Manifestações miraculosas

Há cerca de quinze anos tive a oportunidade de dar estudos bíblicos para um grupo de mais de trinta pessoas que, ao compreenderem o plano de salvação, saíram do catolicismo e passaram a se reunir para estudar a Bíblia. Depois de mais um ano, alguns me chamaram e disseram: “De todos que já ouvimos, você é o que mais se aproxima dos ensinos bíblicos, somente erra em não crer que hoje há o batismo com o Espírito Santo e os dons de cura, profecias e línguas, se você aceitar estas coisas vamos todos ser membros da sua igreja”.

É desnecessário dizer que eles passaram para as denominações pentecostais. Confesso que estou preocupado, pois está se tornando comum ouvir de irmãos que entre nós há os que estão abraçando esta idéia e até causando divisões em algumas igrejas locais.

O dom de línguas 

Dentre os dons prometidos como sinal, em Marcos 16:17-20, está o dom de línguas. Muitos dizem que nós, os não pentecostais, estamos proibindo as pessoas de exercitarem este dom, porém isto não é verdade. Nós não o proibimos, e nem há necessidade disso, haja vista que o mesmo não está em evidência em nossos dias.

Quando perguntamos a certas pessoas de diversos segmentos pentecostais se há veracidade do dom de línguas em nosso tempo, eles respondem que sim. Normalmente colocamos outra pergunta: “O que existe hoje sobre o referido dom de línguas, é bíblico?”. Eles também respondem que sim. 

Outra pergunta: “Quais são as provas?”. Há quase unanimidade na resposta: “É minha experiência pessoal, quando falo em línguas estranhas me sinto mais leve como se eu estivesse voando”. Aí perguntamos: “Você e os que lhe ouvem, sabem o que estão falando”? Normalmente a resposta é “não”, alguns dizem “talvez”. Perguntamos, então: “Quando você fala em línguas estranhas há quem as interprete”? A resposta sempre é “não”, com raras exceções. 

Finalmente perguntamos: “E as mulheres falam também essa línguas”? Ao que respondem “claro, são elas que mais falam”. Por estas respostas, e com o conhecimento bíblico que temos sobre o assunto, podemos afirmar que as “línguas faladas” hoje estão longe do que era na igreja primitiva. De fato são “línguas estranhas”, mas não são de origem bíblica, como veremos a seguir:

O dom de línguas acompanhou o começo da igreja e eram idiomas

Conforme o registro de Atos 2.1-13, em Jerusalém os crentes judeus falaram línguas estrangeiras e o motivo era porque os participantes da festa de Pentecostes eram judeus estrangeiros vindos de seus paises de origem e precisavam presenciar aquele milagre em cumprimento de Isaías 28:11-12. 

Na ocasião daquela festa, havia cerca de dezessete representações vindas de regiões com idiomas e dialetos diferentes e todos ouviram falar em sua própria língua materna as grandezas de Deus (vv. 7-11). Faz-se necessário notar nestes versículos que a maioria dos presentes que ouviram das grandezas de Deus eram judeus de origem, mas estrangeiros de nascimento. Não é preciso muito esforço para entendermos que aqueles que lá estavam ouviram seus idiomas de origem, conforme veremos a seguir:

1 – 1 Coríntios 14.2, que causa tanta confusão para muitos, é um dos versículos que deixa claro que se tratava de idiomas as línguas que eram faladas. Paulo destaca que alguém ao falar em uma língua estrangeira não seria entendido pelos ouvintes. Não é difícil entendermos do que se trata, não era quanto ao conteúdo da mensagem que estava sendo transmitida, mas o meio usado, porque o teor da mensagem teria que ser entendido, caso contrário seria preciso quem interpretasse (1 Coríntios14:27). 

A ocorrência em Atos 2:7-8, lemos que eles entenderam a mensagem, pois disseram: “E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” Neste caso eles entenderam a mensagem que falava das grandezas de Deus, mas não entenderam como ela vinha através daqueles homens iletrados. 

É isto que Paulo está querendo demonstrar nesta passagem com a expressão “ninguém o entende”. O artigo “o” define o elemento que fala e não o conteúdo da sua mensagem. Ele falava de mistérios, isto quer dizer, coisas que ainda estavam sendo reveladas.

2 – Em 1 Coríntios 14:7-9, através dos exemplos utilizados por Paulo, nos é confirmado mais uma vez serem idiomas estrangeiros e não línguas extáticas: 

  • No versículo 7, ele usa o exemplo de pessoas tocando instrumentos musicais: Os tocadores da flauta e da cítara deveriam tocar de maneira bem distinta para não haver confusão e tornar conhecido aqueles que tocavam esses instrumentos. 
  • No 8, outro exemplo é o da trombeta. Todo homem que foi soldado sabe que existem vários toques de trombeta, diferentes para diversas atividades, inclusive um para se preparar para a batalha, com isto ele está dizendo que se a trombeta soar um som incerto ninguém se preparará para a batalha, pois não entenderão o seu significado. 
  • No versículo 9 temos a conclusão destas ilustrações: “Assim, também vós, se, com a língua, não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como que falando ao ar”. Nas reuniões da igreja, nossas palavras têm que ser pronunciadas para “todos” entenderem, e somente assim a igreja será edificada e terá o crescimento espiritual desejado. Caso não seja assim, Paulo conclui: “porque estareis como se falásseis ao ar”. Tudo seria sem proveito nenhum. Irmãos, isso é algo muito sério! 

3 – Para que ninguém fique em dúvida que as línguas faladas eram idiomas estrangeiros, o outro argumento que Paulo usa está em 1 Coríntios 14.10-11 ... “Há, por exemplo, tantas espécies de vozes no mundo, e nenhuma delas sem significação. Se, pois, eu não souber o sentido da voz, serei estrangeiro para aquele que fala, e o que fala será estrangeiro para mim”. Este trecho está em plena concordância com Atos 2:5-11: 

  • “Há vozes diferentes no mundo” (v. 10) – Estas fazem parte da diferenciação feita por Deus (Gênesis 11:7-9). Todas as línguas existentes no mundo têm o seu sentido. 
  • Para ilustrar isto, Paulo se coloca em frente a um desconhecido estrangeiro: O que ambos perceberão? “Serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim” (v. 11). Em hipótese alguma Paulo e o estrangeiro estariam falavam coisas sem sentido algum, como hoje acontece entre os diversos grupos pentecostais, inclusive no catolicismo. 

A conclusão que chegamos é que as línguas que foram faladas no livro dos Atos, e as mostradas doutrinariamente em 1 Coríntios 14, eram idiomas estrangeiros e não línguas extáticas.

O estudo que serviu de base para este artigo, que está resumido por causa do espaço, os irmãos que desejarem poderão entrar em contato comigo para obtê-lo gratuitamente na sua íntegra pela Caixa Postal 605 87701-970, Paranavaí-PR; telefone (44) 3422-1398, ou através do e-mail: severoliveira@pvai.com.br.