Igreja viva ou morta?

“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto”

Apocalipse 3:1

A idéia que se tem de uma igreja local está sempre ligada aos seguintes aspectos:

  1. Um edifício bem construído, dentro das mais modernas técnicas de utilização: iluminação, ventilação, acústica, circulação, acomodação, equipamento de som, etc.
  2. Um bom esquema organizacional com o suporte indispensável de um bem elaborado organograma, com as definições das responsabilidades funcionais de cada departamento ou setor.
  3. Multiplicidade de departamentos: seniores, juniores, adolescentes, social, esportiva, de senhoras, com subdivisões que envolvem áreas de aprendizado de corte e costura, de arte culinária, de pintura e às vezes, também, ginástica, dança, etc.
  4. Diversidade de programas que satisfaçam o auditório, com apresentações bem elaboradas, onde não devem faltar corais, conjuntos, cenas teatrais, coreografias, etc.
  5. Evidentemente, no meio de tudo isso, não se deve esquecer que a igreja local deve ter suas reuniões devocionais normalmente programadas, tais como escola dominical, cultos e reuniões de oração.

Será que esse é o tipo de “Igreja Viva” que o Senhor pretende? O texto que encima este comentário, extraído da carta escrita à igreja em Sardes, faz-nos perceber que a vitalidade da Igreja é definida pela apreciação do Senhor: “conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto”. Uma igreja nos moldes acima descritos pode ser uma “igreja” bem organizada e muito ativa, porém uma igreja morta face a apreciação do Senhor.

À luz do modelo neo-testamentário que temos na Palavra de Deus, veremos algumas características da Igreja viva, em Atos 4:31 … “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus”.

1 – IGREJA DE ORAÇÃO
Tendo eles orado

A informação que Lucas nos dá da igreja primitiva nesse aspecto é de uma Igreja orando. Ele não diz: “fizeram orações”, mas “tendo orado”. A igreja para ser viva deve ter uma experiência constante de oração. É através da oração que conhecemos a vontade do Senhor e a igreja existe para cumprir estritamente a vontade do Senhor, não para satisfazer a esquemas que surjam na fértil imaginação humana.

A nossa inteligência, habilidades, capacidade e mãos constróem templos arquitetonicamente belos, de excepcionais acomodações para os assistentes, mas a experiência de oração constrói a “Igreja Viva”. Esse tipo de experiência envolve:

  • A NOSSA FÉ – O Senhor garantiu: “e tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis” (Mt.21:22). Oramos hoje muito mais confiando nos nossos recursos e nas possibilidades materiais que dispomos do que na realidade espetacular da inexistência do “impossível para Deus”. Orar com fé é orar confiadamente nos recursos do Senhor, que não têm dimensões e extravasam qualquer expectativa humana, por mais arrojada que seja. Quando todos oram “crendo”, a igreja realmente está orando com fé; só assim a experiência de oração será válida. Damos muito tempo para as programações, suas esquematizações e execuções, através de sistemas elaborados por nossa inteligência, imaginando resultados espetaculares e nos vangloriando antecipadamente do “nosso” sucesso. Aí a fé estará totalmente ausente. Quando, porém, a prioridade estiver em orarmos na dependência do Senhor, o resultado será extraordinariamente grande, fora das perspectivas humanas, mas dentro da vontade do Senhor. A fé, então presente, transforma-se no gozo humilde, mas real e completo, dos que são usados pelo Senhor e no autêntico louvor destes ao Senhor.
  • A NOSSA SINCERIDADE – A oração da igreja envolve a nossa autoridade. Disse o profeta Jeremias: “Então me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr.29:12-13). A sinceridade na experiência de oração da igreja implica em duas coisas: (1) Uma experiência de oração em que realmente confiamos ser a solução do Senhor a melhor, ainda que esta contrarie o que achamos ser o melhor. Não adianta pedirmos ao Senhor quando não estamos dispostos a aceitar a solução do Senhor. (2) Implica, também, essa sinceridade, no envolvimento profundo de nossa convicção. A Igreja não deve orar apenas para cumprir a programação da reunião de oração. A atitude deve resultar de uma convicção firme de que Deus tem o Seu plano e este deve ser alcançado na vida da igreja.
  • A NOSSA SANTIDADE – Eis aqui um ponto que implica muito com a eficiência da oração da igreja! O relacionamento com Deus pressupõe santificação. Deus notifica Seu povo de modo claro quando a essa exigência: “Eu sou o Senhor vosso Deus: portanto, vós vos consagreis, e sereis santos, porque eu sou santo…” (Lv.11:44). A experiência de oração denota a “Igreja Viva” quando envolve vida santificada. Os pecados devem ser confessados e afastados do comportamento cristão. O apóstolo Paulo exorta a igreja nestes termos: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2Co.7:1). “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” (1Tm.2:8). Deus não ouve, antes vira o rosto às orações que Lhe são dirigidas por vidas conscientemente maculadas; comparecer assim perante o Senhor é afrontá-Lo na Sua santidade. A experiência do povo de Israel foi desastrosa exatamente por isso, no dizer de Deus: “Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal” (Is.1:15-16).
  • A NOSSA ESPERANÇA – Orar com fé significa orar confiando e dependendo do Senhor. Orar com esperança significa orar com certeza da ação do Senhor. A esperança não significa ficar aguardando a resposta nos moldes dos nossos anseios, mas ficar aberto à ação de Deus nos moldes da Sua vontade. Disse o salmista: “Esperei confiadamente pelo Senhor” (Sl.40:1); e acrescentou: “Eis aqui estou… agrada-me fazer a tua vontade ó Deus meu” (Sl.40:7-8).
  • A NOSSA PERSEVERANÇA – É fácil desanimar quando não alcançamos logo o que pretendemos. Muitas vezes desistimos no meio do caminho porque não sabemos perseguir o objetivo. A oração pressupõe perseverança. Não se pode entender oração sem perseverança. Oração sem perseverança não é oração. A experiência de oração da igreja primitiva assim se define: “E perseveravam… nas orações” (At.2:42). Quando Paulo escreveu a Timóteo, orientava-o quanto ao comportamento correto da viúva cristã no que se refere à oração: "Aquela, porém, que é verdadeiramente viúva e não tem amparo, espera em Deus e persevere em súplicas e orações, noite e dia” (1Tm.5:5).

Vimos, assim, alguns envolvimentos necessários na verdadeira experiência de oração da “Igreja Viva”: A nossa fé, sinceridade, santidade, esperança e perseverança.

 

 

2 – IGREJA EVANGELISTA
com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus

Há dois pontos a serem destacados nessa característica da “Igreja Viva” :

I. “ANUNCIAVAM A PALAVRA DE DEUS”

A soberania da Palavra de Deus se manifesta quando ela é realmente a mensagem pregada para a conversão e o ensino exposto para edificação. Eles não pregavam o que achavam certo ou que julgavam melhor, mas exclusivamente o que Deus falava. Apenas lhes interessava, na pregação, transmitir a Palavra de Deus. Não pregavam o que agradava aos homens, nem faziam sermões elaborados à conveniência do seu auditório, mas transmitiam ao povo o que Deus queria que o povo ouvisse.

 

Para se falar o que Deus diz na Sua Palavra é preciso saber o que nela contém. Para “falar” é necessário “saber”; para “saber” torna-se mister “estudar”. A Bíblia sempre evidencia a importância da Sua soberania em nosso ministério verbal. Deus estabeleceu para o Seu povo, como condição para a sua prosperidade, a fidelidade do ensino da Sua Palavra a partir do ambiente familiar: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os vossos olhos. Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. Escrevei-as nos umbrais de vossa casa, e nas portas” (Dt.11:18-20).

Nesse trecho vemos a importância da Palavra de Deus na formação de um povo abençoado. A expressão contida no v. 18 é “minhas palavras”. Não era o que Moisés entendia ser o certo que deveria ser ensinado, mas exclusivamente a Palavra do Senhor. Antes que ensinasse ao povo, ele deveria conhecê-la bem e por isso Deus disse: “Ponde” no vosso coração (convicção); na vossa alma (compreensão); nas vossas mãos (ação); entre os vossos olhos (visão). Somente depois dessa experiência pessoal com a própria Palavra de Deus é que devemos ensiná-la: falando assentados em casa, andando pelo caminho, deitando-nos e levantando-nos.

Devia ainda o israelita tê-la nos umbrais da sua casa e na sua porta, o que significava uma evidência expressiva de testemunho perante outros, do valor e poder extraordinário da Palavra de Deus. A “Igreja Viva” é a igreja que se preocupa exclusivamente em anunciar a Palavra de Deus nos moldes divinos, conhecendo-a e transmitindo-a. Em Atos 1:8 lemos que as últimas palavras do Senhor Jesus Cristo, antes de subir aos céus, foram: “Sereis minhas testemunhas”. Notem: “minhas”, isto é, “do que Eu vos disse”. O Senhor coloca diante de nós a responsabilidade de transmitir a Sua Palavra até os confins da terra.

O apóstolo Pedro disse ao vetusto sinédrio, que tentava fazê-lo, bem como a João, calar o seu precioso ministério verbal: “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At.4:20). Por sua vez, o apóstolo Paulo, perante Agripa, testemunhou quanto a sua condição de pregador: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente em Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependem-se e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento” (At.26:19-20). Uma “Igreja Viva” é uma igreja que evangeliza anunciando a Palavra de Deus.

II. “COM INTREPIDEZ”

A atitude da igreja primitiva nos surpreende com a notável intrepidez na pregação, não obstante a ferrenha oposição que lhes era feita. Não se acovardou, nem se omitiu: “Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas reigões da Judéia e Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram a Estevão e fizeram grande pranto sobre ele. Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere. Entrementes os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra." (At.8:1-4).

 

Esse é o exemplo que nos deixou a igreja primitiva como “Igreja Viva”. Esta é a segunda caraterística da “Igreja Viva”.

 

3 - IGREJA EM HARMONIA (UNIÃO)
era um o coração e a alma

O exemplo da igreja primitiva nesse aspecto se define bem em Atos 4:32 … "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das cousas que possuía; tudo, porém, lhes era comum". Destaco, desse precioso trecho, a expressão "era um o coração e a alma".

Uma das figuras mais expressivas da Igreja na Bíblia é o "corpo", que Paulo aproveita com muita propriedade para amplo ensino sobre a Igreja. No corpo, o órgão vital é o “coração”, cuja expressão a Palavra de Deus usa muito para definir atitudes essenciais (Mt.22:37). A “alma” também é um elemento de grande importância no ser humano e a expressão é amplamente usada na Bíblia definindo a própria existência (Mt.16:26).

Não se concebe um corpo com mais de um coração ou com mais de uma alma. Não se pode, pois, configurar uma “Igreja Viva” onde não seja “um o coração e a alma” dos que a compõem, isto é, onde não haja uma perfeita união; onde a harmonia não seja uma constante.

Não há harmonia quando não há união. Há, entretanto, que se considerar bem o sentido da expressão "união". Não é grupamento de pessoas com certos pontos de vista idênticos sob regramento adotado de comum acordo para a sua conveniência organizacional. Isso é o que acontece no atual e mui decantado "ecumenismo" religioso, tão distante do padrão bíblico e por isso tão carente de vitalidade espiritual. O verdadeiro "ecumenismo", o bíblico, foi preconizado pelo Senhor Jesus Cristo e existe desde que a Igreja foi inaugurada em Atos 2.

Uma unificação heterogênea, por conveniência de caráter político-organizacional, não se assemelha às condições de união vistas na igreja primitiva, conforme o texto acima. Havia nela uma união profunda e autêntica - "era um o coração e a alma" - estabelecida pela vinculação do Espírito Santo e que se exteriorizava nas atividades que lhes cabiam no programa de Deus em atuações harmônicas, sem qualquer conotação de caráter político ou de interesse de projeção pessoal.

Verificamos na Bíblia (Jo.17:20-23) que esse era o desejo ardente do Senhor: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim".

A oração intercessória do Senhor Jesus Cristo nesse texto volta-se, de forma clara e expressiva, para esse aspecto na Igreja, envolvendo-a na sua existência na terra: "aqueles que vierem a crer em MIM" e em sua totalidade "a fim de que todos sejam um". O paradigma aí apontado pelo Senhor é a Sua maravilhosa união com o Pai.

Por outro lado, o Senhor mostra, claramente, que essa união, que resulta da livre atuação do Espírito em nós, ao arrepio das nossas próprias idéias e posições pessoais, é a grande força do testemunho da Igreja perante o mundo: "para que o mundo creia que Tu me enviaste" … "para que o mundo conheça que Tu me enviaste".

Também aí se verifica que a manifestação da glória do Senhor na Igreja está condicionada à evidência dessa mesma união, bem como que o aperfeiçoamento dessa unidade na Igreja proclama o amor do Senhor para com a mesma. Quantas vezes a igreja local se desgasta em disputas e contendas oriundas dos posicionamentos pessoais egoisticamente adotados, anulando, destarte, a sua necessária vitalidade e a sua própria razão de ser neste mundo!

Entendemos porque o Senhor orou com tanto fervor no sentido de que essa união fosse uma característica permanente da “Igreja Viva”. É preciso que essa união não seja apenas formal, procurando salvar as aparências, mas seja de “coração e alma”. É necessário que haja um sentimento interior, sincero e bem fundado, para manifestar-se nas atitudes exteriores do corpo como algo nele instilado pelo próprio Espírito Santo.

Essa união não resulta de idéias ou opiniões próprias acordadas pelo consenso da maioria, mas se reflete como a própria evidência e soberana vontade do Senhor. Foi nesses termos que o Senhor, em Sua oração intercessória, evidenciou o Seu ardente desejo.

Encontramos também, na Palavra de Deus, a exortação apostólica claramente exposta no mesmo sentido. Em Rm.12:5 o apóstolo, falando à igreja em Roma, se expressou com clareza meridiana nos seguintes termos: "assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros". Quando Paulo nos lembra, exortativamente, que, embora muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, está enfatizando a indispensável união para a vitalidade da Igreja.

Um só corpo” significa um só organismo. Quando o corpo age é porque há uma participação harmoniosa de todos os membros que constituem o organismo. Os pés movimentam o corpo, mas quem anda é o corpo. Os olhos fazem o corpo ver, mas quem enxerga é o corpo. Não basta a participação dos pés no andar do corpo, assim como dos olhos na visão do corpo. Há, sim, uma unida e harmônica participação dos membros que constituem o organismo do corpo para que possamos dizer que o corpo andou ou que o corpo viu.

Esse pensamento que Paulo desenvolve no texto, dois elementos são bem definidos: “somos um só corpo em Cristo” … “somos membros uns dos outros”. Valemos porque participamos do corpo em Cristo. Servimos porque dependemos uns dos outros. O que é importante para Deus é a atuação da Igreja que reflete a participação harmoniosa de cada membro de forma reconhecidamente interdependente um do outro. Se um membro falta ao corpo, todo o corpo sente a sua ausência.

A expressão "membros uns dos outros" pressupõe, claramente, a necessária interdependência dos membros para um bom resultado na ação do corpo. Nenhum membro age sozinho. Nenhum membro faz algo por si mesmo. Quem age é o corpo - a Igreja -, acionados os seus membros pelo Espírito Santo. A “Igreja” é um corpo e só é “Viva” se todos os seus membros sentirem e agirem unidos de coração e de alma no Espírito Santo.

É, ainda, de Paulo o forte apelo em 1Co.1:10 "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma cousa, e que não haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer". Paulo usa aí linguagem forte adotando o verbo "rogo" e vincula o comportamento solicitado ao "nome de nosso Senhor Jesus Cristo"! A unidade necessária na “Igreja Viva” deve se manifestar em vários aspectos para que "não haja entre vós divisões". Essa unidade há de ser: na linguagem; na atitude; na disposição mental; e no parecer.

A Igreja em Corinto carecia muito de vitalidade espiritual porque no seu seio havia muitos conflitos e desunião, que resultavam divisões danosas à mesma. Era uma Igreja que, por se manter desunida, mostrava fraqueza e, por isso, quase morta, se não morta! Paulo não lhes poupa a severa exortação.

Vejam mais uma lição apostólica, escrevendo à igreja em Filipos preciosa carta, com notas vibrantes de alegria, afirma Paulo: "Rogo a Evódia, e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor" (Fp.4:2). Essa igreja local se mostrava desastradamente dividida pela liderança dessas duas senhoras, que se mostravam teimosas, preconceituosas e que procuravam impor as suas idéias opostas, formando partidos dentro da igreja. A linguagem de Paulo é aí também bem forte, usando o mesmo verbo "rogo". Percebam a lição preciosa que Paulo lhes passa afirmando que o "pensar" deveria ser necessariamente "concorde" e "no Senhor".

Fica claro que a perfeita união na “Igreja”, que a torna “Viva”, resulta de uma submissão total ao pensamento do Senhor, com renúncia completa ao nosso próprio pensar. Aí Paulo revela o reconhecimento da absoluta concordância do nosso pensar no Senhor, para que a “Igreja” se manifeste “Viva”.

A exposição rápida que fizemos à luz dos textos apontados, nos dá a convicção quanto ao precioso ensino sobre a essencialidade da “união”, isto é, da vida da Igreja em plena harmonia no Espírito Santo, para que se evidencie uma “Igreja Viva” e não morta.

Nada de esquemas formais, de união aparente, lastreada, apenas, por estatutos, constituições, instituições, ou outros papéis que firmamos solenemente. A boa organização, evidentemente, não deve ser posta de lado. Não é ela, porém, que caracteriza a “Igreja Viva” que é, acima de tudo, um organismo espiritual.

É indispensável que nela seja, em todos, “um só o coração e a alma”, como no exemplo da igreja primitiva. Só assim podemos ver a “Igreja Viva” e não morta, orando todos juntos, planejando todos juntos, trabalhando todos juntos, sofrendo todos juntos e todos juntos glorificando ao Senhor.

 

4 - IGREJA OTIMISTA
Atos 2:40-47Leiam Atos 2:40-47.

Destacamos desse reporte extraordinário da igreja primitiva o seguinte texto: "com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus" (vv.46b-47a).

Pensamos, equivocadamente, muitas vezes, que o cristão é uma pessoa sorumbática, fechada, pouco comunicativa, sem alegria. É a errônea idéia que muitos têm feito do cristão da igreja primitiva, envolvida que foi por terríveis pressões pela pertinaz perseguição que suportou.

Entretanto, não é o que vemos no relato breve, mas entusiasta da “Igreja Viva” dos primeiros tempos do cristianismo. A linda descrição que o historiador sacro Lucas faz no texto mencionado - "com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus" -, ressalta a marcante nota de “otimismo” como característica da “Igreja Viva”.

Jesus Cristo não prometeu caminho fácil e desprovido de apertos e aflições para o cristão. Vejam as solenes afirmações que fez: "porque estreita é a porta e apertado o caminho" (Mt.7:14); "No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo.16:33b). Por outro lado, prometeu o Senhor uma experiência de real alegria e verdadeiro gozo que estabelece o necessário clima de “otimismo” na “Igreja Viva”.

O Senhor afirmou três aspectos importantes a respeito dessa experiência de alegria:

  1. "Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria" (Jo.16:20). O cristão terá sempre a sua tristeza convertida em alegria! Isso significa que, “qualquer circunstância será para o cristão motivo de alegria”, ainda que, ao ver do mundo seja razão de profunda tristeza, pois ele entende “que todas as coisas contribuem para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm.8:28).
  2.  "O vosso coração se alegrará e a vossa alegria ninguém poderá tirar" (Jo.16:22). A alegria do cristão é algo que transcende às contingências da vida e está imune a qualquer ação no sentido de extingui-la. A alegria do cristão não se identifica com a que o mundo oferece. Esta, por vir de fora para dentro, é efêmera. Acaba quando o espetáculo que a gera se finda; quando o pano se fecha no palco. A alegria que o cristão experimenta, por vir do Senhor, se instala no interior e tem caráter permanente e irremovível.
  3. "Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa" (Jo.16:24). A alegria do cristão é total. Total no sentido de que não há como ter gozo maior do que aquele que a sua condição de cristão lhe possibilita, já que esta condição traz-lhe perspectivas e esperanças que não são apenas temporárias, mas eternas. Afinal, o patrimônio que conquistamos pela fé em Cristo, concessão graciosa da Graça de Deus, inclui três aspectos de valor incomensurável: (a) somos filhos de Deus (Jo.1:12; Rm.8:14,16); (b) somos família de Deus (Fp.2:19); (c) somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pois “se com Ele sofrermos, também com Ele seremos glorificados” (Rm.8:17).

Paulo informa, com base na sua experiência de lutas como servo fiel do Senhor, que "a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef.6:12). Entretanto, e apesar disso, se declara um notável “otimista”. É o mesmo Paulo quem nos dá precioso exemplo de grande “otimismo”, quando, preso, afirma: "alegrei-me sobremaneira no Senhor" (Fp.4:10).

O “otimismo” cristão da “Igreja Viva” tem alguns aspectos peculiares que devemos destacar:

  1. Não se confunde com o ORGULHO. O orgulho é o elevado conceito que alguém faz de si próprio. Quando se confunde a alegria com o "orgulho" não se verifica o "otimismo", porque não existe, na verdade, aquela alegria infundida pelo Senhor, experimentada pela igreja primitiva e exemplificada na vida de Paulo. O orgulho é pecado. Olha o resultado e credita aos recursos humanos as vitórias alcançadas pela ação do Senhor. Fixa-se na vitória como sendo resultado dos precários recursos pessoais e possibilidades temporais, e se esquece da grandeza dos indispensáveis recursos que o Senhor oferece.
  2. Não se confunde com AUTO-EXALTAÇÃO. Pretender que se encontre alegria na auto-exaltação é contrariar os critérios do Senhor. A auto-exaltação jamais refletirá o “otimismo” cristão, pois anula a glória devida ao Senhor. No trabalho do Senhor a honra deve ser somente atribuída ao Senhor. Essa tem sido a atitude dos verdadeiros e fiéis servos do Senhor, que muito fazem, reconhecendo, porém, em tudo, a atuação do Senhor. É Paulo quem ensina essa verdade, quando afirma, em 1Tm.6:16: "A ele honra e poder eternamente". A auto-exaltação destaca a pessoa usada como instrumento e esconde a glória de Quem a usou. Festeja a pessoa humana e não enaltece a Pessoa Divina. Esse tipo de festa, tão comum nos nossos dias, na atuação da Igreja, não honra ao Senhor, não reflete a alegria do Senhor em nós, mas a nossa alegria pelo que temos ou que julgamos ser. Não é “otimismo” cristão. Diria que é “cinismo” cristão.
  3. Não se confunde com AUTO-SUFICIÊNCIA. A auto-suficiência é incompatível com a alegria que o Senhor quer produzir em nós. A auto-suficiência despreza a suficiência do Senhor. Vê na capacidade do instrumento a razão de todo o sucesso, julgando-a decisiva na obtenção do resultado da atuação da Igreja. Ignora a participação do Poder do Alto, na verdade responsável pelo êxito válido na ação vitoriosa da Igreja. Não pode, por isso, significar “otimismo”, pois acaba por anular a possibilidade da presença do Senhor na ação da Igreja.

Essa atitude, tão comum hoje, na vida da Igreja, acaba por torná-la uma Igreja sem vida, isto é, uma igreja morta. A declaração de João Batista ilustra a atitude correta para a experiência do “otimismo” cristão: "Convém que Ele cresça e que eu diminua" (Jo.3:30). O “otimismo” de João Batista se demonstra incompatível com o orgulho, com a auto-exaltação e com a auto-suficiência. Não discrepa desse pensamento a afirmação paulina em Gl.2:19-20: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou em quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim".

Chegamos ao ponto em que podemos conceituar o “otimismo” cristão, da “Igreja Otimista”: É a nossa disposição permanente de depender (confiança constante) do Senhor, conformando-nos com a Sua Soberana vontade manifesta em quaisquer circunstâncias, ainda que desfavoráveis do ponto de vista humano, reconhecendo nEle a razão de todo o êxito e atribuindo-Lhe toda a glória, com sentimento sincero de alegria.

Há duas condições fundamentais na experiência “otimista” do cristão:

  1. O “otimismo” cristão resulta sempre da experiência otimista do poder de Deus atuando em nós. Vejam isso na vida da igreja primitiva, em At.2:47: "enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor dia a dia os que iam sendo salvos". É de Paulo este expressivo testemunho, em Fp.4:12-13: "Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fortuna, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece".
  2. Independe das circunstâncias, ainda que adversas: "Agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem, com toda a intrepidez, a tua Palavra" (At.4:29). A Igreja primitiva era “otimista” ao ponto de não se abalar com as ameaças, rogando ao Senhor, no seu extraordinário “otimismo”, intrepidez para, mesmo à vista delas, pregar a Palavra! Em At.27:22-25, vemos Paulo demonstrando o seu “otimismo” cristão, na hora difícil da navegação perigosa e tumultuada que fazia, na condição de preso. Destaco o trecho: "Portanto, senhores, tende bom ânimo, pois eu confio em Deus, que sucederá do modo por que me foi dito" (v.25).

A “Igreja Viva” deve ser uma “Igreja Otimista”! Mas o “otimismo” cristão deve ser o que resulta da alegria que o Senhor infunde, apesar das contingências desfavoráveis, experiência somente possível na humildade da nossa atitude confiante em Deus e conformada com Deus!

 

5 – IGREJA QUE DISCIPULA

Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”

(Atos 2:47b)

Uma das características da “Igreja Viva” no exemplo neo-testamentário é o “discipulado”. Não buscavam os cristãos, apenas, o arrolamento de “salvos”, mas a participação ativa de “discípulos” na vida da Igreja.

Não estavam interessados em multidão de fanáticos cegos ou de formalistas religiosos, mas de discípulos fiéis que estivessem prontos a aprender, crescer espiritualmente e viver ativamente a sua experiência eclesiástica, ainda que fossem poucos.

É por isso que, sempre, ao definirem o verdadeiro discípulo, eram apresentados requisitos que não os encorajavam à simples adesão, mas que os desafiavam a aceitar a renúncia, sacrifício e submissão total ao Senhor e à Sua Soberana vontade. Veja-se o que fizeram Pedro, Tiago e João no lago de Genezaré, quando chamados pelo Senhor: “deixando tudo, o seguiram” (Lc.5:11)

Conceituando o "discipulado” o Senhor Jesus Cristo afirmou: “Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc.14:27). “E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc.14:26). “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lc.14:33).

Falando aos “muitos” judeus que “creram nEle” (Jo.8:30), esclareceu oportunamente: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (Jo.8:31). O que vemos nessa ocasião acontecer é que muitos deles, após a longa exortação de Cristo, ao invés de confirmarem a sua disposição de serem discípulos verdadeiros “pegaram em pedras para atirarem nEle” (Jo.8:59)!

A “Igreja Viva” se forma com “discípulos verdadeiros” não com membros formais vinculados pela “crença” intelectual fácil, tão em voga em nossos dias; não com “salvos” acomodados e infrutíferos. Por outro lado, o verdadeiro discípulo tem consciência do “seu dever de discipulador”.

Quando o Senhor Jesus comissionou os seus discípulos verdadeiros, disse-lhes: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado” (Mt.28:19-20). Esse foi o ardente desejo do Senhor!

Vemos aí que o Senhor não deseja adesões fáceis, sentimentais, arrolamentos numéricos (o que alegra a muitos), mas “discípulos fiéis, isto é cristãos autênticos que O sigam e vivam em fidelidade ao Seu comando e às Suas instruções”.

É na oportunidade dessa Grande Comissão que o Senhor deixa bem esclarecido o que significa “discipular”: “ensinar os convertidos a guardarem todas as cousas que Ele tem ordenado”. Discipular é, pois, ENSINAR.

Ninguém pode ensinar o que não sabe. E ninguém terá sabedoria para ensinar antes de PRATICAR. O processo do ENSINO só se completa quanto conduz o discipulado a ter a convicção de que deve GUARDAR o que aprendeu, isto é, disposição total de cumprir na sua vida o que aprendeu.

Note, ainda, que a declaração solene do Senhor insere um detalhe da maior importância: “todas as coisas que vos tenho ordenado”. O dever de ENSINAR abrange tudo o que Ele ordena! Nada deve ser descartado ou considerado sem valor no processo de aprendizado e na responsabilidade da prática cristã.

Não nos cabe, no exercício do discipulado, selecionar o que julgamos válido, ou conveniente, mas esgotar o conteúdo total das ordenanças do Senhor na atuação pedagógica. Além disso, não se pode deixar de ter presente sempre que o ENSINO deve ser genuíno, isto é autêntico e não falsificado.

Veja o ensino do apóstolo Paulo ao seu filho na fé Timóteo: “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, ISSO MESMO transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm. 2:1-2).

Temos aí claramente definidas a responsabilidade e a forma correta do discipulado cristão, que devem estar presentes na indispensável cadeia do ensino. Esse comportamento discipulador exige, indubitavelmente, PREPARO, DISPOSIÇÃO, ENTUSIASMO, DEDICAÇÃO, FIDELIDADE e RESIGNAÇÃO.

O que o Senhor visa com essa sadia orientação para o nosso trabalho evangelístico e de edificação é a arregimentação de discípulos verdadeiros e não de crentes nominais, assim formalmente considerados, meros “membros” da igreja, identificados pelo seu número no respectivo rol da secretária, sem nenhuma atuação de nível espiritual, inseguros da sua própria condição de cristãos, sem convicção da Verdade, titubeantes, frágeis na fé, sem saber dar a razão da mesma, e fracassados no seu testemunho.

A solidificação da fé, a firmeza das convicções espirituais e a segurança para um testemunho adequado e vibrante, dependem e somente resultam de uma boa discipulação. Recebendo e transmitindo o ensino, individual e coletivamente, estaremos robustecendo o corpo e dando-lhe condições de grande vitalidade.

Há lugar na igreja para as campanhas, entretanto evangelismo não é, apenas, levar as pessoas a uma “decisão”, atitude necessária na manifestação da fé salvadora, mas é, principalmente, acompanhá-las com o ensino metódico e sistemático da Palavra, discipulando-as, dia a dia, para que se firmem na fé e se tornem discípulos verdadeiros do Senhor.

Paulo nos deixa um precioso exemplo de sua preocupação em FIRMAR e FORTALECER os novos convertidos, em Atos 19:9-10: “Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho, diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano. Durou isso por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus, como gregos”.

E surgiu, então, uma das escolas bíblicas mais importantes da Igreja viva dos primeiros tempos. Note o extraordinário alcance desse trabalho de discipulado empreendido por Paulo: “TODOS os habitantes da Ásia, ouvissem a Palavra do Senhor”. Aí está a razão da grande vitalidade dos cristãos dessa época e a explicação do acentuado progresso da fé cristã em todas as partes!

Cabe ainda lembrar, por oportuno, o valioso exemplo da igreja em Antioquia, quando, pela primeira vez na história, os que a compunham foram “chamados cristãos”. E o texto deixa claro que essa importante anotação histórica deveu-se ao fato de que todos eles eram “discípulos”: “Em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At.11:26b).

Depreende-se daí que somente quem é discípulo pode, correta e condignamente, ser chamado de “cristão”. Fica claro porque o Senhor Jesus comissionou os seus discípulos ordenando-lhes: “Fazei discípulos” (Mt.28:19). Por essa razão somos entusiastas quanto à existência de escolas bíblicas no contexto das igrejas, as quais, sem dúvida, se tornam em eficiente instrumento de discipulado coletivo.

Há que se cuidar, também, e com muito esmero e diligência, do discipulado individual, privilégio e dever dos que já estão corretamente discipulados. Fico a imaginar quanto tempo o Senhor dedicou ao discipulado dos Seus, em Suas longas jornadas de ensino particular, à margem de Suas públicas intervenções predicatórias, junto às multidões que O envolviam.

Em Atos 6:7 constatamos notável reportagem de Lucas sobre a importância do crescimento dos discípulos na igreja local: “Crescia a palavra de Deus, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam a fé”.

“Igreja Viva” é a Igreja que discipula e só assim o Senhor há de lhe acrescentar os que dia a dia vão sendo salvos!

 

6 - IGREJA ATUANTE
E todos os dias, no templo e de casa em casa,
não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo
Atos 5:42

 

Toda igreja local tem a sua programação de trabalhos bem definida, fazendo-a sempre conhecida através dos seus comunicativos ordinários (Boletins), regularmente editados e distribuídos aos crentes, embora nem sempre lidos. Além disso, normalmente, essa programação é exibida aos transeuntes através de painéis bem montados e visíveis, à frente dos templos.

Essa programação, de um modo geral, abrange os seguintes trabalhos: Escola Dominical, Cultos dominicais e semanais, Reuniões de Oração, Estudos Bíblicos, Reuniões departamentais como de Mocidade, de Adolescentes, de Senhoras, de Senhores, etc.

Com toda essa programação, bem divulgada e formalmente administrada, a nomeação ou eleição dos líderes de cada departamento para o exercício de mandatos pré-fixados, os registros dos membros ou sócios, o controle da sua freqüência e das suas contribuições financeiras, e de outros dados correlatos, necessários à formulação de estatísticas, considera-se que estamos diante de uma “Igreja Atuante”. Em geral busca-se ter freqüência regular às reuniões da igreja, das quais poucos participam ativamente, não passando de meros assistentes ou ouvintes.

Será essa, efetivamente, uma “Igreja Atuante”? Creio que não! Talvez seja uma igreja bem programada e administrada formalmente, mas nunca uma “Igreja Atuante” à luz dos ensinos bíblicos. A “Igreja Atuante” não é a que cumpre bem ou com regularidade e até boa freqüência a programação formalmente elaborada de suas reuniões.“Igreja Atuante” é a que “continua atuando”, mesmo quando as portas do templo estão fechadas, através do TESTEMUNHO e da VIDA de cada um dos seus membros, onde estes se façam presentes. Isso porque a “Igreja” não se identifica como uma sociedade organizada secularmente, com finalidades religiosas, ou seja, uma organização juridicamente constituída para atender a objetivos religiosos, com denominação específica correspondente a certas convicções religiosas próprias; também não se identifica com um prédio de características próprias, que chamamos de “templo”, mas é um organismo espiritual, cuja expressão visível e objetiva se identifica na comunidade dos verdadeiros cristãos que formam o “corpo local”. Em outras palavras, a “Igreja” é a comunidade dos verdadeiros cristãos que formam o corpo local, e não o prédio em que se reúnem e nem a organização jurídica que lhe dá caráter de instituição oficial.

Isso não é difícil de se inferir quando se tem presente o significado correto do que seja Igreja (os chamados para fora), já amplamente exposto em comentários anteriores nesta série de estudos sobre “A Igreja Viva ou Morta”. O texto que encima estas considerações, em Atos 5:42, nos conduz, tranqüilamente, à conceituação correta da “Igreja” e, também, da “Igreja Atuante”.

Com base em tal texto, destaco os seguintes aspectos da Igreja atuante:

  • E todos os dias” - Note-se a ênfase dada ao envolvimento diário dos cristãos na atividade da igreja. O relato histórico da atuação da igreja aí apresentado, não significa que os cristãos, que formavam a igreja local, comparecessem diariamente ao templo, para reuniões formais programadas, mas que faziam presente e bem viva a atuação da igreja, cada dia, através da sua ação pessoal, onde quer que estivessem. Uma “Igreja Atuante” não é aquela que apenas atende aos horários de reuniões programadas. O calendário do testemunho cristão deve ser cumprido a cada dia, sem omissões ou interrupções. Não é composto apenas de domingos, quartas, ou quintas-feiras, nem de horários pré-estabelecidos. Em todos os dias e durante o dia todo há oportunidades para a atuação da igreja, quando cada membro é cioso de sua responsabilidade eclesiástica. O nosso tempo pertence ao Senhor, não apenas o tempo do culto ou da reunião no templo.
  • No templo e de casa em casa” - O palco de atuação extravasa as limitações do templo. É fácil o nosso envolvimento quando no ambiente “sagrado” do templo, nas reuniões sociais, na participação dos corais ou conjuntos musicais e em tantas outras atividades internas e coletivas. Mas a igreja mostra a sua vitalidade através da atuação de cada membro no palco da sua presença diária, onde quer que ela aconteça. Mais que isso: “de casa em casa”, isto é, no campo do adversário, buscando os que estão longe da autêntica fé cristã. Foi por essa razão que o Senhor, nas Suas últimas palavras, antes de ascender aos céus, comissionou-nos com estas palavras solenes, definindo a extensão do campo de atuação da igreja: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria. E até os confins da terra” (At.1:8). Note, nessa notável declaração do Senhor, comprometendo-nos com a séria e correta atuação da igreja, a expressão “toda”, deixando clara a nossa responsabilidade de atuação, sem excluir qualquer espaço territorial.
  • Ainda a expressão: “No templo e de casa em casa” - Ninguém que faça parte do corpo da igreja local pode se escusar da sua responsabilidade inescusável de atuação. Todos somos do Senhor, é o que Paulo ensina: “Porque se vivemos para o Senhor vivemos; quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm.14:8). Em Romanos 12:1-2 dá o apóstolo a dimensão exata da atuação da igreja na participação pessoal de cada membro, definindo aí o “culto racional”: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Podemos constatar aí um cronograma da “atuação” da igreja, ou seja de cada um de nós na composição do corpo de Cristo: I – “Apresentar os corpos a Deus”. Fazendo-o “por sacrifício vivo, santo e agradável”. Condição essencial para a atuação. II – “Não conformar-se com este século”. Não adotando os critérios e métodos do mundo, para que a atuação da igreja não seja prejudicada. III – “Transformação pela renovação da mente”. Lembrando que nós temos a mente de Cristo (1Co.2:16). É ela que deve comandar a nossa atuação. IV – “Experiência da vontade de Deus”. O que importa na atuação da igreja é cumprir fielmente a vontade Deus. Ela há de ser sempre boa, agradável e perfeita. Todos os que formam o corpo de Cristo estão comprometidos com esse santo cronograma, para que a igreja se evidencie atuante. Isso implica o envolvimento de cada um de nós, com todos e em todo o lugar, com todos os recursos, visando os objetivos do Senhor: - a vida de todos; - o tempo de todos; - o dinheiro de todos; - os talentos de todos. A atuação da igreja faz-se dessa forma!
  • Não cessavam de ensinar e pregar” - Aí já deparamos com um outro aspecto: a “persistência” na atuação da igreja, ou melhor, o não esmorecimento, ainda que as circunstâncias se apresentem adversas. Paulo nos é digno exemplo, quando se autobiografa, afirmando: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm.4:6). A exortação do anjo à igreja em Esmirna, nesse sentido também nos diz respeito quando afirma: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:10). Em Hebreus 12:1 lemos: “Corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”. Se houve época em que os cristãos podiam justificar o seu esmorecimento, essa seria a do começo da igreja, quando a perseguição foi pertinaz e cruenta. Veja Atos 8:1-4: “Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. Entrementes os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a palavra”. Precioso relato temos nesse texto, da atuação da igreja primitiva! Note a atuação da igreja, ainda que sob terrível perseguição e dispersa, cumprindo, literalmente, o programa estabelecido pelo Senhor em Atos 1:8, pois todos os dispersos iam pela região da Judéia e Samaria, por toda parte, pregando a Palavra. Escrevendo à igreja na Galácia, em Gálatas 5:7, Paulo os interpela nestes termos: “Vós corríeis bem, quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade?”. O poeta sacro assim descreve a melancólica experiência do cristão fracassado: “Quantos que corriam bem - Já não mais contigo vão! - Outros seguem, mas também - frios, sem amor estão!” A igreja permanece atuante enquanto os seus membros não cessam de ser atuantes.
  • Ensinar e pregar a Jesus, o Cristo” - O alvo da “Igreja Atuante” sempre há de ser buscado através do ensino e da pregação do conhecimento de Jesus Cristo, como Salvador e Senhor. Vemos as igrejas hoje se envolvendo com muitos temas em suas prédicas, que, muitas vezes, lamentavelmente, se afastam desse alvo. Nem sempre se ocupam com o “ensino e a pregação de Jesus Cristo”. Cada crente deve capacitar-se para poder estar em condições de atuar buscando cumprir, com objetividade e fidelidade, esse glorioso alvo. A dedicação no estudo da Palavra de Deus é essencial para essa capacitação. Paulo ensina: “a fé vem pela pregação e a pregação pela Palavra de Deus” (Rm.10:17). Quanto tempo se desperdiça na igreja que deveria ser usado no estudo da Palavra de Deus, para torná-la atuante nos moldes da igreja primitiva. Não há objetivo mais correto na atuação da igreja do que levar os homens à autêntica fé cristã. E isso só será possível na medida em que a Igreja e cada um de seus membros se envolvam com o ensino e a pregação de Jesus Cristo.

“Igreja Viva” é “Igreja Atuante”! Esta se demonstra como tal, se considerar seriamente e aplicar com fidelidade os princípios expostos.

 

 

autor: Jayro Gonçalves.