As ofertas do povo de Deus e o sustento dos que se dedicam e

Leituras: Números 18.20-21, 24; 16.40; 18.1-19, 26

Embora existam entre algumas denominações chamadas cristãs, inclusive em nosso contexto, aqueles que não concordam que haja da parte de Deus um chamado exclusivo a certos irmãos e irmãs para darem o seu tempo integralmente à Sua obra, isso não significa que estejam corretos. Esse fato é claramente descrito tanto no Antigo como do Novo Testamento, da existência de trabalhadores que dedicam seu tempo exclusivamente ao serviço de Deus e os que assim o fazem que vivam do Evangelho (1 Coríntios 9:14), para que, no exercício do seu ministério, não tenham envolvimento com os negócios deste mundo, à semelhança de um soldado arregimentado como escreveu o apóstolo Paulo: “Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2 Timóteo 2:4).

Desde o Antigo Testamento houve servos se dedicando em tempo integral à obra de Deus e sustentados pelo Seu povo:

Ainda que não seja minha intenção escrever sobre o chamado, serviço e sustento de vários servos de Deus do Antigo Testamento, quero citar sucintamente o exemplo dos levitas.

Os levitas tinham uma multiplicidade de responsabilidade e serviço que girava em torno do tabernáculo e, mais tarde, continuaram a servir no templo. Portanto, diante de tamanha responsabilidade e trabalho, lhes foi conferido por Deus o direito de se dedicarem em tempo integral e serem sustentados pelas onze tribos.

Dentre a tribo de Levi, Deus escolheu a casa de Arão para que exercesse o sacerdócio, sendo Deus mesmo a porção deles, como consta em Números 18:20... “Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra, herança nenhuma terás e, no meio deles, nenhuma porção terás. Eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel” (para melhor compreensão de como a família sacerdotal de Arão vivia e era sustentada, sugiro uma leitura atenciosa capitulo 18 de Números, pois não há como detalhá-lo neste artigo).

Sendo assim, Deus determinou que os levitas, incluindo a casa de Arão, não tivessem herança de terras para a criação de gado e plantação de lavouras etc., como as outras onze tribos tiveram, neste caso a determinação divina é que eles estivessem totalmente envolvidos no serviço do Senhor e que fossem sustentados pelos dízimos das demais tribos, não permitindo Deus que as onze tribos viessem a exercer o serviço espiritual na tenda da congregação conforme Números 18.21-24... “Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação e responderão por suas faltas; estatuto perpétuo é este para todas as vossas gerações. E não terão eles nenhuma herança no meio dos filhos de Israel. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel, nenhuma herança tereis”.

Sobre o assunto do sustento dos levitas J. R. Littlepround escreveu no seu livro “A assembleia Cristã” (pg. 29): “Manutenção do ministério: O levita não tinha herança, portanto, não tinha onde se apegar no que se refere ao seu sustento, neste caso, dependia inteiramente de Deus, o qual havia ordenado às onze tribos ofertarem para o sustento dos levitas. O levita servia ao Senhor e, portanto, era o Senhor quem o sustentava”.

Os altos e baixos no suprimento dos sacerdotes e levitas:

Em todos os tempos há falhas e infidelidade da parte do povo de Deus quanto ao sustento dos que trabalham exclusivamente na Sua obra, contudo, nunca da parte de Deus, como Paulo escreveu: “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2:13).

Vemos na história do povo de Israel que quando seus reis e o povo eram fiéis em cumprir às leis de Deus, eles contribuíam conforme o exigido, aí a tribo de Levi e os sacerdotes tinham abundância de suprimento, mas quando estes eram infiéis, os levitas e sacerdotes padeciam.

Para exemplificar isso, veremos apenas os exemplos dos reis Acaz e Ezequias:

Ao lermos a história do rei Acaz registrada no capítulo 28 de 2 Crônicas, o qual reinou por dezesseis anos, vemos que nos anos de seu reinado, houve um completo afastamento de Deus e de Suas leis entregando-se por completo à idolatria, chegando até o cúmulo do fechamento da Casa do Senhor. Minha pergunta, mediante tudo o que estava espiritualmente acontecendo durante aquele reinado, seria esta: Onde e o que estavam fazendo os levitas e os sacerdotes do Senhor nesse tempo? Bem! Com a Casa de Deus fechada e a idolatria reinando, obviamente que todo o povo estava corrompido por faltar-lhes direção cf., Provérbios 11:14... “Não havendo sábia direção, cai o povo...”. Neste caso, está mais do que certo que não havia o exercício do culto a Deus, o que leva-nos a imaginação de que, sem os dízimos e sem terras para cultivar, os levitas e os sacerdotes tiveram que recomeçar um novo modo de vida, ou seja, "fazendo bicos" para a sobrevivência, isto não quer dizer que eles tinham abandonado o propósito do chamado de Deus para eles, mas, porque foram desamparados pelo povo de Deus.

Quando, porém, lemos a história do rei Ezequias registrada nos capítulos 29 a 31 de 2 Crônicas, o qual reinou por vinte e nove anos, vemos um reinado completamente oposto ao de seu pai, pois ele voltou-se para o Senhor e promoveu literalmente um reavivamento sobre toda a nação começando por Jerusalém, reabrindo e reparando a Casa do Senhor e ordenando aos levitas e sacerdotes que se santificassem, bem como santificasse a Casa do Senhor, Deus dos antepassados deles tirando do seu santuário a imundícia. Assim foi restabelecida a Casa do Senhor e o ministério dos levitas e sacerdotes.

Sendo que o próprio rei Ezequias não se esquivou da grande responsabilidade, pois contribuiu de seus próprios bens com animais para holocaustos e ordenou ao povo de Jerusalém que contribuísse com a parte dos sacerdotes e levitas para que pudessem se dedicar à lei do Senhor (2 Crônicas 31.4). Vemos isso contagiando todo o Israel e Judá, como se pode ver nos versículos 5-10. Com este reavivamento, os levitas e sacerdotes puderam voltar à prática e exercício de suas reais funções, para as quais foram separados por Deus.

Nestes acontecimentos que vimos, há certa semelhança com o tempo da igreja hoje:

Ao considerarmos estes exemplos no que diz respeito aos reis, as onze tribos, os levitas e sacerdotes, parece não haver muita diferença daquele tempo com o nosso – o da dispensação da graça e formação da igreja. Naquele tempo, se o rei, que era a liderança governamental de Israel, tivesse temor do Senhor e vivesse em Sua presença como o exemplo de Ezequias, a nação toda também se voltava para Deus, e os sacerdotes e levitas estavam amparados e supridos e a nação em geral abençoada, mas, caso contrário, o que acontecia é o que já vimos no exemplo do reinado de Acaz.

Às vezes, hoje em dia, irmãos que trabalham exclusivamente na obra de Deus, não vivendo encostados, mas sendo sinceros e compromissados; há alguns destes que estão sendo, a semelhança dos levitas e sacerdotes, obrigados a “fazer bicos” ou até voltar ao trabalho secular para suprimento pessoal e familiar. As causas disso podem ser muitas, mas a mais comum é por faltar da parte de alguns líderes e das próprias igrejas locais, inclusive por parte das igrejas que têm recomendado tais obreiros, visão missionária e o cuidado com aqueles que trabalham integralmente na obra de Deus pregando e ensinando a Palavra, os quais, por ordenação divina devem viver do evangelho cf. 1 Coríntios 9:14... “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho”.

A responsabilidade da igreja que recomenda alguém à obra

Não defendo que a igreja que recomenda alguém à obra em tempo exclusivo, esteja obrigada em sustentá-lo, mas entendo que a igreja que recomenda tem responsabilidade sim, de, em conformidade com suas posses, ofertarem sistematicamente com aqueles que do meio dela saíram, pois ela deve ser a principal interessada no bem-estar e suprimento dos que por ela foram recomendados, até porque, para ela, é vergonhoso e humilhante ver “seus obreiros” lamentando nas redes sociais ou por qualquer periódico que entre nós circula, a exemplo o Boletim dos Obreiros, a falta de recursos, recorrendo a outras igrejas para suprimento pessoais ou da obra. Mas infelizmente o que muito tem acontecido é que uma igreja recomenda como obreiros, por exemplo, um casal com filhos pequenos, e se esquece deles na esfera da contribuição, comunicação e até de oração, achando que as instituições missionárias e outras igrejas é que têm a obrigação de cuidar deles.

Este caso é bem parecido com o pássaro “tecelão-parasita” (nome cientifico: Anomalospiza imberbis), que é bem conhecido por ludibriar outros pássaros que acabam por criar seus filhotes, ele deposita seus ovos nos ninhos de outras aves e tenta, inclusive, combinar seus ovos, disfarçando-os para que se pareçam com o de seus hospedeiros. Desta forma, ele tira vantagem das aves que acabam virando, involuntariamente, pais adotivos, que chocam os ovos dos tecelões-parasitas junto com os seus próprios e criam os filhotes depois que estes saem dos ovos.

Que fique igualmente claro que além da igreja que tem recomendado obreiros, sendo ela a principal responsável no envio de ofertas para o suprimento destes e coisas eventuais relativas ao trabalho destes obreiros, as demais igrejas coirmãs e irmãos e irmãs, sentindo-se direcionados pelo Senhor, devem cooperar com ofertas para estes, a exemplo de Paulo que foi recomendado pela igreja de Antioquia e recebeu ofertas da igreja de Filipos (leiam Filipenses 4.10-19, com ênfase nos vs. 15 e 16).

Falando dessa forma, me sinto constrangido a dizer que as igrejas de onde saímos em 1981 para nos dedicarmos integralmente à Obra do Senhor, nunca nos desamparou em nenhum sentido, sempre têm financeiramente nos assistidos, não integralmente, mas na medida de suas posses, e suas orações e comunicações por telefone e redes sociais são coisas de rotina.

Meu sincero desejo e oração é para que este artigo seja de bênçãos a todos os leitores.