A Caminho do Apocalipse - 03

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3

Capítulo 3

Neste terceiro capítulo temos a continuidade da exposição de João sobre as coisas “que são”, ou seja, o que estava a acontecer com algumas igrejas locais que existiam naquela época. Das sete cartas escritas, constam neste capítulo as três últimas – Sardes, Filadélfia e Laodiceia – que, como as outras quatro, refletiriam as condições espirituais que afetariam as igrejas no decorrer da sua história.

Estas três cartas demonstram, respectivamente, o que ocorreu após a “reforma protestante”, no século 16, cuja luz não tardou a perder o seu brilho, seguido pelo despertar evangelístico através das obras missionárias em muitas partes do mundo, mas que lamentavelmente não impediu que a igreja se tornasse uma organização apóstata pela sua frouxidão doutrinária e institucionalização ecumênica. A igreja dos últimos dias está no mundo, como deve estar, mas o mundo passou a estar em seu meio, onde não deveria estar.

 

5. A carta a Sardes– 3:1-6

 

Embora demonstrasse, aparentemente, estar “viva”, de fato o Senhor a considerava uma “igreja morta” (v. 1). Os seus membros não possuíam uma vida espiritual “íntegra”, de fato se dedicavam a um mero ritualismo religioso, amplamente observado em nossos dias. “Não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”, diz o Senhor (v. 2). Todavia, alguns poucos que lá se reuniam eram “dignos” por permanecerem fiéis ao Senhor e à Sua Palavra (v. 4). Ela carregava um formalismo estéril, como um cadáver bem vestido, mas faltava-lhe a força vital. O Senhor a convocou para um sincero e urgente arrependimento (v. 3).

Reflitam comigo! Havia obras praticadas por essa igreja? Claro que sim (v. 1), mas o Senhor delas não Se agradava por serem imperfeitas (v. 2), elas eram inadequadas por estarem fora da Sua soberana vontade. Fica a pergunta: Será que o Senhor está a aprovar as obras hoje praticadas por aqueles que se intitulam “evangélicos”?

Por oportuno, transcrevo o pensamento de Jayro Gonçalves a respeito: “Em 1 Timóteo 6:3-6, Paulo ensina que a doutrina do Senhor Jesus é segundo a piedade e não concorda com as falsas doutrinas que os falsos mestres expõem. No versículo 5 verificamos que a motivação da atitude dos falsos mestres era a obtenção de lucros (característica notória das seitas tão em voga em nossos dias), e o faziam, descaradamente, como demonstração de piedade (“supondo que piedade é fonte de lucro”)... Eram impulsionados por uma motivação oculta de cobiça, e ensinavam que suas riquezas eram um sinal de que Deus aprovava seus ensinos”.

Do ponto de vista histórico, Sardes nos remete ao período após a grande reforma promovida em 31/10/1517, por Martinho Lutero, mas, como observamos em nosso entorno, Satanás conseguiu obstaculizar essa “reforma” levando muitas igrejas à perda da sua identidade por carregar sobre si uma ortodoxia morta da qual jamais se recuperarão. Eis aqui um exemplo claro do cristianismo meramente nominal, que se sobressai pelos aspectos que exterioriza, mas aos olhos do Senhor é um fracasso retumbante. O denominacionalismo que se desenvolveu depois da reforma de Lutero permanecerá até o arrebatamento da Igreja.

Mas o Senhor incentiva ao que vencer: “De modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida” (v. 5). O Senhor não está a sugerir que é possível a um filho de Deus perder a Salvação, pois os cristãos verdadeiros possuem a segurança eterna da Salvação, conforme vemos em João 3:16, 5:24 e 10:27-29. Os que se “perdem” são os que de fato não se convertem ao Senhor, apenas estão envolvidos com sentimentos religiosos. Portanto, “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 6).

 

6.    A carta a Filadélfia – 3:7-13

Ufa, que alívio! Após lermos sobre a intensa corrupção doutrinária de Sardes, com o seu mortificante formalismo religioso, eis que o Senhor se dirige a esta igreja sem nenhuma acusação, assim como ocorrera com Esmirna, a igreja sofrida. Vemos em Filadélfia uma igreja autêntica em meio àquelas meramente professantes.

Para ela o Senhor Se apresenta como Aquele que tem a chave de Davi (v. 7), ou seja, a mais absoluta autoridade de abrir e fechar a porta da Sua casa sem que ninguém possa fazer o contrário. Escreve R. David Jones acerca disso: “No capítulo 1:18 de Apocalipse Ele diz que tem as chaves da morte e do inferno, mas aqui ele fala do cumprimento da profecia achada em Isaías 22:20-25, assim como Eliaquim recebeu plena autoridade sobre Jerusalém, Cristo recebeu de Deus todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18), e, como Filho sobre a Sua casa, a igreja (Hebreus 3:6)”.

O ambiente nessa localidade não era nada propício a essa igreja, pois lá estavam aqueles que se diziam judeus, mas não eram, de fato o Senhor os qualifica como sinagoga de Satanás (v. 9). Todavia, o Senhor conhecia as obras praticadas por aquela Sua igreja, que apesar da pouca força que tinha, face ao contexto em que vivia, Ele tinha posto diante dela uma porta que ninguém poderia fechar, pois ela era fiel à Sua Palavra e jamais negou o Seu Nome (v. 8).

Não há nenhum desmerecimento à Filadélfia pelo fato do Senhor afirmar que ela tinha “pouca força”. Sua força era pequena porque os que lá se reuniam eram uma minoria diante dos judeus e pagãos existentes à época. Apesar da pouca influência material, eles possuíam uma extraordinária força espiritual através da porta aberta pelo Senhor.

Aqueles cristãos confiavam plenamente no Senhor. Dada a essa absoluta fidelidade, o Senhor manteria o seu testemunho e os que eram contra eles ficariam sabendo o quanto o Senhor os amava (v. 9). Assim como foi nos inícios da igreja (Atos 14:27; 1 Coríntios 16:9; 2 Coríntios 2:12), esta porta ainda permanece aberta para aqueles que estão dispostos a manter a sã doutrina, não os ensinos de homens ou tradições religiosas, mas exclusivamente ao que está estabelecido na Palavra de Deus para a Sua Igreja.

A característica dessa igreja é vista claramente a partir de 1750 com o surgimento de um grande avivamento missionário, em muitas partes do mundo, cujo fruto dessa restauração será observado até o arrebatamento da Igreja.

Àqueles que se mantiverem na doutrina, o Senhor promete que não passarão pela grande tribulação que virá sobre a Terra (v. 10), ao contrário, serão guardados desse período através do arrebatamento da Igreja, e não em meio ou após a tribulação como asseveram alguns equivocadamente. No versículo 11 vemos que há um galardão, a coroa da perseverança, que deverá ser preservado para que ninguém o tome, pois está reservado a todo aquele que guarda o bom depósito, o modelo das sãs palavras, conforme diz Paulo em 2 Timóteo 1:11-15.

Os vencedores serão transformados em colunas gloriosas perante Deus e partilharão da vitória final do Senhor Jesus Cristo. Receberão um novo nome e habitarão na nova morada donde jamais sairão, a identificação com o Rei será completa (v. 12). Portanto, atentemos novamente para o que diz o Senhor:“quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 13).

7.    A carta a Laodiceia – 3:14-22

Pois, então, chegamos ao fim! Com esta carta João encerra as coisas “que são”, ou seja, o período de existência da Igreja neste mundo. Laodiceia tipifica a igreja do fim dos tempos quando Jesus vier para buscar os que são Seus, antes do início da grande tribulação. Vemos nessa carta uma afirmação alarmante: o Senhor Jesus está fora do chamado contexto cristão: “Eis que estou à porta e bato” (v. 20), o que está a indicar que os muitos milhões que fazem parte da cristandade dos nossos dias não participarão do arrebatamento da Igreja caso não se arrependam dos desvios doutrinários praticados no formalismo religioso em que vivem (v. 19).

Ao ler essa minha afirmação, você poderá estar a indagar: “Como assim, se nunca se falou tanto no nome de Jesus como agora, há milhões de referências nos sites de busca na Internet?”. Falar em Jesus, meu caro leitor, até os demônios o fazem (Lucas 4:33-35; Atos 16:16-18; 19:13-16). Já houve quem dissesse que “é um triste erro levar o título de cristão sem o ser. É uma terrível ilusão a um não menos terrível despertar”.

Você poderá redarguir: “E a grande quantidade de sinais e milagres que estão a acontecer através dos atuais pastores, bispos, reverendos, apóstolos, profetas, patriarcas etc.?”. Você deve se lembrar dos sinais feitos pelos bruxos do faraó quando o povo de Deus estava escravizado e lá estava Moisés para libertá-los. Eles fizeram coisas impressionantes com os seus encantamentos: transformaram água em sangue e fizeram subir enorme quantidade de rãs sobre a terra do Egito (Êxodo 7:20-22; 8:6-7).

Portanto, esses sinais não são uma presunção factual da ação de Deus. O falso profeta que virá irá operar grandes sinais: fará descer fogo do céu e lhe será concedido dar fôlego à estátua do anticristo para que a imagem fale (Apocalipse 13:11-15). Você já imaginou o impacto que será ouvir uma estátua falando? Pois é, isso não virá de Deus, mas do diabo.

Você também poderá insistir em sua argumentação: “Mas o Senhor Jesus disse que os sinais e milagres acompanhariam os que creem?”. Não se esqueça do que Ele também disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus... muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muito milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”(Mateus 7:21-23).

Desnecessário acrescentar qualquer argumento sobre isso que o Senhor Jesus asseverou, mas convém citar o que William MacDonald disse a esse respeito: “Um milagre simplesmente demonstra que um poder sobrenatural está atuando, esse poder pode ser tanto divino como satânico. Satanás pode criar a ilusão de que um milagre é divino”. Lembremo-nos, sempre, das palavras do Senhor Jesus: "hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mateus 24:24).

Vejamos, então, o estado espiritual dessa igreja. Não há um único elogio para ela! Nela o Senhor não encontra nada recomendável. A sua complacência e mornidão espiritual eram duas características que colocava o Senhor para fora do seu meio (v. 15). Ela foi alcançada pelas coisas ruins das demais, desde a perda do primeiro amor pela igreja em Éfeso, passando pelo mundanismo de Pérgamo e pelo clericalismo de Tiatira. Ao chegarmos a Laodiceia vemos uma igreja em que o Senhor está a ponto de vomitá-la (v. 16). Ela é tão somente uma entidade religiosa que se denomina ser de Cristo, todavia Ele está fora dela (v. 20).

Os que lá se reuniam poderiam até pensar que estavam a fazer as coisas certas, eram bastante prósperos materialmente, como as atuais denominações evangélicas esparramadas mundo afora e que estão a pregar a enganosa “teologia da prosperidade”. Lamentavelmente essa heresia está sendo copiada até por aquelas que eram tidas como mais ortodoxas. O Senhor diz energicamente: “és um coitado, miserável, pobre, cego e nu” (v 17).

Sem dúvida uma duríssima admoestação, mas o Senhor repreende os que ama e por certo lá haveria um remanescente que se arrependeria da sua hipocrisia religiosa (v. 19). Por conta disso, o Senhor a aconselha (v. 18) para que cobrisse a vergonha da sua nudez e cegueira espiritual. Laodiceia não tinha consciência da sua imundícia espiritual, ela pensava estar “vestida” perante o Senhor, mas de fato estava despida por não conseguir enxergar que estava fora da simplicidade, santidade e autenticidade do Evangelho.

O Senhor desejava que ao menos alguns que lá se reuniam voltassem à comunhão com Ele (v. 20). Ao vencedor, àquele que conseguisse se livrar das amarras da fraude religiosa, lhe seria concedido o direito de se assentar com Ele no trono da Sua Glória (v. 21).

Finalizando este capítulo, vemos que o Senhor Se apresenta a esta igreja como “a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (v. 14) e finaliza instando-nos para que ouçamos, pela sétima vez, o que o Espírito diz às igrejas (v. 22). Permita Deus que assim seja!

autor: José Carlos Jacintho de Campos.