A Caminho do Apocalipse - 09

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3

Capítulo 9

Conforme vimos no versículo 13 do capítulo anterior, o apóstolo João ouviu que três “ais” estavam por desabar sobre a Terra ao soar das três trombetas restantes. Acontecimentos terríveis ainda estavam por vir. Não dá para imaginar o que passava pela mente do consagrado servo de Deus após transcrever os juízos das quatro primeiras trombetas. Sem dúvida foram revelações aterrorizantes.

No primeiro versículo deste nono capítulo ele vê, ao soar da quinta trombeta, uma estrela que havia caído sobre a Terra e a ela – estrela – foi entregue a chave do “poço do abismo”. É impressionante a quantidade de controvérsias existentes acerca dessa “estrela” que João não viu cair do céu, mas que já havia quedado antes desta sua visão.

A primeira dificuldade encontrada pelos comentaristas é o que seria essa “estrela”. É claro que não se trata de um corpo estelar, pois em sua queda nada de catastrófico ocorreu como as outras que vimos no oitavo capítulo. Inobstante a isso, jamais poderia ser algo inanimado tendo em vista que estava a portar uma chave que abriria o “poço sem fundo” que, conforme explicita James Allen, é a tradução mais apropriada para o vernáculo originalabussos.

Aos inícios desta série de crônicas, descrevi acerca do significado simbólico de “estrelas” no Apocalipse como sendo “anjos” e é este o entendimento que devemos ter acerca desta estrela caída. Pelas razões expostas no parágrafo acima, o personagem aqui caracterizado não pode ser outro que não seja o diabo.

Diz o antigo profeta de Deus ao se referir à queda de Satanás, o anjo rebelde: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações... levado serás ao Seol, ao mais profundo do abismo” (Isaías 14:12-15). De forma semelhante citou o Senhor Jesus: “Eu via Satanás como raio, cair do céu” (Lucas 10:18). Portanto, bem haja quem assim interprete!

Essa “estrela caída”, que se trata do anjo banido, recebe a chave do “poço do abismo” para soltar a horda de demônios que ali se encontra trancafiada. Por sete vezes lemos a menção deste “poço” em Apocalipse, que se trata de uma prisão profunda temida pelos próprios demônios conforme lemos em Lucas 8:31... “Rogavam-lhe [a Jesus] que não os mandassem para o abismo”.

Sem dúvida, terrível juízo retribuidor está por acontecer na Terra. A visão de João é assustadora. Uma imensa erupção de fumaça, como que de uma fornalha ardente, surge com a abertura do “poço do abismo” que de tão densa escurece o sol e o ar ao seu redor (v. 2). É o prenúncio da soltura de terríveis poderes demoníacos sobre a Terra. Semelhante fumaça lemos por ocasião do juízo de Deus sobre as cidades impenitentes: "E Abraão... contemplando Sodoma e Gomorra e toda a terra da planície, viu que subia da terra fumaça como a de uma fornalha" (Gênesis 19:27-28).

Todavia, surge aqui algo incomparavelmente pior. Em meio a toda essa fumaça surgem criaturas aterrorizantes, semelhantes a “gafanhotos”, com o propósito de não causar dano à vegetação, como seria próprio dos gafanhotos (Êxodo 10:14-15), mas aos homens que não trouxessem o “selo de Deus”. Eles teriam o poder até para aniquilar a humanidade incrédula, entretanto isto lhes será negado, eles terão a permissão de somente atormentarem aos homens rebeldes a Deus por um período de cinco meses de terríveis tormentos (vs. 3 a 5).

Você poderá estar a questionar: “O texto bíblico fala em gafanhotos e esses insetos não têm esse poder?”. A resposta é simples, meu caro leitor. Esses gafanhotos simbolizam hostes demoníacas e isso é facilmente observável pelos aspectos que eles possuem e pelo fato deles possuírem um rei (vs. 7 a 11). Por definição, gafanhotos não têm rei como ocorre com essa escória. Diz Agur: “Os gafanhotos não têm rei” (Provérbio 30:27). Esses tinham sobre si, como seu rei, o “anjo do abismo”: Abadom, que em hebraico significa “destruição”, ou Apoliom, que em grego tem o significado de “destruidor” (v. 11).

Alguns veem nesse “anjo do abismo” que estará liderando essa súcia maligna, o próprio Satanás, todavia isto é um equívoco, pois o diabo se coloca acima deles como o tenebroso príncipe das trevas (Efésios 2:2 e 6:11-12), que Paulo o identifica como o “deus deste século” (2 Coríntios 4.4). Portanto, esse “anjo” é a ele subordinado.

Por sua vez, há grande dificuldade de entendimento para muitos a respeito do teor do versículo 6... “Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles". O tormento pelo qual passarão será agravado pelo desespero de não serem capazes de se suicidarem. Diz William MacDonald a esse respeito: “A dor será tão intensa que levará os homens a buscar a morte, mas o farão em vão. A possessão demoníaca lhes provocará intenso sofrimento físico e tormento mental...”. A morte fugirá deles. Esses demônios não terão permissão para matá-los (v. 5). A possessão demoníaca de seus corpos será tão excruciante que não conseguirão se livrar dessa opressão nem através da morte.

Passado é o primeiro “ai”! Depois deste ainda virão mais dois (v. 12). O primeiro foi extremamente dolorido, o próximo será mortal. O pior ainda está por vir, pois os juízos se tornarão cada vez mais intensos.

Ao soar a sexta trombeta ouve-se uma voz determinando para que fossem soltos os quatros anjos malignos que se acham “acorrentados” junto ao rio Eufrates (v. 13-14). A eles estava estabelecida uma data de exclusivo conhecimento de Deus – hora, dia, mês e ano – com a permissão de matarem uma terça parte da humanidade (v. 15).

Esses agentes diabólicos serão cruéis. Eles irão reunir uma poderosa força invasora jamais vista pela humanidade: um espantoso exército de 200 milhões de participantes (v. 16). Para se ter uma ideia do que esse número representa, a soma das 10 nações com o maior efetivo militar, atualmente no mundo, não chega a 10 milhões de militares, e para manter esses exércitos elas gastam mais de 500 bilhões de dólares por ano.

Numa simples analogia, todo o efetivo militar dessas 10 nações representa menos de 5% desse diabólico exército, e se fosse de seres humanos o custo alcançaria a incrível soma de mais de 10 trilhões de dólares/ano. Em termos econômicos é algo inexequível, pois se levarmos em consideração toda a logística necessária para a manutenção dessa enorme força-tarefa e a produção de armas e demais acessórios para equipar esse contingente de soldados, não haveria recursos financeiros para uma empreitada dessa envergadura. Logo, se trata de um exército de demônios que invadirá o mundo.

Difícil de acreditar nessa quantidade de 200 milhões de “militares”? Não! Porque se trata de uma revelação de Deus. Note atentamente ao que diz João: “eu ouvi o seu número” (v. 16). Se o número não lhe fosse dito seria impossível a contagem visual de tão grande ajuntamento. Logo, essa quantidade é absolutamente real.

Assim como os gafanhotos que vimos nos versículos anteriores, João agora vê estranha força invasora cujas descrições fogem à nossa percepção, portanto é algo simbólico (vs. 17 a 19). Em sua descrição ele afirma que a força desses “cavalos” estava em suas bocas e caudas, e isso é contrário à natureza desses animais, pois a força do cavalo natural está em seu pescoço, peito e patas, principalmente as traseiras, sendo que sua boca é a sua parte mais sensível, onde são colocados os cabrestos para que sejam dominados. Diz-nos Davi: “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio; de outra forma não se sujeitarão” (Salmo 32:9). Este é um exército atípico e medonho.

Alguns veem nesses implacáveis invasores o cumprimento da profecia acerca da invasão de Israel revelada por Ezequiel, capítulos 38 e 39, todavia pelas descrições do consagrado profeta essas forças viriam do “extremo norte”, ou melhor, “dos confins do norte” (Ezequiel 38:6 e 15). Aqui em Apocalipse, no versículo 14, esse gigantesco ajuntamento se dará junto ao “grande rio Eufrates”, portanto não ao norte, mas a leste de Israel. A sua carnificina é dirigida à humanidade como um todo, e uma terça parte dela será extinta (vs. 15 e 18).

Três flagelos são mencionados por João: fogo, fumaça e enxofre (vs. 17 e 18). Esse extermínio será de forma extremamente asfixiante. Dados recentes dão conta que a população mundial em 2011 alcançará o montante de 7 bilhões de seres humanos e em 2025, tudo mais constante, esse número chegaria a 8 bilhões. Partindo-se desse pressuposto, levando-se em conta que com a abertura do sexto selo uma quarta parte da humanidade será morta (Apocalipse 6:8), e nesta sexta trombeta mais um terço do restante será extinto, a conclusão é que a metade da população mundial deixará de existir, ou seja, cerca de 3,5 bilhões de almas serão aniquiladas nesses dois juízos. Dura coisa é tomar conhecimento disto, mas isso é o que estabelecido por Deus em Sua Palavra.

Diante de tamanha desgraça seria de se esperar que a humanidade se despertasse da sua obcecada incredulidade, se arrependesse e voltasse para Deus. Mas, lamentavelmente, não é isso que ocorrerá (vs. 20 e 21). Diz o texto desses versículos que os bilhões que ainda estiverem vivos após a essas tragédias não se arrependerão, ao contrário, continuarão em suas práticas criminosas e no enganoso exercício religioso que será introduzido pelo “falso profeta” que haverá de surgir.  Mas este é um assunto que veremos mais à frente.

Não se permita, caro leitor, a colocar em dúvida o que aqui está revelado. Você poderá achar que o conteúdo deste capítulo é exacerbadamente sobrenatural e impossível de ser explicado ao incrédulo sem ser por ele ridicularizado. Primeiramente você tem que ter absoluta certeza nisso que você chama de “sobrenatural”. Indiscutivelmente é uma questão de fé. Se assim não fosse, como entender o “sobrenatural” do dilúvio, da torre de Babel, de Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a abertura do Mar Vermelho, os dedos escrevendo na parede do palácio de Belsazar, Jonas sendo engolido pelo grande peixe, o nascimento virginal do Senhor Jesus, os Seus milagres, a aparição de Moisés e Elias no monte da transfiguração, a Sua ressurreição e ascensão, além de inúmeras outras narrativas que não há espaço aqui para descrevê-las?

A triste realidade dos nossos dias é que vivemos um cristianismo apático, institucionalizado, meramente religioso, onde as pessoas não mais se dedicam ao estudo da Palavra de Deus, deixando-se conduzir por muitos enganadores que de fato amam o lucro e a notoriedade, e através de metáforas ilusórias insinuam que os acontecimentos aqui descritos “não serão bem assim”. Portanto, "tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”(Colossenses 2:8).

Ouçamos, ainda, o que nos diz Paulo em 2 Timóteo 4:1-5, que chegará o tempo em que os homens não mais suportarão a sã doutrina, não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas. Por sua vez, o verdadeiro cristão deverá cumprir cabalmente com o seu ministério não tendo do que se envergonhar. Permita Deus que assim seja!

autor: José Carlos Jacintho de Campos.