Preservando A Nossa Identidade - 2

“Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer”

Neemias 6:3

(Continuação)

O texto da temática adotada para esta matéria é uma ilustração bem oportuna da realidade da Igreja dos nossos dias! Nota-se, melancolicamente, que a Igreja, que é, sem dúvida alguma, o mais extraordinário e único projeto de Deus para a realização do Seu propósito neste mundo, envolvendo os salvos pela Sua Graça, com vistas ao benefício de toda a criatura humana, que Ele tanto ama, a Igreja, repito, tem se afastado de Deus e da Sua Palavra, perdendo a perspectiva correta do Seu MODELO e, conseqüentemente, a sua IDENTIDADE, tanto com o Senhor como com o referido MODELO, no exercício da sua atuação eclesiástica .

Refiro-me à igreja local, que é a expressão visível e concreta dessa notável realidade espiritual! Mais do que nunca, carecemos, urgentemente, de cuidar em PRESERVAR A NOSSA IDENTIDADE. E isso só será possível, a partir do momento em que retornarmos, com humildade, para a Palavra de Deus, com disposição sincera e resoluta de nos apegarmos, apenas, ao MODELO que o Senhor nela estabeleceu para o bom desempenho da Igreja, no rumo correto da Sua vontade Soberana, confiando, sempre, que ele funciona, pois é de Deus e não dos homens.

Temos que nos conscientizar de que não precisamos buscar outros meios e formas, como alternativas válidas de “auxílio” ao sublime e eficaz ministério da Igreja. Não podemos ficar a imaginá-la à deriva, insignificante, limitada e incapaz para o grande propósito divino na terra! Parece incrível que se chegue a esse tipo esdrúxulo de conceito a respeito da igreja local nos nossos dias!

Na verdade, essa atitude serve bem e satisfaz aos desígnios de satanás, opositor ferrenho de Deus e da Sua amada Igreja, pois o que ele mais quer é vê-la inoperante e desviada do seu papel bíblico, definido pelo Senhor.

Ela não é uma organização humana, mas um organismo espiritual. Não é uma formulação societária burocrática secular, mesmo que denominada “sociedade religiosa sem finalidade lucrativa”, mas é uma instituição de Deus!

Quando se inaugurou e começou a atuar, e poderosamente, no tempo certo e na vontade Soberana do Senhor (At.2), não por convenção humana, mas por operação miraculosa e extraordinária do Espírito Santo, não tinha dimensões de grandeza material, intelectual e de qualquer outro tipo. Envolveu pessoas de muitas regiões do mundo de então, de condições pessoais diversas, as quais foram movidas, na sua compreensão e na ação, pelo PODER DO ESPÍRITO SANTO, que o Senhor prometera que viria, não só para operar no seu início, mas, também, na realização da sua missão histórica, até a consumação dos tempos!

Todos os que, então a compuseram, como o corpo de Cristo, e esta é a condição inquestionável de cada Igreja local, à luz da Palavra de Deus, evidenciaram compreensão sobre o propósito do Senhor e sobre a suficiência do Seu valioso suprimento espiritual, capacitando poucas e humildes pessoas, carentes de recursos pessoais, materiais, intelectuais (a maior parte deles), mas, realmente convertidas e com a visão do que Deus queria, para tão grande Obra no mundo.

Estabelecia-se, então, uma notável IDENTIDADE das “novas criaturas” com o seu Senhor (At.2:38) e com o Seu MODELO, exclusivo para a realização sublime da Sua Soberana vontade no mundo! Conhecia o mundo o mais extraordinário projeto de realização na terra, a favor da criatura humana, cuja execução fiel culminaria com resultados que ultrapassam os limites do benefício temporal ou material, para ter dimensões espirituais e eternas!

O Evangelho não se expandiu através de alternativas ao MODELO de Deus, concebidas pelo homem, sob a justificativa simpática e, aparentemente, convincente de se “auxiliar” as ditas pequenas, fracas e pobres igrejas locais, carentes de condições para cumprirem, de per si, com sucesso, a sua gloriosa missão e os ministérios que lhe são destinados na Palavra do Senhor, tais como o evangelismo, a edificação e o ensino do povo de Deus, o exercício da adoração, do louvor e da gratidão a Deus, a expansão da obra missionária, intercedendo, reconhecendo missionários e obreiros, enviando-os e sustentando-os, e, enfim, tudo aquilo que faz parte da sua exclusiva competência realizadora como igreja local.

Toda a sua expansão, durante os primeiros séculos da história do cristianismo, desde a sua inauguração como igreja de Cristo na terra, tem acontecido, com sucesso espiritual, na razão direta da fidelidade e da submissão dos cristãos ao MODELO de Deus: a igreja local. E desde que as alternativas institucionalizadas começaram a acontecer, o trabalho espiritual foi desvirtuado, resultando em desvios sérios da Verdade e a Obra de Deus tremendamente prejudicada.

Tanto que Deus, tem, de tempos em tempos, interferido nesse estado de coisas e restabelecido a ordem da Verdade, através de movimentos de retorno à Palavra com a formação e plantação de igrejas locais, à margem dessas institucionalizações poderosas. E são essas igrejas locais que Deus tem usado para a grandeza da Sua Obra no mundo, pequenas mas poderosas no Espírito, no manejo da Palavra da Verdade e na profícua atuação evangelística pessoal, incluindo a notável e fiel atuação missionária no mundo.


Estou convencido de que o quadro de decadência espiritual e moral que se constata nas igrejas locais, na atualidade, o que, infelizmente, só alguns lamentam, deve-se não ao fato de que as mesmas sejam incapazes, só por si, de cumprirem o seu papel bíblico, pela sua “eventual fraqueza e pobreza”, isto é, não porque o Modelo do Senhor tenha fracassado, mas porque elas acabaram se desviando desse MODELO e se submeteram às institucionalizações de grandeza e de pujança material, intelectual e pseudo-teológica, que se postaram acima delas, e, por isso mesmo, as esvaziaram, totalmente, do seu conteúdo de poder e de capacidade espirituais para corresponderem ao sucesso garantido por Deus, quando as concebeu como instituição eclesiástica divina no mundo.

Esse raciocínio bíblico não exclui a necessidade da inter-comunhão entre igrejas locais, procedimento sadio e proveitoso e não vedado pelo Modelo de Deus. Mas “inter-comunhão” não significa “institucionalização” de poderes paralelos ou acima das igrejas locais, os quais, estes sim, acabam por enfraquecê-las e esvaziá-las, desviando-as dos alvos de Deus, consoante o Seu Modelo.

É extraordinária a experiência histórica do chamado “movimento dos irmãos” (mais propriamente movimento do Espírito Santo) no mundo, durante mais de dois séculos de existência, que tem demonstrado, de forma iniludível e expressiva, a validade do MODELO neo-testamentário da igreja local e de sua forma de atuar.

Milhares têm sido as igrejas locais plantadas, espalhadas por todas as partes do mundo, pequenas, na sua maioria, é verdade, mas de manifestação poderosa e profícua na evangelização e nos outros ministérios que Deus lhe tem deferido pela Sua Palavra, mormente o da expansão missionária, alcançando os rincões mais inóspitos da terra.

Tem sido reconhecido, por todos os segmentos evangélicos que esse “movimento” de Deus, através das suas humildes e singelas igrejas locais, é dos que mais contribuiu para uma eficiente atuação missionária e expansão da VERDADE.

Isso tem acontecido, para a glória do Senhor, através da atuação fiel de servos consagrados, não clericalizados, mas poderosos na capacitação da Palavra e no exercício do poder de Deus, que aceitam o desafio de viver pela fé, chamados pelo Senhor, reconhecidos, enviados e sustentados pelas respectivas igrejas a que pertencem e a quem se reportam, nos termos de At.14:27, aplicados na sua atuação ministerial para a qual foram chamados por Deus, em plena harmonia com a sua igreja local, que os encomendou à Obra.

Não se colocam no campo missionário contando com o “auxílio”, “apoio formal”, “vinculação” ou “dependência” de qualquer entidade institucionalizada, as quais, realmente, jamais existiram e nunca devem ser admitidas, no correto conceito bíblico desse “movimento", pois o mesmo surgiu, resultante da direção e da poderosa atuação do Espírito Santo, e se mantém e se sustenta reconhecendo a exclusividade da igreja local, como instrumento eficaz para a realização de todos os ministérios que o Senhor lhe deferiu na Sua Palavra.

Na época da igreja primitiva, de grande e poderosa atuação, não existiam siglas. E como elas proliferam em nossos dias! Mas uma coisa não está sendo percebida: Tais siglas, que se propõem a “auxiliar” as igrejas locais ditas enfraquecidas e incapazes, na verdade, vão buscar nelas os elementos pessoais de que precisam para realizar os seus objetivos e os recursos materiais que se tornam necessários para se sustentarem (contribuição das igrejas).

Na verdade o que vemos é uma melancólica proposta de alternativas para a atuação da Igreja, não contempladas na Palavra do Senhor, que acabam por enfraquecê-la e desestimulá-la, afetando os seus valores espirituais e de outra ordem e reduzindo as suas possibilidades de atuação, submetendo-a a tutelas não bíblicas e desvirtuando os sublimes alvos que lhe foram estabelecidos pelo Senhor, pois a transformam em mera coadjuvante das realizações que são da sua exclusiva competência.

Todas essas considerações comprovam a oportunidade e a validade do tema proposto à reflexão de todos nós, à luz da histórica, notável e oportuna declaração de Neemias 6:3: PRESERVANDO A NOSSA IDENTIDADE.

Que a lição nos sirva! Avivemos a nossa CONVICÇÃO nos três aspectos apontados na atitude de Neemias. Resgatemos o verdadeiro e autêntico papel da igreja local, nestes tempos de confusão e alternativas. Não nos deixemos levar pelas propostas lógicas, razoáveis e bem formuladas dos “grandes projetos” e das “soluções contextuais”, de caráter globalizante, na presunção equivocada de que as igrejas locais são fracas, incapazes e sem condições de atuar com competência.

O MODELO para a realização do projeto de Deus na terra ainda é a Sua amada Igreja local. Deus não tem outra alternativa:

  • O Senhor Jesus afirmou que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt.16:18). 
  • É Ele quem a edifica e a usa. 
  • O Espírito Santo é o Seu Vigário, atuando, com poder, através dos seus membros, os quais Ele supre, distribuindo os dons para o exercício fiel do seu ministério. 
  • Cristo é a própria Cabeça da Igreja. 
  • A Palavra de Deus é a sua “cartilha”, orientadora e capacitadora. 
  • O seu governo há de ser através do Presbitério, pluralista, constituído pelo Espirito Santo e reconhecido pela própria Igreja (At.20:28; 1Tm.3:1-7; Tt.1:5-9; 1Pe.5:1-4).

De que mais precisamos para que ela cumpra a sua vocação celestial? De FIDELIDADE! Digamos às alternativas propostas: “Não poderei descer”. Sim, não desçamos da nossa posição e atuação válidas como igreja local, para nos distrairmos e desviarmos dos alvos do Senhor.

Permitam-me que faça oportuna paráfrase da notável exortação do Senhor ao Seu povo no passado, aplicando-a à igreja local dos nossos dias: "Se a minha “amada igreja”, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra" (2Cr. 7:14).

PRESERVEMOS A NOSSA IDENTIDADE!

NR: este artigo foi publicado inicialmente no Boletim Anual Informativo IDE-2001, e agora o transcrevemos e adaptamos mediante autorização do autor e editor.

autor: Jayro Gonçalves.