A mensagem da cruz

“A mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas, para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”

(1 Coríntios 1:18 – NVI)

 

Muitas mensagens comoventes estarão sendo proclamadas ao redor do mundo nos dias da chamada “semana santa”, fazendo ecoar conceitos diversos pertinentes à paixão, à morte e à ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Algumas meramente retóricas e vazias de conteúdo espiritual. Outras valiosas, por focarem os benefícios de valor eterno que advêm da Cruz.

Com efeito, nada transcende, na história da humanidade, a importância dos momentos dantescos dos quais o Senhor Jesus foi protagonista sobre o Calvário! É no Calvário que se concretiza o notável e eterno propósito divino da Redenção do pecador. Paulo enfatiza a importância da “mensagem da cruz” ao afirmar: “A mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”.

Sublime poesia, traduzida por William Anglin, destaca, com feliz propriedade, as bênçãos que advêm da Cruz:

Bendita a cruz de Cristo, santíssimo lugar!
À tua sombra santa eu quero descansar
E meditar, contrito, no amado Salvador,
Ali, por mim, sofrendo com infinito amor.
Na santa Cruz de Cristo encontro eterna paz;
Seu sangue derramado justiça satisfaz.
Sim, tenho já descanso e paz de coração,
Pois sobre a cruz foi feita pra mim expiação.
A cruz é sempre a glória e o tema de louvor
De todos que confiam no santo Sofredor.
Na cruz eu vejo a prova da compaixão de Deus,
E vejo ali aberto caminho para os céus"

(H&C 574).

A gloriosa “mensagem da cruz”, destacada por Paulo em todo o seu ministério, é magistralmente exposta por Pedro no expressivo quadro que ele pinta do Calvário (1 Pedro 2:21-24). Vamos contemplá-lo, discernindo sete aspectos das bênçãos que fluem do Calvário.

  1. O SOFRIMENTO VOLUNTÁRIO DE CRISTO - “... Cristo sofreu em vosso lugar” (v. 21). Sobre o Calvário Cristo exibe o exemplo supremo de quem sofre o mal por sempre ter feito o bem. Em Isaías 52:13 a 53:12 encontramos uma notável exposição profética desse comportamento do Senhor Jesus, acentuando esse aspecto fundamental da Obra Redentora. A sua experiência como o Servo-Sofredor, para ser o Salvador eficaz, transforma os sofrimentos de Seus seguidores de desgraça em privilégio! Mas o que enaltece sobremodo a Sua condição de Sofredor é a Sua voluntariedade na postura assumida. Foi “Sofredor voluntário”, por amor, valorizando a Obra que realizou para a nossa Redenção. Tornou-Se, assim, ademais, um digno exemplo para nós, a fim de que sigamos os Seus passos (v. 21). Como diz Pedro, se suportarmos o sofrimento por termos feito o bem, isso é louvável diante de Deus, pois para isso fomos chamados (v. 20).
  2. A SANTIDADE CREDENCIADORA DE CRISTO - “... não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” (v. 22). A Palavra de Deus declara de forma expressiva e inequívoca a impecabilidade de Cristo, sem deixar qualquer possibilidade de exceção. E é esse fato que O “credenciou” cabalmente para tornar eternamente válida a nossa Redenção. Embora revestido de humanidade Sua natureza era impecável e, na Sua experiência de vida, jamais pecou, “como nós, passou por todo o tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Esse aspecto nos traz a preciosa lição da essencial prática da santidade em nossa experiência de vida. É a santidade a “credencial” indispensável para que o nosso serviço para Deus seja fiel e por Ele aceito, sob o risco de sermos considerados por Cristo hipócritas e, por isso, reprovados (Mateus 23:27).
  3. A SUAVE ATITUDE DE CRISTO - “... quando ultrajado, não revidava, com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças” (v. 23a). É da índole do ser humano o revide, o revanchismo e a vingança. Ninguém quer levar desaforo para casa. Que beleza incomparável o Senhor exibe no Calvário, na manifestação da Sua “suave atitude”, perante tanta injustiça e maldade, tão rancoroso e imerecido castigo e tão atroz sofrimento que Lhe foram impingidos! Em todo o Seu ministério essa foi a característica do Seu comportamento. Que essa bela lição nos sirva para que o nosso caráter revele a beleza de Cristo. Aceitemos a Sua preciosa recomendação em Mateus 11:29 “aprendei de mim, porque sou manso e humilde da coração”. A humilde mansidão é atitude que demonstra a autêntica espiritualidade.
  4. A SUBLIME SUBMISSÃO DE CRISTO - “... entregava-se àquele que julga retamente” (v. 23b). Na Sua vida ministerial o Senhor Jesus nos deixa exemplos notáveis da Sua submissão completa à vontade do Seu Pai, no cumprimento solene da missão que Lhe incumbia. Veja João 4:34; 5:30; 6:38-40; Mateus 26:42. Nada, absolutamente nada, o fez desviar-Se do alvo solene da Redenção, em que pese o alto preço que teve que pagar para chegar lá – o Calvário! Mas o que mais nos comove é contemplar a silenciosa submissão do nosso Senhor no culminante momento do Seu vil julgamento, da Sua paixão e da Sua morte sobre a Cruz! Deixou o Seu caso nas mãos de Deus, que sempre julga retamente. Seja mais essa preciosa lição do Calvário, a “sublime submissão de Cristo”, o estímulo para que vivamos totalmente submissos à vontade do Senhor, sejam quais forem as circunstâncias, para abrimos espaço ao glorioso caminho da vitória na vida cristã.
  5. O EFICIENTE SUPORTE VICÁRIO DE CRISTO - “... carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro” (v. 24a). Não sabemos se Cristo era um homem fisicamente forte. Em João 19:17 lemos que Ele, carregando a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário. Mas nos outros Evangelhos lemos que um cireneu, chamado Simão, foi constrangido a carregar a cruz por Ele. Isso nos leva a concluir da Sua fragilidade física para suportar o peso do madeiro. O Seu corpo não pôde carregar o madeiro, mas suportou todo o peso dos nossos pecados sobre o Calvário! Glória a Deus por isso! Pedro mostra aí o caráter “vicário” da expiação. Cristo, como o cordeiro sacrificial do Velho Testamento, morreu por nossos pecados; o inocente pelos culpados. A expiação foi completa, a justiça divina satisfeita, o preço foi pago, a redenção eterna do pecador viabilizada! Esse aspecto da “mensagem da cruz” nos dá a segurança dessa “eterna redenção” (Hebreus 9:12). Vivamos alegremente essa bendita esperança!
  6. CRISTO, SUPRIDOR DA VITALIDADE ESPIRITUAL - “... para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (v. 24b). O “viver para a justiça” é o propósito de Deus para cada um dos redimidos. Diz Isaías 53:11 que “Ele verá o fruto do penoso trabalho da sua alma e ficará satisfeito”. Em conseqüência da morte de Cristo na cruz, os cristãos estão posicionalmente mortos para o pecado, para que levem vida nova e se apresentem a Deus como instrumentos da justiça (Romanos 6:11-13). É isso que Deus espera de cada um dos que se dizem cristãos. Esse “viver para a justiça” se define adequadamente como manifestação de “vitalidade espiritual”. Em João 10:10 o Senhor afirmou que veio para que tenhamos vida em abundância. A “mensagem da cruz” nos responsabiliza, como novas criaturas, filhos de Deus, a vivermos para a justiça, manifestando “vitalidade espiritual”. Cristo levou em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça. Ele é o Supridor dessa nova vida.
  7. CRISTO, SUPERVISOR SUFICIENTE - “... vos convertestes ao Bispo e Pastor das vossas almas” (v. 25). O conceito aí suscitado por Pedro, de Pastor e Bispo, no fecho do lindo quadro do Calvário que nos apresenta, relaciona-se com a profecia em Isaías 53 sobre as ovelhas desgarradas. As ovelhas tinham-se desviado do Pastor e agora voltaram ao Bom Pastor, que é Cristo. O Senhor disse que o Bom Pastor dá a vida pelas Suas ovelhas (João 10:11). O Calvário é a evidência irreversível dessa afirmação. Temos aí confortadora mensagem da restauração das ovelhas ao aprisco do Bom Pastor, mas a mensagem do Calvário também confirma a garantia da constante e “suficiente supervisão” do Senhor Jesus na nova e abençoada condição das Suas ovelhas. É o que Ele afirma em João 10:27-28: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”. Como é bom saber que contamos sempre com essa “suficiente supervisão” e assistência constante.

Contemplemos esses aspectos expressivos do quadro do Calvário, maravilhosamente pintado por Pedro. Que a “mensagem da cruz” nele vista nos leve a manifestar, cada dia, em nossa vida, a beleza de Cristo, no usufruto das indizíveis bênçãos que fluem do Calvário!

autor: Jayro Gonçalves.