A organização das igrejas locais (1)

Nasceu em 21/11/1935, espiritualmente em 1952,
veio para o Brasil em 1960, e faleceu 30/05/2016

AS IGREJAS DE DEUS

Atos dos Apóstolos registra apenas uma pequena parte do trabalho de dois apóstolos — Pedro e Paulo. Não relata tudo que estes servos de Deus fizeram, mas apenas alguns incidentes escolhidos pelo Espírito Santo. Quanto aos outros apóstolos e aos demais servos de Deus, que sem dúvida trabalharam muito, o livro relata quase nada.

“Atos” não apresenta um quadro completo das atividades de nenhuma igreja, mas relata algumas atividades de algumas igrejas — como por exemplo a que estava em Jerusalém e, mais tarde, a que estava em Antioquia.

Fica evidente, portanto, que o propósito deste livro não é fornecer uma história dos primeiros anos da igreja, mas sim, fornecer um modelo que deve ser seguido por pregadores e por igrejas até o Arrebatamento. Este modelo não é difícil de se perceber.

O MODELO

Por ser tão diferente daquilo que vemos ao nosso redor, a simplicidade deste modelo nos impressiona muito; nos surpreende. Apresenta um contraste nítido com a organização e o institucionalismo que agora caracterizam o cristianismo.

A DEPENDÊNCIA

A pregação apostólica começou em Jerusalém, não porque eles decidiram que seria o melhor lugar para começar, mas porque o Senhor mandou começar ali (Lucas 24:47). Esta dependência da direção divina, tanto no trabalho dos apóstolos como nas atividades das igrejas, caracteriza Atos dos Apóstolos, e fica cada vez mais clara à medida que avançamos na leitura do livro.

Os apóstolos não escolheram um outro para tomar o lugar de Judas, mas pediram que o Senhor mostrasse aquele que Ele havia escolhido (Atos 1:24). No dia de Pentecostes eles não falaram quando e como quiseram, mas "conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (Atos 2:4).

Naqueles dias houve uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém, e todos foram dispersos, exceto os apóstolos (Atos 8:1). Os que foram dispersos iam por toda a parte anunciando a Palavra (Atos 8:4). Um deles, Filipe, estava pregando em Samaria quando o anjo do Senhor lhe disse: "Levanta-te e vai para a banda do sul…" (Atos 8:26). Ele levantou-se e foi. Ao chegar naquele lugar deserto, ele viu um carro se aproximar e o Espírito Santo lhe disse: "Chega-te e ajunta-te a esse carro" (Atos 8:29). Filipe obedeceu e o eunuco foi salvo e batizado e logo o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe (Atos 8:39).

Através destes exemplos Deus está dizendo que os Seus servos devem estar livres para obedecer as Suas ordens. Não devem estar presos a um trabalho planejado por uma entidade missionária, ou outra qualquer. Aqueles pregadores não foram enviados por uma igreja, nem por uma organização criada para promover o evangelismo. Foram enviados e guiados pelo Senhor e pelo Espírito Santo (Atos 13:4).

Mais tarde vemos um caso muito importante que confirma o que já notamos. Paulo, Barnabé e Timóteo tiveram a intenção de anunciar a Palavra na Ásia, mas foram impedidos pelo Espírito Santo. Em seguida, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lhes permitiu. Concluindo então que o Senhor os chamava para pregar em Macedônia, foram para lá (Atos 16:6-10).

A INDEPENDÊNCIA

Voltando a pensar naqueles que foram expulsos de Jerusalém por causa da perseguição, vemos que alguns deles chegaram à Antioquia. Começaram a anunciar o Senhor Jesus aos gregos, e a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor.

As notícias logo chegaram a Jerusalém, e a igreja enviou Barnabé, o qual, quando viu a graça de Deus, alegrou-se e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, e partiu para Tarso a buscar Saulo, e ficaram com a igreja em Antioquia um ano inteiro, e ensinaram muita gente.

Mais uma vez ouvimos Deus falar através destes exemplos. Ele está dizendo que as igrejas devem ser autônomas, porém unidas por laços espirituais. Barnabé não organizou a igreja em Antioquia; não uniu aquela igreja a uma união de igrejas já existente; na verdade, não lhe acrescentou coisa alguma. Simplesmente exortou a todos que PERMANECESSEM no Senhor — isto é, que continuassem na posição na qual ele os encontrou. Esta igreja nova não se uniu a um movimento, com ou sem nome, mas uniu-se ao Senhor (Atos 11:19-26).

Este modelo — servos do Senhor independentes de organizações humanas, e igrejas autônomas e independentes, sem nenhum vínculo denominacional ou institucional, é destacado no Novo Testamento. Não existe nenhum corpo parcial que seja maior do que a igreja local e menor do que a igreja gloriosa que Ele há de apresentar a Si mesmo (Efésios 5:27). Havia muitas igrejas na Galácia, mas não se formou “A igreja da Galácia”. Qualquer união de igrejas, seja qual for o seu nome, ou quais forem os seus propósitos, é um corpo sectário que inclui alguns cristãos e exclui outros. É exclusivista, não reconhecendo a "unidade do Espírito" que temos a responsabilidade de guardar. Deus não quer que as igrejas se unam formalmente, mas sim que os laços que as unem sejam unicamente espirituais — o laço duma vida comum em Cristo, uma atração à Sua pessoa, e uma submissão à Sua palavra. O modelo deixado nas Escrituras é claro, embora seja desprezado pela sabedoria carnal e terrena.

Examine bem o livro de Atos dos Apóstolos e verifique se há lugar naquele modelo para uma entidade que visa harmonizar os esforços de igrejas locais, no sentido de desenvolvimento do ministério do Evangelho. Verifique se há lugar para uma entidade que fomente a cooperação entre as igrejas para equipar "obreiros" através de instituições objetivamente criadas para esse fim.

Não existiram tais entidades nos dias apostólicos. E não foi porque faltou tempo para organizá-las; foi porque a sua existência é incompatível com o modelo deixado em Atos dos Apóstolos.

Este fato coloca cada igreja local diante de uma escolha das mais importantes: seguir o modelo deixado nas Escrituras, ou filiar-se a uma união de igrejas. A sua sobrevivência depende da resposta.

autor: Ronaldo E. Watterson.