durante este tempo que aqui estivermos, que se chama “Hoje”, eles não sejam insensíveis pelo engano do pecado e ao ouvirem a Palavra de Deus não endureçam os seus corações (Hebreus 3:13-15). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 7

No sétimo capítulo contemplamos o primeiro dos quatro grandes “parênteses” existentes neste Livro. Este primeiro, inserido entre o sexto e o sétimo selo, não segue a ordem cronológica dos acontecimentos descritos nos sete selos, mas nos traz o entendimento indispensável para a compreensão das condições na Terra durante o período da grande tribulação. Seria como uma pausa para resposta à indagação contida ao final do capítulo anterior: “quem poderá subsistir?” (6:17).

Há os que não aceitam a existência desses “parênteses” no Apocalipse e com isso acabam complicando sobremodo a interpretação correta do texto sagrado. Assim como o fazem com os “intervalos proféticos”, apesar de eles estarem claramente evidenciados no Antigo Testamento.

Somente para exemplificar esses “intervalos”, quando Isaías anunciou o advento do Messias que viria para Israel, que sabemos que é o Senhor Jesus, ele profetizou o nascimento de um menino, cujo governo de paz não haveria fim, todavia há um “intervalo profético” entre o Seu nascimento e o estabelecimento do Seu reino, que é exatamente o período em que vivemos:"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu... (intervalo profético)...e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim...” (Isaías 9:6-7).

Entre o primeiro advento do Senhor Jesus até o Seu retorno para estabelecer o Seu reino milenar já se passaram mais de dois mil anos, portanto estamos no “intervalo” dessa profecia. É evidente que até hoje os judeus aguardam o nascimento do Messias que virá restaurar todas as coisas para Israel e sob nenhuma hipótese aceitam esse “intervalo”. Por isso rejeitaram o Messias sofredor, o Senhor Jesus, e deixaram de considerar que isto também tinha sido profetizado pelo mesmo profeta (Isaías 53:1-12). Podemos observar outros “intervalos proféticos” nas Sagradas Escrituras, tais como Joel 2:28-32 e Daniel 9:20-27.

Neste primeiro “parêntese” em Apocalipse, as revelações nos conduzem para o período após o arrebatamento da igreja e o início da grande tribulação que ocorrerá sobre toda a Terra, quando 144 mil judeus serão selados para passarem ilesos por ela (vs. 1 a 8), e para o final desse período com a descrição de uma incontável multidão de pessoas de todas as nações que serão salvas durante os tenebrosos acontecimentos da grande tribulação (vs.9 a 17).

Por certo, esses judeus assinalados serão aqueles que, fortemente impactados pelo desaparecimento súbito dos verdadeiros cristãos, concluirão que se trata do Arrebatamento da Igreja prometido pelo Senhor Jesus (João 14:2-3) e predito pelo apóstolo Paulo (1 Tessalonicenses 4:17). Em virtude desse notável acontecimento esses judeus mudarão a sua equivocada atitude e passarão a crer que o Senhor Jesus é o Messias prometido para Israel.

Portanto, essa visão de João é claramente retrospectiva, ou seja, antecede à abertura dos selos que até aqui ele vinha narrando, e isso é claramente observado nos versículos 1 a 3 pela revelação da presença dos anjos predeterminados a participarem do grande juízo de Deus sobre a Terra. A ordem é claríssima, nenhum dano será causado à Terra até que esses servos de Deus, somente judeus, tiverem suas frontes assinaladas (vs. 4 a 8).

A esta altura você poderá questionar: “Pera lá! Quer dizer então que na próxima dispensação os anjos é que levarão os incrédulos à conversão para salvação”? Não é isso que o texto diz. Os anjos efetuarão uma tarefa – a marcação do sinal sobre as frontes – mas antes esses judeus se converterão por um ato divino, através do Espírito Santo, que é Deus.

O Espírito Santo que fora retirado por ocasião do Arrebatamento da Igreja retornará aos procedimentos que fazia antes da Sua morada nos “nascidos de novo” que atualmente constituem a Igreja (João 3:5-7), pois nenhuma alma foi salva no passado – antes da Igreja –, assim como no futuro – depois da Igreja –, sem a Sua intermediação, pois é o Espírito da Verdade que convence os incrédulos do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8).

Diz James Allen: “Estes santos não serão marcados para morrer, mas para viver”. Ao final do período da grande tribulação veremos essas mesmas 144.000 testemunhas incólumes na companhia do Senhor, como as primícias daqueles que entrarão no reino milenar do Senhor Jesus (Apocalipse 14:1-5). Ao passo que, aqueles que receberão o outro sinal – o da besta –, estarão marcados para a morte, não para vida (Apocalipse 19:20-21).

“Depois destas coisas” (v. 9), a visão de João é levada para o final da Tribulação. Em vez do grupo dos 144.000 judeus ele agora está a contemplar um segundo grupo de pessoas, uma imensa multidão “que ninguém podia contar” que são os salvos de todas as raças e nações saindo da Tribulação com seus corpos físicos, certamente frutos da grande pregação do primeiro grupo. Estes são os mencionados pelo Senhor Jesus: “aquele que preservar até o fim será salvo” (Mateus 24:13). Essa multidão que alcançou a Salvação (v. 10) não pode ser confundida com Israel e muito menos com a Igreja; essas pessoas passaram pelos horrores da grande tribulação (v. 14), a Igreja não estará aqui por ocasião desses acontecimentos.

Tendo em vista que essa inumerável multidão estará diante do Trono de Deus, com os anjos ao redor, os anciões que simbolizam a Igreja arrebatada, e os quatro seres viventes que caracterizam a morada divina (v. 11), em um momento de indescritível adoração a Deus (v. 12), não são poucas as divergências existentes entre os comentaristas bíblicos se os salvos aqui mencionados estarão presentes em alma e espírito no Céu, ou com os seus corpos naturais no reino milenar do Senhor Jesus?

As dúvidas deixarão de existir na medida em que tenhamos uma melhor compreensão das revelações no Antigo Testamento acerca desse acontecimento. Daniel revela que o “príncipe que virá” fará uma firme aliança com Israel aos inícios da primeira metade da grande tribulação, na metade seguinte fará cessar “os sacrifícios e as ofertas” (Daniel 9:27). Para que haja esse ritualismo é necessário que exista um templo em Jerusalém, e certamente isso fará parte do “firme pacto que ele [o anticristo] fará com muitos”, incluindo nestes “muitos” o mundo arábico, pois para essa construção será indispensável que seja demolida, sem conflito, a grande mesquita que se encontra no local do antigo templo em Jerusalém. Semdúvida será uma irresistível artimanha que a “besta” lançará para conquistar a submissão de Israel, pois com isso estará acenando que seria o Messias prometido.

Esses conflitos de interpretação são esclarecidos, como convém, quando se atenta para as revelações dos antigos profetas. Diz Jeremias 3:17... “Naquele tempo chamarão a Jerusalém o trono do Senhor; e todas as nações se ajuntarão a ela, em nome do Senhor, a Jerusalém”. Por sua vez, descreve Zacarias 6:12-13... “Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar, e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o templo do Senhor; receberá a honra real, assentar-se-á no seu trono, e dominará”. Não deixe de ler o que diz Isaías 2:1-5 sobre os acontecimentos dos últimos dias. Face à perspectiva esplendorosa do Reino Milenar do Senhor Jesus o consagrado profeta roga ao povo de Judá que se arrependa de imediato.

Mais recentemente, R. David Jones esclarece: “O Senhor está tratando com o povo de Israel desde os tempos de Daniel (interrompidos durante o atual período da Igreja), e ao seu fim Ele atingirá os seguintes objetivos... ungirá o Santo dos Santos, quando Cristo se assentará sobre o trono no novo templo do milênio em Jerusalém”. Portanto, não pode existir nenhuma dúvida de que haverá um templo e um trono no Reino Milenar do Senhor Jesus e daí todos os acontecimentos descritos nos versículos 15 a 17.

Perante essas coisas que vimos, outros questionamentos poderão estar em ebulição na sua mente, prezado leitor. Dentre elas: “Quer dizer então que após o Arrebatamento da Igreja os incrédulos ainda terão chance de serem salvos”? “Caramba, pode ser que as pessoas que me são queridas, não salvas, estejam entre as que se converterão durante a Grande Tribulação”?

Esta forma de pensar não é apropriada, pois esses entes queridos poderão partir desta vida antes do retorno do Senhor Jesus e por serem inconfessos não terão ido para o regaço do Senhor. Se está difícil uma conversão na presente época – a da Graça – imagine então a dificuldade que será na próxima dispensação. Esteja certo: a Salvação é agora! Estas crônicas têm esse escopo, o de conscientizar as pessoas da realidade dos acontecimentos por vir e previstos neste notável Livro, para que você e os seus não sejam colhidos de surpresa. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 8

Fechado o parêntese do interlúdio do capítulo anterior, dá-se a abertura do sétimo selo. O livro selado descrito no capítulo 5 agora está completamente aberto. O sétimo selo foi rompido pelo Senhor Jesus. De imediato surge algo surpreendente no início deste oitavo capitulo: “O dia em que o céu se calou” (v. 1).

Este inédito silêncio não deixa de ser espantoso tendo em vista que o Apocalipse é um livro de prédicas, em cujo conteúdo há constantes barulhos de trovões, vozes, terremotos, saraivadas etc. A quietude celestial foi a reação pela expectação das espantosas calamidades que sobrevirão sobre a Terra. Eis que é chegado o momento de uma nova série de terríveis juízos que recairão sobre os seus habitantes nunca antes registrados na história da humanidade.

De imediato você, prezado leitor, poderá estar a se perguntar: “Qual o motivo desse absoluto silêncio”? É a calmaria anterior à tempestade, é o solene sinal que Deus está prestes a punir severamente a Terra, é o prenúncio da angústia vindoura. Do impressionante silêncio do sétimo selo, surgem as sete trombetas de caráter judicante.

Os olhos de João são levados a contemplar os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, aos quais foram dadas sete trombetas (v. 2). Há algo de majestoso nesse momento. Lá estão os sete seres angelicais enfileirados prontos para entoar os juízos de Deus através desses seus instrumentos.

Já contemplamos os primeiros juízos por ocasião da abertura dos “selos” pelo Senhor Jesus. Agora veremos aqueles que virão pelo ressoar das “trombetas”. Após, ainda virão os juízos que serão derramados através das “taças” da ira de Deus. Ao contrário de alguns ensinos, esses três acontecimentos não serão contemporâneos, todos ao mesmo tempo, mas sucessivos, um após o outro.

Eis que surge um “outro anjo” (v. 3). Não são poucos os que ensinam que este “outro anjo” seria o próprio Senhor Jesus na forma angelical e baseiam-se para isso nas antigas cristofanias (aparições de Cristo antes de encarnado), em que Ele era identificado como Anjo do Senhor no Velho Testamento. A encarnação, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus, com sua forma humana permanente, dispensam qualquer aparição em uma forma angelical.

Uma leitura mais atenta em Apocalipse 1:7 tira qualquer margem de dúvida sobre corpo celestial do Senhor Jesus: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram”, e em Mateus 24:30, que está a relatar a vinda do Senhor Jesus para pôr fim a grande tribulação, Ele próprio diz que todos O verão em Sua forma humana, a de “Filho do homem”,e não como um ser angelical.

Nos versículos 4 e 5 vemos que da mão desse anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as “orações de todos os santos”, depois ele encheu o incensário com o fogo do altar e o lançou sobre a Terra. Atente para a expressão “todos”. Diz James Allen acerca dela: “A ideia tem que ser mais abrangente do que simplesmente o clamor dos santos martirizados pedindo vingança pelo seu sangue derramado”. Segundo ele, esta oração aponta para as orações do povo de Deus ao longo de todos os tempos, a exemplo da oração ensinada pelo Senhor Jesus aos seus discípulos – “venha o teu reino”– agora será respondida de forma tremendamente dramática. A ira de Deus proferida por João Batista aos religiosos da sua época está prestes a eclodir sobre os impenitentes (Mateus 3:7). Na sucessão desses outros juízos – das trombetas e das taças – dar-se-á o retorno do Senhor Jesus para o estabelecimento do Seu reino milenar.

Os sete anjos estão perfilados para o anúncio desses juízos (v. 6). Ao som da primeira trombeta haverá uma violenta agitação atmosférica (v. 7). Uma repentina saraivada de fogo misturada com sangue despencará sobre a Terra. Seria como se todos os vulcões existentes na Terra entrassem simultaneamente em erupção. Um terço das áreas verdes da Terra será completamente queimado. Algo da mesma espécie lemos em Êxodo 9:22-25, quando o Senhor Deus fez chover saraiva com fogo sobre a terra do Egito. Todavia, neste acontecimento apocalíptico vemos um ingrediente espantoso – o sangue. Será uma ocorrência tão avassaladora que, por certo, levará os habitantes da Terra a entender que estão debaixo do juízo de Deus.

Em seguida o segundo anjo soa a sua trombeta. Em sua visão, João vislumbra algo como um grande monte ardendo em fogo lançado sobre o mar, que faz com que uma terça parte dele se torne em sangue (v. 8). Será como um imenso corpo celeste sendo arremessado contra a Terra que em contato com a atmosfera terrestre se incendiará e provocará a morte de um terço das criaturas viventes no mar e um terço dos navios nele existentes será destruído (v. 9). Desnecessário ressaltar o que isso representará nas rotas comerciais entre as nações diante do peso deste juízo divino.

Guardadas as devidas proporções, lemos em Êxodo 7:19-25 que por sete dias as águas do Egito ficaram ensanguentadas depois que o Senhor Deus ferira o rio Nilo. Para aqueles que colocam em dúvida estas previsões apocalípticas, convém lembrar que Deus permitiu que os bruxos do Egito realizassem o mesmo feito mediante poderes diabólicos. Portanto, quaisquer ceticismos acerca do cumprimento desta profecia deverão ser refutados energicamente, pois esta é a Palavra de Deus.

Ao toque da terceira trombeta, um imenso e fumegante corpo estelar é lançado em direção à Terra e um terço das águas potáveis tornam-se amargosas e muitos seres humanos morrerão em consequência disso (vs. 10-11). A previsão da chegada dessa bólide que virá do espaço sideral é algo que não deve ser ignorado, pois o próprio Senhor Jesus fez menção disso: “haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu” (Lucas 21:11). O nome dado a essa estrela cadente é Absinto. Nas Sagradas Escrituras há uma erva com esse nome, com a característica de ser intensamente amarga e grandemente venenosa. Em alguns textos bíblicos essa palavra é traduzida como losna, ou água de fel (Jeremias 23:15).

A seguir, na quarta trombeta, algo sobremodo apavorante acontecerá. O céu astronômico sentirá o toque onipotente do Deus Todo-Poderoso. Com a Sua permissão o nosso sistema solar será invadido por um estranho corpo celestial de energia negativa que absorverá a luz de uma terça parte do sol, da lua e das estrelas (v. 12). Algo parecido já foi identificado pelos astrônomos dentro do nosso sistema galáctico. Tanto o sol como a lua e as estrelas terão suas terças partes eclipsadas. Será como se o dia fosse encurtado em quatro horas e a noite estendida por outro tanto de horas. Indiscutivelmente será uma manifestação poderosa e milagrosa do Senhor Deus que deverá levar a humanidade a uma estupefação generalizada.

A esta altura, você poderá estar a sentir uma aura de incredulidade passando por sua mente: “Será que isso realmente acontecerá?”. Levados por essa aragem, não são poucos que tentam espiritualizar essas ocorrências procurando dar um significado mais ameno a esses acontecimentos criando toda sorte de especulações sob a alegação que não há uma explicação racional para Deus agir dessa forma.

Todavia, para que crêssemos, não foi necessário que Deus explicasse como Ele fez para que houvesse trevas no Egito por três dias (Êxodo 10:21-23), ou então, quando Ele atendeu ao pedido do Seu servo e o sol e a lua foram detidos por quase um dia para que o combate de Israel contra os amorreus se desse sob a luz do dia (Josué 10:12-15), ou ainda, quando Ele fez com que a sombra no relógio de Acaz voltasse atrás em dez graus como sinal dado a Ezequias que a Sua promessa se cumpriria (2 Reis 20:11; Isaías 38:1-8). Por que então estão a exigir provas de que Deus agirá dessa forma na grande tribulação?

Tentar amenizar as cores desses acontecimentos seria uma forma de colocar em dúvida o poder e a extensão dos juízos soberanos de Deus. Leia os trechos indicados no parágrafo acima, prezado leitor, e reflita comigo: Enquanto todo o Egito permaneceu em trevas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações. Quando Josué pediu para que o sol não se pusesse e a lua não surgisse, isto equivale dizer que Deus parou o movimento de rotação da Terra em torno do seu eixo. Este foi o dia que a Terra parou.

Por sua vez, quando Isaías clamou a Deus para que fizesse retroceder a sombra do sol declinante no relógio de Acaz, por mais incrível que possa parecer Deus fez com que a Terra retrocedesse em seu movimento de transladação em torno do sol, ou que houvesse um pequeno retorno em seu movimento de rotação, ou então uma leve inclinação em seu eixo gravitacional. Inacreditável? Jamais! Para Deus não há impossíveis, Ele não está limitado pelas chamadas “leis da natureza”, porque tudo foi criado por Ele e somente por Ele poderá ser feito ou desfeito.

Por que então duvidar acerca dessas narrativas contidas no Apocalipse ao insinuar-se que não será bem assim? Lembremo-nos de que os acontecimentos dessa quarta trombeta darão cumprimento ao que foi revelado pelo Senhor Jesus: “E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a Terra haverá angústia das nações... os homens desfalecerão de terror... porquanto os poderes do céu serão abalados...” (Lucas 21:25-26). Portanto, creia nessas revelações, meu caro leitor, porque a Terra irá tremer. Ao transcrever essas revelações, em nenhum momento João vacilou ou questionou ao Senhor de como essas coisas seriam por Ele feitas. Ele apenas creu!

Ainda faltam três trombetas para serem soadas. Eis que surge um intervalo (v. 13) como que fosse dado a João um tempo para suas reflexões diante de tamanhas revelações. Nesse lapso de tempo o consagrado apóstolo ouve uma série de três “ais” vindos de uma águia como a anunciar que juízos mais estarrecedores ainda estariam por vir. No Velho testamento a águia é usada como símbolo de um juízo vindouro: Deuteronômio 28:49; Oseias 8:1; Habacuque 1:8.

Que diremos, então, à vista destas coisas? Ou então, como responder a questão levantada por João Batista: “Quem vos induziu a fugir da ira vindoura?” (Mateus 3:7). Cabe aqui, como resposta, a afirmação do apóstolo Paulo: "Jesus, que nos livra da ira vindoura... [Deus] ressuscitou dentre os mortos a Jesus, que nos livra da ira vindoura... porque Deus não nos destinoupara a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 1:9-10; 5:9). Diz mais Paulo acerca de Jesus: “sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5:9). Portanto, tenhamos absoluta certeza disto e jamais coloquemos em dúvida a Palavra de Deus. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 9

Conforme vimos no versículo 13 do capítulo anterior, o apóstolo João ouviu que três “ais” estavam por desabar sobre a Terra ao soar das três trombetas restantes. Acontecimentos terríveis ainda estavam por vir. Não dá para imaginar o que passava pela mente do consagrado servo de Deus após transcrever os juízos das quatro primeiras trombetas. Sem dúvida foram revelações aterrorizantes.

No primeiro versículo deste nono capítulo ele vê, ao soar da quinta trombeta, uma estrela que havia caído sobre a Terra e a ela – estrela – foi entregue a chave do “poço do abismo”. É impressionante a quantidade de controvérsias existentes acerca dessa “estrela” que João não viu cair do céu, mas que já havia quedado antes desta sua visão.

A primeira dificuldade encontrada pelos comentaristas é o que seria essa “estrela”. É claro que não se trata de um corpo estelar, pois em sua queda nada de catastrófico ocorreu como as outras que vimos no oitavo capítulo. Inobstante a isso, jamais poderia ser algo inanimado tendo em vista que estava a portar uma chave que abriria o “poço sem fundo” que, conforme explicita James Allen, é a tradução mais apropriada para o vernáculo originalabussos.

Aos inícios desta série de crônicas, descrevi acerca do significado simbólico de “estrelas” no Apocalipse como sendo “anjos” e é este o entendimento que devemos ter acerca desta estrela caída. Pelas razões expostas no parágrafo acima, o personagem aqui caracterizado não pode ser outro que não seja o diabo.

Diz o antigo profeta de Deus ao se referir à queda de Satanás, o anjo rebelde: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações... levado serás ao Seol, ao mais profundo do abismo” (Isaías 14:12-15). De forma semelhante citou o Senhor Jesus: “Eu via Satanás como raio, cair do céu” (Lucas 10:18). Portanto, bem haja quem assim interprete!

Essa “estrela caída”, que se trata do anjo banido, recebe a chave do “poço do abismo” para soltar a horda de demônios que ali se encontra trancafiada. Por sete vezes lemos a menção deste “poço” em Apocalipse, que se trata de uma prisão profunda temida pelos próprios demônios conforme lemos em Lucas 8:31... “Rogavam-lhe [a Jesus] que não os mandassem para o abismo”.

Sem dúvida, terrível juízo retribuidor está por acontecer na Terra. A visão de João é assustadora. Uma imensa erupção de fumaça, como que de uma fornalha ardente, surge com a abertura do “poço do abismo” que de tão densa escurece o sol e o ar ao seu redor (v. 2). É o prenúncio da soltura de terríveis poderes demoníacos sobre a Terra. Semelhante fumaça lemos por ocasião do juízo de Deus sobre as cidades impenitentes: "E Abraão... contemplando Sodoma e Gomorra e toda a terra da planície, viu que subia da terra fumaça como a de uma fornalha" (Gênesis 19:27-28).

Todavia, surge aqui algo incomparavelmente pior. Em meio a toda essa fumaça surgem criaturas aterrorizantes, semelhantes a “gafanhotos”, com o propósito de não causar dano à vegetação, como seria próprio dos gafanhotos (Êxodo 10:14-15), mas aos homens que não trouxessem o “selo de Deus”. Eles teriam o poder até para aniquilar a humanidade incrédula, entretanto isto lhes será negado, eles terão a permissão de somente atormentarem aos homens rebeldes a Deus por um período de cinco meses de terríveis tormentos (vs. 3 a 5).

Você poderá estar a questionar: “O texto bíblico fala em gafanhotos e esses insetos não têm esse poder?”. A resposta é simples, meu caro leitor. Esses gafanhotos simbolizam hostes demoníacas e isso é facilmente observável pelos aspectos que eles possuem e pelo fato deles possuírem um rei (vs. 7 a 11). Por definição, gafanhotos não têm rei como ocorre com essa escória. Diz Agur: “Os gafanhotos não têm rei” (Provérbio 30:27). Esses tinham sobre si, como seu rei, o “anjo do abismo”: Abadom, que em hebraico significa “destruição”, ou Apoliom, que em grego tem o significado de “destruidor” (v. 11).

Alguns veem nesse “anjo do abismo” que estará liderando essa súcia maligna, o próprio Satanás, todavia isto é um equívoco, pois o diabo se coloca acima deles como o tenebroso príncipe das trevas (Efésios 2:2 e 6:11-12), que Paulo o identifica como o “deus deste século” (2 Coríntios 4.4). Portanto, esse “anjo” é a ele subordinado.

Por sua vez, há grande dificuldade de entendimento para muitos a respeito do teor do versículo 6... “Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles". O tormento pelo qual passarão será agravado pelo desespero de não serem capazes de se suicidarem. Diz William MacDonald a esse respeito: “A dor será tão intensa que levará os homens a buscar a morte, mas o farão em vão. A possessão demoníaca lhes provocará intenso sofrimento físico e tormento mental...”. A morte fugirá deles. Esses demônios não terão permissão para matá-los (v. 5). A possessão demoníaca de seus corpos será tão excruciante que não conseguirão se livrar dessa opressão nem através da morte.

Passado é o primeiro “ai”! Depois deste ainda virão mais dois (v. 12). O primeiro foi extremamente dolorido, o próximo será mortal. O pior ainda está por vir, pois os juízos se tornarão cada vez mais intensos.

Ao soar a sexta trombeta ouve-se uma voz determinando para que fossem soltos os quatros anjos malignos que se acham “acorrentados” junto ao rio Eufrates (v. 13-14). A eles estava estabelecida uma data de exclusivo conhecimento de Deus – hora, dia, mês e ano – com a permissão de matarem uma terça parte da humanidade (v. 15).

Esses agentes diabólicos serão cruéis. Eles irão reunir uma poderosa força invasora jamais vista pela humanidade: um espantoso exército de 200 milhões de participantes (v. 16). Para se ter uma ideia do que esse número representa, a soma das 10 nações com o maior efetivo militar, atualmente no mundo, não chega a 10 milhões de militares, e para manter esses exércitos elas gastam mais de 500 bilhões de dólares por ano.

Numa simples analogia, todo o efetivo militar dessas 10 nações representa menos de 5% desse diabólico exército, e se fosse de seres humanos o custo alcançaria a incrível soma de mais de 10 trilhões de dólares/ano. Em termos econômicos é algo inexequível, pois se levarmos em consideração toda a logística necessária para a manutenção dessa enorme força-tarefa e a produção de armas e demais acessórios para equipar esse contingente de soldados, não haveria recursos financeiros para uma empreitada dessa envergadura. Logo, se trata de um exército de demônios que invadirá o mundo.

Difícil de acreditar nessa quantidade de 200 milhões de “militares”? Não! Porque se trata de uma revelação de Deus. Note atentamente ao que diz João: “eu ouvi o seu número” (v. 16). Se o número não lhe fosse dito seria impossível a contagem visual de tão grande ajuntamento. Logo, essa quantidade é absolutamente real.

Assim como os gafanhotos que vimos nos versículos anteriores, João agora vê estranha força invasora cujas descrições fogem à nossa percepção, portanto é algo simbólico (vs. 17 a 19). Em sua descrição ele afirma que a força desses “cavalos” estava em suas bocas e caudas, e isso é contrário à natureza desses animais, pois a força do cavalo natural está em seu pescoço, peito e patas, principalmente as traseiras, sendo que sua boca é a sua parte mais sensível, onde são colocados os cabrestos para que sejam dominados. Diz-nos Davi: “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio; de outra forma não se sujeitarão” (Salmo 32:9). Este é um exército atípico e medonho.

Alguns veem nesses implacáveis invasores o cumprimento da profecia acerca da invasão de Israel revelada por Ezequiel, capítulos 38 e 39, todavia pelas descrições do consagrado profeta essas forças viriam do “extremo norte”, ou melhor, “dos confins do norte” (Ezequiel 38:6 e 15). Aqui em Apocalipse, no versículo 14, esse gigantesco ajuntamento se dará junto ao “grande rio Eufrates”, portanto não ao norte, mas a leste de Israel. A sua carnificina é dirigida à humanidade como um todo, e uma terça parte dela será extinta (vs. 15 e 18).

Três flagelos são mencionados por João: fogo, fumaça e enxofre (vs. 17 e 18). Esse extermínio será de forma extremamente asfixiante. Dados recentes dão conta que a população mundial em 2011 alcançará o montante de 7 bilhões de seres humanos e em 2025, tudo mais constante, esse número chegaria a 8 bilhões. Partindo-se desse pressuposto, levando-se em conta que com a abertura do sexto selo uma quarta parte da humanidade será morta (Apocalipse 6:8), e nesta sexta trombeta mais um terço do restante será extinto, a conclusão é que a metade da população mundial deixará de existir, ou seja, cerca de 3,5 bilhões de almas serão aniquiladas nesses dois juízos. Dura coisa é tomar conhecimento disto, mas isso é o que estabelecido por Deus em Sua Palavra.

Diante de tamanha desgraça seria de se esperar que a humanidade se despertasse da sua obcecada incredulidade, se arrependesse e voltasse para Deus. Mas, lamentavelmente, não é isso que ocorrerá (vs. 20 e 21). Diz o texto desses versículos que os bilhões que ainda estiverem vivos após a essas tragédias não se arrependerão, ao contrário, continuarão em suas práticas criminosas e no enganoso exercício religioso que será introduzido pelo “falso profeta” que haverá de surgir. Mas este é um assunto que veremos mais à frente.

Não se permita, caro leitor, a colocar em dúvida o que aqui está revelado. Você poderá achar que o conteúdo deste capítulo é exacerbadamente sobrenatural e impossível de ser explicado ao incrédulo sem ser por ele ridicularizado. Primeiramente você tem que ter absoluta certeza nisso que você chama de “sobrenatural”. Indiscutivelmente é uma questão de fé. Se assim não fosse, como entender o “sobrenatural” do dilúvio, da torre de Babel, de Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a abertura do Mar Vermelho, os dedos escrevendo na parede do palácio de Belsazar, Jonas sendo engolido pelo grande peixe, o nascimento virginal do Senhor Jesus, os Seus milagres, a aparição de Moisés e Elias no monte da transfiguração, a Sua ressurreição e ascensão, além de inúmeras outras narrativas que não há espaço aqui para descrevê-las?

A triste realidade dos nossos dias é que vivemos um cristianismo apático, institucionalizado, meramente religioso, onde as pessoas não mais se dedicam ao estudo da Palavra de Deus, deixando-se conduzir por muitos enganadores que de fato amam o lucro e a notoriedade, e através de metáforas ilusórias insinuam que os acontecimentos aqui descritos “não serão bem assim”. Portanto, "tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”(Colossenses 2:8).

Ouçamos, ainda, o que nos diz Paulo em 2 Timóteo 4:1-5, que chegará o tempo em que os homens não mais suportarão a sã doutrina, não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas. Por sua vez, o verdadeiro cristão deverá cumprir cabalmente com o seu ministério não tendo do que se envergonhar. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 10

Este e o próximo capítulo fazem parte do segundo grande parêntese existente em Apocalipse (capítulos 10:1 a 11:13). Vimos o primeiro parêntese no capítulo 7, inserido entre o sexto e o sétimo selo, agora vemos este segundo entre a sexta e a sétima trombeta. O primeiro nos revelou aqueles que entrariam na grande tribulação e aqueles que dela sairiam por terem alcançado a Salvação. Neste segundo veremos o propósito e o poder de Deus sendo reiterados, e que não haverá mais delonga para a execução do Seu plano. Diz o anjo: “já não haverá demora” (v. 6b). O propósito do interlúdio deste décimo capítulo é o de anunciar que quando o anjo estiver para soar a sétima trombeta “cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas” (v. 7).

Ao adentrarmos a este capítulo nos deparamos com a revelação de João que viu “outro anjo forte descendo do céu” (v. 1). O vernáculo “outro” nos remete a alguém da mesma espécie, ou seja, a um anjo, e não ao Senhor Jesus como é afirmado por alguns comentaristas. Conforme já mencionei no capítulo 8, a encarnação, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus, com sua forma humana permanente, dispensam qualquer aparição em uma forma angelical. Inobstante a isso, o Senhor Jesus não juraria para Si mesmo (vs. 5 e 6), pois Ele foi partícipe de toda criação: “Tudo foi criado por ele e para ele”(Colossenses 1:16).

Diz Alford a esse respeito: “Este anjo não é, e não pode ser, o nosso Senhor. Tal suposição seria uma quebra de toda a consistência da analogia do Apocalipse. Conforme observado no capítulo 8:3, os anjos são ministros dos propósitos divinos e os executores dos acontecimentos apocalípticos, mas sempre distintos da Pessoa divina”. Diz também Ladd: “No Apocalipse anjos são sempre anjos; Cristo nunca é aqui chamado de anjo. Este anjo jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos (v. 6), e isto é significativo quando vem de um anjo, mas difícil de aplicar a Cristo. Além disto, este é somente um mensageiro; não é dado a ele um papel da divindade, e ele também não é adorado”.

É claro que sempre se respeita aqueles que têm pensamentos divergentes, mesmo porque há forte indício que este anjo poderia se tratar de um ser divino tendo em vista as características extrínsecas que ele apresenta (v. 1), semelhantes às do Senhor Jesus em Apocalipse 1:15-16. Todavia, essa aparência não é suficiente para se asseverar que este anjo se trata do Senhor Jesus, elas evidenciam tão somente a glória celestial que o reveste. Inverossímil a sugestão que esse anjo forte seria Lutero e que o livro aberto (v. 2) se refere à Bíblia por ocasião da reforma protestante, algo totalmente contrário ao texto sagrado.

Uma vez esclarecido o controverso existente acerca desse anjo, passemos à análise deste capítulo. O versículo 2 relata que na mão desse anjo está um livro que sem dúvida contém o registro dos assustadores flagelos que ainda estarão por recair sobre a humanidade, conforme veremos no capítulo 16. João deveria comer esse livro (v. 9), à semelhança do ocorrido com Ezequiel que teve que comer o rolo que continha terríveis juízos que sobreviriam a Israel: “Então vi, e eis que uma mão se estendia para mim, e eis que nela havia um rolo de livro. E estendeu-o diante de mim, e ele estava escrito por dentro e por fora; e nele estavam escritas lamentações, e suspiros e ais”(Ezequiel 2:9-10).

A seguir João ouve sete trovões (v. 3) que continham em si vozes inteligíveis e de imediato ele começa a escrevê-las, porém foi orientado para que não o fizesse, que guardasse aquela revelação em segredo (v. 4). Não se deve conjecturar em torno de qual seria o conteúdo dessas vozes, é uma revelação de exclusiva propriedade de Deus. O mesmo ocorrera anteriormente com o profeta Daniel e o apóstolo Paulo (Daniel 12:4; 2 Coríntios 12:4 – o fato do número do capítulo e do versículo serem os mesmos em ambas as passagens é mera coincidência, não há nada sobrenatural ou misterioso nisso).

Após essa revelação de exclusivo conhecimento de João, o anjo faz um solene brado de juramento de que não haverá mais demora (vs. 5 e 6). Aquilo que era iminente passa a ser imediato. O tempo de espera está a se findar. Assim que começar o soar da sétima trombeta, naqueles dias se cumprirá o “segredo de Deus” outrora anunciado aos seus profetas e servos (v. 7). Tremendo juízo paira sobre as cabeças da humanidade. Dentro do plano determinado por Deus, se aproxima o tempo em que será estabelecido o reino milenar e mundial do Senhor Jesus Cristo que há milênios fora revelado pelo Seu profeta: “Eis que vem o dia do Senhor... naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras... e o monte será fendido pelo meio... será um dia conhecido do Senhor... E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome” (Zacarias 14).

Assim como ocorrera no versículo 4, novamente João ouve a poderosa voz vinda do céu, sem dúvida a do Senhor Jesus, que lhe ordena para que pegue o livro que se encontra na mão daquele anjo forte (v. 8). Ao fazê-lo, João recebe a ordem para que o comesse com a observação de que o seu paladar seria doce ao mastigá-lo, como só é a Palavra de Deus (Salmo 119:103; Jeremias 15:16; Ezequiel 3:3), porém haveria amargor em seu ventre (vs. 9 e 10), pois nele continha os juízos de Deus previstos para a Terra e seus habitantes.

Diz MacDonald acerca disso: “Conforme predito pelo anjo, o livro é doce como mel, mas amargo ao estômago. Para o cristão é doce ler sobre a resolução de Deus de glorificar o Seu Filho onde, outrora, fora crucificado. É doce ler acerca do triunfo de Deus sobre Satanás e todas as suas hostes. É doce ler sobre o tempo em que todas as injustiças na Terra serão corrigidas. Ao mesmo tempo, contudo, o estudo das profecias também tem um sabor amargo. Há amargor no próprio julgamento produzido pelas Escrituras proféticas. Há amargor na visão dos julgamentos que em breve sobrevirão ao judaísmo e à cristandade apóstata. Há amargor em contemplar a condenação eterna de todos os que rejeitarem o Salvador”.

O conteúdo deste livro absorvido por João foi para lhe dar a força indispensável para o restante da missão que ele tinha que executar. Havia para ele uma duríssima tarefa pela frente. Era necessário que ele transmitisse aquilo para muitos (v. 11). João cumpriu cabalmente com a sua parte e nos deixou revelado fielmente esses acontecimentos.

O mesmo ocorre em nossos dias. O verdadeiro cristão não pode quedar-se inerte diante de tamanhas revelações. A omissão será a pior das decisões e haverá um preço a ser pago por isso, pois se não houver quem pregue acerca dessas ocorrências como as almas se livrarão de tão grave desígnio?

Lembremo-nos, novamente, dos tempos de Noé. As pessoas viviam na incredulidade e praticavam toda sorte de imoralidades que as conduziram à morte. Contudo, Deus não deixou de adverti-las a esse respeito através desse Seu servo. Segundo Pedro, Noé pregou fervorosamente sobre um avassalador juízo que cairia sobre aqueles que desprezavam a Deus (2 Pedro 2:5). Por mais absurdo que lhe poderia parecer, Noé foi temente a Deus e aparelhou uma arca pela qual condenou a humanidade impenitente (Hebreus 11:7). Deus não está a nos pedir que construamos outra arca, mas que testemunhemos perante os incrédulos acerca das verdades contidas neste magnífico Livro. Estou a fazer a minha parte, prezado leitor. Bem haja se assim o fizer! Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 11

Neste capítulo continuaremos a examinar o segundo grande parêntese existente no Apocalipse, aberto no capítulo 10:1 e encerrado no versículo 13 deste capítulo 11. Em seguida veremos João declarando, no versículo 14, que é passado o segundo “ai” e sem demora virá o terceiro cujas terríveis consequências estão reveladas no capítulo 16. A última trombeta soará.

Nos versículos 1 e 2 João recebe ordens, por certo do anjo forte que vimos no capítulo anterior (10:1), para que medisse o santuário e os que nele adoram, sendo instruído para que não mensurasse o “átrio exterior” porque ele será dado por “quarenta e dois meses” aos gentios que subjugarão a cidade santa. Esse tempo é equivalente a “três anos e meio” de 360 dias no calendário judaico, que representa a metade do período da grande tribulação.

De imediato nos vem a pergunta: Que santuário é esse? Alguns afirmam que seria o templo construído por Herodes em Jerusalém, todavia na época em que João estava escrevendo essas revelações esse santuário já não mais existia, fora destruído pelo império romano que lá deixou somente um resto do muro que o cercava e é conhecido em nossos dias como o “muro das lamentações”.

Inobstante a isso, naquele santuário havia três átrios: o dos sacerdotes, o das mulheres e o dos incrédulos, e nesta visão de João o templo contém um único átrio, a exemplo daquele que foi construído por Salomão. Conclui-se, portanto, que este será um novo templo a ser erguido por ocasião da “aliança” que o “príncipe” que haverá de vir fará com Israel, tudo de conformidade com a profecia de Daniel: “Ele fará firme aliança com muitos por uma semana (os sete anos da grande tribulação); na metade da semana (três anos e meio)fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares...” (Daniel 9:27).

Por definição, se haverá sacrifícios e ofertas de manjares terá que existir um novo templo que será permitido aos judeus construí-lo mediante essa “firme aliança”. Sabemos que em nossos dias isso é impossível de acontecer tendo em vista que no local original do templo está erguida a mesquita de Omar que é imexível por ser um local sagrado para os muçulmanos. Israel não se atreveria a derribá-la a não ser que houvesse condições para isso, mediante a intervenção de um grande poder político, no caso o do “príncipe” profetizado por Daniel que vem a ser uma das “bestas” que veremos no capítulo 13. Nunca é demais lembrar que a formalização dessa “firme aliança” com Israel iniciará a contagem da setuagésima semana de Daniel.

Diz R. David Jones a respeito desse novo templo: “O templo de Herodes existente ao tempo do ministério do Senhor Jesus sobre a terra foi destruído pelos romanos antes do livro do Apocalipse ser escrito. O santuário mencionado aqui é, portanto, um edifício novo construído antes da tribulação ou no seu início. O ato de medi-lo, incluindo o altar e os que nele adoram, é o anúncio de um julgamento iminente: Jerusalém vai ser ocupada pelos gentios (as nações) durante os últimos três anos e meio, período também chamado o da abominação desoladora (Daniel 9:27; 12:11; Mateus 24:15; 2 Tessalonicenses 2:3-4)”. Portanto, quaisquer outras afirmações a respeito desse santuário, e o motivo da sua medição, são meras especulações.

Nos versículos seguintes – 3 a 13 – João relata acerca do surgimento de“duas testemunhas” que terão significativa atuação por três anos e meio no período da grande tribulação. Muitas têm sido as teorias acerca de ambas. A mais extravagante é que elas representam a Igreja que será arrebatada em meio à grande tribulação e, como respaldo para essa interpretação, usa-se a expressão “subi para aqui” contida no versículo 12 e o toar da sétima trombeta no versículo 15, tendo em vista que Paulo deixou revelado que o arrebatamento da Igreja se dará ao som de uma trombeta (1 Tessalonicenses 4:16-17). Se ao menos continuassem a leitura dessa epístola, veriam Paulo afirmando que Deus não destinou a Igreja para o dia ira, mas para alcançar a salvação mediante o Senhor Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 5:9).

Essa afirmação é dar muitas asas à imaginação, pois como tenho asseverado insistentemente ao longo desta série, que aqueles que pertencem a Deus nesta atual era – a da Igreja – não estão destinados para passarem pela ira de Deus (João 3:36; Romanos 5:9; 1 Tessalonicenses 1:10 e 5:9). Sobremodo incompreensível o esforço que fazem para colocar a Igreja nesse angustiante período, contrariando com isso o contexto sacro. A diferença entre as dispensações é claríssima, enquanto a Igreja aqui está a pregar a graça de Deus essas duas testemunhas virão para anunciar o juízo de Deus e a vinda de Jesus Cristo como o Messias que irá restaurar todas as coisas. O realce não estará na graça, mas no governo de Deus.

Outro grande esforço é para identificar quem seriam essas duas testemunhas. Uma das opções lançadas é que elas seriam dois anjos poderosos aparelhados por Deus para uma missão específica, ou então que seriam a reencarnação de Moisés e o reenvio de Elias que não passou pela morte, ou até mesmo Enoque, que a exemplo de Elias também foi arrebatado vivo. Tudo tremendamente especulativo, devemos tão somente nos ater ao texto sagrado. Essas duas testemunhas são duas pessoas físicas naturais com uma missão extraordinária em tempos tão difíceis. O texto é claro: “minhasduas testemunhas para que profetizem por três anos e meio” (v. 3).

Portanto, essas duas testemunhas são Dele, escolhidas por Ele e dotadas por Ele com imenso poder para um importante ministério. A sugestão que elas fariam parte do grupo dos 144 mil de Israel selados por Deus (Apocalipse 7:4-8) é completamente insustentável, pois essas duas testemunhas serão mortas (v. 7), ressuscitadas por Deus (v. 11) e arrebatadas ao céu (v. 12), ao passo que os 144 mil aqui permanecerão intocáveis por toda grande tribulação. Diz-nos William MacDonald em seu comentário sobre Apocalipse 14:1-5: “O Cordeiro é visto em pé sobre o monte Sião com os Seus 144 mil seguidores... Essa cena antevê o momento em que o Senhor Jesus voltará à terra e aparecerá em Jerusalém com esse grupo de cristãos... Os 144 mil são as mesmas pessoas mencionadas no capítulo 7. Agora, estão prestes a entrar no reino de Cristo”. Como vemos, o texto não diz 143.998.

Ao descrevê-las em sua visão, João revela o caráter de seus testemunhos. Suas vestimentas tipificam a natureza sombria das suas mensagens acerca do pesado juízo que recairá sobre os homens rebeldes a Deus (v. 3). Os símbolos – oliveiras e candeeiros – nos remetem à quinta visão do antigo profeta – Zacarias 4:3, 11 e 14. Portanto, essas duas testemunhas são dois judeus ungidos que reconhecerão o Senhor Jesus como o Messias prometido a Israel (v. 4). Elas terão poder sobre a vida e a morte, e autoridade para alterarem os elementos da natureza quantas vezes desejarem enquanto aqui estiveram profetizando (vs. 5-6).

Ao se completar o tempo estabelecido por Deus para a sua missão – três anos e meio – o “príncipe” visto por Daniel, que é uma das “bestas” descritas por João no capítulo 13, será permitido matá-las (v. 7). Seus corpos ficarão expostos na cidade que tipifica a idolatria do Egito (identificação espiritual) e a imoralidade de Sodoma (identificação moral), que de fato serão as características que haverá em Jerusalém, a cidade “onde o Senhor foi crucificado” (v. 8). A morte das duas testemunhas será motivo de alegria extremada para muitos (vs. 9-10), mas após três dias e meio elas serão ressuscitadas e arrebatadas ao céu e com grande medo os seus inimigos as contemplarão (vs. 11-12).

Após o arrebatamento dessas duas testemunhas a Terra voltará a tremer fortemente! A décima parte de Jerusalém será destruída e sete mil vidas serão ceifadas pela morte, por certo de seguidores da “besta”. As demais pessoas que lá estiverem ficarão atônitas e darão glória a Deus, não necessariamente em autêntica adoração ou conversão, mas porque serão levadas, à vista do que viram, a entender que aquilo é a confirmação do que ouviram ao longo daqueles três anos e meio de testemunho (v. 13). Encerra-se aqui o segundo grande parêntese contido em Apocalipse.

João volta às trombetas. Antes deste parêntese ele havia descrito os terríveis acontecimentos que advirão sobre a humanidade com o soar das seis trombetas anteriores a esta: “Passou o segundo ai. Eis que sem demora, vem o terceiro ai” (v. 14) com o soar da sétima trombeta cujas peripécias estão descritas no capítulo 16.

Antes, porém, João narra a visão do grande alarido no céu por ocasião do toque desta sétima trombeta. É chegado o grande momento que o Senhor Jesus virá para derrotar Satanás e estabelecer o Seu reino milenar (v. 15). A Igreja que fora arrebatada antes da tribulação e aqui representada pelos vinte e quatro anciãos, conforme comentado no capítulo 4, prostrar-se-á perante Deus e O adorará (vs. 16-18). Magnífico momento será esse! Será o dia da antecipação do júbilo pela vitória absoluta do bem sobre o mal. Os que destroem a terra serão completamente derrotados através desta batalha final.

Abre-se o santuário de Deus que se acha no céu. A visão de João é estupenda, ele vê a arca da aliança. A antiga era um símbolo transitório da nova, que é superior e eterna, da qual Jesus Cristo é o mediador (Hebreus 8). O santuário e a arca que aqui estavam eram apenas símbolos, ou sombras, destes que João está contemplando. Diante da majestosa presença do Deus Todo-Poderoso sobrevêm grandes sinais: relâmpagos, vozes, trovões terremotos e grande saraivada (v. 19).

Portanto, resta saber, meu caro leitor, onde você e os seus próximos estarão? Entre aqueles que estarão adorando a Deus nessa oportunidade ou entre os que sofrerão as terríveis consequências da rebeldia para com Deus. Reflita sobre isso e tenha certeza de que a sua escolha seja a acertada. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 12

Abre-se o penúltimo grande parêntese contido em Apocalipse, por sinal bastante longo, que se inicia neste 12° capítulo e vai até o 14°. Como vimos ao final do capítulo anterior, a sétima trombeta foi soada, todavia as terríveis consequências, que advirão com os sete flagelos a serem lançados sobre a Terra, serão reveladas somente no capítulo 16.

Ao iniciar este capítulo João relata a visão que teve de um “grande sinal no céu” (v. 1) que, por ser um “sinal”, trata-se de algo simbólico. Cabe-nos, portanto, ir à busca da interpretação do seu significado através das Escrituras em vez de ficarmos a especular o que aquilo representa.

Em sua visão, o consagrado apóstolo descreve acerca de uma mulher radiante que estava grávida (vs. 1 e 2). Surge a inevitável indagação: Quem seria essa mulher? É impressionante a quantidade de interpretações dadas acerca desta figura, que de fato são meras divagações, pois não têm respaldo nas revelações contidas na Palavra de Deus.

Alguns chegam à extravagância de afirmar que se trata de Maria grávida de Jesus, todavia não é preciso muito esforço para entender que se trata de algo completamente fora do contexto descrito neste capítulo. Por outro lado, aqueles que insistem em colocar a Igreja no período da grande tribulação chegam ao absurdo de interpretar que esta “mãe” representaria a Igreja, porém vemos que a mulher em questão está a gerar aquEle que há de reger todas as nações, qual seja o Messias prometido, o Senhor Jesus, portanto o inverso é absolutamente verdadeiro, pois não foi a Igreja que O gerou, mas foi por Ele gerada (Mateus 16:18).

Se não bastasse isso, a Igreja jamais foi interpretada nas Escrituras como “mãe”, mas como a “noiva”. Escreve a esse respeito W. Kelly: “Há aqui vários pontos que requerem uma explicação. Em primeiro lugar, que geralmente prevalece, é que a mulher representa a Igreja. Mas uma simples nota basta para derrubar esta falsa noção: A Igreja nunca é apresentada nas Escrituras como sendo uma mãe, e muito menos ainda poderia ela ser a mãe de Cristo, que, evidentemente, é o Filho Varão (v. 5). Sob a figura de uma mulher, a Igreja é a noiva de Cristo; enquanto Israel, como nação, pode, na realidade, ser considerada simbolicamente como tendo dado à luz a Cristo... “um menino nos nasceu (aos judeus) um filho se nos deu (aos judeus)” (Isaías 9:6-7). Portanto, a mulher representa Israel segundo o pensamento de Deus”.

Portanto, meu caro leitor, a resposta a essa pergunta é que essa “mulher” representa Israel. A figura dessa mulher (v. 1) é semelhante àquela do sonho de José (Gênesis 37:9-10), onde o Sol é interpretado como sendo Jacó, seu pai, a Lua como sendo Raquel, sua mãe, e as onze estrelas os seus irmãos, que com ele, José, formariam as doze tribos que dariam origem a Israel como nação. Não são poucas as passagens bíblicas em que Israel é representado por uma “mulher”, dentre elas Isaías 54:5 e Jeremias 3:20.

Surge, porém, outra questão. Se a mulher é Israel (v. 1) e o seu filho varão o Senhor Jesus (v. 5), como então ela poderá sentir as dores do parto em meio à grande tribulação se Ele já era nascido? Deixemos essa interpretação, como convém, a cargo das Escrituras. Como diz J. Allen, Isaías antecipou esta situação anormal de nascimento quando escreveu: Antes que estivesse de parto deu à luz; antes que lhe viessem as dores deu à luz um filho... pois Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à luz a seus filhos” (Isaías 66:7-8). Leia também Miqueias 4:10. Assim o verdadeiro sofrimento da nação de Israel não aconteceu no tempo do nascimento do Senhor Jesus, mas está por vir no período da tribulação. Cristo descreveu a primeira parte da tribulação como o“princípio das dores” (Mateus 24:8), onde a palavra “dores” é geralmente usada para “trabalho de parto” e pode ser traduzida como “dores de parto” como lemos em 1 Tessalonicenses 5:3.

A seguir João vê outro “sinal no céu”: “e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças sete diademas” (v. 3). Aqui não há nenhuma dificuldade em interpretar quem é este dragão, os versículos 7 a 9 o identificam como sendo “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo”. Quanto aos significados da sua aparência veremos as explicações desses símbolos mais à frente, no capítulo 17. O que importa agora é sabermos que o personagem deste “sinal” é o diabo.

Em sua tentativa de enfrentamento a Deus ele arrasta consigo um terço das hostes celestiais rebeldes que serão precipitadas sobre a Terra (v. 4). Para que não haja dúvidas, lembremo-nos do simbolismo de “estrelas” contido no versículo 20 do capítulo 1, onde o próprio Senhor Jesus as interpreta como “anjos”, só que aqui são os anjos caídos, seguidores de Lúcifer, que por sua vez significa a “estrela da manhã” descrita em Isaías 14:12.

O intuito do maligno sempre foi o da destruição total de tudo que foi criado por Deus, e ele continua nessa busca apesar de saber, desde o princípio (Gênesis 3:14-15), que os seus dias estão contados segundo o tempo de Deus. Mas ele é sobremodo arrogante e continuará até ao cabo dos seus dias acreditando que conseguirá vencer o Todo-Poderoso. Vemo-lo aqui, no versículo 4, em sua louca tentativa de impedir o nascimento do Senhor Jesus e sabemos que para isso ele usou homens cruéis como Herodes (Mateus 2:3-18), mas tudo foi infrutífero, pois Deus protegeu o Seu Filho Amado para que cumprisse sobre Si a obra redentora estabelecida pelo Pai, em prol de toda a humanidade, e em seguida foi arrebatado ao céu (v. 5), onde aguarda o momento de vir para arrebatar aqueles que são Seus e, após os sete anos da grande tribulação, voltará para estabelecer o Seu reino milenar.

O ódio destruidor de Satanás se exacerbará. Aquilo que ele supunha ser o fracasso de Deus com a morte do Seu Filho crucificado, de fato foi a estupenda vitória da Redenção para todo aquele que nEle crê. Mais uma vez ele foi derrotado, mas ele é persistente e procurará sob todas as formas varrer Israel da face da Terra. O seu tempo está a se esgotar. Ele sabe, a priori, que é lá que o Senhor Jesus Cristo voltará para restaurar todos a coisas, quando os Seus pés tocarão o Monte das Oliveiras, que está defronte a Jerusalém (Zacarias 14:4). Por isso ele induzirá todas as nações para que destruam completamente Israel, mas o próprio Senhor Jesus impedirá tamanha insanidade, conforme veremos no capítulo 19.

Apesar de todos os esforços, como se têm visto ao longo da história, Deus jamais permitirá que Israel desapareça da face da Terra e O vemos assim fazendo neste capítulo. Os versículos 6 e 14 revelam que Ele abrigará e sustentará Israel em um lugar seguro por Ele preparado durante os três anos e meio finais da grande tribulação. Para Deus não há impossíveis, lembremo-nos de Elias (1 Reis 17), que por três anos e meio (Tiago 5:17) o Senhor o sustentou ainda que através dos corvos e de uma viúva pobre.

Por certo esse “Israel” que será perseguido e fugirá sobre as “asas da grande águia” (vs. 13 e 14), representa os judeus que se manterão crendo na promessa da vinda do Messias e certamente se recusarão a cultuar a “besta” e a receber a sua marca como veremos no próximo capítulo. Eles não se curvarão perante a imagem da “besta” assim como ocorrera nos dias de Elias (1 Reis 18:13; 19:18). Você poderá argumentar em que me baseio para afirmar isso. Observe que há um segundo grupo de israelitas no versículo 17. Em sua fúria por não ter conseguido o extermínio do primeiro grupo (vs. 15 e 16), Satanás se voltará contra o restante dos judeus, aqueles que já tinham reconhecido o Senhor Jesus como o Messias prometido e por isso “guardam os mandamentos de Deus e trazem o testemunho de Jesus” (v. 17).

Quanto às “asas da grande águia” (v. 14) é uma expressão conhecida e tem o significado do extraordinário livramento que Deus promove a favor do Seu povo: “Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos cheguei para mim” (Êxodo 19:4). Portanto, não há o porquê de se especular tanto sobre isso, assim como fazem sobre a “água como um rio”que será jorrada da boca de Satanás contra Israel e que será engolida pela terra (vs. 15-16). Dou-me por satisfeito com a simples, objetiva e clara interpretação de W. MacDonald: “Na tentativa de impedir a fuga de Israel, a serpente provoca uma grande inundação a fim de arrastar o povo na correnteza, mas um terremoto abre a terra, engole a água e frustra o plano do diabo”.

Você poderá questionar: O diabo teria poder para provocar uma inundação? Basta olharmos para os magos do faraó fazendo, por duas vezes, grandes sinais em confronto com Moisés e Arão (Êxodo 7 e 8), consoante a eficácia de Satanás (2 Tessalonicenses 2:9). No próximo capítulo o veremos capacitando suas duas “bestas” para efetuarem coisas sobrenaturais como descer fogo do céu, a estátua falar, dentre outras coisas.

Neste terceiro grande parêntese João introduz um intervalo, um pequeno parêntese (vs. 7 a 12), para descrever uma peleja que ocorrerá no céu, região própria da atual morada do diabo. Este interlúdio é indispensável para entendermos a ira do diabo contra Israel (v. 13). O “arcanjo” Miguel, o único citado como tal nas Escrituras (Judas 9), e seus anjos travam uma intensa batalha no céu contra o diabo e as suas hostes (v. 7). A derrota de Satanás será implacável. Não haverá mais lugar para ele no céu. O sedutor deste mundo será atirado para a Terra e com ele todo o seu maligno séquito (vs. 8 e 9).

Para que não haja dúvidas a respeito de que “céu” o maligno será expulso, convém relembrar que as Escrituras descrevem três céus. O primeiro, o céu atmosférico que nos rodeia, que é a região de Satanás, “o príncipe da potestade do ar” que reina na atmosfera (Efésios 2:2); o segundo céu é o astronômico, o lugar dos corpos celestes (Jó 38:31-33); e o terceiro céu, é o lugar da presença do Deus Todo-Poderoso, a região da glória divina (2 Coríntios 12:1-4), para onde estão a ir os salvos pela obra redentora do Senhor Jesus (Lucas 23:43).

Nesse mesmo momento João ouve um grande alarido de júbilo vindo do céu, da morada de Deus (vs. 10 a 12). Por certo vindo daqueles que foram martirizados na primeira metade da tribulação conforme vimos na abertura do quinto selo (Apocalipse 6:9-11). O regozijo deles é magnífico: “Por isso festejai, ó céus, e vós que neles habitais”. Entretanto, há um paradoxo! “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera”. Não haverá alternativa para Satanás a não ser a de tornar este mundo ainda mais tenebroso, por saber “que pouco tempo lhe resta” (v.12).

Ao encerramento deste capítulo vemo-lo em pé sobre a praia (v. 18). Dali ele convocará seus dois coadjuvantes que farão grande estrago àqueles que não prestarem adoração ao seu mentor – o diabo – que lhes deu autoridade para praticarem toda sorte de crueldade, conforme veremos no capítulo seguinte. Que aqueles que estão a ler esta série de crônicas sejam despertados quanto à fundamental importância da atual dispensação – a da Igreja –, pois assim evitarão a si e a outras pessoas de tão horripilante situação, tendo em vista que aqueles que atualmente creem no Senhor Jesus serão arrebatados antes do início desse período de grande tribulação. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 13 (1)

Continuando em nossa caminhada pelo penúltimo grande parêntese contido em Apocalipse, chegamos ao capítulo 13 e nos deparamos com o surgimento de duas terríveis personagens: as duas “bestas” que são convocadas pelo diabo numa derradeira tentativa de procrastinar a sua derrota que certamente virá, mas que em sua ultrajante soberba ele acha que ainda conseguirá derrotar a Deus. A esta altura o diabo sabe que pouco tempo lhe resta e tentará uma cartada decisiva.

É impressionante a quantidade de especulações geradas em torno dessas duas criaturas, através de livros, documentários e filmes, que levam as pessoas ao completo descrédito pelas absurdas fantasias que são criadas. Com isso a coisa está a ficar do jeito que o diabo gosta, ou seja, as pessoas acabam acreditando que tudo isso não passa de uma lenda, de um mito religioso como tantos outros.

Por outro lado, existem aqueles que fazem parte da cristandade e asseveram ser este capítulo um dos mais importantes do Apocalipse. Sem dúvida, um imenso exagero, como poderá um capítulo que descreve acerca das três figuras mais execráveis – o diabo e as suas duas bestas – ter tamanha relevância? Por conta disso, prezado leitor, terei que desdobrar este capítulo em partes para que consigamos entender e esclarecer o enorme embaraço existente nesta passagem.

Antes de começarmos esta primeira parte, convém relembrarmos o contexto deste parêntese iniciado no capítulo anterior. Nele vimos que simbolicamente a “mulher” representa a nação de Israel, e o “dragão” a Satanás que persegue ferozmente a “mulher” a fim de devorar o seu “filho” – o Senhor Jesus –, quando nascesse; sabemos que ele não conseguiu esse intento. Em seguida vimos a grande peleja no céu que acontecerá quando Miguel e os seus anjos subjugarão o diabo e o atirarão para a Terra juntamente com os seus anjos malignos. Com essa queda, o diabo perceberá que o seu tempo está a se findar e nesse mesmo trecho vemo-lo em fúria a perseguir a Israel, mas Deus frustrará a sua maligna intenção.

O capítulo 12 se encerra da seguinte forma: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar”. Note que nesse texto não há nenhum comentário acerca da forma, consequências e desdobramentos dessa perseguição ao remanescente fiel, portanto não se deve considerar o capítulo 13 como uma mudança de tópico do capitulo anterior tendo em vista que essa divisão não existe nos textos originais.

Nunca é demais lembrar que a criação de capítulos e versículos veio para facilitar a leitura e a interpretação dos textos bíblicos, mas por vezes atrapalha se as pessoas não levarem em consideração que essa divisão nem sempre se trata de um novo parágrafo, “cuja função seria a de mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto com um novo tema” (Houaiss). Por não entenderem assim, tantos cometem equívocos inaceitáveis.

Ao acatarmos, portanto, a continuidade absoluta do texto, vemos que para a perseguição diabólica àqueles que darão o testemunho de Jesus, o diabo convocará dois terríveis coadjuvantes: a besta que emerge do mar e a outra que emerge da terra (Apocalipse 13:1 e 11). De imediato, é importante que fique claríssimo em nossas mentes que essas duas figuras são seres humanos como nós, de carne e osso, não se tratando de anjos demoníacos materializados ou incorporados, ou então seres de outro planeta como alguns fantasiosamente sugerem. São daqui mesmo e receberão a autoridade do diabo para suas tenebrosas atuações.

Você pode estar a pensar a esta altura: “Se o diabo sabe de tudo isso por ter conhecimento das Escrituras por que então devemos entender que ele não mudará a estratégia aqui revelada?”. De certa forma é pertinente esse pensamento, todavia o diabo não é onisciente, ele não é Deus, ele não sabe de tudo e nem tudo foi permitido a João revelar: “Guarda em segredo as coisas que os setes trovões falaram, e não as escrevas” (Apocalipse 10:4). Todavia, em sua altivez, mesmo sabendo dessas profecias, ele continua achando que é superior ao Todo-Poderoso e tentará demonstrar isso distorcendo as revelações das Escrituras, como o vemos tentando convencer ao próprio Senhor Jesus a segui-lo (Lucas 4:1-13).

Apesar de João não nominar nenhuma dessas duas bestas como o “anticristo”, tornou-se uma tradição entre os cristãos de que o “anticristo” seria a primeira besta e daí passou-se a esse costumeiro entendimento. O mesmo ocorreu com a comemoração do Natal, que de fato é apenas uma tradição cristã, pois as Escrituras silenciam quanto ao dia do nascimento do Senhor Jesus. Aceita-se, portanto, essa tradição, tendo em vista que houve um dia do Seu nascimento, assim como chegará o dia em que será manifestado o homem da iniquidade.

Todavia, chegando-se a este capítulo convém avaliar o significado desse vernáculo. Os únicos registros dessa expressão – anticristo – são de exclusivo uso desse mesmo apóstolo em suas duas primeiras epístolas. Nenhum outro escritor sacro usa esse termo. Diz João: "como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido... Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho... e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo...” (1 João 2:18 e 22; 4:3). "Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo" (2 João v. 7). A exegese aqui tem que levar em conta o contexto dessas epístolas, que são de advertência sobre a apostasia que já estava a vir através de falsos mestres que predicavam uma doutrina equivocada sobre a Pessoa de Jesus Cristo. Nelas, João não dá nenhum indício do surgimento de um grande líder político, como será a primeira besta.

Em nosso idioma não houve tradução para “anticristo”, mas uma transliteração dessa palavra do original grego. Em sua lexicografia, Houaiss também o define como “falso Cristo” ou “falso profeta”. Ao examinarmos mais detidamente a preposição grega “anti” usada nas Escrituras, vemos que ela aparece 22 vezes no Novo Testamento. Em todas essas passagens o sentido da tradução é “em lugar de” e não “contra” alguma coisa (Mateus 2:22, 5:38, duas vezes, 17:27, 20:28; Marcos 10:45; Lucas 1:20, 11:11, 12:3, 19:44; João 1:16; Atos 12:23; Romanos 12:17; 1 Coríntios 11:15, Efésio 5:31; 1 Tessalonicenses 5:15; 2 Tessalonicenses 2:10; Hebreus 12:2, 12:16; Tiago 4:15; e 1 Pedro 3:9, duas vezes).

Em 1944, W. C. Taylor, em sua introdução ao estudo do Novo Testamento grego, define essa preposição, no caso genitivo, como “em lugar de”. Ao analisarmos os textos acima indicados veremos que esse é o sentido bíblico, por exemplo:“Arquelau reinava “em lugar de” (anti) seu pai Herodes” (Mateus 2:22). Portanto, Arquelau não reinava “contra” o seu pai, mas “em lugar” dele. Por certo é este o sentido que João tinha em mente quando usou a expressão “anticristo”. Quando olhamos para as duas bestas do Apocalipse que estão para surgir, vemos que a primeira, o grande líder político, tem a mesma semelhança do diabo (compare Apocalipse 13:1 com 12:3). Quanto à segunda besta, João a identifica como parecendo um “cordeiro”, ou seja, essa besta virá “em lugar de” Cristo, terá uma semelhança com Cristo, mas falará como um dragão, ou seja, o diabo (Apocalipse 13:11).

Ao longo de todo Apocalipse, para essas duas figuras humanas, João usou a expressão para a primeira delas simplesmente como a “besta”, ao passo que para a segunda ele a nominou como sendo o “falso profeta” (Apocalipse 16:13, 19:20 e 20:10). Em nosso idioma o prefixo “anti” tem o significado usual de “contra”, logo, se aplicarmos esse sentido, ambas as bestas são “anticristos”.

Se você, caro leitor, me perguntasse se deveríamos estar preocupados com o controverso, eu lhe responderia que não, pois os cristãos autênticos já terão sido arrebatados pelo Senhor Jesus antes do surgimento dessas duas criaturas repulsivas. Todavia, aqueles que acreditam que os cristãos que estiverem vivos à época passarão pela grande tribulação, gastam inutilmente o seu tempo procurando identificar indícios se o “anticristo” já se encontra entre nós, talvez para saberem quem vão enfrentar.

Por outro lado, há aqueles que o fazem na tentativa de encontrarem sinais que revelam o imediato “arrebatamento” da Igreja. Mas isso não é pertinente, pois, segundo o próprio Senhor Jesus, ao responder àqueles que ansiavam em saber quando se daria o tempo da restauração do reino a Israel, ele foi enfático: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para a sua exclusiva autoridade” (Atos 1:7).

A literatura existente a esse respeito é imensa, em nossos dias há escritores famosos, tidos como cristãos, que compartilham da crença de uma famosa pitonisa americana que teria recebido uma revelação, por certo do inferno, que o “anticristo” já estaria entre nós, teria nascido no Oriente Médio no dia 5/2/1962, e está aguardando o seu chamado para assumir o poder mundial das nações.Autores que se baseiam em uma bruxa não podem ser levados a sério, não é mesmo? Isso só serve para aumentar o saldo de suas contas bancárias, com a venda de seus livros sobre esses prognósticos especulativos.

Nas crônicas a seguir, sobre este mesmo capítulo 13, analisaremos mais detalhadamente esses dois personagens, mas esteja absolutamente certo, prezado leitor, que não devemos aguardar a manifestação dessas duas bestas, pois os redimidos pelo Senhor Jesus aguardam a Sua vinda para arrebatar os que são Seus, não à vinda do “anticristo”. Tenha o mesmo sentimento que havia em Paulo: "Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantosamam a sua vinda" (2 Timóteo 4:8). Portanto, não abra mão desse galardão. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 13 (2)

Antes ainda de entrarmos nos comentários acerca dessas duas nefandas personagens – as duas bestas em Apocalipse 13 – convém avaliarmos algumas distorções que são feitas no entorno delas as quais têm levado muitos a um entendimento equivocado e isso tem promovido grande descrédito ao conteúdo deste notável Livro, transformando-o em uma mera obra de ficção, ou mito, como alguns gostam de afirmar. É incrível como vários escritores, por sinal bastante famosos, geram uma enormidade de ideias fantasiosas acerca deste capítulo que não se coadunam em nada com as revelações contidas nas Sagradas Escrituras.

Como sabemos, e nesta série de crônicas estou a reiterar com a necessária insistência, o arrebatamento da igreja de Deus, ou seja, daqueles que realmente são autênticos cristãos independentemente do contexto denominacional ou segmento que pertençam, ocorrerá antes do período da grande tribulação e, portanto, antecederá à manifestação dessas duas bestas que tradicionalmentesão identificadas como o anticristo e o seu profeta. Todavia, comete-se um grande equívoco ao asseverarem que a revelação dessas duas criaturas se dará sem permeio logo após a esse acontecimento. Não há nenhum indício acerca desse imediatismo nas Escrituras. Sem dúvida, ambas surgirão após o arrebatamento, mas não há nenhuma evidência quanto ao tempo exato a decorrer para essa aparição.

Para confirmar essa minha afirmação, respaldo-me em 2 Tessalonicenses 2:1-12, quando Paulo esclarecia aos cristãos daquela localidade acerca do mal-entendido que havia a respeito da vinda do Senhor Jesus para buscá-los (v. 1), com o “dia do Senhor” que eles pensavam já estar vivenciando, por certo em virtude da grande perseguição que estavam a sofrer (v. 2). Era preciso corrigir esse equívoco. O “dia do Senhor”, não o “arrebatamento”, se dará com o surgimento da apostasia e a revelação do homem da iniquidade, o filho da perdição (v. 3). Paulo deixa claríssimo que esse iníquo será “revelado somente em ocasião própria” (v. 6), não fixando, portanto, que o seu surgimento será deimediato ao “rapto” da igreja de Deus, como alguns têm afirmado.

Esse pensamento imediatista tem propiciado, talvez propositalmente, um sem número de edições de livros, filmes e artigos a esse respeito, fazendo com que as pessoas fiquem atentas à chegada do provável “anticristo” ao mundo, a fim de saberem da proximidade do arrebatamento da igreja. Isso tem sido completamente infrutífero, uma enorme perda de tempo, pois o arrebatamento da igreja independe totalmente do surgimento desse trágico personagem, ou se ele já está pronto para assumir a liderança deste mundo rebelde a Deus.

Nunca é demais repetir que as duas bestas que surgirão são seres humanos comuns, não são deuses. Por certo, naturalmente dotadas de grande capacidade intelectual em suas áreas de atuação, “qualidades” essas que serão aproveitadas pelo seu gestor – o diabo –, mas certamente isso levará um considerável tempo até elas serem investidas em suas respectivas funções. A primeira terá que assumir o comando das nações e para isso deverá demonstrar imensa capacidade de liderança e trazer soluções eficazes para os graves problemas que cada vez mais se exacerbam neste mundo globalizado em termos políticos e, principalmente, econômicos. A segunda terá a dificílima tarefa de convencer Israel que é o Messias prometido e aglutinar em torno de si todas as religiões existentes à época, como não será coisa nada fácil ela irá operar grandes sinais segundo a eficácia de Satanás (2 Tessalonicenses 2:9). Essas coisas não acontecerão do dia para noite. Convém salientar que das duas bestas que virão, somente a segunda operará grandes sinais miraculosos e que certamente levarão muitos ao engano.

Portanto, esteja absolutamente convicto, prezado leitor, que o arrebatamento dos convertidos a Deus continua sendo iminente e poderá ocorrer a qualquer momento, no tempo estabelecido por Deus, cujo dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, somente Ele. Assim sendo, não está predeterminado na Palavra de Deus que será no dia seguinte ao arrebatamento que essas duas bestas se manifestarão, ou então, que o arrebatamento não ocorrerá até que as duas bestas estejam capacitadas. Isso é ficção, não é revelação.

Conforme já vimos, Jesus Cristo deixou expressamente revelado que Ele voltará para levar consigo aqueles que são Seus (João 14:1-3). Dentro dessa premissa, divinamente inspirado, Paulo deixou revelado como isso se dará: "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos [morreremos], mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta...” (1 Coríntios 15:51-52); "Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus [no céu], descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor" (1 Tessalonicenses 4:16-17, leia também Filipenses 3:20-21).

Observe, caro leitor, atentamente para a expressão “momento”. No original grego(atomos) ela tem o significado de “um átimo de tempo”, ou seja, algo tão rápido como a mais curta fração de tempo possível. Portanto, esse acontecimento não será perceptível aos olhos humanos como se têm propalado, o “rapto” será tão instantâneo que as pessoas nem se darão conta disso, a não ser a posterior ausência daqueles que foram arrebatados. O seu ruído será semelhante a um piscar de olhos, por conseguinte inaudível aos ouvidos humanos. É esta a interpretação que deve ser dada a esse extraordinário acontecimento.

É impressionante o imaginário que se dá acerca desse evento. Cria-se uma enorme fantasia que o mundo contemplará a subida daqueles que serão arrebatados como se fosse uma imensa procissão para o encontro com o Senhor Jesus nos ares, entre nuvens. O pior, que todos estariam desnudos, pois as suas roupas e objetos pessoais aqui ficariam por ocasião dessa ocorrência. Pura ficção, a Palavra de Deus não dá nenhum indício acerca das circunstâncias dos pertences pessoais dos arrebatados. Como diz Paulo na introdução a esse assunto, este fenômeno é um mistério e não nos cabe especular sobre isso.

A esse respeito, escreve Ronaldo E. Watterson: “A nossa transformação, por ocasião do arrebatamento, será tão “repentina” que ninguém a verá. Acontecerá “num momento”, num abrir e fechar de olhos. Os cristãos naquele dia deixarão a Terra e, num piscar de olhos, estarão com o Senhor. A rapidez incrível deste arrebatamento fará com que ninguém o possa ver. Mesmo se o momento exato fosse avisado, seria rápido demais para o olho humano ver. E acontecerá sem aviso!”.

Recentemente assisti a um documentário apocalíptico cujos autores apresentavam uma situação catastrófica pós-arrebatamento puramente fictícia, pois as Escrituras se calam a esse respeito. Aviões caindo, veículos em desenfreadas colisões, trens descarrilando, navios afundando, o caos generalizado, saques a supermercados, atos de violência de toda sorte etc. Todavia, não há nenhuma evidência bíblica acerca disso. Não devemos dar asas à imaginação a fim de não transformar a revelação divina em um engodo. Os acontecimentos imediatos ao arrebatamento são de conhecimento exclusivo de Deus, isto nos basta.

Provavelmente, meu caro leitor, você poderá estar a indagar: “O arrebatamento de uma enorme quantidade de pessoas certamente causará um grande impacto na humanidade incrédula”. Apesar da sua lógica, há que se fazer uma avaliação que quantidade será essa diante da perspectiva de um mundo que, segundo dados estatísticos atuais, está a ultrapassar sete bilhões de seres humanos.

Segundo esses mesmos dados, desses sete bilhões, somente dois bilhões são tidos como “cristãos”. Desses dois bilhões, mais de um bilhão de pessoas se declaram católicas romanas, o outro bilhão é identificado como de outros segmentos, dentre estes os tidos como “evangélicos”. Conforme vimos nesta série, mais propriamente no Capítulo 3, os cristãos autênticos ao final desta dispensação formarão um remanescente fiel, portanto a imensa maioria será de cristãos nominais que fazem parte de um movimento religioso meramente institucionalizado, onde, como em nossos dias, o Evangelho é apresentado sob um aspecto atraente e emocional, ou como complemento a uma obra social. Vivemos dias em que a “mistura” tornou-se uma lamentável realidade no cristianismo, em vez da mensagem do Evangelho de “Cristo para o mundo”, o inverso tem sido verdadeiro, qual seja, “o mundo para Cristo”. Reflita sobre esta sutil diferença!

Portanto, qual será a quantidade de arrebatados? Não podemos cometer a imprudência de quantificá-los, pois não nos cabe julgar a fé de ninguém. Todavia, partindo-se do princípio que haverá somente um remanescente, ao se comparar com os sete bilhões de habitantes, em termos percentuais deverá ser algo depois da vírgula que não irá ocasionar um tremendo caos conforme estão a propalar. Por certo haverá inúmeras justificativas por parte dos órgãos oficiais acerca desse repentino sumiço e as pessoas deverão ficar satisfeitas com as explicações, até mesmo científicas, que serão dadas. Aqueles que têm a certeza que estarão entre os arrebatados, essas especulações não são motivos de preocupações pessoais, a não ser a da separação dos entes queridos que aqui ficarão por não crerem nas revelações das Escrituras.

Entre o intervalo do arrebatamento e a manifestação das duas bestas, o que irá acontecer com os arrebatados? Conforme nos escreve R. David Jones, “logo após o arrebatamento estarão sentados diante do Seu tribunal”, onde prestarão contas de suas obras e receberão os seus galardões que serão lançados diante do Trono de Deus, e ali estarão a adorar ao que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apocalipse 4:10-11). Conforme sugeri anteriormente, que você, meu caro leitor, lá esteja fazendo parte desse notável grupo. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 13 (3)

Após os comentários introdutórios expostos nas duas crônicas anteriores, vamos à avaliação dos dez primeiros versículos contidos neste 13° capítulo, que descrevem o surgimento da primeira "besta", lembrando que ainda estamos no terceiro dos quatro grandes parênteses existentes em Apocalipse, que teve início no capítulo 12:1 e se estenderá até o 14:20.

Nesta sua nova visão João contempla algo aterrorizante. O mesmo dragão – o diabo – personificado no capitulo 12 agora se encontra em pé na praia do Mar Mediterrâneo que banha a costa oeste de Israel. Ali João observa atentamente a chegada das duas "bestas" convocadas pelo diabo para executar a execrável missão de assumir malignamente o governo absoluto do mundo e estabelecer o movimento religioso que irá lhe prestar adoração. Isto foi algo que o diabo sempre acalentou, haja vista a absurda proposta que ele fez ao Senhor Jesus quando da tentação no deserto: "Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos... se prostrado me adorares" (Lucas 4:6-7). Como diz W. Kelly, Satanás seguirá os dois caminhos que lhe são peculiares para enlaçar as duas classes de seres humanos que sempre existiram neste mundo: Os que desejam ardorosamente o poder e os que se ligam à religiosidade meramente formal.

Essas duas "bestas" atenderão exatamente a essa perspectiva diabólica. A primeira será um autoritário líder político e militar com grande capacidade intelectual. Por sua vez, a outra será o grande líder religioso que se apresentará como o Messias prometido a Israel e, pelos grandes sinais sobrenaturais que somente ela operará, conforme vemos neste capítulo, aglutinará em torno de si as demais religiões, inclusive o cristianismo apóstata existente à época.

Muitos comentaristas tratam a primeira "besta" como o "chefe" dessa dupla diabólica, mas isso não é necessário que aconteça. Por definição, o "chefe" sempre será o diabo, ele é extremamente ambicioso, arrogante e egoísta, jamais abrirá mão dessa prerrogativa, ambas as "bestas" serão apenas coadjuvantes e uma não será superior à outra, terão funções distintas, mas formarão uma só entidade, como almas gêmeas, com o único objetivo de fazer a vontade do "chefe". Infelizmente a massacrante maioria da humanidade dará crédito a elas.

A interpretação acerca da inferioridade da segunda "besta" é porque está escrito que ela exercerá a autoridade da primeira "besta" (v. 12). Todavia, ao analisarmos o versículo 3, vemos que o poder da primeira "besta" pertence ao diabo, o grande mentor de ambas, que irá tornar a primeira o grande líder mundial para que haja o total extermínio daqueles que se converterão a Deus ao longo da grande tribulação. Não há dúvida que a segunda "besta" será extremamente atuante nesse governo globalizado como poderoso Ministro de Estado, pois terá o controle monetário de todas as nações (v. 17 e 18). Mas isso é assunto para a próxima crônica.

João vê emergir do mar a primeira "besta" (v. 1), sua aparência é bastante similar a do diabo conforme visto no capitulo 12. Por sua vez, a semelhança revelada no versículo 2 combina com as características das quatro bestas contidas em Daniel 7. Escreve R. David Jones: "Este é o homem que se revelará no início do período da tribulação, destinado a conquistar o mundo (montado no cavalo branco em Apocalipse 6.2), subjugando três reis de uma confederação de dez (Daniel 7:24-26, Apocalipse 17:12-13), ele continuará conquistando os demais até adquirir todo o domínio em três anos e meio". Essa é a expectativa do diabo com a chegada dessa criatura repulsiva que por certo virá do ocidente tendo em vista que na visão de João ela emerge do mar, ou seja, fora do continente, a oeste de Israel.

Pelo tanto que se tem escrito a respeito das descrições simbólicas dessa "besta", impressiona o apego que se dá às suas características extrínsecas. A maior preocupação de muitos está em desvendar o significado dos chifres, diademas etc. Conforme interpretado no capítulo 17, os chifres representam governantes que farão parte de uma confederação global sobre a liderança da primeira "besta". Qualquer especulação torna-se infrutífera, pois ficar imaginando que nações serão essas é sobremodo artificial, pois, em termos geopolíticos, o mundo tem se alterado substancialmente após o rompimento da antiga "cortina de ferro" (URSS) e a queda do muro de Berlim (Alemanha Oriental), todas as previsões anteriores sobre essas dez nações caíram por terra e muitos livros se tornaram inúteis.

Se não bastasse isso, qualquer exercício de adivinhação acerca dessas nações será inócuo tendo em vista a gravíssima crise econômica contemporânea que perturba a economia mundial. As teorias econômicas, até então praticadas, já não estão a cumprir com os seus objetivos. Décadas atrás, ninguém em sã consciência afirmaria que a China poderia se tornar uma nação economicamente dominante. Essa realidade caminha a passos largos. O mundo carece de uma nova ordem econômica, quem criá-la certamente terá enorme prestígio e poder. Esse grande artífice, tão desejado, poderá ser esta primeira "besta" que virá. Por isso entendo que o mais importante a ser avaliado é o caráter intrínseco desses dois personagens.

Uma coisa me impressiona! É a fixação que há, por grande parte dos escritores, pelo ressurgimento literal do "império romano" que seria restabelecido com a assunção dessa primeira "besta". A única coisa que restou desse império, além das ruínas arqueológicas, é o Vaticano. Com o papado, iniciado quando Constantino era imperador de Roma, império e igreja andaram como "a mão e a luva" por séculos. A "mão" sumiu, o italiano de hoje nada tem a ver com o romano de outrora. Longe disso! Do antigo império restou somente a "luva", a igreja romana, cujos dirigentes conseguiram sobrepor-se às crises e perseguições que surgiram ao longo dos séculos, ao contrário dos imperadores romanos que sucumbiram. Se houver alguma semelhança com o cruel imperador que está por vir, será somente quanto ao ideário romano de conquista do mundo, todavia outros tiveram o mesmo desejo, a exemplo de Hitler na segunda grande guerra mundial que nada tinha a ver com o antigo império romano.

Esse satânico império terá as mesmas características de Roma na conquista da supremacia mundial e até a mesma localização europeia, mas não passará disso. O repulsivo Nero jamais será ressuscitado como alguns absurdamente sugerem. Haja imaginação! Esteja certo, caro leitor, o líder bestial, que virá, será em tudo muito pior que qualquer antigo imperador que o mundo já viu. Essa ideia de "império romano" começou com aqueles que acreditam equivocadamente que o Apocalipse é um livro somente histórico e, portanto, descreve acontecimentos pretéritos.

Outra grande especulação é acerca da ferida mortal que acometerá a primeira "besta", cuja cura deixará a humanidade maravilhada e passará a segui-la. A sugestão que mais se dá é que ela será morta e o seu mentor a ressuscitará. O diabo nunca terá esse poder que somente a Deus pertence, é impensável a suposição que Deus lhe outorgará essa autoridade. Certamente a "besta" sofrerá um atentado, pois isso está revelado (v. 3), por certo o próprio diabo providenciará que tal aconteça para induzir as pessoas de uma pseudomorte. Isso fará parte de uma imensa encenação para que se creia que o diabo é deus ao fazê-la "ressuscitar" e as pessoas passarão a adorá-lo juntamente com a "besta" (v. 4). Quanto à pergunta contida nesse versículo acerca de quem poderá pelejar contra a "besta", a contundente resposta está no capítulo 19. Paulo já havia previsto esse acontecimento ao revelar que o Senhor Jesus destruirá o iníquo com o simples sopro da Sua boca (2 Tessalonicenses 2:8).

Conforme já vimos anteriormente, esse "príncipe" que virá fará firme aliança com muitos, principalmente com Israel, possibilitando, inclusive, a reedificação do Templo de Jerusalém, mas após três anos e meio no exercício do seu mandato como "imperador do mundo" (v. 7), ele se virará ferozmente contra Israel e por mais três anos e meio proferirá com grande arrogância (v. 5) muitas blasfêmias a Deus e àqueles que já se encontram na presença do Senhor (v. 6), e aniquilará os crentes (v. 7) que se converterão na primeira metade desse período de tribulação.

Não deixa de ser impressionante a revelação de João que toda a humanidade prestará adoração a essa "besta", com exceção, é claro, daqueles que se converterão a Deus na primeira metade desse espaço de tempo (v. 8). Essa imensa maioria que lhe prestará adoração são aqueles que entrarão em juízo por não darem crédito à verdade, antes se deleitarão com a injustiça, conforme afirmado por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:12.

Neste trecho, algo extremamente importante ressalta-nos aos olhos. Leia atentamente, caro leitor, o versículo 9... "Se alguém tem ouvidos, ouça". Expressões semelhantes a esta lemos por sete vezes neste livro: 2:7, 11, 17 e 19; 3:6, 13 e 22. Entretanto, em todos esses trechos há uma complementação: "ouça o que o Espírito diz às igrejas". Por que será que no versículo em questão (v. 9) ele não mais diz "às igrejas"? A resposta é por demais simples. Antes do início da tribulação a Igreja de Deus, que é formada por todos aqueles que verdadeiramente têm ao Senhor Jesus como único e suficiente Redentor, não estarão mais presentes aqui, já terão sido arrebatados e estarão no regaço do seu Senhor (João 14:1-3). Incompreensível, portanto, a insinuação de que a Igreja não será arrebatada antes da chegada da tribulação.

Quanto ao versículo 10, sobremodo interessante o pensamento de W. Kelly: "Estas importantes palavras têm por objetivo guardar os santos de tomarem o poder em suas mãos. Eles podem clamar a Deus, pedir-Lhe que Se levante para julgar a Terra, mas não devem eles próprios combater... a "besta" levará muitos ao cativeiro, mas ela própria irá cativa; matará a muitos, mas ela própria será morta". Portanto, graças a essa certeza, os que creem devem esperar com perseverança e fidelidade, pois Quem fez a promessa é absolutamente fiel.

Lembremo-nos de que esta advertência não se aplica exclusivamente ao tempo que está por vir, mas a todos os filhos de Deus independentemente da época em que aqui estiverem. Que não haja em nós nenhum sentimento de vingança, pois "a mim pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor" (Romanos 12:19). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 13 (4)

Eis que surge o grande impostor. Virá como cordeiro, mas por dentro lobo voraz. Acerca dos embusteiros que surgiriam alertou o Senhor Jesus ao final do sermão do monte: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores”(Mateus 7:15). Dentre os seres humanos, em todas as épocas, sem dúvida esta segunda “besta” será o maior de todos enganadores, atingirá o ápice“segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (2 Tessalonicenses 2:9). Observe, caro leitor, que João, nas suas visões contidas neste capítulo 13, não dá nenhuma identificação à primeira “besta”, mas a esta ele a designa como “o falso profeta” (Apocalipse 16:13; 19:20; 20:10). A primeira “besta” não manifestará nenhum “sinal” milagroso, essa função ficará a cargo desta figura abominável que será revelada.

João prossegue em descrever a sua visão, agora ele narra o surgimento da segunda “besta” (v. 11). O local e o momento são os mesmos. O “dragão” está na mesma praia de onde convocou a primeira “besta” que virá do “mar”, das nações gentílicas, a ocidente de Israel, conforme vimos na crônica anterior. João agora visualiza a aparição da segunda “besta” que virá da “terra”, ou seja, de Israel. Portanto, esta “besta” será um judeu, terá a aparência de um “cordeiro”, mas a prédica do diabo, enganosa, vil e mentirosa como não poderia deixar de ser. Acerca desta segunda “besta” diz J. Allen: “A palavra “therion” é usada novamente, indicando que esta besta é da mesma natureza que a primeira. São do mesmo gênero e têm a mesma natureza feroz, mas em todos os demais aspectos são muito diferentes”.

Você poderá estar a indagar: Por que a aparência de um “cordeiro”? É sabido que até hoje os judeus celebram a “pessach”, a páscoa judaica, como memorial pela libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. Essa solenidade seria estatuto perpétuo para o povo de Israel como lembrança que a sua libertação foi através do sacrifício de um “cordeiro” (Êxodo 12). Nos inícios do ministério do Senhor Jesus, ao vê-Lo disse João Batista aos seus discípulos: “Eis o cordeiro de Deus”. Em seguida dois dos que o acompanhavam passaram a seguir ao Senhor Jesus, um deles, André, ao se encontrar com seu irmão Simão, que passaria a se chamar Pedro, disse:“Achamos o Messias [que quer dizer Cristo]” (João 1:35-42). Portanto, esse impostor se apresentará a Israel como “o cordeiro”, em lugar do Messias (ou Cristo) que ainda hoje é aguardado pelos judeus mais ortodoxos. Eis o motivo para que essa segunda “besta” seja de origem judaica, caso contrário não seria aceita pelos judeus piedosos, pois o Cristo, que significa Ungido de Deus, deveria nascer em Belém da Judeia, assim como foi o Senhor Jesus (Miqueias 5:2).

Uma imensa farsa está para ser montada, prezado leitor. Para que os judeus o recebam como Messias, este falso profeta operará grandes sinais de maneira tal que até fogo do céu fará descer sobre a terra (v. 13). Este será um dos inúmeros engodos que ele utilizará para convencer os judeus que de fato ele seria aquele que estavam a esperar, pois este foi o sinal do céu que revelou Elias como verdadeiro profeta (1 Reis 18:36-38; 2 Reis 1:9-12). Os judeus sempre tiveram nos “sinais” a principal evidência de identificação e chegada do Messias. Quando João Batista mandou seus discípulos perguntarem ao Senhor Jesus se de fato Ele era aquele que estava para vir, Jesus lhes respondeu para que olhassem para os sinais messiânicos que Ele estava a fazer, por si só eles testificavam da Sua divindade (Lucas 7:18-23). Diz W. MacDonald a respeito dos “sinais” pedidos pelos religiosos à época: “Apesar de todos os milagres que Jesus realizou, os escribas e fariseus tiveram a imprudência de pedir a Ele um sinal, significando que creriam nEle se Ele pudesse provar ser o Messias... A exigência de sinais milagrosos como condição de crença não agrada a Deus. Como Jesus disse a Tomé: ‘Bem-aventurados os que não viram e creram’ (João 20:29). No arranjo de Deus, ver vem depois de crer”. Portanto, quando ocorrer a revelação desta segunda “besta” esses insensatos se fartarão de sinais e crerão que esse farsante é o Ungido de Deus, e toda a humanidade também será seduzida por esse falso profeta por causa dos sinais que lhe serão dados a executar diante da primeira “besta”, o grande líder mundial (v. 14).

Em toda essa encenação espetaculosa, o grande opressor diabólico que estará a reger as nações, fruto da sua falsa ressurreição, estenderá a esse impostor religioso todo o seu poderio político para que ela, a primeira “besta”, passe a ser adorada pelos homens (v. 12), juntamente com o mentor de ambas as “bestas” – o diabo –, conforme vimos no versículo 4 deste mesmo capítulo: “...e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta”. Esse falso profeta dirá aos habitantes da terra para que façam uma imagem em homenagem à primeira “besta” (v. 14), e dará fôlego a esse espantoso ídolo para que, além de falar, mate a todo aquele que não prestar adoração à primeira “besta” (v. 15).

Por certo estará passando em sua mente, prezado leitor, que isso chega a ser inacreditável. Sem dúvida, assustador, porém crível. Lembre-se do primeiro sinal que Moisés fez quando se apresentou ao Faraó, cujo cajado foi transformado em serpente pelo poder de Deus e, de forma semelhante, os encantadores do Faraó fizeram o mesmo com as suas ciências ocultas. É claro que o poder do Deus Todo-Poderoso prevaleceu e assim sempre será (Êxodo 7:10-12).

Conclui-se, portanto, que além do poder religioso mundial esse falso profeta também exercerá o poder judiciário das nações. Se não adorar o ídolo, morre. Mas ele não ficará somente nisso, pois também exercerá o controle de todo o comércio existente na Terra. Ninguém, independentemente da sua condição social, poderá comprar ou vender qualquer coisa se não tiver a “chancela” estabelecida por ele (vs. 16 e 17). Logo, o mundo estará sob o jugo do mais opressor dos impérios até hoje existentes. “Estes serão os dias terríveis dos quais o Senhor falou: ‘E, se aqueles dias não fossem abreviados nenhuma carne se salvaria’ (Mateus 24-22), haverá um genocídio numa escala inacreditável” (J. Allen).

Não são poucas as especulações feitas a esse respeito. Como seria exercido esse imenso controle sobre todas as operações mercantis em escala mundial? Lembremo-nos, sempre, de que essas duas diabólicas criaturas são seres humanos mortais como nós e, como nós, dentro das naturais limitações de tempo e espaço. Por conseguinte eles terão que fazer uso de tecnologia de ponta como a que já existe em nossos dias através dos cartões de crédito “chipados”, largamente usados para transações comerciais e bancárias.

Dentro dessa mesma tecnologia, já existem “chips” de tamanhos diminutos que podem ser introduzidos no corpo humano a fim de ser exercido um eficiente controle de localização daqueles que estiverem “chipados”. Consta que os soldados americanos e israelenses fazem uso desse dispositivo, quando em combate. Algo semelhante já é largamente usado pelas seguradoras para rastreamento de veículos roubados.

Vivemos dias de surpreendentes avanços científicos que crescem de forma tão rápida que mal conseguimos acompanhar. Recentemente, mais precisamente em agosto de 2011, surgiu uma inovação tecnológica denominada de sistema eletrônico epidérmico, que de tão fino e flexível pode ser aplicado sobre a pele humana como se fosse um “adesivo”. Essa nova "pele eletrônica" criada por um pioneiro no campo da eletrônica flexível (John Rogers) contém um circuito eletrônico que monitora, à distância, os sinais vitais das pessoas. Além do diagnóstico médico, os circuitos eletrônicos incorporados nessa pele eletrônica podem ser usados para sensoriamento e comunicação com os usuários desses circuitos. Interessante salientar que no teste desse "adesivo" alguns voluntários o tiveram "tatuados" em sua testapor julgarem um local mais apropriado. As medições efetuadas da atividade elétrica produzida pelos músculos e pelo coração foram as mesmas obtidas com os aparelhos médicos atuais. A camada ativa dessa pele artificial é mais fina do que um fio de cabelo humano, contendo todos os componentes eletrônicos necessários. Porém, uma coisa eles não disseram, assim como esse dispositivo pode ser usado para controlar a saúde das pessoas, por certo poderá também matá-las usando-se um comando eletrônico específico para esse fim.

Como se vê a tecnologia para a “marca da besta” (v. 16) já não é um mistério tão grande como o era antigamente. Imaginemos, pois, como será até a chegada desses dois terríveis personagens tendo em vista a velocidade com que o homem está a criar essas novas tecnologias de controle humano. Dada a importância dessa “marca”, por mais seis vezes ela é citada neste Livro (14:9,11; 15:2; 16:2; 19:20; e 20;4). Quanto ao local que ela será gravada ou implantada – mão direita ou testa – as interpretações dadas que a “testa” representa os intelectuais e a “mão” os trabalhadores braçais, vão muito além de qualquer indício contido no texto sagrado. Isto não tem a menor importância para os que atualmente creem no Senhor Jesus, pois lá não estarão para ver essa ocorrência. Porém, os que ainda não creem e estiverem vivos naquela ocasião, terão que decidir sobre essa “carimbada”, se a aceitam ou morram por recusá-la. Portanto, no dia que se chama “Hoje”, ao ouvir a voz do Senhor, através da Sua Palavra, não endureça o seu coração (Hebreus 3:12-15).

Diante dessas coisas, vejo completamente desnecessário o enorme esforço que é feito atualmente para se descobrir o “número da besta”. Algumas interpretações do número 666 (v. 18) chegam à beira do absurdo. Entendo que o cálculo desse número será desvendado na ocasião oportuna, por aqueles que estiverem presentes na grande tribulação, que terão o discernimento necessário para a conclusão desse enigma que tem atormentado a tantos.

Portanto, meu caro leitor, esse “número misterioso” não deve fazer parte das suas preocupações, pois não é chegado o momento dele ser decifrado. Lembre-se das palavras do consagrado apóstolo Paulo: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas... amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor” (Filipenses 3:20-21; 4:1). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 14

Com este capítulo fecha-se o terceiro grande parêntese deste Livro que contém três capítulos. No 12° vimos o diabo enfurecido contra o Senhor Jesus e a Sua nação de origem – Israel; no 13° o surgimento das duas terríveis “bestas” que causarão grande flagelo àqueles que não as seguirem, e agora, neste capítulo, se desenrolam sete cenas que nos revelam os caminhos de Deus contra a malignidade da trindade satânica que vimos nos dois capítulos anteriores.

PRIMEIRA CENA (vs. 1 a 5) – Diz João: “Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião” (v. 1). Deve ter sido um enorme regozijo para João ao contemplar essa magnífica visão do Senhor Jesus, após ter contemplado a monstruosa tríade diabólica. O Senhor está em pé sobre o monte Sião, aqui na Terra, em Jerusalém, onde outrora foi o poder central do reino de Israel (2 Samuel 5:7). Esta cena é uma prévia da que veremos no momento em que o Senhor Jesus estabelecerá o Seu reino milenar. Este é o verdadeiro Cordeiro, e não aquela abominável criatura que vimos no capítulo anterior que se faz passar pelo Messias.

Com Ele estão os mesmos 144.000 israelitas que vimos no capítulo 7:1-8. Incólumes, apesar de terem passado por uma aterrorizante tribulação. O diabo e suas duas bestas não conseguirão tocar em um único fio de seus cabelos, pois em suas frontes estarão gravados os nomes do Senhor Jesus e o do Seu Pai (v. 1). Enorme equívoco fazem aqueles que afirmam que estes judeus convertidos representam a Igreja de Deus, pois, como já vimos ao longo desta série de crônicas, a igreja será arrebatada antes desse período.

A seguir João ouve uma poderosa voz vinda do Céu (v. 2) que confirma que esta cena está a ocorrer na Terra. A Terra e o Céu estão em comunicação audível. Somente os 144.000 conseguirão aprender esse novo cântico aqui na Terra (v. 3), que será entoado no Céu por aqueles, segundo sugestão de J. Allen, que se converterão no período da tribulação, por certo frutos do testemunho desses 144.000 ao longo dos sete anos de tribulação face à proteção divina que impedirá os furiosos ataques do diabo ao longo desse período. Diz, ainda, J. Allen: “João está ouvindo o grupo que ele verá em pé sobre o mar de vidro no capitulo 15:1-4... Um grupo está no Céu, deu a sua vida pelo Cordeiro, o outro grupo, na Terra, sofreu e foi preservado para o Cordeiro. Ambos se unem num cântico”.

Segundo William MacDonald, esses 144.000 são chamados por Pentecost “como as primícias para Deus e para o Cordeiro, ou seja, trata-se da primeira colheita do período de tribulação que entrará no milênio para encher a terra milenar”. Eles se guardarão de toda e qualquer imoralidade e idolatria. Não aceitarão as mentiras das duas “bestas” e se mostrarão irrepreensíveis quanto ao testemunho acerca do Senhor Jesus (vs. 4-5).

SEGUNDA CENA (vs. 6-7) – Eis que surge o primeiro anjo dos seis contidos neste capítulo. Os três primeiros surgirão antes da aparição do Senhor, e os outros três subsequentemente. Este anjo traz consigo o Evangelho eterno a ser pregado durante o período da tribulação para toda a humanidade (v. 6). Esteja certo, meu caro leitor, se juntarmos todos os comentários sobre o que seria esse Evangelho formaríamos uma imensa pilha em virtude de tantas controvérsias. Sabemos que o Evangelho, a boa-nova de Deus, é único, que revela a coisa mais importante para este mundo incrédulo: a Salvação por meio da fé no Senhor Jesus Cristo. O Evangelho, em si, é eterno, por sempre apresentar o Criador querendo abençoar a Sua criatura.

No entanto, como diz William Mac Donald, o Evangelho pode apresentar ênfases distintas em diferentes dispensações. Durante a grande tribulação o Evangelho buscará afastar as pessoas da adoração à “besta” a fim de resgatá-las para o reino de Deus (v. 7). Certamente esse Evangelho eterno tem tudo a ver com aquele mencionado pelo Senhor Jesus: "E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim" (Mateus 24:14)..

Lembre-se, caro leitor, o conteúdo de Mateus 24 e 25 é iminentemente profético e diz respeito ao período da tribulação e a vinda do Senhor Jesus para estabelecer o Seu reino milenar. Atualmente a ênfase dada é a anunciação da graça de Deus através do sacrifício do Senhor Jesus na cruz, por isso é chamado de o Evangelho da Graça, ao passo que na tribulação o foco será a vinda do Seu reino, por isso o Senhor Jesus mencionou como o Evangelho do Reino. O Evangelho é absolutamente o mesmo em todas as eras porque ele é eterno, apenas o realce será evidenciado. Hoje é o da Graça, em breve o do Reino.

TERCEIRA CENA (v. 8) – Segue-se outro anjo, o segundo desta série, trazendo a mensagem:

“Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição”. Nos capítulos 17 a 18 analisaremos os detalhes acerca do significado e feitos dessa grande meretriz que será introduzida pelas “bestas”, mas que sucumbirá para alegria e triunfo nos céus. Esses capítulos apresentam a Babilônia religiosa (17) e a comercial (18). A religiosa certamente será constituída pelo judaísmo e a cristandade apóstata, formada tanto por católicos e evangélicos, cujas raízes já foram lançadas desde o século passado através do movimento ecumênico, por sinal conspícuo, ou seja, atraente para grande parte da cristandade.

QUARTA CENA (vs. 9-11) – A mensagem que será trazida pelo terceiro anjo será sobremodo terrível. Aqueles que se permitirem “embriagar” com a fúria do vinho da prostituição religiosa babilônica se prostrarão em adoração à imagem da “besta” e carregarão em seus corpos a sua marca identificadora vista no capítulo anterior. Por conta disso, eles estarão sob a ira de Deus e experimentarão o vinho da Sua cólera que será derramado sobre suas cabeças conforme veremos nos capítulos 15 e 16, que descrevem sobre as sete taças cheias das últimas pragas a serem lançadas sobre a Terra.

Realmente há uma horrível expectação! Essas pessoas serão atormentadas pelo fogo e enxofre, seus tormentos serão intermináveis – pelos séculos dos séculos – não haverá descanso diuturnamente. A palavra “atormentado” no original –“bazaniso” – é muito mais terrível do que “adunao” que é usada para descrever os tormentos do “rico” em Lucas 16:24. A expressão aqui usada dá a ideia de uma dor sem fim e nenhum alívio. Diz J. Allen: “Ela é equivalente à expressão “fogo que nunca se apagará” usada por Cristo (Mateus 3:12; Lucas 3:17)”. Em nenhum momento é dito que os incrédulos serão aniquilados após a morte, seus sofrimentos serão perpétuos.

Valho-me em Deus, meu caro leitor, que desde agora me livra de passar pela grande tribulação e dessa ira vindoura (1 Tessalonicenses 1:10; 5:9). Não por alguma obra que eu tenha feito, mas por aquilo que o Senhor Jesus fez para todos nós. Espero que esta seja a sua idêntica certeza e confiança.

QUINTA CENA (vs. 12-13) – Após essas angustiantes revelações João escreve:“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (v 12). Aqueles que naquele período perseverarem até o fim serão salvos, conforme Mateus 24:13. Entendamos aqui como a salvação física para entrar no reino milenar do Senhor Jesus. Já houve quem exclamasse diante desta cena: “Seria melhor sofrer a morte física sob o domínio da “besta” do que compartilhar com ele a morte eterna”. Acerca disso disse Jesus: “Não temais os que podem matar o corpo e não podem matar a alma; temeis antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma” (Mateus 10:28).

Em seguida vemos uma mensagem divina vinda diretamente do Céu, sem a intermediação de um anjo: “Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (v. 13). Esta é a segunda bem-aventurança que lemos neste Livro. Os cristãos convertidos ao longo da tribulação não serão privados das bênçãos dos céus e do reino milenar. Mais uma vez confirma-se que tudo aquilo que é feito para o Senhor Jesus será recompensado. Estes morrerão por causa da violenta perseguição da “besta”. Aqueles que os condenarão o farão por julgarem que eles serão merecedores da morte por causa da fé que trazem, mas no Céu, para onde irão as suas almas, serão considerados “bem-aventurados”. Os adoradores da “besta” jamais descansarão dos seus tormentos, por sua vez estes descansarão das suas fadigas para todo o sempre.

SEXTA CENA (vs. 14-16) – Esta e a próxima cena são bastante controversas. Vemos em ambas duas figuras de linguagem: a ceifa (colheita de cereais) e a vindima (colheita de uvas). Muito se tem debatido se a “ceifa” que vemos citada neste trecho (vs. 14-16) se refere à bênção para os justos ou o juízo para os ímpios.

William Kelly transmite sua interpretação a respeito: “Em resumo, temos nestas duas cenas – a ceifa (vs. 14-16) e a vindima (vs. 17-20) – as duas grandes formas do juízo final; sendo a ceifa o julgamento em que o justo será separado do malfeitor, e a vindima o tombar da cólera sobre uma religião apóstata”. Por outro lado, William MacDonald não fecha questão a esse respeito. Ele entende que a primeira ceifa “pode” retratar a reunião dos cristãos convertidos na tribulação para entrarem no milênio, correspondendo aos “filhos do reino” nas parábolas do reino contidas em Mateus 13, mas é possível que seja uma “ceifa” para julgamento.

Portanto, a interpretação dada por R. David Jones afasta as possíveis dúvidas: "A colheita é frequentemente usada como o símbolo do fim de um período de tempo, quando o povo é reunido para ser julgado, como na parábola do joio e do trigo (Mateus 13.24-30). Temos aqui a proclamação da ordem dada por Deus a Cristo para que Ele pessoalmente ponha um fim aos "tempos dos gentios", saindo para julgar as nações. Ele obedece imediatamente. Tendo sido o Semeador da boa semente (Mateus 13.37) é apropriado que Ele seja o Ceifeiro também, com os Seus anjos (Mateus 13.39)”.

Ao contemplarmos esta sexta cena, vemos João tendo a visão do Senhor Jesus vindo entre as nuvens para ceifar a terra, e a terra será ceifada. A ordem transmitida do Trono de Deus é incisiva: “chegou a hora de ceifar... a seara da terra já secou”. O tempo para a colheita estará determinado, a Terra terá que ser limpa de tudo de ruim que foi semeado pelo diabo, antes que seja estabelecido o reino milenar do Senhor Jesus.

Esta ceifa nos remete à separação contida na parábola do joio em Mateus 13:30..."Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro". Para um melhor entendimento não deixe de ler a explicação dada pelo Senhor Jesus acerca dessa parábola em Mateus 13:35-43. O “trigo” representa os que entrarão no Seu reino milenar, o “joio” aqueles que parecem ser de Cristo, mas não são, irão para tormentos eternos (Apocalipse 20:15).

SÉTIMA CENA (vs. 17-20) – Por sua vez, a colheita das uvas nos fala de um terrível juízo. A videira é o símbolo de Israel nas Escrituras (Isaías 5:1-7; Jeremias 2:21, 6:9). É chegada a hora de Israel, a colheita não pode ser adiada. Israel se tornou em "uvas bravas" na medida em que recebeu “o falso profeta” como o seu Messias. Não fazem parte da videira verdadeira que é o Senhor Jesus (João 15:5-6). Como vemos na parábola dos lavradores maus o Dono da vinha os exterminará (Marcos 12:9). Nesta cena vemos a chegada deste momento.

O resultado dessa colheita lemos nos versículos 19 e 20. O anjo colherá os "frutos" dessa falsa videira e os lançará no grande lagar do furor da ira de Deus, que simboliza um tanque em que serão esmagados. Este é o lagar que veremos em Apocalipse 19.15. Diz R. David Jones acerca disso: "Mediante a profecia de Isaías 63 temos uma descrição da participação nela do Senhor Jesus. Esse lagar abrangerá toda a terra de Israel, indo ao sul até Edom e Bozra (Jordânia). Tão grande será o morticínio que o sangue subirá a uma altura de 1,2 m nos vales, por 320 km. Será a ocasião quando a terra se embriagará de sangue (Isaías 34.7-8)". A revelação é clara, o julgamento será radical. Todo e qualquer vestígio de hostilidade contra Deus será sumariamente exterminado.

Este parêntese se encerra revelando esse trágico acontecimento. Para seu conforto, prezado leitor, atente para o que diz Paulo em 1 Tessalonicenses 1:10. Aqueles que verdadeiramente creem em Deus aguardam a vinda do Seu Filho, a Quem Ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra da ira vindoura. Que esta seja a sua certeza. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 15

Após o interregno formado pelos três capítulos anteriores, voltamos, neste 15° capítulo, à ordem cronológica dos acontecimentos apocalípticos que fora suspensa ao soar da sétima trombeta (11:15-19). Este é o menor capítulo contido no Apocalipse, com apenas oito versículos, onde são descritos os preparativos que antecedem aos últimos tremendos flagelos que recairão sobre a humanidade (16:1-21). E assim estarão consumados os juízos estabelecidos por Deus para este mundo que estará sob o domínio da tríade satânica.

Diz-nos o versículo 1: “Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus”. Aqui estão descritos como os “sete últimos flagelos” da série de quatro, três deles já vistos anteriormente, a saber:

I – OS SETE SELOS (capítulos 6:1-17 e 8:1-8)

  1. O cavalo branco, cujo cavaleiro disseminará imenso engano;
  2. O cavalo vermelho, que precipitará grande beligerância;
  3. O cavalo preto, que conduzirá a humanidade a uma falsa prosperidade que produzirá fome;
  4. O cavalo amarelo, que trará grande pestilência e levará milhões de pessoas à morte;
  5. A oração dos santos que foram sacrificados durante a primeira parte da tribulação;
  6. Acontecimentos cósmicos que levarão grande pânico aos habitantes da Terra;
  7. O último selo, cujo conteúdo será o anúncio das sete trombetas dos juízos de Deus.

II – AS SETE TROMBETAS (capítulos 8:7-13; 9:1-21 e 11:15-19)

  1. A terça parte da Terra, das árvores e das plantações serão queimadas;
  2. Um terço da criação existente nos mares será extinta;
  3. Os rios serão envenenados e um terço da população perecerá;
  4. Um terço do sistema estelar será tremendamente abalado e haverá trevas parciais;
  5. Terríveis “gafanhotos” assombrarão a humanidade por longos cinco meses;
  6. Um imenso e cruel exército devastará o mundo;
  7. A última trombeta trará os sétimos últimos flagelos sobre a Terra (capítulo 16:1-21).

III – OS SETE TROVÕES (capítulo 10:4)

Não sabemos o seu conteúdo, João foi impedido de revelá-lo: “Logo que falaram os sete trovões, eu ia escrever, mas ouvi uma voz do céu, dizendo: Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falaram e não as escrevas”. Sem dúvida será algo extremamente amargo que pegará de surpresa os usurpadores deste mundo. Escreve a respeito R. Watterson: “Estes sete trovões são, obviamente, mais uma série de sete juízos divinos, mas não podem ser revelados. Foi mandado a João que selasse estas mensagens e não as escrevesse; compare com Daniel 12:4 ... e com a proibição a Paulo em 2 Coríntios 12:4. Provavelmente se trata de juízos tão terríveis que não podiam ser revelados”. Portanto, caro leitor, não devemos especular sobre aquilo que Deus reservou para a sua exclusiva revelação em tempo oportuno.

A seguir, nessa estupenda visão de João, ele relata: “Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo harpas de Deus” (v. 2). Nós já lemos sobre este mar. É o mesmo que vimos no capitulo 4:6. Mas há uma diferença! Naquela oportunidade João estava tendo a visão do Trono de Deus, e lá estava a Igreja de Deus arrebatada, simbolizada pelos vinte e quatro anciãos, antes do início do período da tribulação: “Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás”. Repare que naquela passagem o mar é translúcido, puro como cristal, que denota a santidade e a pureza da morada do Deus, ao passo que, nesta nova visão de João, o mesmo mar agora está mesclado com fogo e, como sabemos, o fogo simboliza nas Escrituras o Juízo de Deus.

Em pé sobre esse mar João identifica o grupo de mártires que morreram na segunda metade da tribulação por terem recusado a prestar adoração à imagem da “besta”, que vimos no capítulo 13, e tampouco permitiram levar sobre seus corpos a marca bestial. Por certo a esse grupo estão agregados os mártires da primeira parte da tribulação que “sob o altar” clamavam a Deus por justiça (6:9-11). Acerca destes, comenta J. Allen: “Multidões da Terra sucumbirão ao embuste da “besta”; outros se conformarão politicamente e se prostrarão a sua imagem; outros por motivos puramente comerciais aceitarão o número do seu nome. Estes santos ficarão à parte, e morrerão por causa da sua separação; o Céu os chamará de vitoriosos”.

Fantástica a visão que João teve daqueles que foram terrivelmente martirizados. Vemo-los no Céu a entoar “o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos” (vs. 3 e 4). Difícil não sermos levados pela emoção ao lermos tão grande manifestação de júbilo a Deus. O regozijo deles é sobremodo contagiante pela antevisão que terão daquilo que estará por acontecer àqueles que os assassinaram por não transigirem com a inabalável fé que possuíam em Deus.

O texto sagrado nos revela que eles estarão a entoar dois cânticos – o de Moisés e o do Cordeiro. Por certo o de Moisés é em semelhança daquele que encontramos em Êxodo 15:1-19, entoado às margens do grande mar após a extraordinária vitória de Israel sobre o feroz inimigo – o faraó; por sua vez, o do Cordeiro é em exaltação à pessoa do Senhor Jesus, que apesar do martírio que sofreram, estarão livres eternamente das garras de um inimigo ainda mais terrível – o diabo. W. MacDonald cita A.T. Pierson: “Nos dois extremos da história da Redenção, encontra-se toda a história do povo resgatado por Deus”.

“Depois destas coisas, diz João, abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do Testemunho, e os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário, vestidos de linho puro e resplandecente e cingidos ao peito com cintas de ouro”(vs. 5 e 6). Esses emissários de Deus se apresentam de forma majestosa. Com eles estarão as setes taças que representam a “ira de Deus” que será derramada sobre a humanidade que tanto estará a debochar de Deus. Os sete últimos flagelos são irreversíveis! Esses anjos foram preparados para executar o justo juízo por meio do qual Deus será glorificado. Os blasfemadores serão severamente punidos. Nada os poderá livrar desses terríveis flagelos, cujas consequências veremos no próximo capítulo.

“Então um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da cólera de Deus, que vive pelos séculos dos séculos. O santuário se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos” (vs. 7 e 8). Essas taças estarão “cheias” a ponto de transbordar, revelando que nada mais poderia ser colocado nelas. Os “quatros seres viventes” são os mesmos que vimos no capítulo 4:6-9. Além de adoradores eles são os executores dos propósitos de Deus. Nesse momento o Santuário no Céu se encherá da Glória de Deus. A mesma nuvem de fumaça de outrora, novamente estará presente. Quando da dedicação do Tabernáculo no deserto, a Glória de Deus encheu o recinto de tal maneira que impediu a entrada de Moisés (Êxodo 40:34-35). O mesmo aconteceu com o primeiro Templo edificado por Salomão (2 Crônicas 5:13-14; 7:1-2). A Glória de Deus encheu sobremodo a Casa do Senhor que os sacerdotes não conseguiam entrar. O antigo profeta do passado teve uma visão semelhante: “As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça” (Isaías 6:4).

Sem dúvida, como fora no passado, este será um momento intensamente solene. Assim como naquele tempo ninguém conseguia entrar nos santuários terrenos enquanto a Glória de Deus estava presente, da mesma forma ninguém poderá entrar no Santuário de Deus, no Céu, enquanto não se cumprirem os sete flagelos pelos sete anjos (v. 8). Nenhuma intercessão poderá deter a ira de Deus. Isso nos remete a Lamentações 3:44... “De nuvens te encobriste para que não passe a nossa oração”. Nada impedirá que se cumpram os juízos de Deus sobre a Terra. A paciência de Deus estará esgotada para com a humanidade rebelde.

No próximo capítulo veremos as graves consequências desses flagelos, caro leitor. Este é um momento de profunda e urgente reflexão. Pense nisso! Se você crê nessas verdades absolutas, lembre-se daqueles que estão ao seu redor e poderão estar entre os que passarão por esse imenso assombro. Você poderá evitar que isso aconteça através do seu testemunho de fé. Como diz Paulo,"conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas... cumpre cabalmente com o teu ministério" (2 Timóteo 4:1-4). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 16

Chegamos ao 16° capítulo e nele contemplamos a chegada do dia da grande ira de Deus sobre a humanidade incrédula. João ouve uma grande voz vinda do Santuário de Deus dizendo aos sete anjos aparelhados para aquele terrível dia:“Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de Deus” (v. 1). Que diferença brutal desse “ide” daquele que ouvimos do Senhor Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Portanto, para uma verdadeira compreensão do texto sagrado há que se considerar as dispensações.

Absolutamente nada poderá impedir a chegada desse dia. O verbo está conjugado no modo imperativo afirmativo que expressa uma ordem de Deus que em nenhuma hipótese poderá deixar de ser cumprida. Aqueles que desprezaram e caçoaram do Evangelho que os pouparia da ira vindoura agora estarão debaixo de severa punição.

“Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas” (v. 2). O impacto da primeira taça será sobre todos aqueles que trouxerem em seus corpos a marca da “besta” e prestarem adoração a sua imagem, serão afligidos por terríveis tumores malignos na pele, a exemplo do que ocorrera no passado quando da sétima praga derramada sobre o Egito. Naquela ocasião, os magos do Faraó nada puderam fazer para aliviar o castigo enviado por Deus através de Moisés, porque foram gravemente atingidos pelos tumores: “havia tumores nos magos e em todos os egípcios” (Êxodo 9:11). O mesmo ocorreria caso o povo Deus não obedecesse aos Estatutos de Deus transmitidos por Moisés, seriam acometidos de úlceras malignas, as quais não poderiam ser curadas, desde a planta dos pés ao alto da cabeça (Deuteronômio 28:35).

“Derramou o segundo anjo a sua taça no mar, e este se tornou em sangue como de morto, e morreu todo ser vivente que havia no mar” (v. 3). Quando do juízo da segunda trombeta (Apocalipse 8:8-9), a “terça parte” da criação dos mares e as embarcações neles existentes serão destruídas, o que restar de vida marítima agora será completamente exterminado. Literalmente haverá um “mar de sangue” desde a orla até às profundezas dos oceanos.

Algo semelhante ocorrerá através do terceiro anjo: “Derramou o terceiro a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue” (v. 4). Ao soar da terceira trombeta (Apocalipse 8:10-11) “um terço” das águas potáveis existentes sobre a Terra tornar-se-ão amargosas, agora “todas” se transformarão em sangue. A esta altura o reino das trevas começará a se sentir abalado. Assim como ocorrera com a primeira praga sobre o Egito, os egípcios sentiram nojo e não conseguiam beber a água do rio que se tornará em sangue. Naquela ocasião eles cavaram poços para encontrar água, pois da água do grande rio não puderam beber durante sete dias (Êxodo 7:14-25), mas agora isso não será possível, pois todas as “fontes das águas” estarão contaminadas pelo sangue.

Por certo, prezado leitor, essa enorme quantidade de sangue coagulado trará um odor insuportável sobre a Terra. Sem dúvida, a Ciência não terá explicações acerca dessa gravíssima ocorrência e a humanidade começará a desconfiar de que possa se tratar de um ato divino. Porém, isso será ainda o começo, pois coisas terríveis ainda estarão por vir.

Ao ver essas três primeiras revelações da “cólera de Deus”, João deveria estar estarrecido. Para seu alívio surge um pequeno intervalo e ele ouvirá mais vozes que darão explicações sobre o ocorrido: "Então, ouvi o anjo das águas dizendo: Tu és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas; porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso. Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos” (vs. 5 a 7). A esse respeito, diz R. David Jones: "Duas declarações serão feitas: (1) pelo anjo das águas, que os juízos do Santo são justos porque assim como essa humanidade havia derramado o sangue dos santos e dos profetas, Ele agora lhes haveria de dar sangue para beber; (2) e do altar confirmando a justiça do juízo do Senhor Deus Todo-Poderoso. A voz estará vindo provavelmente das almas dos mártires da tribulação, satisfeitas com a vingança de Deus (Apocalipse 6:9-11)”. Estes acontecimentos nos remetem ao cântico de Moisés: "A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo... porque o dia da sua calamidade está próximo, e o seu destino se apressa em chegar. Porque o Senhor fará justiça ao seu povo" (Deuteronômio 32:35-36).

"O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os homens com fogo. Com efeito, os homens se queimaram com o intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem glória" (vs. 8-9). Quando do juízo emanado pela quarta trombeta houve a redução de "um terço" do brilho de todo sistema estelar (Apocalipse 8:12-13). Ao derramamento desta quarta taça da ira de Deus, os dois terços restantes do brilho do sol produzirão uma insuportável radiação solar que trará gravíssimas consequências aos seres humanos blasfemadores. Eles reconhecerão que estarão sendo submetidos ao juízo de Deus, mas ainda assim não se arrependerão para Lhe dar a glória devida, ao contrário, amaldiçoarão a Deus pelo calor abrasador que os queimará. Consagrados profetas do passado previram isso: "Por isso, a maldição consome a terra, e os que habitam nela se tornam culpados; por isso, serão queimados os moradores da terra, e poucos homens restarão" (Isaías 24:6); "Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo" (Malaquias 4:1). Interessante o contraste citado por J. Allen nesta passagem: “A bênção física dos que entrarão no reino milenar estará em grande contraste com estes terríveis dias da Tribulação, quando será dito aos seguidores do Cordeiro: “nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum”(Apocalipse 7:16). Imagine, caro leitor, as consequências que haverá sobre a Terra. Esse imenso calor por certo provocará o derretimento das calotas polares e as consequentes enchentes sobre a Terra trarão uma imensa devastação.

"Derramou o quinto anjo a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino se tornou em trevas, e os homens remordiam a língua por causa da dor que sentiam e blasfemaram o Deus do céu por causa das angústias e das úlceras que sofriam; e não se arrependeram de suas obras" (vs. 10-11). O reino satânico estará sob intensas trevas! Cumprir-se-ão então as profecias dos antigos profetas: “O sol e a lua se escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor... grande é o dia do Senhor, e mui terrível! Quem o poderá suportar?” (Joel 2:10-11); "Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e negrume, dia de nuvens e densas trevas" (Sofonias 1:15). Será uma situação desesperadora tendo em vista que estarão sofrendo cruciantes dores pelas queimaduras solares e pelas chagas das úlceras que estarão a lancinar seus corpos feridos. A total ausência de luz exacerbará seus sofrimentos a ponto de morderem a própria língua diante de tamanho terror que estará ocupando as suas mentes. Apesar de tão grande angústia, eles não se arrependerão de suas más obras e das blasfêmias contra o Deus Todo-Poderoso. Com respeito a essa escuridão, vimos algo semelhante quando da nona praga sobre o Egito. Houve três dias de espessas trevas sobre toda terra egípcia e somente nas habitações do povo de Deus havia luz (Êxodo 10:21-23). Por inferência, assim como ocorrera no passado, o povo de Deus na época dessa terrível tribulação será poupado desses acontecimentos.

"Derramou o sexto anjo a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol. Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso” (vs. 12-14). Face aos acontecimentos ocorridos com os juízos das taças anteriores, o império satânico estará estremecido. A estiagem completa do Eufrates levará a trindade satânica a uma tresloucada atuação para arregimentar um imenso exército para “a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso”. É impressionante, caro leitor, como o diabo continuará mantendo a absurda ideia de que poderá vencer a Deus. Todavia, a sua ruína final será irrevogável.

Espíritos demoníacos serão lançados ao mundo inteiro para promoverem um grande estado de beligerância com o intuito de ajuntarem as nações para essa culminante batalha. O mundo estará combalido pelos acontecimentos descritos nas taças anteriores e será levado a crer que a única forma de se safar dessa horrível situação será o de entrar nesse imenso conflito contra Deus pelos juízos por Ele lançados sobre a humanidade rebelde.

Eis que surge um breve parêntese de grande alívio na visão de João: “Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha” (v. 15). Sem dúvida uma mensagem de grande alento para os fiéis que se recusarão a seguir a “besta”. Dentre estes estarão os judeus que escaparão da diabólica perseguição e se encontrarão refugiados conforme os ensinamentos dados pelo Senhor Jesus em Mateus 24. Quando atentarem para esse pavoroso ajuntamento militar eles perceberão que a vinda do Senhor Jesus deixou de ser iminente e passou a ser imediata. Para o povo de Deus à época será uma enorme bem-aventurança, mas para aqueles que não O esperam e nem desejam a Sua vinda, esse dia será inesperado como a chegada do ladrão.

“Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom. Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está!” (vs. 16-17). O local dessa batalha está determinado e é chamado de Armagedom. Muito se tem escrito a esse respeito para a identificação dessa localidade. Todavia, sabermos agora com extrema exatidão o local dessa grande hecatombe não deve fazer parte das nossas conjecturas. O que é mais relevante neste versículo é a expressão do sétimo anjo que derramará a sétima e última taça da ira de Deus: “Feito está!”. Essa exclamação nos leva à conclusão que a ira de Deus estará consumada, e a vinda do Senhor Jesus para derrotar as hostes malignas estará prestes a acontecer.

Esse último flagelo será tremendo: "E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande" (vs. 18-21). Haverá grandes cataclismos como nunca houve igual na história da humanidade. Diz-nos R. David Jones acerca dessa grande tragédia: “A última taça é derramada pelo ar, e o último ato da cólera de Deus nesta série é desfechado, resultando em catástrofes imensas: o maior terremoto de todos os tempos terá lugar, destruindo montanhas e ilhas, bem como as cidades das nações. A grande cidade, Jerusalém (Zacarias 14:4 e Apocalipse 11:8), será dividida em três partes, e Babilônia será destruída debaixo do furor de Deus (veremos isto nos capítulos seguintes). A terra será bombardeada com granizo de pedras que pesarão entre 20 e 50 quilos cada uma”. Sobremodo lamentável que diante de tão grande flagelo em vez de se arrependerem eles preferirão manifestar o intenso ódio que têm de Deus.

A Terra será totalmente abalada pelo Deus Todo-Poderoso. Essas ocorrências foram claramente previstas desde a antiguidade e ninguém poderá alegar ignorância: "Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: “Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca" (Ageu 2:6); "A terra será de todo quebrantada, ela totalmente se romperá, a terra violentamente se moverá. A terra cambaleará como um bêbado e balanceará como rede de dormir” (Isaías 24:19-21). Quanto ao flagelo da chuva de pedras, faz-nos lembrar do ocorrido com a sétima praga sobre o Egito. Grande foi o estrago sobre os egípcios, animais, árvores e plantações, mas os filhos de Israel foram poupados dessa angústia (Êxodo 9:23-26).

Que diremos, pois, diante de tão grandes catástrofes? Pessoalmente louvo ao bendito Deus que desde já me livra da ira que está por vir sobre um mundo tenebroso que estará sob o domínio de uma turba maligna, e assim será feito a todo aquele que receber o Senhor Jesus como Redentor (1 Tessalonicenses 1:10). Bem haja, caro leitor, que esta seja a sua fé. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 17 (1)

Após contemplarmos o desenrolar da grande ira de Deus no capítulo anterior, surge agora o último dos quatro grandes parênteses contidos em Apocalipse, que vai do capítulo 17 até o versículo 20 do capítulo 19. Esses interlúdios são postos em permeio à sequência dos acontecimentos apocalípticos a fim de que se destaquem importantes fatos para compreensão do texto sagrado, ao desconsiderá-los alguém poderá cometer grandes equívocos, daí surgirem tantas controvérsias sobre este importante Livro. A sequência natural, após este grande intervalo, será a vinda de Cristo para extinguir o império demoníaco a ser aqui instalado; aplicar severa derrota às duas “bestas”, e estabelecer o Seu Reino milenar, conforme veremos no desenrolar do capítulo 19.

Após a visão dos terríveis juízos que cairão sobre Terra com o derramamento das taças da ira de Deus, um dos sete anjos encarregados de transmitir esses flagelos diz a João: “Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra” (vs. 1 e 2). Não são poucas as polêmicas levantadas acerca dessa “grande meretriz”, todavia, no descortinar dos textos contidos neste e no próximo capítulo, veremos que se trata do “sistema religioso” que será imposto à humanidade incrédula pelo diabólico governante mundial, e do ressurgimento da antiga e quase extinta cidade babilônica que provavelmente será reedificada durante o império da “besta” (v. 18... “A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra”, compare com 18:21... “Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será achada”).

Grande é a quantidade dos comentários sugerindo que essa “grande cidade” seria Roma e me impressiona o esforço que é feito para que haja o ressurgimento do império romano. Como já disse anteriormente, o que restou desse império foi o Vaticano que se tornou o remanescente daquele reino. Os que interpretam como sendo Roma, por certo estão impactados com o teor do versículo 9... “as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis”. Roma é tida como a cidade das “sete colinas”, todavia no mesmo texto há a indicação de que se trata de sete governantes.

A respeito de que esta cidade não seria Roma, diz-nos J. Allen: Os sete montes não são dados como sinal de “identificação” de qualquer cidade. Isto é uma interpolação interpretativa feita por comentaristas e somente deturpa o quadro... Quando a mulher está assentada sobre “as muitas águas” (v. 1), devemos entender isto de forma metafórica, pois este fato é interpretado no v. 15; quando a mulher está assentada “sobre uma besta de cor escarlate”, isto também é simbólico; portanto quando ela está assentada “sobre sete montes”, isto também precisa ser simbólico. Em nenhum desses casos há qualquer justificativa para compreender a localização como literal. A interpretação angelical é clara: “As sete cabeças (simbólicas) são sete montes (metafóricos)... e são também sete reis (históricos)” ... A Babilônia nunca foi destruída da maneira descrita em Isaías, capítulos 13 e 14, e por Jeremias, capítulos 50 a 52, portanto a reconstrução da Babilônia não é meramente uma interpretação possível, mas que o cumprimento das Escrituras exige isto.

Pessoalmente, não entendo a grande discórdia que há entre os comentaristas para “identificar” essa cidade, a meu ver tanto faz que seja Roma ou Babilônia, pois o que importa é o que ela de fato personifica no contexto dos acontecimentos futuros, ou seja, o seu caráter e não a sua localização. Inobstante a isso, convém lembrar que as sete colinas de Roma não mais existem na sua forma original. Além disso, há registros históricos que Jerusalém, à época de João, era conhecida como a grande cidade dos sete montes, talvez, por esta razão, surgem comentaristas que entendem que Jerusalém seria a cidade mencionada neste capítulo. Sem dúvida, grande é a confusão criada em torno deste assunto.

Claro que devemos respeitar os entendimentos em contrário, mas a clareza de interpretação de J. Allen dispensa acréscimos. Portanto, segundo ele, a “grande cidade” não será Roma, mas a antiga cidade babilônica que será reedificada pela “besta” e por certo se tornará a sede do seu governo imperial. Convém lembrar que historicamente algo semelhante já ocorreu através de Constantino que transferiu a sede do império romano, por mais de meio século, para Bizâncio, também conhecida à época como a Nova Roma, chamada após a morte do imperador de Constantinopla, onde hoje é Istambul, a maior cidade da Turquia. Constantinopla rivalizou durante séculos com Roma como capital da cristandade e mesmo depois da conquista muçulmana continuou a ser a sede da igreja “cristã” ortodoxa. Portanto, não seria nenhuma novidade a “besta” estabelecer o seu governo central fora das fronteiras romanas.

Você, caro leitor, poderá ponderar: “Mas o que resta da antiga Babilônia, cujas ruínas se encontram na cidade de Al Hillah, na província Babil, atual Iraque? O que dizer, então, do atual Iraque que se tornou terra arrasada pela recente guerra com a coalizão militar liderada pelos USA?” Há que se considerar algo importante: Como as duas “bestas” terão o poder político de reconstruir o Templo em Jerusalém, no período da tribulação, que não será algo fácil perante os árabes, a reconstrução da Babilônia será uma tarefa mais tranquila, pois será aprazível ao mundo arábico e esta poderá ser uma forma compensatória pelo agrado dado aos judeus. Convém ressaltar que não devemos ficar limitados ao que hoje vemos, pois esses acontecimentos se darão ao longo do período da tribulação, sob o jugo da tenebrosa “besta” que promoverá grandes alterações geopolíticas no mundo atual.

Neste capítulo vemos o sentido “religioso” dessa “grande meretriz” e no próximo capítulo o seu aspecto “comercial”. Por sinal, em nossos dias não estamos tão distantes disso, basta observarmos o rápido crescimento do lucrativo negócio que se tornou o atual segmento tido como religioso, que de espiritual nada tem. Quanto à única religião a ser estabelecida pelas “bestas”, diz W. MacDonald: A babilônia religiosa certamente inclui a cristandade apóstata, tanto católica quanto protestante. É bem possível que represente a igreja ecumênica.

Portanto, as raízes dessa ignomínia já foram lançadas desde o século passado através do movimento ecumênico que conta com participação de várias denominações evangélicas que se submetem ao jugo papal; de fato estão a lançar os fundamentos da “igreja apóstata”. A expressão “muitas águas” revela que esse domínio religioso será global (v. 15... “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”), muitos se “embriagarão” com a sua maligna religiosidade cuja influência alcançará um incontável número de pessoas que estará em absoluta desgraça, e o pior, sem se aperceberem disso.

Durante essa visão, João é trasladado em espírito pelo mencionado anjo ao deserto e lá contempla essa “religião apóstata” numa estranhíssima figura de uma mulher, vestida de forma extravagante, montada numa “besta” escarlate repleta de nomes de blasfêmias e que possuía sete cabeças e dez chifres (vs. 3 e 4). A “besta” já é nossa conhecida, é a mesma que vimos no capítulo 13, todavia aqui está com a mesma cor vermelha do “dragão” – o diabo – descrito no capítulo 12, que não deixa de ser um dado revelador, pois está a demonstrar que nesta visão o bestial imperador, sob o comando do seu gestor, já estará no ápice do seu governo sobre as nações que a ele se submeterão.

Essa visão traz, a princípio, a suposta ideia de que esse sistema religioso estará a dominar o império da “besta”, assim como ocorreu ao final do extinto império romano, através da igreja católica. Essa aparência é enganosa, a “besta” não se deixará dominar por aqueles que estão em seu entorno, por isso providenciará que essa religiosidade seja destroçada (v. 16) e exigirá adoração exclusiva, através de si, para aquele que o instituirá – o diabo – conforme visto no capítulo 13. Haverá uma única religião no mundo, cuja cabeça será o diabo.

Em seguida João usa a expressão “mistério”: “Na sua fronte achava-se escrito um nome, mistério: Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra”, que estava embriagada com o sangue derramado dos santos e das testemunhas do Senhor Jesus (vs. 5 e 6). Quanto a este “mistério”, veremos na segunda parte deste capítulo, “pois nada está oculto, senão para ser manifesto; e nada se faz escondido, senão para ser revelado. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” (Marcos 4:22-23). Considere atentamente o que você está a ouvir, caro leitor. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 17 (2)

A crônica anterior foi encerrada com um “mistério” contido no versículo 5 deste 17° capítulo. Na fronte da estranha figura da mulher nele revelada, a qual representa o sistema religioso e comercial que será instituído em meio à grande tribulação, está escrito algo que o anjo desta revelação destaca como sendo misterioso: “Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra”. De plano, as pessoas são levadas equivocadamente a uma postura mística diante da expressão “mistério”, todavia o Senhor Jesus deixou asseverado que “nada há oculto, que não seja revelado, nem escondido, que não venha a ser conhecido” (Lucas 8:17). Não existe nada de “místico” nessa assertiva angelical, afirmações nesse sentido não passam de bobagens criadas pelos ocultistas, prática esta que lamentavelmente campeia entre vários que se identificam como “cristãos”, mas que por suas práticas se desqualificam e deixam revelado que não passam de meros rótulos institucionais.

Por oportuno, em crônica recente acerca da expressão de Paulo contida em 1 Coríntios 2:7, Jayro Gonçalves deixou asseverado o entendimento correto sobre o significado de “mistério” nas Escrituras: “A palavra “mistério” no Novo Testamento tem o sentido de algo que está sendo revelado, não alguma coisa que nos mistifica. Nesse sentido o ensino de Paulo é que Deus Se revela aos que dEle se aproximam em Cristo. O conhecimento de Deus é, pois, “misterioso” no sentido de que o homem natural, agindo por suas próprias faculdades, não pode recebê-lo (1 Coríntios 2:14)... Uma verdade antes oculta, agora revelada por Deus e aceita somente pela fé... não tem o caráter de misterioso ou enigmático que o homem tem dificuldade em resolver, mas um segredo que ao homem é totalmente incapaz de penetrar... Paulo diz “outrora oculto”, acentuando o fato de que os homens que não estão em Cristo estão ainda às escuras em relação a tal segredo”.

Diz também acerca disso R. David Jones: “Vemos que os mistérios da Bíblia são realidades antecipadamente conhecidas por Deus e reveladas na ocasião oportuna para a sabedoria da humanidade, em contraste com a sabedoria resultante da filosofia humana (veja especialmente 1 Coríntios 2:1-16 e compare com Mateus 11:25). O contraste não consiste em que a filosofia é humanamente compreensível enquanto os mistérios estão obscurecidos, mas que a filosofia é produto de pesquisa intelectual humana, enquanto os mistérios são revelação divina e se discernem espiritualmente... A fé cristã não tem doutrinas secretas, pois seus mistérios são revelações feitas à humanidade por Deus pelo Seu Espírito em tempo oportuno de coisas que Ele, ciente de tudo, já sabia antecipadamente”.

Portanto, por definição, a palavra “musterion” contida nas Escrituras tem o significado etimológico de uma revelação divina que não pode ser alcançada pela inteligência, filosofia ou sabedoria humana sem o auxílio de quem a explicitou: o próprio Deus. Deixando, pois, o misticismo de lado, prossigamos ao que interessa.

Diante daquele “mistério” representado por aquela extravagante personagem (v. 5), prossegue João: “Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto” (v. 6). Por certo a cena não foi nada agradável aos seus olhos e grande foi o espanto do consagrado apóstolo. Imaginemos, caro leitor, a figura grotesca que ele estava a contemplar! A figura simbólica de uma mulher completamente bêbada e totalmente ensanguentada pelo martírio que será cruelmente aplicado àqueles que estarão a professar o senhorio do Senhor Jesus Cristo em suas vidas durante o trágico período da grande tribulação que está por vir. Sem dúvida, imensa foi a tristeza de João diante daquela visão.

Mas, de pronto, chega a ele o socorro esclarecedor: “O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher: a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá (vs. 7-8). Não há dúvida, apesar da interpretação dada pelo anjo, o contexto destes dois versículos não é de fácil entendimento, principalmente o versículo 8. Portanto, diante da dificuldade deixemos que prevaleça exclusivamente o que está revelado nos textos bíblicos, deixando de lado as interpolações pessoais ainda que não tenhamos uma compreensão exata neste momento.

O que estaria a dizer o anjo com a expressão: “a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição”? Note bem, caro leitor, o que ele está a afirmar em outras palavras: A “besta”, que viste surgir para ser o grande líder do império diabólico a ser instalado neste mundo, saiu de cena e agora está de volta! A esta altura convém que seja lembrado que estamos nos inícios do último grande parêntese profético, dos quatro existentes neste Livro, portanto o texto nele contido não faz parte da sequência cronológica dos acontecimentos, se assim não entendermos jamais chegaremos a uma compreensão exata dos fatos descritos por João. Vamos a eles:

1. “a besta que viste” – A quem o anjo está a se referir? Sem nenhuma dúvida ao abominável ente visto por João no capítulo 13:1-10 (que faz parte do terceiro grande parêntese). Nele João teve a revelação acerca do grande líder que surgirá e submeterá este mundo ao seu domínio, inspirado pelo seu gestor, o diabo, que proporcionará a esse bestial líder “autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação” (13:7). Como diz J. Allen, “a ‘besta’ terá uma ascensão meteórica em autoridade e poder, e certamente estará sendo capacitada antes de se revelar no início da grande tribulação. O que é aqui enfatizado é que ela já teria uma história antes deste ponto central da tribulação”.

2. “era e não é” – Conforme narrado no mesmo capítulo 13, João teve a seguinte visão: “Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte” (13:3a). A chaga mortal levará as pessoas a entender que o grande líder foi morto, ou seja, “não é” mais. Mas repentinamente ele voltará em grande estilo, de crueldade é claro. Isto fará parte do jogo de cena do diabo para que o mundo, em um breve espaço de tempo, se sinta desorientado pela aparente morte da “besta”, mas posteriormente as pessoas ficarão admiradas pelo seu surpreendente “ressurgimento”, pois a sua ferida mortal será curada e toda a terra se maravilhará seguindo a “besta” (13:3b).

3. “está para emergir do abismo” – Como resultado da aparente morte, haverá a pseudorressurreição da “besta”. Isto já foi visto no segundo grande parêntese, que descreve o ministério das duas testemunhas de Deus que serão mortas pela “besta” ressurgida do “abismo” (11:7). Afinal, que “abismo” é esse? R. Watterson escreve a respeito: “Não significa o inferno onde estão aqueles que morrem sem a salvação, nem significa o lago de fogo, onde os perdidos sofrerão eternamente, mas é o lugar onde os demônios podem ficar presos (Lucas 8:31) e onde Satanás ficará preso durante o Milênio (Apocalipse 20:1-3)”. Portanto, o “abismo” é uma figura apocalíptica para o “reino satânico”, e desse contexto a “besta” reaparecerá “corporificada” pelo mal, pelas forças diabólicas do “abismo”, para reassumir o seu império, não se tratando, portanto, de uma ressurreição, mas de um engodo.

Mas como acontecerá essa “corporificação”, se a “besta” é um ser humano como nós? Esse assunto é um campo vasto, que procurarei resumir. Há quatro níveis de ação demoníaca: opressão, obsessão, sujeição e possessão. Todas as pessoas, inclusive os cristãos, não estão isentos da “opressão” demoníaca por meio das tentações, que envolvem a cobiça dos olhos, da carne e a soberba da vida; a “obsessão” é a intensa preocupação que a pessoa passa a ter com forças ou fenômenos ocultos, curandeirismo, adivinhações, astrologia (há pessoas que não saem de casa sem lerem o horóscopo do dia etc.); a “sujeição” é a antessala da “possessão”, as pessoas se tornam tão habituadas às mistificações que passam a acreditar em qualquer vento de crendice, menos em Deus; finalmente chega-se à corporificação (“possessão”), ou seja, a habitação demoníaca nas pessoas, algo bastante atuante no Novo Testamento, onde vemos os possessos serem identificados como endemoninhados (Marcos 1:23-27, 32-34; 3:11-12; 3:14-15; 7:25-30; 9:17-29; 16:9; Lucas 10:17; Atos 5:16; 8:7; 16:16-18; 19:12). No retorno da “besta” ela estará completamente “possuída” pelo “abismo”, por certo seu jugo será algo tenebroso, jamais dantes visto pela humanidade. É sobremodo importante deixar aqui ressaltado, que os cristãos autênticos em nenhuma hipótese podem sofrer “possessão” demoníaca, pois é impossível que naquele em que habita o Espírito Santo seja também morada de demônios.

4. “e caminha para a destruição” – Isto veremos ao final deste quarto grande parêntese, quando da vinda do Senhor Jesus como Rei dos reis e Senhor dos senhores para estabelecer o Seu Reino milenar (19:11-16). Haverá um imenso confronto com a “besta” e os exércitos existentes à época, a sua destruição será arrasadora e tanto ela, a “besta”, como o “falso profeta”, serão aprisionados e “lançados vivos dentro do lago do fogo que arde com enxofre” (19:19-20). Tenhamos em lembrança, caro leitor, esses dois terríveis personagens são seres humanos como nós, todavia a serviço do seu senhor, o diabo. Portanto, a expressão “lançados vivos” ao inferno é sobremodo horrenda, pois ali “serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (20:10).

Como vemos, em nenhuma hipótese se pode subestimar as artimanhas do diabo, realmente ele é sagaz e fica a serpear a todos que estão ao seu redor a fim de arrastar consigo os desavisados, aqueles que se deixam levar pelos seus enganos, inclusive através das muitas religiões existentes neste mundo que até dizem que creem no Senhor Jesus, mas de fato não servem ao Deus Todo-Poderoso, ao contrário, estão a serviço dos seus próprios deleites.

Na próxima crônica serão analisados os versículos restantes deste capítulo. Enquanto isso, não percamos de vista o que vimos até agora, pois isso poderá significar que muitos estarão a caminho de tormentos eternos pelo silêncio daqueles que têm conhecimento desses fatos e por motivos inexplicáveis permanecem indiferentes. Não pode ser esquecido que todo aquele que deposita uma fé autêntica no Senhor Jesus, não pode ser omisso, pois terá que prestar conta: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão” (1 Coríntios 3:14). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 17 (3)

Após as considerações descritas nas duas crônicas anteriores, vamos aos versículos restantes deste 17° capítulo (vs. 9 a 18) e, com isso, encerrarmos a parte inicial deste último grande parêntese contido neste magnífico Livro. Antes, porém, não se pode deixar de ressaltar a essencial e determinante expressão usada pelo anjo, que demonstra ser necessária uma compreensão acima do entendimento natural para aquilo que ele irá revelar: “Aqui está o sentido, que tem sabedoria” (v. 9); se esse critério fosse cuidadosamente observado, por certo não teríamos tantas controvérsias interpretativas sobre o texto contido neste capítulo.

Conclui-se, até aqui, que nenhuma aplicação ao passado (p.ex: império romano) corresponde de forma satisfatória à exegese deste capítulo. Para entendê-lo é preciso olhar para o futuro, pois a relação da Babilônia com a “besta”, como aqui nos é apresentada, não pode se referir senão a uma época futura, e, como já foi dito, nada tem a ver com a geografia política dos nossos dias, ou nos dias de João, pois tudo será alterado pelo grande líder político – a “besta” – que surgirá e, certamente, estabelecerá uma rigorosa centralização nas relações entre os povos para que tenha domínio absoluto sobre as nações.

Diz o anjo a João: "Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco" (vs. 9 e 10). Sabemos que, nas Escrituras, a verdadeira Sabedoria indica a real natureza das coisas através das revelações divinamente inspiradas. Já vimos na primeira crônica deste capítulo que a palavra “monte” é usada de forma metafórica, de fato esses “montes” simbolizam “sete reis”, e não a Roma que tantos insistem em afirmar. Tamanha persistência só nos leva a um entendimento, o de incluir o papa como o grande guia espiritual mundial nesse tenebroso período de tribulação, todavia sabemos, a priori, que esse personagem será o “falso profeta” que operará grandes sinais (capítulo 13:11-18) e levará a humanidade a uma terrível crendice nunca dantes vista; esse hediondo personagem dará (segundo a eficácia de Satanás conforme 2 Tessalonicenses 2:9) “fôlego à imagem da besta, para que, não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta” (13:15).

Caso fôssemos especular acerca de uma religião dominante no porvir, coisa esta que não nos convém fazer, ela estaria muito mais próxima do islamismo do que do cristianismo. Nos dias atuais o islamismo é a maior religião do mundo com quase dois bilhões de fanáticos, deixando a igreja romana muito distante, com um pouco mais de um bilhão. Não é preciso muito esforço para se saber que grande parte dos católicos é apenas de fachada, pois se declaram fazer parte dessa religião somente pelo fato de terem sido batizados, ou então por terem se casado numa igreja católica. Pessoalmente convivo com vários que são contados nesse rol, mas de fato são ateus confessos e quando comparecem a uma igreja é tão somente por um compromisso social (casamento, batizado, missa de sétimo dia etc.).

O islamismo cresce de forma geométrica e seus seguidores de fato praticam a fé que professam, ao passo que o catolicismo tornou-se uma religião declinante, somente formal, muito distante dos índices de crescimento de outrora. Só para exemplificar, o Brasil que é tido como o maior país católico do mundo, em 1872 quase toda população era católica (99,7%), em 2010 caiu para menos de dois terços (64,6%), e desde 1991 esse índice está a despencar de forma preocupante para os seus bispos. O seu principal líder – o papa – atualmente é uma figura meramente simbólica, não tendo a mesma influência política e religiosa de outrora sobre as nações, ao passo que o islamismo com o seu crescimento avassalador já causa enorme preocupação, principalmente ao continente europeu.

Tudo mais constante, em poucas décadas o continente europeu será muçulmano (confirme pela Internet: http://www.youtube.com/watch?v=1-cIz1tKjOc). Convém lembrar que o Islã é uma religião odienta, apesar de seus mulás (mullah) dizerem o contrário. O seu principal objetivo é converter o mundo ao Islã de forma compulsória, apagar totalmente Israel do cenário mundial e aniquilar com os cristãos. Entendo, portanto, que será uma enorme perda de tempo dizer-se que esta ou aquela religião dos nossos dias estaria caracterizada na “mulher” aqui simbolizada. Esta figura representa a religião da época que surgirá e servirá por um tempo às simulações da “besta”, mas que terá um trágico fim como vemos no versículo 16... “odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo”.

Concluindo-se, pois, os sete montes se referem a sete governantes: “São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco" (vs. 9b,10). A forma temporal (aoristo) do verbo “caíram” no grego antigo, está no passado em relação ao tempo de João – “já caíram”; quanto à expressão “um existe” diz respeito à época de João, portanto ao “império romano” que deixou de existir; em seguida lemos que um “outro ainda não chegou”, ou seja, o sétimo governante, ainda não vindo, nos faz olhar para o futuro. Sem dúvida, este sétimo é a “besta” que virá para liderar o mundo por pouco tempo – os sete anos da tribulação.

A esta altura você poderá ficar confuso, caro leitor: Como a “besta” será o sétimo se o versículo 11 diz que ele será o oitavo governante? Vamos ao texto: “E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição” (v.11). Atente bem para a expressão “também é ele, o oitavo rei”. Tanto o sétimo como o oitavo trata-se do mesmo personagem; como sétimo ele surge como aquele que estará trazendo soluções para os graves problemas políticos e econômicos que estarão a afligir o mundo à época e fará firme aliança com Israel na primeira metade do período de tribulação; quanto ao oitavo é a mesma “besta”, que “ressurgirá”, na segunda metade da tribulação, conforme analisamos no versículo 8 (leia os comentários na crônica anterior a esta) onde a mesma expressão é usada: “a besta que era e não é”. Observe atentamente: “procede dos sete”, logo, é o mesmo que está entre os sete governantes. Diz J. Allen a respeito: “Lemos claramente que ele não é apenas a sétima cabeça restaurada, mas agora precisa ser visto como a oitava. Vemos que ele não é uma pessoa inteiramente diferente, pois é cuidadosamente dito que ele é dos (ek) sete”.

O anjo prossegue em sua fala a João: “Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (vs. 12 a 14). Desde o surgimento da “besta” (13:1), assim como do “dragão” (12:3), vemos a alusão desses dez chifres, também mencionados no versículo 3 desde capítulo, e, como já visto, formam uma confederação de países que governarão coletivamente o mundo durante o período de tribulação, mas não de forma independente da “besta”, pois estarão debaixo da sua liderança.

Lendo mais detalhadamente o texto, estes governantes já existirão antes do surgimento da “besta” – “ainda não receberam reino” –, mas após se associarem à “besta” receberão “autoridade como reis” (v. 12). Eles terão a mesma disposição mental do seu grande líder e colocarão o poder e a autoridade que possuem a serviço dele (v. 13). Conforme já foi dito nos comentários que fiz no capítulo 13, qualquer especulação para se saber quais serão essas dez nações tornar-se-á uma tarefa infrutífera, pois ficar imaginando que nações serão essas é sobremodo artificial tendo em vista que, em termos geopolíticos, o mundo será alterado substancialmente com a ascensão da “besta” à liderança mundial. No entanto, esse “poder” será passageiro, durará um breve tempo de sete anos, sendo três anos e meio associados à “besta” e outro tanto debaixo do seu domínio. Todo esse ajuntamento será para a arrogante pretensão de um confronto de proporções jamais vista contra Deus, no estulto desejo de que poderão derrotá-Lo, isso custará fragosa derrota que lhes será imposta pelo Senhor Jesus que virá para esse confronto juntamente com os “chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (v. 14) e participarão desse grande triunfo. As consequências dessa grande peleja veremos mais à frente no capítulo 19.

A seguir, João passa a narrar a última fala deste anjo e descreve o restante das revelações contidas neste capítulo (vs. 15 a 18). Os versículos 1 a 7 foram dedicados às revelações sobre aquela “mulher misteriosa”, dos versículos 8 a 14 acerca da “besta”. No início deste capítulo o anjo convida João para ver uma “grande meretriz” sentada sobre muitas águas (v. 1), agora ele dá a interpretação a respeito dessas águas: “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas” (v. 15), ou seja, ele está a revelar o imenso apoio mundial que esse sistema religioso terá, todavia, quando ele estiver no auge do seu triunfo, eis que surgirá, de forma repentina, a sua completa destruição: “Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (v. 16). Os dez governantes, mediante o apoio da “besta”, se voltarão contra a “meretriz” e a destruirão completamente.

A “besta”, em mais um ato de traição, irá se voltar contra aquela que lhe deu apoio, todavia sem se aperceber que, juntamente com os seus governados, estará executando um propósito divino: “Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus” (v. 17). Deus está por trás de todos esses acontecimentos. É Ele quem leva os reinos a se unirem à besta contra a meretriz para que se cumpram os Seus propósitos soberanos.

Finaliza o anjo: “A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra” (v. 18). Já comentei sobre essa grande cidade na primeira crônica deste capítulo, mas não é demasiado transcrever os comentários de J. Allen acerca disto: “A mulher, obviamente, é o símbolo de um sistema religioso que tem raízes numa cidade, e a cidade é a realidade (grifos meus). Fazer a cidade um símbolo de outra coisa é a mesma coisa que fazer um símbolo de um símbolo, que é contrário ao uso normal das Escrituras... A mulher apresentada pela palavra “mistério” representa o aspecto religioso da Babilônia, enquanto que a cidade reflete a realidade por trás do símbolo. Não há mistério algum ligado a esta cidade; é simplesmente descrita como a grande cidade...”.

No capítulo a seguir (18:10), veremos explicitamente a identificação dessa grande cidade: “Ai! Ai! tu, grande cidade, Babilônia, tu poderosa cidade!”. Trata-se, portanto, da Babilônia que será erigida pela “besta”, e não a antiga Roma! Diante do controverso existente, busquemos sempre “o sentido que tem sabedoria” (v. 9). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 18 (1)

Neste capítulo chegamos à metade do último grande parêntese que foi iniciado no capítulo anterior com o relato de João acerca da revelação do mistério que envolve a “grande meretriz”. Como vimos, essa personagem simboliza o sistema religioso mundano que prevalecerá neste mundo durante o tenebroso período da grande tribulação. Agora, neste capítulo, veremos a outra face desse sistema: o mercantilismo, coisa esta que já ocorre de sobejo em nossos dias por aqueles que se dizem cristãos. Tradicionalmente este capítulo é subdividido em três partes: 1. O anúncio da queda de Babilônia (vs. 1 a 8); 2. Os lamentos dos seus admiradores (vs. 9 a 20); 3. A ruína total dessa cidade impenitente (vs. 21 a 24).

A sequência do parêntese é rigorosamente sucessiva. Pela frase usada por João no versículo que inicia este capítulo – “depois destas coisas” – vê-se que o desenrolar dos acontecimentos aqui previstos sucedem imediatamente à destruição do grande sistema religioso revelado no capítulo anterior. Nesta visão João vê um magnífico ser angelical: “Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória” (v. 1). Face à autoridade que possui e o seu esplêndido resplendor há aqueles que exageram ao afirmarem se tratar do próprio Senhor Jesus. Segundo J. Allen, isso não faz o menor sentido, trata-se, portanto, de um erro de interpretação: “...mensageiros angelicais refletem a glória relacionada ao seu ofício na execução do plano divino, mas isto não deve ser confundido com a glória resplandecente que pertence, de forma inerente, ao próprio Cristo”.

Diz o anjo a João: “Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria” (vs. 2 e 3). Pera lá, a esta altura exclamará você! No último versículo do capítulo 17 é dito que a “meretriz” simbolizará a grande cidade que dominará sobre os governantes da terra, seria completamente consumida (17:16), e agora novamente é descrita a sua queda? São essas coisas, caro leitor, que fazem do Apocalipse um livro fascinante. Tenha sempre em lembrança que nele não existem incoerências, equívocos jamais, bastam paciência e dedicada meditação para entender todo o seu contexto.

A imensa maioria dos comentaristas entende que o capítulo 17 trata do aspecto “espiritual” da Babilônia, e que o capítulo 18 diz respeito ao seu aspecto “mercantil”. Até aí é palatável essa interpretação, pois a figura da “grande meretriz” do capítulo anterior, juntamente com este, leva-nos a esse duplo entendimento de suas características: religiosa e comercial. De fato, esses dois capítulos apresentam um juízo duplo sobre essa “simbólica mulher”. O primeiro juízo já vimos (17:16), enquanto religião ela será massacrada por aqueles que anteriormente a apoiavam; agora veremos a queda da grande cidade que a “mulher” também simboliza – a nova Babilônia que será reedificada pela “besta” – e por certo será o centro comercial dominante do mundo à época.

É muito importante não nos esquecermos, nesse contexto, do “falso profeta”, apesar de não estar citado. Não convém isolá-lo desses últimos acontecimentos, pois certamente ele exercerá esse controle comercial, como já vimos no capítulo 13:16-18. Ele será o responsável pela inserção da “marca” naqueles que se curvarão à “besta”, ninguém negociará com o poder dominante se não estiver “marcado”. Portanto, o falso profeta terá duas características: a religiosa, como pseudomessias de Israel, e a comercial como o responsável pela política fiscal do tenebroso império satânico. Este importante detalhe tem passado despercebido por muitos, não se pode ter dúvida que o falso profeta terá intensa participação nesses acontecimentos. Como já vimos, quando do seu surgimento, ele não será mero figurante ou coadjuvante, erra quem assim pensar.

Nessa visão parentética, o poderoso brado angelical – “Caiu, caiu, a grande Babilônia” –, é semelhante ao que lemos em Isaías 21:9, todavia lá o profeta está a se referir a invasão da antiga Babilônia por Ciro, ao passo que aqui o anjo se refere à Babilônia que será reedificada repentinamente pela “besta” no período da grande tribulação e, com a sua ruína, se tornará “morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável” (v. 2). É nesta nova Babilônia que se completa o vaticínio dos antigos profetas acerca desta terrível cidade, sobre a qual recairá a implacável ira de Deus, “pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria” (v. 3). Diz J. Allen sobre isto: “Todos os demônios, todas as forças espirituais e tudo que o reino da natureza se rendeu a Satanás, serão agora, depois da destruição da cidade literal da Babilônia, confinados a este local, como uma prisão literal. O abandono deste lugar para os demônios e espíritos imundos é parte da sentença divina pronunciada contra Babilônia por Isaías: “Nunca jamais será habitada, ninguém morará nela de geração em geração... porém, nela, as feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão de corujas” (Isaías 13:19-22)”... um lugar a ser evitado durante a era milenar, como a prisão dos demônios”.

No versículo 3 vemos os motivos para o terrível juízo de destruição dessa nova Babilônia. A expressão “todas as nações” dá a ideia da influência global que terá essa cidade. O mundo à época estará como que embriagado pelo furor da sua devassidão. Todas as nações serão seduzidas para o caminho da corrupção “espiritual” pela adoração que darão à “besta”, até mesmo por necessidade de sobrevivência (conforme capítulo 13:16-17). Por certo as teorias de conspiração serão por demais praticadas através de intrigas políticas de toda sorte, pois o poder central – da “besta” – será libertino, licencioso, traiçoeiro, onde a ética e a moral passarão ao largo. Como vemos no texto, a excessiva luxúria praticada por essa nefasta cidade certamente contaminará o mundo todo e com isso os mercadores da terra se enriquecerão. No dizer popular, a coisa estará do jeito que o diabo gosta.

A mudança da capital econômica mundial e o controle comercial centralizado na Babilônia que virá, é o cumprimento da profecia do “efa” de Zacarias 5:5-11. Segundo W. MacDonald, “a sétima visão de Zacarias mostra uma “mulher” sentada dentro de um efa, o maior recipiente comercial utilizado naquela época como medida de capacidade para cereais. A “mulher” apresentada é a personificação da iniquidade na terra. A tampa de chumbo sobre o efa sugere que a iniquidade era mantida sobre controle. Porém, outras duas mulheres levantam o efa e com ele foram para Sinar (que é a Babilônia). A visão está a indicar a transferência das religiões idólatras e mercenárias de Israel para Babilônia, seu local de origem, que vem representar uma etapa preparatória para o julgamento da Babilônia para o estabelecimento do Reino de Deus. Israel foi purificado da idolatria após o cativeiro babilônico, mas no futuro se envolverá com a idolatria muito pior quando adorar o “anticristo” como se fosse Deus”.

A seguir João ouve outra voz dizendo: “Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou” (vs. 4 e 5). Por se tratar de um parêntese intercalado na sequência natural dos acontecimentos apocalípticos, este chamado para a retirada do povo de Deus, à época, provavelmente dar-se-á depois da destruição do sistema religioso que vimos no início deste grande parêntese, no capítulo 17, e imediatamente antes dos “sete flagelos” que serão derramados ao final do período da grande tribulação anunciado no capítulo 16. Sou levado a entender assim face ao anúncio transmitido: “para não participares dos seus flagelos”.

Surge uma questão! Quem são esses que o Senhor estará a chamar e se encontram em meio ao devasso sistema neobabilônico? J. Allen dá o seu entendimento: “Podemos concluir por este chamado que haverá alguns verdadeiros cristãos, que embora recusassem o sinal da besta, residiam nessa cidade, ou pelo menos estavam associados, de alguma forma, com o império comercial da besta”. Pessoalmente entendo que pela ausência de uma revelação específica acerca do dia a dia daqueles que se converteram ao longo do período de tribulação, não cabe especular a respeito desse convívio, todavia o texto revela que pela convocação haverá aqueles que de alguma forma conseguirão subsistir, apesar de terem recusado a “marca da besta”, e não se envolverão com os “atos iníquos” ali praticados.

A réplica é chegada! Os agentes executores deste juízo de Deus recebem a ordem de execução: “Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou” (vs. 6 a 8). A justiça de Deus é absolutamente perfeita e implacável. A depravação babilônica será retribuída de forma irreversível. O “cálice” da ignomínia com que ela corrompeu a humanidade agora terá um conteúdo diferente – a sua irremediável e dobrada condenação. Isto nos remete a Jeremias 50:29... “Retribuí-lhe segundo a sua obra; conforme tudo o que fez, assim fazei a ela; porque se houve arrogantemente contra o Senhor, contra o Santo de Israel”.

Muitíssimos em nossos dias, inclusive cristãos, veem a Deus somente como alguém misericordioso, bondoso, com a obrigação de lhes dar saúde perfeita e prosperidade material. Todavia, se esquecem de que além dos Seus notáveis atributos Ele é absolutamente exigente em tudo o que diz respeito à transgressão aos Seus princípios. Os acontecimentos que aqui estamos vendo têm por objetivo nos trazer para perto de Deus e não para nos proteger de Deus. A recíproca é verdadeira, próximos a Ele estaremos por Ele protegidos. Ele ama de tal maneira a Sua criatura que enviou a este mundo o Seu Filho para que buscasse o que se havia perdido. O Senhor Jesus Cristo, igualmente gracioso, misericordioso e amoroso, virá para buscar aqueles que são Seus para que não passem por essa imensa tribulação. Os braços do Pai e do Filho estarão abertos para acolher em Sua morada aqueles que creem. O mesmo Filho que veio pessoalmente uma vez virá pessoalmente de novo. O mesmo Pai que O enviou uma vez O enviará outra vez. Tenha absoluta convicção nisso, meu caro leitor. Permita Deus que assim seja!

 


 Capítulo 18 (2)

 Vimos na crônica anterior o anúncio da repentina e desastrosa queda da “grande cidade”, a nova Babilônia que será edificada no tenebroso período de tribulação (vs. 1 a 8), e agora nos é revelado o desespero dos governantes aliados ao império da “besta”: “Ora, chorarão e se lamentarão sobre ela os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em luxúria, quando virem a fumaceira do seu incêndio, e, conservando-se de longe, pelo medo do seu tormento, dizem: Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo” (vs. 9 e 10).

Esse lamento se dará porque a “grande cidade” lhes estava a propiciar toda sorte de fornicações, negócios ilícitos e desbragada licenciosidade. Agora estão a contemplar o fim dos seus deleites, dos desejos corruptos de seus corações e o final dos seus ganhos fraudulentos. O desastre será de tamanha magnitude que de longe contemplarão a pira funerária (vs. 9 e 18) daquele que será o maior complexo empresarial nunca dantes visto neste mundo. 

O império diabólico será extremamente abalado por esse estrondoso acontecimento, nele a humanidade incrédula preverá a sua própria destruição. Nessa oportunidade, três queixumes serão proferidos (“Ai! Ai!”, vs. 10, 16 e 19): Pelos governantes (“reis da terra”, vs. 9 e 10) que estarão à procura de poder e se sentirão seguros com o “sistema político” estabelecido pelo imperador – a “besta” – que estará a governar o mundo através da “grande cidade”; pelos grandes empresários multinacionais de todos os segmentos (“mercadores da terra”, vs. 11 a 16) que estarão a auferir grandes lucros em seus negócios; e pelos grandes conglomerados que controlarão o “comércio exterior”, através do mercado de transportes, (“pilotos” e “marinheiros”, v. 17, e “navios do mar”, v. 19), que se enriquecerão com a opulência e as negociatas existentes no império mundial sediado na nova Babilônia. A sua fonte de riqueza será destruída com grande rapidez (“em uma só hora chegou o seu juízo”, v. 10; “porque em uma só hora ficou devastada tamanha riqueza”, vs. 17 e 19). 

Não mais haverá vendas de mercadorias (v. 11). Imenso será o colapso econômico e financeiro que avassalará o mundo que está por vir e que fará desmoronar o comércio mundial. O reconhecimento dessa situação, irreversível, é o motivo da imensa lamentação. Lançarão pó sobre suas cabeças (v. 19), mas não será uma manifestação de arrependimento diante do juízo divino, mas em função da riqueza perdida. A expressão “de escravos e até almas humanas” (v. 13) dá-nos o entendimento bem interpretado por J. Allen: “Babilônia exigia as coisas melhores da vida, e criara a riqueza para consegui-las; os homens copiaram-na, se tornaram seus escravos e se vendiam de “corpo e alma” a ela. Agora eles choram, pois “numa hora” o juízo de Deus tirou tudo que eles tinham valorizado na vida”. 

Notável paradoxo vemos no versículo 20: “Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa”. Enquanto toda a Terra estará angustiada diante de tão grande tormento, o Céu se alegrará! O povo de Deus que se encontra no Céu será convocado para se regozijar. A menção de “apóstolos e profetas” (compare com Efésios 2:20) sugere que a Igreja arrebatada antes do início da grande tribulação, agora glorificada no Céu, participará desse regozijo. Pois então, prezado leitor, resta saber se você tem a mais absoluta convicção que estará entre estes que se rejubilarão com esse dia. Bem haja se assim o fizer! 

Prossegue João em sua visão: “Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada” (vs. 21 e 22). Para a até então poderosa Babilônia Deus tem reservado um poderoso anjo, que através deste ato – a pedra arrojada ao mar – estabelece e revela os desígnios de Deus para a impenitente cidade. Esta revelação nos remete às previsões contidas nos capítulos 50 e 51 de Jeremias, que tratam do juízo divino contra a Babilônia: "Assim será afundada a Babilônia e não se levantará, por causa do mal que eu hei de trazer sobre ela; e os seus moradores sucumbirão” (Jeremias 51:64). Segundo William MacDonald, “parte dessas profecias se refere à captura da Babilônia pelos Medos. Seu cumprimento pleno, porém, ainda está por vir”. Portanto, o ato final desse cumprimento vemo-lo agora, quando todas as profecias sobre a destruição da Babilônia serão finalmente cumpridas. 

Um silêncio sepulcral irá pairar sobre a outrora “alegre” cidade, para sempre: “E voz de harpistas, de músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem artífice algum de qualquer arte jamais em ti se achará, e nunca jamais em ti se ouvirá o ruído de pedra de moinho”  (v. 22). O burburinho existente pela intensa atividade mercantil daquela megalópole não mais será ouvido. Diz-nos J. Allen: “um local que Deus deixará como testemunho silencioso do Seu juízo sobre o pecado”. 

João finaliza este estarrecedor quadro: “Também jamais em ti brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria. E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra” (vs. 23 e 24). Vemos neste texto que o seu brilho de outrora será fugaz, repentinamente desaparecerá: “jamais em ti brilhará a luz de candeia”. As suas celebrações serão extintas: “nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá”. Aquilo que Babilônia fizera com Jerusalém: "Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das mós, e a luz do candeeiro" (Jeremias 25:10), vemos aqui que Deus fará o mesmo com esta cidade perversa. Entretanto, o juízo de Deus sobre Jerusalém perdurou por setenta anos, mas sobre Babilônia será para sempre. 

Toda humanidade terá que reconhecer que esta será a justiça retributiva de Deus, pois “nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra” (v. 24). Aqui se devem incluir tanto os mártires do Velho Testamento como o do Novo, como o faz H. V. Alford: “naturalmente a todos os mortos por causa de Cristo e da Sua Palavra”. Incluem-se aqui, também, aqueles que se recusaram a receber o sinal da “besta” durante o período da grande tribulação. Parte destes é vista por ocasião da abertura do “quinto selo”, em cuja oportunidade aqueles que foram perseguidos pela “besta” clamarão por vingança: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Apocalipse 6:9-11). Eis que esse momento é chegado, a vingança pertence ao Senhor. 

O mar de sangue derramado dos servos de Deus maculará Babilônia até o fim de seus dias. Não mais haverá perseguições. O orgulho dos seus mercadores – “os grandes da terra” (v. 23) – que tanto influenciarão o mundo da época, será substituído pelo desespero da perda. Aqueles que foram seduzidos pela sua “feitiçaria” (v. 23) receberão a sua paga por terem rejeitado o testemunho de Deus. Como vimos no capítulo 13, as práticas diabólicas serão intensas através do “falso profeta” – a segunda “besta” –, os feitiços serão assustadores: fogo descerá do céu, será dado fôlego à estátua da primeira “besta”, que não somente falará como fará morrer aqueles que não a adorarem. Realmente será uma época alucinante. 

Diante de tamanha expectação, ao finalizar esta crônica, prezado leitor, fiquei a estremecer diante de um texto que surgiu em minha mente: “Não te fatigues para seres rico; e não apliques nisso a tua inteligência. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente a riqueza criará asas e voará ao céu como a águia” (Provérbios 23:4-5). Vemos nesta palavra de sabedoria que a busca da riqueza é algo que não está estabelecido por Deus àqueles que são Seus, pois “os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (1 Timóteo 6:9-10). Vimos aqui o que ocorrerá com aqueles que servirão o império das trevas no porvir que estarão ávidos por riqueza e poder. Como, então, estão a pregar em nossos dias o tal do “evangelho da prosperidade”, onde as pessoas estão sendo induzidas a “determinarem” para que Deus lhes dê riqueza de bens materiais? 

O pior é que esses tais influenciam as pessoas de que essa busca – a da riqueza – está estabelecida na Palavra de Deus. Textos fora do contexto são pretextos para atender a ganância dos seus corações pervertidos: “são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (Judas 1:16). Esteja certo, prezado leitor, isto é uma deslavada mentira! No capítulo 12 do Evangelho segundo Lucas, o Senhor Jesus faz severas admoestações acerca disso: "Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui... Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus... Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir... Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações... Porque os gentios [incrédulos] de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas... Buscai, antes de tudo, o seu reino... porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração" (Lucas 12:15, 21, 22, 29, 30, 31 e 34). Ensinar diferentemente o que o Senhor Jesus estabeleceu para os Seus é algo que vem do inferno, não de Deus. 

Reflitamos sobre isso, caro leitor, e ouçamos também o que Paulo nos diz a esse respeito: "Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida" (1 Timóteo 6:17-19)... "Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes" (1 Timóteo 6:7-8). Permita Deus que assim seja!

 


 Capítulo 19 (1)

Eis que é chegado o final da tribulação nunca dantes ocorrida na história deste mundo afastado de Deus. Este 19° capítulo está dividido em duas partes, na primeira (vs. 1-10) veremos um grande júbilo no céu e com ele o fechamento do último grande parêntese contido neste Livro; em seguida (vs. 11-21) contemplaremos a magnífica chegada do Senhor Jesus para impor implacável derrota às duas terríveis bestas que dominarão as nações por um breve período de tempo.

Diz-nos João nos primeiros versículos deste capítulo: “Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos” (vs.1-3). Ou seja, depois da visão que teve acerca do determinante juízo de Deus e a definitiva queda da grande cidade – a nova Babilônia construída pela terrível “besta” – ele ouve no céu o alarido de uma imensa multidão que se rejubila com o acontecido. O clima de exaltação estará a inundar os céus, pois é chegado o momento da vinda do Senhor Jesus para reger as nações e estabelecer o Seu Reino milenar.

Nestes três primeiros versículos lemos por duas vezes a expressão “Aleluia”. Hoje em dia o uso dessa palavra não traz nenhuma novidade, pois ela é ouvida de roldão através dos programas “evangélicos” transmitidos pelas emissoras de rádio e televisão. De roldão não seria uma afirmação muito austera? Sem dúvida, caro leitor, mas essa é a realidade! Em nossos dias as aleluias estão sendo pronunciadas de forma impensada e confusa, dando uma ideia de bagunça, pois sua colocação nada tem a ver com o momento em que estão sendo proferidas. Por certo a imensa maioria das pessoas assim o faz por não saber nada acerca do seu profundo significado.

Pois então, caro leitor, você sabe quantas vezes aparece essa breve doxologia – “Aleluia” – no Novo Testamento? Quatro vezes! Tão somente quatro vezes e apenas neste 19° capítulo de Apocalipse. Em nenhum outro livro essa palavra é proferida a não ser no Velho Testamento, e somente no livro de Salmos, e ainda assim entoada com extrema reverência dada a sua alta significância – Louvado seja Yahweh – cujo objetivo principal é o de glorificar a grandeza e a majestade de Deus. O mesmo não ocorre hoje, ela é pronunciada como se fosse um “mantra”, para se demonstrar espiritualidade, mas de fato uma pseudorreligiosidade, pois ela é dita sem originalidade, de certa forma banal, apesar de não ser a intenção de alguns, mas o fazem por acharem bonito e normalmente há o costume de se copiar o que outros fazem e acabam por repetir aquilo que não têm a menor ideia do que representa.

Em sua expressão original no hebraico – “Halal-Yah” –, transliterada para o grego como hallelouia, essa palavra de exaltação a Deus era composta por duas palavras: “halal”, cujo significado é “louvor”, e “Yah”, forma abreviada de Yahweh, que, de forma híbrida, sem uma base bíblica clara, foi traduzida para a nossa língua como Jeová. Muitos têm tentado encontrar a palavra Yahweh no Novo Testamento, todavia dentre as traduções do Nome de Deus a que mais se aproxima é kúrios, no grego, que significa Senhor, e em várias passagens ela é atribuída a Jesus, por exemplo: “hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor (Lucas. 2:11).

Até os dias de hoje os judeus ortodoxos sentem profundo tremor em transcrever o nome de Deus. Em nosso idioma eles usam D’us pela reverência que têm ao Nome do Todo-Poderoso, assim como fizeram no passado remoto quando usavam “Yah” em vez do nome completo. O controverso em nossos dias não está em louvar a Deus com aleluias, mas sim pela vulgarização que está havendo, pois essa manifestação de louvor está sendo feita sem a indispensável devoção. Mas isto não faz parte do nosso assunto aqui, voltemos ao texto.

Dentre as razões para que aquela incontável multidão teria para entoar esse estupendo coro de aleluias (v. 1), duas delas são proeminentes: “porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos (I), pois julgou a grande meretriz (II) (v. 2). Somente em Deus encontramos a mais absoluta Justiça, pois nEle não há nenhuma imperfeição; a condenação da grande meretriz, ou seja, a religião ecumênica que abrigará todos os credos sob o comando das duas “bestas”. Convém lembrar, pois muitos não sabem, que a etimologia da palavra grega oikoumenikós tem o significado de “aberto para o mundo inteiro”.

Esse terrível sistema religioso buscará apagar de uma vez por todas a fé, ainda que pouca, no Deus Vivo e Verdadeiro e para isso corromperá os ensinos bíblicos que levarão os homens a um desenfreado paganismo. Isto nos remete às palavras do Senhor Jesus: “... quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?” (Lucas 18:8). Ao fim dos tempos lamentavelmente somente um remanescente fiel manterá a fé genuína, tendo em vista que um enorme contingente de pessoas deixará se levar pelo deus do presente século que está a cegar o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus (2 Coríntios 4:4).

João continua a descrever a sua notável visão: “Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia!” (v. 4). Como já vimos anteriormente, esses vinte e quatro anciãos representam a Igreja de Deus arrebatada e reunida no céu antes do início da grande tribulação. Como tal vemo-la por outras quatro vezes neste Livro: 4:4, 4:10, 5:8 e 11:16. Doravante, porém, segundo J. Allen, essa representação sacerdotal não mais será necessária e os vinte e quatro anciãos não mais serão mencionados, pois as bodas do Cordeiro estarão consumadas, a Sua noiva, a Sua Igreja, estará com Ele para todo o sempre. Neste momento de intensa exaltação a Igreja não poderia deixar de participar, por isso ela dirá com toda força o seu verdadeiro significado: Aleluia! Louvado seja o único Deus, o Todo-Poderoso e Criador de todas as coisas, que por Seu imenso amor nos remiu para sermos a expressão da Sua glória através de Jesus Cristo. Essa expressão não será feita de forma banal, mas uma manifestação de profundo sentimento por aquele extraordinário acontecimento.

João prossegue: “Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes. Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (vs. 5-6). Estrondoso será esse intenso alarido. Uma imensa multidão entoará com tamanho vigor esse jubiloso louvor que será semelhante ao barulho de uma enorme catarata e de grandes trovoadas. Todos os verdadeiros servos serão convocados para expressar esse fantástico júbilo a Deus; todos aqueles que O reverenciam com temor e tremor, quer sejam pequenos ou grandes. A esse respeito escreve J. Allen: “Provavelmente a voz de Cristo emite um chamado aos cristãos na Terra... eles são convocados para se unirem à adoração do Céu... Os cristãos na Terra, aliviados da opressão apavorante da Babilônia, respondem com corações alegres ao chamado do Céu e repetem a “aleluia” do Céu. Este é o verdadeiro “Coro de Aleluia”, vindo tanto do Céu como da Terra”.

Eis um momento fantástico, aguardado por todo aquele que faz parte da verdadeira Igreja de Deus: “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (vs. 7 a 8). E não é que em um texto de extrema clareza criam-se tantas controvérsias. Há os que argumentam que as bodas do Cordeiro abrangem tanto a Igreja quanto a Israel restaurado. Outros, que não fazem distinção entre a Igreja e Israel, entendem que a “esposa” mencionada (v. 7) inclui os redimidos de todos os tempos, que mantiveram uma aliança de Deus. Há que se registrar que até então somente a Igreja estará arrebatada, os demais remidos o serão imediatamente antes do estabelecimento do Reino Milenar do Senhor Jesus, portanto não podem ser a “noiva”.

Conforme argumenta J. Allen, “essas ideias são insustentáveis e só servem para causar confusão”.  Não pode haver nenhuma dúvida, a “esposa” dessas núpcias é a Igreja arrebatada antes da terrível tribulação, cujo momento nos foi antecipado em Efésios 5:25-27 (recomendo a leitura), quando Paulo compara o matrimônio entre os cristãos como a união que há em Cristo com a Sua esposa, a Igreja. W. MacDonald comenta a respeito dessa passagem contida na carta aos Efésios: “No passado, o amor de Cristo se manifestou na nossa redenção. No presente, é visto na nossa santificação. No futuro será exibido na nossa glorificação. Ele mesmo irá apresentar a Si mesmo à Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, portanto santa e sem defeito. Então ela atingirá o clímax da beleza e da perfeição espiritual”. Em Efésios 5:32, diz Paulo: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”. Aquilo que fora encoberto nos séculos anteriores, agora revelado ao longo desta atual dispensação – a da Igreja – é confirmada através das bodas do Cordeiro que acontecerá no porvir.

Diz ainda o anjo a João: “Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus” (v. 9). Atente bem, caro leitor! Uma coisa é a Igreja arrebatada, a “noiva” das bodas do Cordeiro, outra coisa são os “convidados” que serão chamados para a “ceia” das bodas do Cordeiro. A Igreja é a “esposa” de Cristo os “convidados” são o restante dos remidos que terão o privilégio de participar dessa “ceia”, por isso o anjo os chama de bem-aventurados, pois estas palavras são absolutamente verdadeiras, por serem da parte de Deus. Não existe hipótese que isso não venha a acontecer.

João encerra este quarto e último grande parêntese: “Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (v. 10). Ao completar esta visão de júbilo no céu, o consagrado apóstolo está absorto diante daquilo que contemplou. A exemplo do apóstolo Paulo, João presenciou a grandeza das revelações de Deus e ouviu palavras inefáveis as quais não é lícito ao homem referir (2 Coríntios 12:2-3). O extraordinário coral de aleluias e a jubilosa celebração das bodas do Cordeiro o levam a se prostrar perante o anjo que lhe traz aquelas revelações. De imediato o anjo o adverte para que assim não o fizesse, pois ambos eram criaturas de Deus.

Vemos em nossos dias uma prática condenável de se prestar cultos a anjos da guarda e outros equivalentes. Na verdade os anjos não podem e não querem ser cultuados, pois de fato eles dão testemunho daquEle que verdadeiramente deve ser adorado. O testemunho de Jesus é o espírito da profecia, portanto o verdadeiro propósito da profecia é dar testemunho da majestosa Pessoa, da magnífica Obra e da perfeição de Cristo. Que você tenha, prezado leitor, absoluta certeza de que lá estará naquele dia; que fará parte daquela imensa multidão que comporá aquele imenso coral celestial a dar aleluias ao nosso Deus. Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 19 (2)

Na segunda parte deste capítulo chegamos ao ápice deste notável Livro. Em sua narrativa João descreve três visões do Senhor Jesus. Na primeira, vemo-Lo entre as igrejas em sua dispensação (1:9 a 3:22); em seguida temos a visão dEle em meio ao Trono (4:1), e agora Ele nos é revelado comandando os exércitos do Céu, vindo como Rei dos reis e Senhor dos senhores (v. 16), a fim de dar um basta no poder das trevas e estabelecer o Seu reino milenar. Eis um momento sobremodo sublime, caro leitor.

O antigo profeta teve a percepção deste magnífico acontecimento que se daria milênios a sua frente: "Então, sairá o Senhor e pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da batalha. Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade, para o sul" (Zacarias 14:3-4). O deus deste século – o diabo – ao longo de toda a História empenhou todos seus esforços para promover o afastamento da humanidade do seu Criador, chegando ao clímax no período da grande tribulação, levando à Terra, em todo o seu contexto, a uma rebelião contra Deus até então jamais vista. Essa tremenda crise será respondida pelo Deus Todo-Poderoso através da vinda do Senhor Jesus que porá um fim à terrível angústia promovida pelo poder sobrenatural da “besta” e do falso profeta.

Ao lermos essa revelação de Zacarias somos levados a entender um pouco mais o motivo da intensa luta do poder satânico em riscar Israel do mapa, pois o diabo sabe onde se dará a chegada do Senhor Jesus – no Monte das Oliveiras, em Jerusalém – e em sua cartada final ele agregará um regimento espantoso para uma terrível guerra contra Israel. Segundo J. Allen, “essa frente de batalha ocupará mais de 300 km de extensão desde Armagedom (Apocalipse 16:16) até Edom (Isaías 63:1)... A Terra enfrentará a maior crise da sua História”.

Atente para os dias atuais, prezado leitor, as conspirações contra Israel continuam abundantes. Terríveis inimigos se levantam com o objetivo de destruir o território judeu. Os palestinos que estão sendo defendidos por muitos não querem que sejam reconhecidos como um Estado independente, de fato desejam que Israel deixe de existir como nação para assumirem toda a Palestina e com isso a antevisão de Zacarias não viria a ocorrer. Tolos! Não existe poder neste mundo que possa impedir aquilo que Deus tem estabelecido.

Diz-nos João nesta sua visão: “Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça” (v. 11). Não são poucos os que confundem este “cavalo branco” com aquele descrito no capítulo 6:2 por ocasião da abertura do primeiro selo. Conforme já vimos, lá se trata de uma farsa daquele que procurará aparentar ser o Cristo, ao passo que agora vemos a chegada do Verdadeiro. J.B. Smith faz uma consideração bastante oportuna acerca disso: “...este cavaleiro vem do céu; o anterior da terra”. A cor do cavalo é que leva ao equívoco, o primeiro cavaleiro não é dado nenhum nome, este, porém, é claramente identificado: “Fiel e Verdadeiro”. Na carta à Laodiceia vemos essa identificação dada ao Senhor Jesus: “Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação” (Apocalipse 3:14). Diz mais o texto: “O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça”, portanto Ele vem como resposta à pergunta lançada pelos adoradores da “besta”: “Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?” (Apocalipse 13:4). Jesus Cristo, virá, pelejará, vencerá e julgará mediante a Justiça de Deus.

Continua João: “Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus” (vs. 12 e 13). Nada passará despercebido ao poder penetrante dos Seus “olhos”, os infiéis não terão onde se esconder. Os vencedores recebem uma coroa, mas o Senhor Jesus terá sobre Sua cabeça “muitos diademas” que demonstrarão a Sua absoluta realeza sobre qualquer império ou poder. Aqui Ele é chamado de o “Verbo de Deus”. Isto nos remete ao Evangelho escrito pelo próprio João ao identificar o Senhor Jesus: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez" (João 1:1-3). Quanto ao “manto tinto de sangue” que o Senhor Jesus estará a vestir, as várias interpretações têm deixado as pessoas confusas a esse respeito. Entendo que W. MacDonald traz bastante clareza acerca disso: “Está vestido com um manto tinto de sangue, não com o sangue que Ele derramou na cruz do Calvário, mas com o sangue dos inimigos que pisou no lagar da cólera de Deus”.

A seguir nos deparamos com uma dificuldade maior face às controvérsias existentes: “e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro” (v. 14). Quem seriam os exércitos que há nos céus? W. MacDonald entende que se tratam dos santos, portanto a igreja arrebatada, mas que não têm ordem para lutar, pois o Senhor Jesus derrotará os Seus inimigos sem a ajuda de ninguém. Outros comentaristas entendem que estes exércitos são hostes angelicais que virão participar dessa batalha com base em Judas 14-15. Por sua vez comenta R. David Jones: “Ele estará acompanhado pelos Seus exércitos compostos de anjos e dos Seus santos (ressurretos) que compõem a Sua Igreja”. Como vemos não há consenso. Pessoalmente entendo que nesse contexto não importa se os partícipes serão somente os anjos, ou a igreja arrebatada, ou ambos formando um só grupo, de fato o essencial será a vinda do Senhor Jesus para pôr fim ao império do terror, a proeminência será toda dEle.

Eis que é chegado o momento da resposta à pergunta de Pilatos: “Tu és rei?” (João 18:37). O Senhor Jesus não é um soberano qualquer, mas o Rei dos reis: “Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei dos reis e Senhor dos senhores” (vs. 15 e 16). Ele virá para derrotar completamente os poderes demoníacos que estarão a dominar a Terra e aqui estabelecer o Seu Reino milenar. Estamos diante do tempo determinado por Deus que nos remete à revelação de Paulo: "...então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda" (2 Tessalonicenses 2.8), e à do consagrado profeta do passado: "...ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso" (Isaías 11:4). O Senhor Jesus será o Rei Supremo, todos, sem exceção, serão submetidos à Sua absoluta onipotência, bastará uma única palavra da Sua boca, como se uma espada afiada fosse, para que os seus inimigos sejam derrotados.

O momento final é chegado: “Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes” (vs. 17 e 18). João agora tem a visão de um ente poderoso que se posta sobre o sol. A vestimenta desse anjo trará uma magnífica resplandecência ao reino da “besta” que estará mergulhado em trevas profundas (não deixe de ler Apocalipse 16:10; Mateus 24:29; Zacarias 14:6). João ouve a estrondosa voz desse anjo para uma solene convocação: “a grande ceia de Deus”. Esta será a maior devastação a ocorrer com a humanidade, não existe hipótese que isso não venha a se cumprir. Como diz J. Allen, “os maiores homens da Terra serão apenas pedaços de carne”.

Encerra-se, assim, o período da grande tribulação: “E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes” (vs. 19 a 21). É impressionante a arrogância da trindade satânica – o diabo, a besta e o falso profeta. Até o fim eles manterão a tola ilusão que poderão derrotar a Deus. A “besta” e os governantes deste mundo se atreverão a batalhar contra o Senhor Jesus e Seu exército celestial. A derrota, como era de se esperar, será implacável. A “besta” e o “falso profeta” serão lançados vivos no inferno onde ficarão para todo o sempre. Repentinamente esses dois homens mais poderosos do mundo à época serão subjugados. Seus comandados por certo ficarão dramaticamente desesperados. Todos aqueles que adorarem a besta e possuírem a sua marca serão mortos e posteriormente comparecerão no dia do juízo final. Este será o alto preço a ser pago pela humanidade por sua desobediência e afronta a Deus.

Não deixa de ser um quadro muito triste ao vermos um imenso contingente de pessoas destinadas à perdição eterna em virtude de sua arrogância e incredulidade. Cabe-nos, portanto, prezado leitor, alertarmos aos que estão rumo a essa condenação, ao mesmo tempo em que guardemos firmemente a exortação de Paulo a Timóteo: "Tu, porém, ó homem de Deus... guardes o mandato imaculado, irrepreensível, até à manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo; a qual, em suas épocas determinadas, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!” (1 Timóteo 6:11-16). Permita Deus que assim seja!

 


Capítulo 20 (1)

Pois então, prezado leitor, chegamos àquele que é considerado um dos capítulos mais polêmicos do Apocalipse e por isso faz-se necessária uma parte introdutória antes de iniciarmos a avaliação do contexto bíblico nele existente.

As controvérsias são tremendas, há autores que usam de linguagem um tanto hostil para defender o seu ponto de vista e, pessoalmente, não consigo compreender o motivo de tão grande alvoroço tendo em vista a absoluta clareza do texto bíblico contido neste capítulo.

Nele não há nenhum símbolo ainda não visto neste Livro que careça de uma interpretação mais rebuscada para que haja compreensão por aqueles que o leem. Eis o texto controvertido para muitos: Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos” (v. 6). Você poderá pensar: “Caramba! Como um texto que traz uma magnífica bem-aventurança pode ser tão controverso”. Esteja certo que isto fica por conta da falibilidade humana, por parte daqueles que quanto mais se sentem inseguros mais divergentes se tornam.

As contestações básicas são duas: (1) A existência do “reino milenar” regido pelo Senhor Jesus aqui na Terra e (2) quem serão os partícipes da “primeira ressurreição”, pois muitos incluem nela a ressurreição dos salvos na atual dispensação da Igreja. Assim interpretando, estão a asseverar que os cristãos autênticos passarão pelo período da grande tribulação, tornando, com isso, como se mentirosa fosse, a afirmação do consagrado apóstolo Paulo: “Jesus nos livra da ira vindoura” (1 Tessalonicenses 1:10).

Uma pergunta provavelmente você estará a fazer: “Como e por que surgiu toda essa desavença interpretativa?”. Como resposta, temos que ir ao período de trevas da cristandade. Na Bíblia de Jerusalém, comentada pelos “santos padres” da igreja católica, estão assim interpretados a primeira ressurreição e o reino milenar do Senhor Jesus: “Esta ressurreição dos mártires é simbólica; é a renovação da Igreja depois do término da perseguição romana... O reino de mil anos é, portanto, a fase terrestre do Reino de Deus, desde a queda de Roma até a vinda de Cristo... Para santo Agostinho e muitos outros, os “mil anos” se iniciam com a ressurreição de Cristo; a “primeira ressurreição” seria então o batismo... o milenarismo literal nunca foi favorecido na Igreja”. Não é preciso muito esforço para vermos o absurdo de uma interpretação como esta.

Essa ressurreição é absolutamente real, não simbólica como estão a afirmar, ou então, que se trata de uma “renovação da igreja”, no caso a católica, pois isto jamais existiu nessa igreja, o inverso á absolutamente verdadeiro, haja vista a recente renúncia do atual papa que não suportou as mazelas praticadas no seio daquela igreja. Terrível a afirmação que os “mil anos” estão a contar desde a queda de Roma até a vindoura chegada de Cristo, logo o Reino de Deus já está aqui através da igreja católica. Só que já se passaram “dois mil anos”, e não mil, entre um evento e o outro, mas para eles é tudo simbólico. A interpretação de Agostinho, então, é uma “pérola”! O milênio teria se iniciado com a ressurreição do Senhor Jesus e a “primeira ressurreição” seria o batismo, ou seja, para as crianças não serem pagãs e fazerem parte do reino divino aqui representado pela igreja católica é necessário que receba o Espírito Santo através da pia batismal. Dura coisa é ler e conseguir entender essa hermenêutica.

Mesmo com a chegada da reforma protestante, no século 16, essa interpretação errônea não foi completamente banida, tendo em vista que os “pais da reforma” vieram do seio daquela igreja e houve aqueles que entendiam que o Apocalipse não deveria nem fazer parte do cânone bíblico a ser usado pelos protestantes (hoje chamados de evangélicos), por acharem que além de simbólicos, aqueles acontecimentos, em sua grande maioria, já teriam ocorrido durante o império romano. Portanto, esse ranço interpretativo permaneceu até o século 18, quando Johann Albrecht Bengel, considerado o precursor do pré-milenarismo, começou a questionar esse enorme equívoco católico romano assim como de grande parte das denominações protestantes à época; posteriormente, no século 19, J. N. Darby deu prosseguimento ao entendimento de Bengel dando uma nova forma ao pré-milenarismo, ligando-o ao dispensacionalismo, cujos novos pontos de vista foram amplamente divulgados por C.I. Scofield, através de sua Bíblica de Referências. Por sinal, até hoje bastante criticada.

Por certo, a esta altura, o prezado leitor já pode estar achando um tanto enfadonha toda essa exposição contendo expressões compridas e estranhas, mas isto foi preciso para que cheguemos a uma compreensão exata acerca do motivo de tão grande desencontro de interpretações. Para melhor entendimento é preciso explicar quais são os argumentos de cada linha de pensamento. “Milênio” é uma expressão baseada na passagem contida neste 20° capítulo. A grande controvérsia existente diz respeito à posição teológica que cada comentarista possui acerca do retorno do Senhor Jesus, e o que acontecerá em relação a este período de “mil anos”. Três são os pensamentos a esse respeito, vamos a eles:

1. Amilenaristas – Não creem na existência de um período milenar. Para eles essa expressão é simbólica, portanto não pode ser interpretada literalmente e se respaldam para isso que para Deus um dia é como se mil anos fossem (2 Pedro 3:8). Estes pensadores se dedicam a “espiritualizar” as Escrituras, principalmente os acontecimentos apocalípticos. Como exemplos dessa crença interpretam que Israel é a Igreja, que o trono de Davi é o Céu, dentre outros equívocos. Para eles o “milênio” já é uma realidade para o cristão. Os amilenaristas negam que haja uma primeira ressurreição antes do milênio e uma segunda ressurreição para os não salvos depois do “milênio”. Entendem que existirá apenas uma ressurreição geral com os salvos e os não salvos. Segundo eles o retorno literal de Cristo não é a vinda aos céus para arrebatar os Seus e a vinda com os Seus para estabelecer o Seu reino milenar aqui na Terra. Eles asseveram que haverá somente um retorno quando o Senhor Jesus virá para julgar este mundo e, para isso, não será necessário estabelecer um reino na Terra, pois Ele já reina nos corações do Seu povo. Quando um método de interpretação bíblica descarta por completo o literalismo, abre-se a possibilidade de se colocar uma interpretação pessoal naquilo que diz as Escrituras. O argumento de Pedro é claríssimo a esse respeito, a Bíblia não é aberta para interpretações particulares, pois cada passagem tem um ensino específico (leia 2 Pedro 1:20-21). Portanto, aquilo que está determinado em um texto bíblico tem que ser comparado com o contexto em que ele se encontra.

2. Pós-milenarismo – É a “doutrina” que ensina que não haverá nenhum retorno do Senhor Jesus antes do fim do “milênio”. Esses creem que o “mundo inteiro” será evangelizado e convertido advindo disto um período milenar de paz e justiça ao fim do qual Jesus Cristo voltará. Simplesmente resumem que a Igreja fará com que o mundo melhore cada vez mais antes da vinda do Senhor. Eis um entendimento absurdo, pois dois mil anos se passaram e vemos em nossos dias que o inverso é absolutamente verdadeiro. Cada vez mais a humanidade está a se afastar de Deus e as consequências disto constatamos nos acontecimentos revelados neste Livro. As duas grandes guerras mundiais comprovam a crueldade existente nos corações dos humanos. Para garantir essa “melhora” do mundo antes da vinda do Senhor Jesus, esses religiosos pregam um “evangelho social”, do bem estar coletivo, da prosperidade material e da saúde perfeita. Essa crença esforça-se para satisfazer as necessidades básicas das pessoas achando que isso influenciará a sua natureza pecaminosa que será transformada em uma natureza espiritual. Todavia, não foi isso que o Senhor Jesus afirmou na parábola da viúva persistente: “quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18:8). Na verdade quando o Senhor Jesus voltar haverá somente um remanescente fiel a Ele. Esses tais defendem essa teoria respaldando-se em Mateus 24:14... “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim”. Por definição, o importante discurso do Senhor Jesus no monte das Oliveiras, contido em Mateus 24 e 25, é absolutamente profético e não diz respeito à atual dispensação, ele aponta para o período da tribulação e da Sua segunda vinda, e, como temos visto, reiteradamente, ao longo destes nossos estudos, a Igreja não participará deste contexto, pois antes do início da tribulação ela será arrebatada. A Bíblia enfatiza que o mundo piorará tanto mais perto estiver o retorno do Senhor Jesus (2 Timóteo 3:1-5). Ela deixa, com muita clareza, que não há nada de bom no homem carnal (Romanos 3:10-18; 7:18-19); que aqueles que praticam as obras da carne não herdarão o Reino de Deus (Gálatas 5:19-21). A melhoria das condições materiais, intelectuais ou meramente religiosas do homem jamais operará a sua salvação. Para que haja salvação é necessário um nascimento espiritual, pela Palavra de Deus e pelo Espírito (João 3:3-8). Se houvesse salvação fora do Senhor Jesus não haveria necessidade da Sua morte redentora. Se não houver a necessidade de arrependimento dos pecados e de se crer absolutamente no Senhor Jesus para que haja a salvação, não haveria o porquê de se pregar o Evangelho.

3. Pré-milenarismo – É o princípio doutrinário correto de que o Senhor Jesus voltará ao mundo com os Seus para aqui estabelecer literalmente o Seu Reino por exatos mil anos. Diz-nos a esse respeito J. Allen: “Em contraste com as outras duas posições, tanto a que nega um verdadeiro milênio como a que prega a sua introdução pela pregação do Evangelho, está o ensino pré-milenarista. Este foi, na verdade, o ensino claro dado nos primeiros séculos da história da Igreja, até o tempo de Agostinho (século IV). Este princípio também apresenta o fato bíblico de o que o reino prometido será estabelecido quando da volta dramática de Cristo à Terra com a derrota violenta dos exércitos de Satanás (Apocalipse 19:11-21). O reino milenar então estabelecido será um período de exatamente mil anos, quando Cristo e Seus santos reinarão sobre a Terra a partir de Jerusalém, a cidade capital. Israel, como nação, se reconciliará com Deus e será a principal nação sobre a Terra. A paz e a justiça serão evidentes no ambiente transformado da Terra, e todas as promessas do Velho Testamento a Israel e às nações serão literalmente cumpridas. Não será permitida qualquer manifestação de pecado, e toda a Terra será cheia do conhecimento de Deus. Sobre o mesmo princípio de interpretação, a Igreja será retirada da Terra no arrebatamento antes da tribulação e do milênio, o que podemos resumir assim:

1. Cristo virá pessoalmente, e literalmente, com poder e grande glória para estabelecer o Seu reino milenar sobre a Terra (Isaías 2:2-4; Daniel 7:13-14; Mateus 25:31-46).

2. Antes que isso aconteça haverá um período de tribulação que durará sete anos e assim se completarão as setentas semanas de Daniel 9:24-27. Israel, em particular, e as nações em geral, passarão pelos juízos de Deus durante estes anos (Jeremias 30:4-7; Daniel 7:7-15; 8:23-25; 9:20-27; Mateus 24:3-31; João 5:22-23; 2 Tessalonicenses 2:1-12). Este período será conhecido na Terra como o dia do Senhor.

3. Antes da tribulação, Cristo virá buscar a Sua Igreja, tirando-a da Terra (1 Tessalonicenses 4:13-18) e arrebatando-a ao Céu, dando início ao dia de Cristo, que inclui o Tribunal e as Bodas de Cristo com a Sua Igreja. Cristo trará a Igreja consigo quando voltar à Terra, e esta compartilhará com Ele o reino milenar...”.

Como vemos, prezado leitor, divergências como estas afastam as pessoas da verdadeira compreensão dos assuntos escatológicos e geram um entendimento açodado e com isso tão grande confusão. Na crônica que virá a seguir me dedicarei aos comentários do precioso trecho contido neste 20° capítulo. Enquanto isso, tenhamos em mente a exortação dada pelo apóstolo João, o mesmo autor de Apocalipse, em sua primeira epístola: Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai. E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar" (1 João 2:24-26). Permita Deus que assim seja!

 


 

 

Capítulo 20 (2)

Após a parte introdutória que vimos na crônica anterior, vamos às revelações contidas neste 20° capítulo onde contemplamos acontecimentos sobremodo importantes que virão após o terrível período de tribulação que está a expectar a humanidade rebelde a Deus:

1.      O estabelecimento do reino milenar do Senhor Jesus após o aprisionamento temporário do diabo (vs.1-3), e a completação da “primeira ressurreição” (v. 6) que teve início com Jesus Cristo – “as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20) – e será seguida pela ressurreição e arrebatamento da Sua Igreja (antes do início da grande tribulação conforme já vimos), das duas testemunhas durante o período atribulativo (Apocalipse 11:11-12), e se completará com a ressurreição (imediatamente antes do milênio) de todos aqueles que morreram pela fé desde a fundação do mundo juntamente com aqueles que se converteram durante a tribulação (vs. 4-6).

2.      Ao se completar os mil anos, o diabo será solto por um breve tempo para provar os corações dos nascidos durante esse período, haverá a última revolta daqueles que seguirão o diabólico sedutor, em seguida virá a segunda ressurreição para o julgamento e destino finais daqueles que se omitiram ou explicitamente rejeitaram a Deus em todos os tempos (vs. 7-15).

Pois então, caro leitor, vamos às visões de João:  Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo” (vs. 1-3). R. David Jones descreve de forma sucinta e com muita clareza acerca desse acontecimento:

“Um anjo desce do céu, segura o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, com uma grande corrente lança-o no abismo do qual tem a chave, fecha o abismo e o sela até que se completem os mil anos, ou milênio... Ele assim será impedido de enganar as nações durante esse período, mas depois será solto por um pouco de tempo. Em preparação para o reino de Jesus Cristo no mundo, haverá a ressurreição dos demais santos: os do Velho Testamento (Isaías 26:19, Daniel 12:2), e os do período da tribulação, aqui mencionados. Com isto se conclui a primeira ressurreição, da qual terá participado também a igreja mais de sete anos antes. Os santos de todos os tempos até então viverão e reinarão com Cristo durante o milênio. Embora não seja mencionado neste trecho, também sabemos que haverá um julgamento prévio pelo Senhor Jesus de todos os sobreviventes da tribulação, em que Ele separará os justos dos injustos, permitindo aos justos entrar no Seu reino enquanto os injustos serão banidos para o castigo eterno. Ele fez muitas declarações a esse respeito durante o Seu ministério, mencionando vários critérios, inclusive sobre o julgamento das nações gentílicas que terá por base a maneira em que tiverem tratado o Seu povo durante a tribulação (Joel 3:1-3 e Mateus 25:31-46)”.

Para que não se criem devaneios, embora não estejam aqui explicitados, é evidente que as hostes demoníacas não estarão à solta a perambular pelo reino milenar durante o aprisionamento do seu chefe a fim de preparar terreno para subverter o mundo a uma rebelião ao Senhor Jesus durante o seu breve tempo de soltura ao final do milênio (v. 3). Conforme vimos no capítulo 18:2 os demônios que por aqui estarão durante o período da grande tribulação serão confinados nas ruínas da Babilônia que, conforme Isaías 13:19-22 e Jeremias 50:39, nunca mais será habitada por seres humanos e, sem dúvida, será um lugar que será evitado durante o reino milenar por ser lá uma prisão de demônios. Portanto, sob nenhuma hipótese haverá manifestação demoníaca ao longo do reino milenar do Senhor Jesus.

Não convém, portanto, ficar a especular o motivo pelo qual o Senhor assim agiu, deixando essas hostes em confinamento nas ruínas babilônicas, e tão pouco tentar adivinhar se serão soltas por ocasião do breve período de atuação do diabo ao final do milênio. Se Deus não quis Se manifestar sobre isso agora, deixemos para saber no tempo oportuno, tendo sempre em lembrança que aqueles que atualmente fazem parte do povo de Deus, ou seja, aqueles que têm o Senhor Jesus como o seu absoluto Redentor, com Ele estará em Seu reinado e lá essas coisas ficarão inteligíveis.

João continua a ver: “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos”(vs. 4-6). Observamos claramente três conjuntos de pessoas nestes versículos que por certo farão parte do grupo daqueles que estarão assentadas nesses tronos. Vamos a eles:

  1. “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar”.  De plano somos levados a entender que esses que estão entronizados serão os mesmos que lemos em Apocalipse 4:4, cujos anciãos se referem à igreja arrebatada antes da grande tribulação. Perfeito esse entendimento. Todavia, aqui não vemos a especificação da quantidade de tronos como naquele capítulo, João simplesmente diz “vi também tronos”.Portanto, é lógica a avaliação que além da igreja arrebatada todos os “bem-aventurados” (v. 6) que participarão da “primeira ressurreição” (v. 6) lá estarão assentados com objetivo de coparticipar na “administração” do reino milenar do Senhor Jesus.
  2. “Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus”. Estes são os mesmos que vemos em Apocalipse 6:9-11, cujas almas estavam debaixo do altar de Deus e tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e do testemunho que sustentavam no primeiro período da tribulação. Eles estavam a clamar por vingança pelo sangue que estava sendo derramado, mas foi-lhes dito que repousassem e aguardassem até que se completasse o tempo estabelecido por Deus quando então os culpados seriam, e serão, julgados severamente pelos atos praticados.
  3. Finalmente, João vê também aqueles que “não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão, e, como os do grupo acima, não se submeteram ao jugo da besta e do falso profeta e por conta disso morreram, por certo de forma cruel, durante o segundo período da grande tribulação. Vemo-los, agora, ambos os grupos de mártires, como partícipes da “primeira ressurreição” (v. 6), com aqueles que viverão e reinarão com o Senhor Jesus durante o milênio. Jamais haverá qualquer humilhação ao povo de Deus, pois Ele enxugará "as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o Senhor falou"(Isaías 25:8).

Lemos neste capítulo acerca da quinta “bem-aventurança” (v. 6) das sete declaradas neste Livro. Atente para expressão aqui usada por João:  Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição”. Nesta, ele acrescenta a palavra “santo” que, como diz J. Allen, “para demonstrar como Deus tem colocado tais salvos à parte na sua bem-aventurança... com a garantia de que nunca morrerão novamente, em nenhum sentido... serão sacerdotes de Deus e de Cristo... e reinarão com Cristo. Eles não serão somente sacerdotes, mas irão compartilhar do governo de Cristo...”. Que tal, prezado leitor, estar entre estes? Sem dúvida será a sublimidade de todo aquele que hoje crê com autenticidade no Senhor Jesus. Leve em consideração que a próxima ressurreição (e concomitante arrebatamento) será daqueles que fizeram e fazem parte da Sua Igreja.

A esta altura você poderá estar a se perguntar: – Por que tanta controvérsia para um período tão importante para a história da humanidade, gerada por aqueles que refutam a ideia do vindouro reino milenar do Senhor Jesus, apesar de se considerarem cristãos, tendo em vista que somente neste capítulo, dos versículos 2 a 7, seis vezes é mencionado o milênio? Oportuna, caso seja esta a sua indagação caro leitor. O equívoco está na exegese adotada, conforme exposto na crônica anterior a esta. Segundo a interpretação dispensacionalista, a meu ver absolutamente correta, sabemos que esta é a sétima e última dispensação – a do Reino. As outras que antecedem a esta são: Inocência (Gênesis 1:28); Consciência (Gênesis 3:7); Governo Humano (Gênesis 8:15...); Promessa (Gênesis 12:1-2); Lei (Êxodo 19:1...); Igreja (Atos 2:1...).

Segundo C. I. Scofield, que popularizou a escola futurista de interpretação do Apocalipse e do pré-milenarismo dispensacionalista entre os cristãos fundamentalistas, cuja teologia fora concebida nos inícios do século 19 pelo teólogo anglo-irlandês J. N. Darby, que foi bastante influente entre os conhecidos Irmãos de Plymouth, a Dispensação do Reino une em si mesma e debaixo de Cristo as várias “épocas” mencionadas nas Escrituras, a saber:

  1. O período de opressão e desgoverno termina quando Cristo estabelece o Seu reino (Isaías 11:3-4).
  2. O período de testemunho e paciência divina termina em julgamento (Mateus 25:31-46; Atos 17:30-31; Apocalipse 20:7-15).
  3. O período de luta termina em repouso e recompensa (2 Tessalonicenses 1:6-7).
  4. O período de sofrimento termina em glória (Romanos 8:17-18).
  5. O período de cegueira e castigo de Israel termina em restauração e conversão (Ezequiel 39:25-29; Romanos 11:25-27).
  6. O tempo dos gentios termina no desmoronamento da imagem e no estabelecimento do reino dos céus (Daniel 2:34-35; Apocalipse 19:15-21).
  7. E o período da escravidão da criação termina em livramento e manifestação dos filhos de Deus (Gênesis 3:17; Isaías 11:6-8; Romanos 8:19-21).

Este será o contexto do reino milenar do Senhor Jesus que sem dúvida existirá, caro leitor, e nele participarão todos que O aguardam. Estes terão galardão, a coroa da justiça lhes estará reservada a qual o Senhor dará naquele dia a todos quantos amam a Sua vinda (2 Timóteo 4:8). Que você, prezado leitor, esteja entre estes. Permita Deus que assim seja!

 

 


 

CAPÍTULO 20 (3)

Quanto à segunda parte deste capítulo (vs. 7-15), para que haja maior facilidade de entendimento do conteúdo exposto por João é necessário subdividi-la em duas etapas: (1) a soltura do diabo para provar os corações dos nascidos durante o reino milenar do Senhor Jesus, cuja ocasião haverá a revolta daqueles que seguirão o engano diabólico sedutor (vs. 7 a 10), e, posteriormente, (2) a segunda ressurreição para o julgamento e destino final daqueles que se omitiram ou explicitamente rejeitaram a Deus em todos os tempos (vs. 11 a 15).

Você agora poderá estar a indagar, prezado leitor: “Já chegamos ao final do milênio? A parte anterior não deixou revelado nada de como será a vida durante período?”. Não é preciso que neste capítulo seja exposto, pois tudo a esse respeito já fora anteriormente revelado nas Escrituras. Não se esqueça de que, apesar das absurdas interpretações contrárias à existência do reinado milenar do Senhor Jesus Cristo, são muitas as passagens contidas no Velho Testamento que falam acerca desse notável período, que ainda é aguardado pelos judeus ortodoxos com a chegada do Messias prometido, que já veio e eles O mataram, e esperado pelos filhos de Deus da atual dispensação por terem a convicção de que serão coparticipantes desse magnífico reino.

Portanto, somente para exemplificar, dentro do contexto interpretativo, acerca do dia que “o Senhor será o rei de toda terra; naquele dia um só será o Senhor, e um só será o seu nome” (Zacarias 14:9), serão estabelecidas, dentre outras coisas, as seguintes mudanças:

1. Mudanças geográficas – Zacarias 14:4 e 5b... “Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade, para o sul... então virá o Senhor meu Deus, e todos os santos com ele”.

2. Mudanças cósmicas – Zacarias 14:7... “Mas será um dia singular conhecido como do Senhor; não será nem dia nem noite, mas haverá luz à tarde naquele dia”.

3. Mudanças climáticas – Zacarias 14:8... Naquele dia, também sucederá que correrão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e a outra metade, até ao mar ocidental; no verão e no inverno, sucederá isto”.

4. Mudanças na vida animal – Isaías 11:6-9... "O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar".

5. Mudanças na vida vegetal – Isaías 35:1-2... "O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso. Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará; deu-se-lhes a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus".

6. Mudanças nas relações entre as nações – Isaías 11:11-12... "Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada. Naquele dia, o Senhor tornará a estender a mão para resgatar o restante do seu povo... Levantará um estandarte para as nações, ajuntará os desterrados de Israel e os dispersos de Judá recolherá desde os quatro confins da terra...”.

7. Mudanças biológicas – Isaías 35:5-6... "Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará...”; Isaías 65:20... "não haverá mais nela criança para viver poucos dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem anos é morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado".

Sobre este último item, muitas especulações são levadas, todavia, conforme diz R. David Jones a esse respeito, “a morte no milênio é destinada aos injustos. Os justos viverão até o fim. Não tendo morrido, não precisam ser ressurretos. Jeremias 31:31-34 parece indicar que todos os judeus, durante o milênio, serão fiéis ao Senhor. Veja também Zacarias 8:4”.

Há muitas outras passagens nas Escrituras acerca desse reino, mas entendo que os exemplos acima são suficientes para uma plena compreensão. Vamos, portanto, aos versículos seguintes deste capítulo:

“Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu” (vs. 7 a 9). É incrivelmente incompreensível o número de pessoas que se rebelarão contra o Senhor Jesus ao final do Seu reino milenar de paz e absoluta justiça: “O número dessas é como a areia do mar” (v. 8). A pergunta primeira que vem à mente é por que o Senhor permitirá que algo tão inconsequente aconteça?

Isto está, caro leitor, dentro dos atributos extraordinários do Deus Todo-Poderoso. Ele criou criaturas racionais com livre-arbítrio e deu a elas o poder de decidirem por si. Ele não criou autômatos e nem os predestinados como muitos religiosos ensinam equivocadamente. Aquela imensa multidão que será gerada durante o milênio terá que ser provada, assim como foi com o primeiro homem e como ocorre com todos os humanos em nossos dias. Os que nascerão naquele período terão a mesma mortificação espiritual e genética adâmica e, por isso, é preciso que se convertam ao Senhor Jesus para serem regenerados. Somente através desse entendimento é que se poderá compreender tão estúpida rebelião contra o Senhor Jesus ao final do milênio, mesmo estando eles habitando em mundo de extrema harmonia entre todas as coisas criadas por Deus.

Como entender essa postura? Basta lembrarmo-nos do ocorrido com Adão, que habitava em um lugar magnífico, perfeito, preparado com todo esmero por Deus, não lhe faltava absolutamente nada e, ainda assim, ele O desobedeceu por causa da soberba que intuitivamente foi incutida em sua mente pelo deus do presente século – o diabo. Com isso, como diz Paulo, o pecado se universalizou: "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12).

Triste será o fim de tamanha ousadia desses que se rebelarão: “desceu, porém, fogo do céu e os consumiu” (v. 9). Como diz W. Hoste: “Que tristeza! Mais uma vez se provará que o ser humano, quaisquer que sejam suas vantagens e seu ambiente, a não ser pela graça de Deus e pelo novo nascimento (espiritual), permanece, no seu íntimo, perverso e em inimizade contra Deus”.

Antes de encerrar esta parte, creio ser oportuno um breve comentário sobre a introdução de certa forma abrupta da expressão “Gogue e Magogue” no versículo 8, como se estivesse a indicar a localização dos “quatro cantos da terra”, e não são poucos que a interpretam como sendo onde atualmente está localizada a Rússia. Nada a ver! J. Allen faz as seguintes considerações: “Uma explicação razoável é ver a frase como estando em aposição aos “quatro cantos da terra”, e depois traduzir as palavras ao invés de simplesmente transliterá-las. Sendo que (no vernáculo original) Gog significa “extensão” e Magog “expansão”, as palavras então simplesmente descreveriam a extensão e o alcance da tentativa satânica de juntar forças contra a capital do Reino de Cristo”. Como essas mesmas palavras aparecem em Ezequiel, (capítulos 38 e 39) alguns são levados a entender que o contexto é o mesmo, mas são coisas completamente diferentes, nesta última invasão o comandante será o próprio Satanás ao passo que não se vê isso na passagem descrita pelo antigo profeta.

Prossegue João: “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (v. 10). Finalmente a humanidade estará livre dessa hedionda figura criminosa que ao longo dos milênios esteve a atormentá-la. De imediato à sua derrota e consumação dos rebelados, Satanás será lançado para o lugar para ele preparado onde lá estarão à sua espera as duas “bestas humanas” que o serviram ao longo do período da grande tribulação. Este é o lugar revelado pelo Senhor Jesus: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mateus 25:41).

Atente para algo de extrema importância, prezado leitor, que põe por terra o argumento de muitos de que o tormento eterno não existe por ser Deus um Deus de amor. Quando o diabo for lançado para o fogo eterno, lá ainda se encontram os seus dois coadjuvantes humanos na grande tribulação. Observe que para ali eles foram lançados mil anos antes desse acontecimento e permanecem vivos em tormentos. Portanto, não existe hipótese de não existir um lugar de sofrimento eterno, afastado permanentemente de Deus e de Seus remidos. Os que para lá forem manterão suas consciências e serão atormentados dia e noite, todos os dias, para todo o sempre.

Quão terrível é ir para este lugar, prezado leitor. Espero em Deus que você já tenha a mais absoluta das certezas de que para lá não irá, por estar, desde já, coberto pela graça do Senhor Jesus. Bem haja se assim já o fez, se não, faça-o agora. Permita Deus que assim seja!

 


 

 

CAPÍTULO 20 (4)

Na parte final deste capítulo (vs. 11 a 15) a visão de João é sobremodo espantosa. Não no sentido de causar medo, mas por trazer profunda admiração por ser algo digno de apreciação. Diz-nos João: "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles" (v. 11). O Céu e a Terra sumiram! É como se tudo estivesse suspenso no espaço.

Atente, prezado leitor, para a expressão de João, ele não mais conseguia ver a Terra e o Céu. Por certo poderá surgir uma indagação em sua mente: “Mas como desapareceram? Em não havendo mais Céu e Terra para onde foi aquela imensa multidão de salvos durante o reino milenar do Senhor Jesus, pois, por definição, estes não comparecerão perante esse trono?” Sem dúvida uma boa pergunta tendo em vista que neste capítulo nada consta a esse respeito, apenas que as coisas visíveis “fugiram”.
 
Não podemos deixar de lembrar, sob nenhuma hipótese, que o “contexto” das Sagradas Escrituras é perfeito, pois foi por Deus estabelecido e muitos em nossos dias estão a se esquecer disso. Observe, prezado leitor, o que Pedro diz a respeito desse dia: “o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas” (2 Pedro 3:10). Note que ele fala em “céus”? E tinha que ser, pois vemos nas Escrituras a descrição de três céus, a saber:

  1. Atmosférico – É o ar que nos rodeia e, segundo Paulo, é a região dimensional de Satanás – “o príncipe da potestade do ar” (Efésios 2:2);
  2. Astronômico – Lugar dos astros, o espaço sideral (Jó 38:31-33);
  3. Domicílio de Deus – Diz Paulo: “Conheço um homem (ele próprio) que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem... foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir..." (2 Coríntios 12:2-4). Como vemos, Paulo afirma que foi arrebatado ao “terceiro céu” que ele identificou como o “paraíso”. Segundo João, em Apocalipse 2:7, trata-se do “paraíso de Deus”, ou seja, a morada de Deus, de seus anjos e de seus santos que já estão na Sua presença, como disse o Senhor Jesus ao malfeitor redimido na cruz: “Em verdade te digo que hoje estará comigo no paraíso” (Lucas 23:43).

Pois então, respondendo a sua pergunta, o contexto bíblico deixa de forma bastante clara a existência desses “três céus”. O que João não está mais a ver é o “firmamento”. Os céus, atmosférico e astronômico, que foram criados por Deus, conforme lemos em Gênesis, mas o “terceiro céu” permanecerá inalterado, e todos os remidos do Senhor, desde a fundação do mundo, até o início do Grande Dia do Senhor, com Ele estarão quando “a terra e o céu”sumirem, pois esta é a promessa transmitida por Paulo: “estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:17).

Para sempre não é de vez em quando, mas a todo instante. “Sim”, você dirá! Mas também interrogará: “Não vemos nesse texto que estaremos junto a Ele no Grande Trono Branco?” Se assim pensar será engano seu, veja o que nos diz Paulo: "Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?” (1 Coríntios 6:2-3). Portanto, lá com Ele estarão os Seus.

“Ah! Mas neste texto não cita os anjos?” É verdade, porém o contexto bíblico diz: "... e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia" (Judas 6). Portanto, conforme diz Judas, o meio-irmão do Senhor Jesus, os anjos caídos estarão entre aqueles que serão julgados no Grande Dia do Juízo Final. Leia também 2 Pedro 2:4. Pessoalmente, tenho absoluta convicção de fé que lá estarei como partícipe desse julgamento, mas não como réu.

Voltemos ao texto do versículo 1. Naquele dia não existirá lugar onde se esconder, pois é chegado o Grande Dia que foi contemplado de longe pelo antigo profeta: "Ah! Que dia! Porque o Dia do Senhor está perto e vem como assolação do Todo-Poderoso" (Joel 1:15). Escreve W. MacDonald acerca desse grande trono branco: “É grande por causa das questões envolvidas e branco devido à perfeição e pureza dos vereditos que ali serão dados”. Nele estará assentado o Senhor Jesus como justo Juiz. O Pai Lhe confiou todo o julgamento e Lhe deu autoridade para julgar (João 5:22-27). Não haverá escapatória. Aqueles, em todos os tempos, desde a fundação do mundo, que não fizerem parte da bem-aventurada “primeira ressurreição”, comparecerão diante do trono do Juízo de Deus.

Fico a pensar, prezado leitor, na reação que esses réus terão. Ao longo de suas vidas muitíssimos estiveram a escarnecer de Deus e naquele Dia ali estarão face a face com Aquele que tanto ridicularizaram. Outros viveram professando uma fé enganosa, conforme nos diz o Senhor Jesus: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mateus 7:21-23). Quantos desses vemos em nossos dias, não é mesmo? Poderá vir à mente a expressão: “Bem feito! Fizeram por merecer”. Entretanto isso me pesou ao coração, pois talvez eu tenha falhado em meu testemunho, me omitido diante das oportunidades que surgiram, ou então não tenha me esforçado como deveria em manifestar a minha fé e, por conta disso, alguns (ou muitos) lá estarão.
 
Prossegue o consagrado apóstolo: "Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras" (vs.12 e 13). Atentemos para as expressões: mortos, grandes e pequenos, o mar, a morte e o além deram os “mortos” que lá se encontravam. Não haverá nenhuma exceção, nenhum esconderijo possível. Todos estarão nivelados, não mais importando a condição social que tiveram, a cor da pele, o poder econômico e a inteligência que possuíram quando em vida. As sepulturas, os tragados pelo mar e o “além”, local onde se encontram as almas daqueles que estão em tormentos no aguardo do Juízo de Deus, estarão ressurretos diante do reto Juiz.

Os livros serão abertos, inclusive o Livro da Vida. Nenhum dos que serão julgados nesse Dia estarão inscritos nesse Livro. Nele constarão somente aqueles que fizeram parte da “primeira ressurreição” conforme já vimos. Mas será importante a apresentação do Livro da Vida para que saibam que todos tiveram a mesma chance que foi negligenciada quando vivos, portanto não haverá justificativas. Como diz Paulo: "porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis" (Romanos 1:19-20).

Atentemos, também, para a expressão de João: “E foram julgados, um por um, segundo as suas obras". O Juízo será individual – “um por um” –, logo a punição eterna que terão será segundo os seus feitos enquanto em vida. A esta altura você poderá arguir, prezado leitor: “Pera lá, quanto tempo levará para que este julgamento se complete dada a quantidade imensurável daqueles que serão julgados?” Neste momento a contagem de tempo não será a mesma que conhecemos. Consensualmente entende-se que há três medidas de tempo: O “khronos” que se refere ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, ou seja, o nosso tempo; “kairós” refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece; e o “aión” que no grego tem por significado “idade ininterrupta”, “sempre-existente”, “perpetuidade” ou simplesmente “eternidade”, diz respeito ao tempo divino e eterno, sem uma medida determinada, onde as horas não passam cronologicamente, portanto este é considerado o tempo de Deus e nele ocorrerá o Seu Juízo. Nesse triste acontecimento a queda das horas não será sentida como em nossos dias. Digo triste, pois enquanto "preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos" (Salmo 116:15), Deus não se regozija com a morte do pecador: "Acaso, tenho eu prazer na morte do ímpio? – diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?" (Ezequiel 18:23).

Surge outra questão: Que escala de punições haverá se cada um destes será julgado“segundo as suas obras”? Não sabemos, Deus não quis deixar revelado e isso nos basta. Diz a esse respeito W. MacDonald: “O fato dos seus nomes não estarem no Livro da Vida os condena, mas o registro de suas obras más determina o grau do castigo ... Assim como haverá graus de recompensa no Céu, também haverá graus de castigo no inferno, determinados com base nas obras dos incrédulos”. O que nos importa, hoje, prezado leitor, é termos a maior das certezas que não estaremos entre estes que irão para a perdição eterna.

João finaliza esta sua visão: "Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo" (vs. 14 e 15). O final revelado é inexorável, porém inquestionável. Este será o estado eterno dos maus, dos indiferentes, dos omissos, daqueles que acham que a Bíblia é um livro de contos, mitos ou lendas. Isto lhes custará extremamente caro, porque a vida não terá fim mesmo depois da segunda morte, ao contrário, para estes a vida continuará em um lugar de terrível sofrimento: “o lago de fogo”. O Juízo de Deus será eterno! A “primeira morte” é provisória, faz a separação do corpo físico da alma e espírito, a “segunda morte” é eterna, será a completa separação de Deus.

H. V. Alford faz um oportuno destaque acerca dos “livros” que serão abertos no Dia do Juízo Final com o Livro da Vida, de que eles serão testemunhas independentes de um mesmo fato: o registro da Terra (os livros que serão abertos) revelará através das “obras” que não há evidência de “vida divina”, ao passo que, o registro do Céu (o Livro da Vida), mostrará pela ausência do nome que nunca houve “vida” naqueles que estarão perante o Grande Trono.

Portanto, caro leitor, é de fundamental importância que você esteja convicto que o seu nome já consta no Livro da Vida. Tenha em mente aquilo que o Senhor Jesus asseverou por ocasião do regresso dos setenta discípulos que Ele encaminhou para uma missão, que se regozijavam pelos demônios que se submetiam à autoridade que lhes fora outorgada pelo Senhor Jesus: “...alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus” (Lucas 10:20). Isso é o que importa, conforme nos diz Paulo: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9). Permita Deus que assim seja!

 

 


 

CAPÍTULO 21 (1)

A partir deste capítulo chegamos ao “Estado Eterno”, sem dúvida estaremos nesta crônica diante de algo extremamente estupendo, sem precedentes. Como então explicar a quase ausência completa desse assunto entre os cristãos? No máximo se limitam em falar da “eternidade”, mas não se atrevem em citar estes textos como parte daquele contexto. Não são poucos os que acham que este texto um tanto mítico, utópico, difícil de crer que assim será, tornando-o como algo meramente simbólico como a imaginária ilha da Terra do Nunca do escritor escocês J.M. Barrie. Estejamos absolutamente certos, prezado leitor, que estamos diante de fatos absolutamente reais que acontecerão no porvir, pois estamos diante de uma revelação divina, do Todo-Poderoso, para Quem não existem impossíveis.

Estamos a findar as nossas meditações acerca das notáveis revelações contidas em Apocalipse. Antes de analisarmos os textos dos dois últimos capítulos restantes deste magnífico Livro, analisemos as “sete coisas novas” e as “sete últimas coisas” nele transcritas

AS COISAS NOVAS (21:1 a 22:5)

  1. Um Novo Céu (21:1) – Como já vimos no capítulo anterior o terceiro Céu é eterno por ser a habitação de Deus, portanto esse “novo céu” visto por João substituirá o primeiro céu (atmosférico) e o segundo céu (o astronômico) que hoje conhecemos. Como ele será? Particularmente acho que será algo deslumbrante, mas não convém especular. Saberemos quando lá estivermos. Os que forem condenados à perdição eterna jamais verão o resplendor desse novo Céu.
  2. Uma Nova Terra (21:1) – Eis uma expectativa gloriosa para todo aquele que crê em Deus e em Suas revelações contidas nas Sagradas Escrituras. Na nova Terra, não mais haverá desgraça; nem mais dor; nem mais fome; nem mais sede; nem mais pesar; nem mais lágrima; nem mais mar; nem mais morte; nem mais pecado; nem mais noite. Como disse Paulo: "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Romanos 8:18). Portanto, caro leitor, diante disto deveríamos vivenciar em nossos dias os valores da eternidade, para onde irá todo aquele que tem o Senhor Jesus como seu verdadeiro Redentor.
  3. Uma Nova Jerusalém (21:2) – Pela descrição que veremos ao longo deste capítulo ela será uma cidade fantástica, fulgurante, de extraordinária beleza. Como diz W. Newell, “será uma cidade real. Tudo sugere a realidade – ouro, ruas, dimensões, pedras. Esta cidade “desce”, pois é impossível construir uma cidade santa aqui. Neste novo lar da igreja todos os materiais serão providenciados por Deus”. Esta nova cidade que desce do céu será um lar, conforme expressão contida no Salmo 23:6... “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”. A expressão usada por Davi – habitar – tem o significado de “estar em casa”. É assim que se sentirão os que lá estiverem.
  4. Uma Nova Comunhão (21:3) – Aquilo que foi desligado no jardim do Éden com a queda de Adão (Gênesis 3) agora estará restaurado para sempre. O primeiro homem perdeu a comunhão que tinha com o Criador por sua tresloucada desobediência, mas doravante não haverá mais essa hipótese. A visão de João é a de Deus habitando com os homens. Nada poderá quebrar esta nova comunhão, pois as primeiras coisas são passadas (21:4). Sem dúvida um notabilíssimo dia! Se os que dizem crer em Deus mantivessem em suas mentes esta mesma visão de João, a de estarem entre aqueles que habitarão com Deus, por certo suas vidas teriam outro sentido.
  5. Um Novo Santuário (21:22) – É novo porque não mais existe o velho! Diz João: “Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor”. Já não mais será necessário. Com a presença do Deus Todo-Poderoso o local se torna absolutamente sagrado. Os demais santuários outrora existentes eram apenas sombras do verdadeiro. Não mais haverá tabernáculos, templos, ritos, sacrifícios ou petições, dada a presença de Deus junto aos Seus. O antigo profeta, quando teve uma visão semelhante à de João, recebeu a revelação de que Deus não habita em edifícios construídos por mãos humanas: "Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o Senhor" (Isaías 66:1-2).
  6. Uma Nova Luz (21:23-25; 22:5) – "Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite... para alumiar a terra... o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas. E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra" (Gênesis 1:14-17). Não mais serão necessários esses corpos celestes para a iluminação do universo como um todo, pois Deus e o Cordeiro proverão toda luz necessária. Não mais haverá noite, o dia será eterno: "A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada" (21:23) ... Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (22:5). O mundo do porvir será mais brilhante, pois irá refletir a glória eterna do Senhor Jesus.
  7. Um Novo Paraíso (22:1-5) – Chegamos ao apogeu, ao clímax, da Redenção. Ao ler acerca desse novo Jardim me senti como se um pedaço do céu descerá sobre mim. Senti sede ao ler sobre o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus; senti fome ao ler sobre a árvore da vida que fica no meio da praça e produz doze frutos, que devem ser deliciosos; senti grande alívio, pois nunca mais haverá qualquer maldição; um sentimento de iluminação me invadiu, pois no novo paraíso não mais haverá noite, nem velas ou lâmpadas, nem da luz do sol porque o Senhor Deus brilhará sobre os seus habitantes para todo o sempre. Ó Glória!

AS ÚLTIMAS COISAS (22:8 a 21)

  1. A Última Testemunha (22:8) – “Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas”. O consagrado apóstolo deixou expresso o seu referendo sobre aquilo que escrevera. Ele tinha a mais absoluta das certezas de que transcrevera “palavras fiéis e verdadeiras” (22:6) que lhes foram transmitidas pelo anjo que lhe revelou as coisas que em breve devem acontecer. Ele foi a última testemunha, o último profeta, o último servo, o último apóstolo que teve comunicação direta com o Eterno. Os que estão a surgir em nossos dias não passam de titulação barata para atenderem as suas vaidades. Já houve quem dissesse que entre o querer ser e o crer que se é, vai a distância entre o sublime e o ridículo (Ortega y Gasset).
  2. A Última Bem-Aventurança (22:14) – A penúltima bem-aventurança está contida no versículo 7 deste mesmo capítulo e é estendida a todos que guardam as palavras da profecia contida neste Livro, e por último João declara que serão bem-aventurados aqueles que estão redimidos pelo sangue do Cordeiro, porque a estes está assegurado o direito de acesso à árvore da vida e de entrarem na cidade santa.
  3. O Último Convite (22:17) – Infeliz daquele que passar por esta vida e não aceitar a este último convite contido nas Sagradas Escrituras: “Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. Sobre os que rejeitam esse convite paira o terrível juízo da segunda morte, pois irão para o lago que arde com fogo e enxofre (21:8).
  4. A Última Advertência (22:18-19) – Ai daquele que fizer qualquer adulteração nas palavras contidas neste Livro, Deus o tratará de forma extremamente severa. Impressionante como nos dias atuais isto não é levado a sério tendo em vista a imensa quantidade dos que se dizem cristão e ficam a falsear a verdade através das suas prédicas e “sinais”, que não passam de posturas pessoais para atender os seus anseios e deleites. Nunca é demais lembrar a advertência do Senhor Jesus: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mateus 7:21).
  5. A Última Promessa (22:20) – A testemunha fiel e verdadeira, o próprio Senhor Jesus, confirma a autenticidade das palavras ditas pelos dois anjos por ocasião da Sua ascensão ao Céu: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo que o vistes subir” (Atos 1:11). Jesus reitera no penúltimo versículo deste Livro essa magnífica promessa: “Certamente venho sem demora”.
  6. A Última Oração (22:20) – Não parei para conferir, mas provavelmente esta seja a oração mais breve contida na Palavra de Deus, cujo significado é extraordinária para cada um daquele que crê na vinda do Senhor Jesus para buscar e estar com aqueles que Lhe pertence: “Amém. Vem Senhor Jesus”. João não tinha mais palavras para se expressar diante de tamanha revelação final que o Senhor lhe dá, asseverando a Sua volta.
  7. A Última Bênção (22:21) – Chega-se ao fim! “A graça do Senhor Jesus seja com todos”. E com esta bênção encerro a parte introdutória ao presente capítulo, tendo em firme lembrança as palavras de Paulo: "Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda" (2 Timóteo 4:8). Que esta seja a sua convicção, prezado leitor. Permita Deus que assim seja!

 

 

 


 

CAPÍTULO 21 (2)

Tão logo é encerrada a visão do juízo do Grande Trono Branco (20:11-15), de imediato João contempla a magnífica criação do porvir, absolutamente novíssima, as coisas passadas jamais serão vistas: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (v. 1). Ele está a visualizar algo nunca dantes visto, não uma simples renovação, mas o “Estado Eterno”. Portanto, não há hipótese alguma para se interpretar que esse “novo tempo” seja o milênio, pois é algo muito acima do novo ou do diferente. Fico a imaginar a Terra sem o mar que hoje conhecemos que ocupa quase três-quartos da superfície do nosso planeta. Como diz J. Allen. “Deus estabelecerá uma ecologia para a Terra e uma fisiologia para a criatura que serão totalmente diferentes daquelas que conhecemos no presente”.

Continua João em suas visões: “Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo” (v. 2). O consagrado apóstolo está tendo uma magnífica visão, a mesma que o escritor aos Hebreus descreveu como a “cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hebreus 12:22). Esta cidade estava dentro das expectativas de Paulo ao afirmar: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3:20). Que esta seja a sua mesma expectativa, prezado leitor.

Como não podia deixar de ser, há os que insistem em asseverar que essa nova cidade se trata da Igreja, face à expressão contida nesse versículo: “ataviada como noiva adornada para o seu esposo”. Acerca disso, J.F. Walvoord faz uma oportuna consideração: “O que temos aqui não é a Igreja por si própria, mas uma cidade ou habitação tendo o frescor e a beleza de uma noiva adorada para o seu casamento com seu marido”. Portanto, não há nenhum motivo para não a considerar como uma cidade verdadeira e não simbólica como alguns afirmam. O Senhor expôs de forma clara que haveria um lugar para onde Ele iria a fim de preparar um local para os Seus: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14:2-3). Esta é a cidade que Abraão ansiava habitar. Pelos olhos da fé ele a viu, ainda que tão distante do seu tempo, "porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hebreus 11:10).

Por certo ainda perplexo diante de tão grandiosas visões, chega aos ouvidos de João uma poderosa voz: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (vs. 3-4). Todo o propósito de Deus estará sendo cumprido neste notável momento. Todavia, há os que teimam em levantar questões sobre a comunidade que estará a habitar na nova Jerusalém. Além da Igreja de Deus: "Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (Apocalipse 3:12), nela também habitarão todos aqueles que, em todas as épocas, criam e aguardavam as promessas de Deus acerca da Redenção de seus corpos e a certeza da vida eterna em Sua presença. Diz acerca disso C.I. Scofield: “A nova Jerusalém é o lugar de habitação dos santos de todas as dispensações através da eternidade e cumpre a esperança de Abraão quanto à cidade celestial (Leia Hebreus 11:10-16 e compare com Hebreus 12:22-24)”.

A expressão ouvida por João: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (v. 4), não traz em si o significado que na eternidade existirão esses sofrimentos. A ênfase do texto é para deixar claramente evidenciado que nunca mais haverá qualquer forma de maldição. Aqueles que lá estarão jamais chorarão, pois suas lágrimas foram completamente enxugadas e no passado ficaram; a morte jamais existirá porque no “Estado Eterno” não mais haverá “separação”, este é o significado da morte; nem tampouco a dor, pois ela foi uma das primeiras consequências do pecado (leia Gênesis 3:16) e este nunca mais surgirá, pois será completamente banido da presença de Deus.

Essa interpretação é ratificada por W. MacDonald: “A expressão lhes enxugará dos olhos toda lágrima não significa que haverá lágrimas no céu. Trata-se de uma forma poética de dizer que não haverá! Também a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor. O povo de Deus nunca mais experimentará tais aflições. Aquele que está assentado no trono fará novas todas as coisas. Suas palavras são fiéis e verdadeiras e certamente se cumprirão”. Isto é plenamente confirmado pela voz que João ouve diretamente do Trono de Deus: “E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras” (v. 5). Pois então, prezado leitor, como pode existir tão imensa multidão que ainda insiste em não fazer parte desses quer herdarão essa nova cidadania? Espero em Deus que este não seja o seu caso.

Prossegue João: “Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho” (vs. 6-7). “Tudo está feito”! Esta notável expressão nos remete à crucificação do Senhor Jesus quando Ele exclamou: “Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (João 19:30). Aquele Seu brado de vitória continuará ecoando até este momento, o magnífico momento da criação do “Estado Eterno” que compreende o novo Céu, a nova Terra e a nova Jerusalém, porque Ele é o “Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” de todas as coisas. Nele foi originada a primeira criação e nEle tudo será aperfeiçoado nessa nova criação. Somente Ele satisfará as necessidades daqueles que são Seus, jamais terão sede porque Ele dará de graça da fonte da água da vida conforme a Sua promessa quando aqui esteve: “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; ao contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (João 4:14).

Magnífica a promessa contida nesse texto: “O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho” (v. 7). Nada, absolutamente nada neste mundo poderá substituir tamanha herança! Todo aquele que crê, desde já tem o Pai, o Deus Todo-Poderoso, para sempre, se tornando, portanto, verdadeiramente um filho de Deus. Daí a importância de sermos vencedores e para isso nada neste mundo poderá nos separar do Amor de Deus, conforme escreve Paulo: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8:37-39). Essa era a absoluta convicção do consagrado apóstolo, pois ele cria firmemente que não era um bastardo espiritual, pois confiava nAquele que afirmou: eu vos receberei... serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso" (2 Coríntios 6:17-18).

E como haveremos de ter certeza de que já somos vencedores? O mesmo apóstolo João, em sua primeira epístola, nos responde: "todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?" (1 João 5:4-5). Quem não tiver essa fé vencedora, não nascer de Deus, pela Palavra e pelo Espírito, e não crer ser Jesus o Filho Unigênito de Deus, será um derrotado e não estará entre aqueles que habitarão com Deus. João é extremamente claro neste 21° capítulo de Apocalipse quanto a esses que não serão herdeiros da promessa de Deus: “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (v. 8).

Há que se lamentar que nem todos serão vencedores. Neles não há nenhuma esperança. Como diz R.E. Watterson: “Após contemplarmos a felicidade dos salvos, vemos mais uma vez a triste sorte dos perdidos. A lista de condenados começa com os tímidos (ou covardes), aqueles que temeram os homens e rejeitaram a Cristo. Em seguida temos os que não creram e juntamente com eles os idólatras que acreditaram até em vãs superstições. Os abomináveis, os violentos e os imorais também terão parte neste sofrimento, assim como os feiticeiros com suas práticas enganosas e, por fim, os mentirosos ou, literalmente, os falsos”.

Para estes, “a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (v. 8), e, como diz J. Allen, “não será um extermínio, como as mentes incrédulas gostam de supor, mas sofrimento consciente e interminável para sempre. As palavras vindas do trono não permitem outro significado”. Oxalá, prezado leitor, que você possua completa autenticidade de fé em Deus para que não esteja entre aqueles sobre os quais pairam tão grande e terrível juízo. Permita Deus que assim seja!

 


 

CAPÍTULO 21 (3)

 

Conforme vimos na crônica anterior, nos oito primeiros versículos deste capítulo João descreve a visão que teve do “Estado Eterno” com a formação do novo céu e da nova terra que virão a existir, e a cidade santa, a nova Jerusalém que descerá da morada de Deus. Agora, mais detalhadamente, ele transmite a visão que teve dessa magnífica habitação: Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro; e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina” (vs. 9-11). O texto é bastante claro. Um dos anjos que com João esteve por ocasião do derramamento dos sete últimos flagelos sobre a Terra (capítulo 16) o arrebata em espírito até um alto monte para lhe mostrar o lugar onde será a sua morada na eternidade e de imediato ele contempla algo extraordinariamente fulgurante que não consegue descrever com exatidão aquilo que via, a não ser como algo que, de tão precioso, ele classifica como uma joia raríssima. O motivo é inteligível: nela habitará “a glória de Deus” (v. 11).

Todavia, entre os comentaristas criou-se certo embaraço quanto à época da chegada dessa extraordinária cidade. Alguns a colocam por ocasião do reino milenar a ser estabelecido pelo Senhor Jesus Cristo aqui na Terra, como se fosse um “quinto parêntese” em Apocalipse. Com isso João teria sido levado a retornar a sua visão para o tempo do milênio. Respeitando os argumentos apresentados por esses expositores, está bastante claro que desde o capítulo 19:11 os acontecimentos revelados demonstram estar numa sequência absolutamente cronológica, não cabendo agora um retorno às coisas já reveladas neste Livro.

Convém esclarecer que no Antigo Testamento é profetizado acerca de uma nova Jerusalém terrestre, situada em Israel durante o período do milênio, todavia há pouca coisa em comum com esta cidade que irá descer do céu para ser a capital universal do “Estado Eterno”. Devemos ter em lembrança, caro leitor, que a esta altura das revelações as primeiras coisas são passadas, não mais existem, estamos diante de algo novo. Independentemente das interpretações existentes quanto à época, o que importa é o entendimento de que essa grande, nova e santa cidade é real, nela habitarão todos aqueles que têm o Senhor Jesus como o único Redentor de sua vida. Por si só, isto me basta!

A expressão contida no versículo 9: “Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro”, nos leva de imediato a entender que a noiva em questão estaria simbolizando a Igreja. É claro que a Igreja estará entre os habitantes dessa maravilhosa cidade, mas o que João está vendo é a cidade em si, não as pessoas como é o caso da Igreja, cujos membros (não um edifício, obra de alvenaria) constituem um só corpo com respeito a Cristo (1 Coríntios 12:12). R. David Jones nos traz um esclarecimento oportuno acerca disso: “Era costume no oriente médio, quando um rei entrava na capital do seu país para tomar posse do seu reino, ou um príncipe subia ao trono, dizer que ele estava casando-se com a cidade (Isaías 62:4-5). Ele estava sendo unido de forma íntima e permanente com o trono, a cidade e a nação. Assim a cidade chamada Nova Jerusalém será casada com o Cordeiro”. Nessa passagem de Isaías, Jerusalém é considerada simbolicamente como ”a noiva do Senhor”.

A contemplação das características extrínsecas da “santa cidade” continua: “Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (vs. 12 a 14). Existe um esforço por parte de alguns ao tentarem “espiritualizar” esses elementos, referindo-se a eles como se símbolos fossem. Sem dúvida, um esforço inútil, pois eles significam materialmente o que são, como por exemplo: muralha é muralha como conhecemos, aliás, uma imensa muralha, pois a sua espessura (v. 17) é aproximada à largura média de um campo de futebol (cerca de 70 metros) e a sua extensão de quase dez mil quilômetros (v. 16). Isso mesmo, caro leitor, essas medidas podem nos parecer espantosas, entretanto são absolutamente reais.

Normalmente uma muralha traz a ideia de proteção para os que estão dentro da cidade para com os que fora dela estão. Todavia, observamos que não é esse o caso da muralha descrita no versículo 12, pois nela há doze portas instaladas, três de cada lado (v.13), que jamais serão fechadas como afirma o versículo 25: “As suas portas nunca jamais se fecharão”. Você poderá estar a indagar, caro leitor, então para que servirá essa gigantesca muralha se haverá livre acesso à nova Jerusalém? A resposta é simples e está no contexto desse capítulo: “As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória” (v. 24). Concluímos, portanto, que haverá dois grupos distintos no “Estado Eterno”: aqueles que estarão habitando dentro da cidade e fazem parte do Tabernáculo de Deus que vimos no versículo 2, dentre estes, é claro, aqueles que atualmente fazem parte da Igreja de Deus e serão arrebatados antes da grande tribulação que virá sobre a Terra, e o outro grupo representado pelas nações que se desenvolverão ao longo de toda eternidade. Daí a enorme importância de, ainda hoje, se tomar uma decisão a respeito do porvir.

Diante do exposto, por que cada porta terá um “anjo de guarda”? O contexto não dá essa ideia, caro leitor. Por certo os anjos lá estarão como “guardas de honra”, partícipes da administração da nova Jerusalém. Por oportuno, convém ressaltar que o número 12, que por vinte e três vezes aparece em Apocalipse, nove deles estão neste capítulo. Simbolicamente acredita-se que o número 12 representa “governo” ou “administração”. Interessante o pensamento de J. Allen a respeito dessa vasta muralha com suas portas e anjos: “No novo Céu e na nova Terra haverá privilégios especiais associados com o acesso ao trono de Deus e do Cordeiro, por isso há um muro... Esta cidade estará em comunicação com a nova Terra, mas tudo que sai da cidade, e todos que entram nela, precisam passar por essas portas”. E pelos seus anjos, acrescento eu.

Ainda com respeito à muralha, João revela que sobre cada uma das suas portas estará inscrito o nome de uma das doze tribos de Israel (v. 12), e nas suas fundações estarão inscritos os nomes dos doze apóstolos do Senhor Jesus (v. 14). Isto tem gerado algumas divagações de que Israel e a Igreja seriam a mesma coisa para Deus, mas não são. Israel, o povo terrestre de Deus, rejeitou ao Seu Ungido e no relógio cronológico de Deus eles estão parados no tempo até que a contagem seja reiniciada com o arrebatamento da Igreja, que por sua vez é o Seu povo celestial, formado por aqueles que receberam a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.

Portanto, o simples fato do nome das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos do Senhor Jesus estarem citados nessa grande muralha não significa que sejam as mesmas coisas. Pelo fato de no porvir ambos habitarem a mesma cidade, há uma distinção bastante clara entre eles, pois são mencionados em estruturas diferentes – portas e fundamentos – e, por certo, com funções diferentes na administração da grande cidade. Mas isto saberemos concretamente quando lá estivermos.

Não são somente as suas dimensões que a tornam admirável, a riqueza de detalhes da estrutura dessa muralha também é sobremodo impressionante: “A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido. Os fundamentos da muralha da cidade estão adornados de toda espécie de pedras preciosas. O primeiro fundamento é de jaspe; o segundo, de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda; o quinto, de sardônio; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o oitavo, de berilo; o nono, de topázio; o décimo, de crisópraso; o undécimo, de jacinto; e o duodécimo, de ametista. As doze portas são doze pérolas, e cada uma dessas portas, de uma só pérola" (vs. 18-21). Como diz W. MacDonald, “a descrição da muralha e da cidade é difícil de visualizar, mas tem por objetivo criar uma imagem de magnificência e esplendor, e o faz com sucesso”.

A beleza dessa muralha sem dúvida é espetacular, mas confesso que não consegui de imediato “visualizar” as pérolas que formam as suas doze portas tendo em vista as suas dimensões. Sem nenhuma intenção de questionar, quando li que cada porta era formada de “uma só pérola” (v. 21), veio-me a mente: “Que pérola é essa”? Nisto surgiu-me o pensamento: “Se de um simples grão de areia a ostra produz uma joia tão preciosa como a pérola, o que dirá então o Deus Criador de todas as coisas”? Para Ele não há impossíveis! Além de me confortar, este pensamento me trouxe a compreensão que necessitava: Crer, somente!

Na próxima crônica continuaremos neste capítulo para contemplar internamente a magnitude da nova Jerusalém, que será a morada eterna daqueles que creem autenticamente no Deus Todo-Poderoso e em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, a Quem Ele subordinará todas as coisas no “Estado Eterno” que está por vir. Espero em Deus que esta seja a sua convicção, prezado leitor. Permita Deus que assim seja!

 

 




 

 

 

CAPÍTULO 21 (4)

 

Prossegue João em sua visão acerca da nova Jerusalém. A partir do versículo 21 ele passa a descrever as características intrínsecas da cidade-sede do “Estado Eterno”: A praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente”. Ao espiar, agora, para além daquela magnífica muralha que vimos na crônica anterior, ele vê algo ainda mais extraordinário que de imediato chama a sua atenção. Aquela visão deve ter permanecido na mente do apóstolo por um certo tempo: “Ah, aquela praça!”, provavelmente ficara a pensar.

Tentei ter ideia daquilo que João estava a contemplar e tive que concluir que o ouro nela contido era algo inimaginável. Por ser absolutamente íntegro, sem mistura, de perfeição absoluta, ele se mostrava a João como um “vidro transparente”, pois nele não havia a presença de um cisco sequer de impureza ou de elementos estranhos. Aquela visão deslumbrante revelava a João que ali estava um ambiente absolutamente puro, sem mácula, onde a malignidade sob nenhuma hipótese estaria presente.

Uau! Foi a exclamação que me veio à mente pelo regozijo de saber que essa mesma contemplação do apóstolo também a terei com a chegada daquele dia, assim como todo aquele que crê nas profecias contidas neste notável Livro. Que você, prezado leitor, lá esteja também, é o meu sincero desejo.

Continua João: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro” (v. 22). Cadê o Templo, caro leitor? Eis a grande diferença entre a Jerusalém celestial e a terrestre. Na antiga Jerusalém havia a necessidade de um local específico que personificava de forma implícita a presença de Deus junto a Israel, o Seu povo terreal, na nova Jerusalém não haverá nenhuma barreira que impedirá o convívio de Deus com os Seus. Não haverá mais a necessidade de um Templo, pois a própria cidade é um santuário pela presença explícita do Deus Todo-Poderoso juntamente com o Cordeiro, o Senhor Jesus, que nela estarão habitando juntamente com os Seus.

“A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória” (vs. 23 e 24). Como já vimos, ao contemplar o novo céu e a nova terra João não mais viu o Sol e a Lua, os dois grandes luminares da Terra. Portanto, nela, assim como em toda nova criação, não mais haverá noite nem tempo ruim, dias nublados ou carrancudos, pois a glória de Deus e a luz do Senhor Jesus serão perenes para todo o sempre. Diz J. Allen ao comentar sobre essa nova criação: “... o Sol e a Lua são obsoletos, pois esta cidade tem uma fonte de luz muito superior: “a glória de Deus”, a mesma que iluminou o tabernáculo de Moisés (Êxodo 40:34-35) e o templo de Salomão (1 Reis 8:10-11) ... As palavras de Isaías agora são cumpridas, não figurativamente, mas literalmente: ‘Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te aluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória’ (Isaías 60:19)”.

As expressões “nações” e “reis” contidas no versículo 24, fazem com que alguns comentaristas asseverem que pela menção de nações e governantes nesse texto estariam a indicar que essa visão de João diz respeito ao período do reino milenar do Senhor Jesus. Carece de prova essa assertiva, pois não há nenhum indício de sustentação que não existirão nações no “Estado Eterno”. Ao contrário, dentro do contexto que se encontram fica claro que elas não só existirão na eternidade, como Israel será a nação que as liderará conforme previsto nas Escrituras. J. Allen reforça esse entendimento: “Esta grande cidade é a central de luz da Terra, e as nações podem conduzir seus negócios e organizar a sua vida diária “mediante a sua luz”. “Andarão” é a figura bíblica para descrever o viver diário do ser humano... A “glória” que trazem à cidade é a glória da sua associação com ela... Não há problema algum se esta cidade for vista no contexto do Estado Eterno, quando todos os da Terra, mesmo não tendo cidadania da cidade, têm livre acesso a ela”.

“As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações” (vs. 25 e 26). Os portões das grandes cidadelas de outrora eram fechados à noite para proteção contra possíveis invasores. Como na eternidade não haverá noite e tampouco inimigo, desnecessário será que as portas da muralha da capital do universo sejam cerradas. Elas estarão constantemente abertas, sem exceção, tendo em vista que tudo que faz parte da noite foi-se para sempre e todos habitantes daquela que será a “nova Terra” terão acesso diuturno à nova Jerusalém, pois não mais haverá limite de tempo.

É natural que dada a nossa limitação, não só de tempo como de espaço, hoje somos totalmente incapazes de imaginar como será o dia a dia na eternidade. Não haverá mais noite, quando então dormiremos? Certamente isso passará a ser algo desnecessário. Mas se eu precisar ficar acamado? Isso jamais ocorrerá! Nunca mais haverá, cansaço, dor, doença, lágrima, sofrimento, luto, fome, sede etc. (v. 4, dentre outros). Como diz o versículo 27: “Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro”. Que Glória! Magnífico será ali morar. Pena que a imensa maioria da humanidade não tenha essa mesma expectativa e com isso muitíssimos são os que não estão inscritos no Livro da Vida do Cordeiro. Mas ainda há tempo! O porvir está a chegar, a queda das horas é inexorável, as pessoas precisam ser alertadas disso para que fiquem conscientes da decisão que tomarem, caso não se decidam crer nas revelações contidas neste Livro.

Segundo os codificadores da Bíblia aqui terminaria este capítulo. Todavia, devemos ter em lembrança que os originais das Sagradas Escrituras não contêm versículos e capítulos, é um texto contínuo. Digo isso por entender que a visão de João sobre a nova Jerusalém não termina aqui, mas continua até os cinco primeiros versículos do capítulo 22. Este também é o entendimento de R. E. Watterson: “Os primeiros versículos deste capítulo (22) continuam e concluem a descrição da cidade celestial. A divisão em capítulos, mais uma vez, foi infeliz, pois estes versículos realmente pertencem ao capítulo anterior (21)”. Portanto, vamos a eles!

“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos” (22:1-2). João dá a sua última espiada na gloriosa cidade. Ele a viu externa e internamente, agora ele se detém ao ponto mais central dela, onde está localizado o Trono e o seu entorno, de onde será regido o Estado Eterno. Dele sairá o extraordinário manancial de água e de alimento indispensável para o suprimento da vida a todos por toda a eternidade.

Ao citar “de mês em mês” João não está a dizer que haverá marcação de tempo, pois isso, doravante, nunca mais existirá, mesmo porque não mais haverá o Sol e a Lua que são os marcadores de tempo usados neste antigo mundo. Como diz J. Allen, “fica evidente que João usa a palavra “mês” como uma referência conhecida para ilustrar a mudança da variedade da provisão da árvore da vida. Fecundidade e variedade estão em vista aqui”.

Da mesma forma quando João cita que as folhas da árvore são para a “cura dos povos”, não significa que haverá doenças e consequente morte no “Estado Eterno”. Sobre isso diz J. F. Walvoord: “Em outras palavras, as folhas da árvore promovem o prazer da vida na nova Jerusalém, e não são para corrigir doenças que não existirão”. Algo semelhante ocorreu quando vimos a expressão que Deus “enxugará dos olhos toda lágrima” (21:4), a ênfase contida naquele texto foi para deixar claramente evidenciado que nunca mais haverá qualquer forma de sofrimento na eternidade; aqueles que lá estarão jamais chorarão, pois suas lágrimas foram completamente enxugadas e no passado ficarão para todo o sempre.

Caso paire alguma dúvida em sua mente, prezado leitor, veja o que João revela a seguir: “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele” (22:3-4). A afirmação do consagrado apóstolo é enfática, marcante, não deixa a menor dúvida: no “Estado Eterno”, nunca jamais, em tempo algum, haverá qualquer maldição por menor que seja, pois ali estará as augustas presenças de Deus e do Senhor Jesus. Os Seus servos Os servirão, dentre estes estará indiscutivelmente a Igreja de Deus, formada por aqueles que têm, absolutamente, o Senhor Jesus como o seu único Redentor. Lá haverá uma vida solene, pois estarão a contemplar o rosto do Deus Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, algo que fora tão desejado por servos do passado, a exemplo de Moisés e não lhe foi permitido (Êxodo 33:17-23). De agora em diante fará parte do dia a dia daqueles que junto a Ele estarão identificados com o Seu nome. Acontecimento como este, caro leitor, nos remete às palavras de Paulo: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas" (2 Coríntios 4:17-18).

“Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (22:5). Aqui encerra João a visão que estava tendo da majestosa cidade. Recentemente ocorreu no bairro em que moro um breve apagão. Como era noite, tudo ficou em trevas pela ausência completa da luz. Como isso ocorre esporadicamente tive que me lembrar onde estaria o farolete. Depois de muito tatear, achei-o. Cadê as pilhas? Agora ficou um poucadinho mais difícil encontrá-las na quantidade necessária. Não existe nenhuma hipótese disso ocorrer na eternidade porque a Luz divina jamais se apagará.

“Bem-aventurados os limpos de coração; porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8). Um coração somente poderá ser limpo mediante o lavar regenerador e renovador do Santo Espírito (Tito 3:5). Que esta seja a sua realidade, caro leitor, pois assim você lá estará para contemplar o maravilhoso rosto de Deus. Permita Deus que assim seja!

 


 

 

 

CAPÍTULO 22 (1)

 

Chegamos ao epílogo deste notável Livro, prezado leitor. Neste último capítulo João nos transmite as revelações recebidas diretamente do Senhor Jesus Cristo que na maioria das vezes lhe foram transmitidas através de um ente celestial. Os cinco primeiros versículos deste capítulo foram comentados no capítulo anterior pelo fato dos mesmos pertencerem ao contexto do capítulo 21, conforme expus na última crônica. Agora, a partir do versículo 6, ouviremos três vozes: A do próprio apóstolo João (v. 8), a do Senhor Jesus (v. 7) e a do anjo que lhe trouxe essas últimas revelações (vs. 6, 9 e 11). Vamos a elas!

“Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer. Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (vs. 6 e 7). João ouve agora a voz do Senhor Jesus reiterando aquilo que já lhe fora dito logo de início, no primeiro versículo do capitulo 1 de Apocalipse, acerca das coisas que em breve deverão acontecer e Ele deixa claro que essas revelações são absolutamente fidedignas, por serem “fiéis e verdadeiras” (v. 6).

Portanto, não existe nenhuma hipótese que elas não se concretizem. Infeliz daquele que pensa o contrário. Essas coisas em breve acontecerão e por isso Ele confirma aquilo que já havia dito no versículo 3 do primeiro capítulo deste Livro, de que bem-aventurado é todo aquele que guarda as palavras desta profecia, pois Ele não tarda em retornar para que elas venham a acontecer (v. 7).

A esta altura você poderá estar a pensar caro leitor: “Caramba, cerca de dois mil anos já se passaram e nada aconteceu, nem um sinal tem sido dado desse Seu breve retorno”. Pode ser até compreensível se assim você pensar, mas observe que por três vezes neste capítulo o Senhor afirma que a Sua volta é “sem demora” (vs. 7, 12 e 20) e no versículo 10 Ele garante que o “tempo está próximo”. Portanto, a questão a ser avaliada é o que representa o “tempo” para cada um de nós. Será que temos a noção correta do seu significado? Vamos, então, a uma breve reflexão.

Segundo W. Kelly, “tudo o que pertence ao Corpo de Cristo está fora do tempo e do mundo. A Igreja é do Céu e, no Céu, não há tempo, nem coisa alguma que o meça. Há nos céus luminares que marcam os tempos e as estações para a Terra e para outros planetas, mas a Igreja compõe-se de pessoas chamadas para fora da Terra, pois ela não é da Terra, em consequência disso para ela o tempo está sempre próximo. Desde que Cristo foi anunciado como estando assentado à direita de Deus, portanto, desde o começo do cristianismo, foi também apresentado como estando prestes a julgar os vivos e os mortos (1 Pedro 4:5), e assim permanece até o presente tempo. A Igreja continua, pois, segundo a vontade do Senhor, Ele pode, de acordo com os Seus desígnios, alongar ou abreviar este intervalo de tempo, que está inteiramente em Suas mãos, mas a Igreja não tem nada a ver com os tempos nem os acontecimentos”. Sobremodo perfeito o pensamento desse autor.

Pense comigo, prezado leitor. Todo aquele que espiritualmente se converte em “nova criatura” à medida que verdadeiramente crê no Senhor Jesus como o Seu único e verdadeiro Redentor, passa a fazer parte do Seu Corpo, que é a Sua Igreja que por agora ainda está aqui na Terra, e é formada pelas “pedras vivas” que compõem a “casa espiritual” que oferece “sacrifícios espirituais”, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1 Pedro 2:5). Portanto, a Igreja, ainda que esteja aqui na Terra, até a vinda do Senhor Jesus para arrebatá-la, representa o “povo celestial” de Deus, já pertence ao Céu e nada poderá retirá-la de lá. Por conseguinte, não há contagem de tempo, pois já é!

Dentro dessa lógica divinal, para mim a conjugação do verbo “estar” é sempre no tempo verbal do presente do indicativo, ou seja, aquilo que estou a falar ou a escrever é a sensação que sinto naquele exato momento, pois, como parte da Igreja que sou, o tempo mo é único: Hoje “estou” aqui, amanhã “estou” arrebatado ao Céu, depois de amanhã “estou” com Cristo em Seu Reino, e depois do depois de amanhã “estou” com Ele no novo Céu e nova Terra, portanto, hoje já “estou” na Eternidade. Traga o futuro para junto de si, prezado leitor, e vivencie presentemente o magnífico peso da glória que o espera e que em nenhuma hipótese poderá ser comparado com as coisas aqui de baixo. Só pode pensar contrariamente a essa estupenda realidade aqueles que, tremendamente equivocados, acreditam na possibilidade da “perda da salvação”, apesar da claríssima promessa do Senhor Jesus garantindo que da Sua mão e da mão do Pai ninguém poderá arrebatar a alma que a Ele efetivamente pertence (João 10:27-29).

O questionamento sobre a “demora” da volta de Cristo já fora prevista desde os tempos apostólicos, para que fosse levado em conta que "nos últimos dias virão escarnecedores... andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda?... Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento... Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça... Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; (2 Pedro 3:3, 4, 8, 9, 13 e 17). Não permita, caro leitor, que haja qualquer sombra de dúvida da garantia pessoal dada pelo Senhor Jesus acerca da Sua vinda para buscar os Seus, pois isso faz parte do calendário divino e não existe nenhuma hipótese disso ser alterado.

Por outro lado, me assusto quando ouço um “evangelho” estranho aos meus ouvidos, dizendo que hoje eu tenho que priorizar as coisas aqui debaixo e “determinar” a Deus que me dê muito dinheiro e saúde para o gozo desta vida. Que coisa mais mesquinha! Esta não é a Sabedoria que vem lá do Alto; ao contrário, é terrena, animal (psicótica) e demoníaca (Tiago 3:15). Não podemos nos limitar às coisas menores, mas com as lá de cima. Isto nos remete a Paulo quando diz: "Portanto, se [ já ] fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque [ já ] morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória. Fazei, pois, morrer [ já ] a vossa natureza terrena" (Colossenses 3:1 a 5).

Isto posto, caro leitor, pensemos como Paulo, tendo em vista que andamos por fé e não pelo que vemos, tenhamos sempre bom ânimo, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na dor, na riqueza ou na pobreza material, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor, preferindo deixar este corpo e habitar com o Senhor, pois estar com Ele é incomparavelmente melhor (2 Coríntios 5:6; Filipenses 1:23). Portanto, o que menos nos importa é o “tempo” face à convicção que temos que a nossa pátria está no Céu, para aonde iremos e de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Filipenses 3:20).

Prosseguindo, ouçamos agora a voz do consagrado apóstolo: “Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus (vs. 8 e 9). João estava exultante com essas impressionantes revelações. As ponderações de J. Allen sobre essa ocorrência são sobremodo oportunas para um entendimento claro do sentimento que o apóstolo estava a sentir: “João está tão maravilhado que, como uma reação natural, ele cai aos pés do anjo guia. Quando ele caiu aos pés de Cristo, no primeiro capítulo (1:17), parece que a sua reação foi involuntária; aqui ele age deliberadamente, e ele confessa que tinha a adoração em mente. Entretanto, comparando com 19:10, onde João recebeu a sua primeira repreensão angelical em circunstâncias semelhantes, vemos que a intenção de João parece ter sido de adorar a Deus aos pés dos anjos. João aprendeu algo na sua primeira repreensão, e sabe que uma criatura nunca deverá ser adorada; entretanto, este ato de prostrar-se é perigoso, e por isso ele recebe uma segunda repreensão do anjo”.

Ao longo da história da humanidade, até mesmo em meio à cristandade, observa-se um constante desvio quanto à adoração que deveria ser prestada somente a Deus. Há uma exacerbação à adoração aos elementos criados e não ao Criador. As pessoas adoram imagens, astros, seres de outros planetas (como se eles existissem) e elementos da natureza; cultuam a anjos como se deuses fossem e colocam “santos” como mediadores entre si e Deus, inclusive Maria, mãe de Jesus. Por isso Paulo considera que aqueles que tais coisas praticam são indesculpáveis perante Deus, "pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!" (Romanos 1:25).

Na próxima crônica prosseguiremos rumo ao final desta jornada. Enquanto isso, atentemos para as exortações de Paulo: "Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal" (Colossenses 2:18)... "Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?" (1 Coríntios 6:3). O anjo em questão foi extremamente claro com João quanto a essa prática: “não faças isso”, e de forma, também imperativa, assevera: “Adora a Deus” (v. 9), pois se tratava de um conservo que estava a lhe transmitir um ministério profético como todo aquele que guarda as palavras deste Livro. Que esta seja sempre a sua firme postura, prezado leitor. Permita Deus que assim seja! 

 

 

 


 

 

CAPÍTULO 22 (2)

 

Pois então, prezado leitor, chegamos ao fim de uma longa jornada de exatos três anos a caminho do Apocalipse. Foram momentos de grande expectação à medida que trilhávamos as revelações contidas neste extraordinário Livro. Tivemos momentos de assombro ao tomarmos conhecimento dos rigorosos juízos de Deus que recairão sobre a humanidade rebelde, mas também tivemos momentos de profunda alegria diante das revelações do promissor futuro que aguarda a todo aquele que verdadeiramente deposita a sua fé, autêntica, no Deus Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas e que neste Livro O vemos em todo o Seu esplendor através das revelações que nos foram trazidas pelo Senhor Jesus. Vamos, portanto, ao conteúdo que está revelado nos versículos restantes deste último capítulo de Apocalipse.

Prossegue João a revelar o que está a ouvir do mensageiro angelical: “Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo” (v. 10). Aquilo que não fora permitido ao profeta Daniel ao receber as revelações do fim dos tempos: "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim... porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim" (Daniel 12:4 e 9), é consentido a João fazê-lo, pois, quanto a Israel, estas coisas só seriam conhecidas após a chegada do período da graça – a Igreja de Deus – cuja dispensação, a sexta, iniciou-se com a descida do Espírito Santo conforme nos é revelado no segundo capítulo do Livro de Atos dos Apóstolos. Esta revelação, portanto, agora é permitida “porque o tempo está próximo”, que corrobora com aquilo que o próprio João havia escrito em sua primeira epístola: "Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora" (1 João 2.18). Como vimos na crônica anterior, a Igreja é celestial, não é do contexto deste mundo, e como tal não se fixa em datas ou contagem cronológica como Israel, pois ela faz parte da chegada dos últimos tempos.

Seguem adiante as revelações de João: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se” (v. 11). Diz R. Watterson em seu comentário: “A condição de um indivíduo é o resultado da escolha que fez e há de chegar a hora quando tal escolha se tornará irreversível e não haverá mais oportunidade de mudar. Veja como a recompensa assemelha-se à escolha. Aquele que escolheu injustiça colherá mais injustiça e aquele que está sujo colherá mais sujeira ainda. Não há maior castigo do que ser entregue ao seu próprio caminho para colher as suas consequências naturais e inevitáveis”. Portanto, caro leitor, a expressão de que o justo deverá permanecer na prática da justiça e o santo a santificar-se cresce sobremodo diante desses comentários. Sabemos que ser “justo” é não andar na conformidade deste mundo que se rebela e debocha de Deus, e ser “santo” significa estar “separado” da contaminação perniciosa deste mundo, que é avassaladora naqueles que permanecem afastados de Deus, que os levam a uma disposição mental de completa incredulidade às revelações contidas em Sua Palavra.

Agora João volta a ouvir a voz do próprio Senhor Jesus: “E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (vs. 12 e 13). Aqueles que creem de forma irrestrita, absoluta, naquilo que aqui está revelado, têm agora um momento de intenso regozijo. Cada um, pessoalmente, será premiado pelo próprio Senhor Jesus, por aquilo que tiver feito em prol da Sua obra enquanto aqui esteve. Que momento magnífico, prezado leitor!

Fiquei a pensar com os meus botões acerca das vezes que recebi os títulos que me foram conferidos pela conclusão dos meus cursos universitários, ou pelos meus êxitos profissionais em minhas atividades seculares, que sem dúvida me foram momentos de alegria, mas que jamais poderão ser comparados, sob nenhuma hipótese, com este exultante acontecimento de ser galardoado por Aquele que é o Princípio e o Fim de todas as coisas. Mas, ao mesmo tempo, veio-me à lembrança que em nossos dias existem tantos no chamado meio evangélico que vivem a mesquinhez de se preocuparem com títulos de identificação, ou então com a tabuleta que denomina o segmento religioso a que pertencem como que se essas identificações fossem propiciar que uma alma chegasse ao conhecimento da Verdade. Perniciosa vaidade! Como diria Salomão, é “correr atrás do vento”. Há coisas muito mais importantes para se preocuparem que estão acima dos seus interesses ou vaidades pessoais. O que importa é o que aqui lemos, que seremos galardoados pelas “obras” que fazemos, não pelos “cargos” que exercemos, ou pelos “títulos” que possuímos, ou pela denominação que participamos. Por definição, “crachá” não entra no Céu.

Portanto, a sétima e última beatitude contida neste Livro é sobremodo digna de consideração, tendo em vista a multidão daqueles que permanecem dispersos ou envoltos a uma mera religiosidade sem autenticidade de fé: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (v. 14). Somente irão para a Eternidade com Deus aqueles que depositarem sua fé, exclusivamente, na obra redentora do Senhor Jesus, crendo que o Seu sangue derramado nos redime perante Deus, conforme é declarado por Paulo: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5:9). A estes será estendido o direito à árvore da vida, que simboliza usufruir o direito eterno à vida e à cidadania. Sem dúvida, uma magnífica expectativa.

Todavia, em contraste com o imenso gozo daqueles que foram redimidos há algo intensamente dramático. Há aqueles que ficarão fora desse contexto e, como já vimos, irão para angustiantes tormentos eternos: “Fora ficam os cães, os feiticeiros, impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira” (v. 15). Esta relação, que aparenta ser pequena, revela a realidade dos desvios de caráter que afastam as pessoas da presença de Deus. “Cães” têm por significado “aquele que tem que ficar para fora”, como assim acontecia com esses animais em terras do oriente à época que, por serem considerados “imundos”, não podiam entrar nas casas. Segundo W. MacDonald este termo se refere aos gentios impuros (Mateus 15:26), ou judaizantes (Filipenses 3:2) e também aos “prostitutos” (travestis ou homoafetivos como são denominados em nossos dias): "Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à Casa do Senhor, teu Deus, por qualquer voto; porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor, teu Deus" (Deuteronômio 23:18).

E a lista prossegue revelando os que de fora ficarão: aqueles que se envolvem com o ocultismo como a invocação de mortos (na verdade demônios) e as demais práticas esotéricas tidas como espíritas ou espiritualistas; aqueles que se prostituem ou vivem na luxúria desenfreada; os que não dão nenhum valor à vida humana e matam de forma tão banal como em nossos dias; aqueles que praticam toda sorte de idolatria, adoradores de imagens à semelhança das coisas criadas em vez do Criador, lembrando que o “inocente” horóscopo faz parte desse contexto. Ao final desta lista lemos que os “mentirosos” também serão excluídos. Já houve quem me perguntasse: “Quem nunca proferiu uma mentirinha levante o braço?”. A minha resposta sempre será a mesma, para Deus não há pecadinho ou “pecadão”, simplesmente há pecado.

Mas atente, caro leitor, para o enunciado da expressão aqui formulada: “todo aquele que ama e pratica a mentira”. Amar a prática da mentira é um desvio comportamental próprio dos psicopatas que demonstram aquilo que na verdade não são e levam outros a terríveis enganos. São pessoas más, apesar da aparência ao contrário, que pensam exclusivamente em si em detrimento daqueles que estão próximos. Tudo neles é uma farsa. Convém esclarecer que o psicopata não é considerado um doente mental, mas alguém extremamente hipócrita, egoísta, que entende que as demais pessoas são inferiores a ele. Conheço alguns que assim se comportam e, lamentavelmente, nunca vi nenhum deles renunciar a sua forma de ser e passarem a crer em Deus, quando muito, por conveniência social, adotam uma religião por mera formalidade. Eles são a mentira personificada e arrastam muitos com eles que acabam se tornando vítimas de seus desvios e crueldades.

O Senhor dá seguimento a Sua fala: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (v. 16). Neste versículo, caro leitor, para quem o Senhor enviou o Seu anjo? Isso mesmo, você está lendo corretamente, para as igrejas. Para todos aqueles que formaram e formam esse magnífico edifício celestial, como pedras vivas, que ao longo da atual dispensação foram chamados para fora do sistema de incredulidade e falsa religiosidade existente neste mundo. O Apocalipse se inicia com uma dedicatória às igrejas e assim termina. Portanto, as revelações contidas neste Livro são extremamente pertinentes à Igreja de Deus, e não poderiam ser relegadas a um segundo plano nas igrejas como que se ele não fizesse parte do seu contexto. “Ah! Este livro é muito complicado, confuso e de difícil entendimento”, dizem alguns. Mas isso não é verdadeiro, como temos visto ao longo destes últimos três anos através destas crônicas.

Diz R. David Jones: "Jesus enviou o Seu anjo para nos dar este testemunho concernente às igrejas. Ele é a Raiz e o Descendente de Davi, em Sua glória divina comparável à resplandecente estrela da manhã. O Velho Testamento terminou com a promessa que o sol da justiça se levantaria trazendo salvação em suas asas (Malaquias 4:2). Agora Ele é a resplandecente estrela da manhã que virá num momento tenebroso para livrar aqueles que nEle confiam". Este mundo em trevas, caro leitor, em breve verá o raiar de um novo dia com a chegada do "Sol da Justiça". A noite sempre é seguida pelo dia, no mundo há uma constante mesmice como nos diz Salomão em Eclesiastes 1:5, assim como o sol se põe, ele surge novamente, mas há a promessa de uma nova aurora, eterna, de raro esplendor e glória com a chegada do Senhor Jesus a este mundo para estabelecer o Estado Eterno, onde nunca mais haverá injustiça. Isto nos remete ao antigo profeta: "Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória. Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará, porque o Senhor será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão” (Isaías 60:19-20).

Daí surge o magnífico convite: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (v. 17). A noiva simboliza a Igreja de Deus, portanto todo aquele que ouve e crê nesta profecia anela pela chegada desse deslumbrante dia. Observe, caro leitor, que este convite continua disponível a todo aquele que vive neste mundo e está sedento da verdadeira esperança: “quem quiser receba de graça a água da vida”. Isto nos faz lembrar as palavras do Senhor Jesus ditas à mulher samaritana: "...aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna" (João 4:14). Urge, portanto, que a humanidade ainda incrédula chegue ao conhecimento desta magnífica verdade, mas para isso é necessário que haja aqueles que transmitam este conhecimento. Reflita, portanto, caro leitor, sobre a importância do convite aqui existente!

Vivemos dias de desastrosas interpretações dos textos bíblicos, onde há pessoas, como diz Paulo, que estão a pregar outro evangelho: "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo (Gálatas 1:6). A advertência do Senhor Jesus acerca dessa aleivosia é sobremodo severa: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (vs. 18 e 19). Nada há que ser tirado e tampouco acrescentado. Portanto, há que se ter extremo cuidado acerca daquilo que estamos a ouvir. Muitos insubordinados estão a transmitir revelações contrárias ao que dizem as Sagradas Escrituras, segundo os seus interesses pessoais ou até mesmo por ignorância. Conforme nos diz Paulo, Deus já revelou tudo que é necessário para aqueles que verdadeiramente são Seus servos para que estejam capacitados para toda boa obra: "Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado... Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:13-17). Bem haja, caro leitor, se assim o fizer.

Chegamos ao final, prezado leitor. Tenho por certo que sentirei saudade deste longo tempo que passamos juntos a trilhar por este magnífico caminho rumo ao glorioso porvir. Ouçamos a última fala do Senhor Jesus contida neste Livro: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém!” (v. 20). Pela terceira vez neste capítulo lemos sobre a promessa do breve retorno do Senhor Jesus. Como vimos na crônica anterior a esta, não há demora, pois já estamos com Ele em qualquer circunstância de tempo. A Sua volta está a ponto de acontecer. João se comove profundamente e não consegue se manter calado diante dessa magnífica afirmação e responde com um emocionante suspiro: “Vem, Senhor Jesus”! (v. 21). Não posso deixar de lhe confessar, caro leitor, o sentimento que me apossou ao descrever esse doce e suave sussurro de João. As lágrimas me afloraram aos olhos, e não pude conter o meu clamor ao repetir as palavras do consagrado apóstolo: “Maranata”, que no vernáculo original significa “Vem, Senhor”. Portanto, que “a graça do Senhor Jesus seja com todos” (v. 21). Até lá, prezado leitor! Permita Deus que assim seja!

 

 

 

 

 

autor: José Carlos Jacintho de Campos.