A pregação da Palavra como mensagem revelada

1 Coríntios 2:10-16

Muita confusão, apreciações equivocadas e interpretações esdrúxulas ocorrem a respeito do ministério do Espírito Santo na Obra de Deus, tornando-o ineficaz. É interessante notar que o Senhor Jesus, ao definir a comissão dos discípulos para a gloriosa expansão da mensagem do Evangelho, deixou notoriamente claro que isso só aconteceria, após receberem eles o “poder” do Espírito Santo (Lucas 24:49; Atos 1:8). E foi exatamente isso o que aconteceu, no início da igreja, em Atos 2, na primeira notável pregação do Evangelho, em Jerusalém, prolatada pelo apóstolo Pedro, com resultados incomparáveis.

O Evangelho é, essencialmente, no seu conteúdo e na sua exposição, uma “mensagem revelada”. E só por isso produz os resultados eficazes da verdadeira conversão do pecador e da realização, humanamente incompreensível, do novo nascimento.

Vejamos o que Paulo nos ensina, no texto acima mencionado, sobre esse precioso assunto:

Palavras ensinadas pelo Espírito Santo – (vs. 10-13)

 O Evangelho é a mensagem de Deus para a salvação do homem, envolvendo o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Efésios 1:13-14; 1 Pedro 1:2).

No versículo 10, Paulo afirma que “Deus no-lo revelou”. Devemos reconhecer que tudo vem de Deus. Não somos salvos em razão de alguma habilidade ou sabedoria própria, mas porque aprouve a Deus nos revelar. A revelação é “pelo Seu Espírito”. Essa expressão mostra a necessidade de termos a direção do Espírito para a compreensão das coisas de Deus. 

Assim como alguém compreende seu companheiro mediante a participação de um espírito que lhes é comum (v. 11), assim o homem só pode compreender a Deus por meio da comunhão do Espírito de Deus (v. 11).  

A Revelação é realizada pelo Espírito Santo. A expressão “perscruta” não significa “busque informações”. É o modo de dizer que Ele “penetra todas as coisas”. Nada há que esteja além do Seu conhecimento.

Em particular, Paulo especifica as “profundezas de Deus”. Significa “coisas insondáveis” (profundidade do mar). É impossível haver alguém que conheça os íntimos recessos do conselho divino. Mas o Espírito os conhece e foi o Espírito que revelou as verdades que Paulo fala.

No versículo 11, Paulo acentua que só o espírito do próprio homem pode saber o que se passa no seu interior. De fora os outros homens podem apenas fazer conjecturas.  Mas o espírito do homem não faz conjecturas. Da mesma maneira ninguém de fora de Deus pode saber o que acontece dentro de Deus, a não ser o próprio Espírito de Deus. Isso quer dizer que o Espírito de Deus conhece a Deus por dentro. Esse texto atribui plena divindade ao Espírito. O que o Espírito revela é a verdade de Deus. 

Nos versículos 12 e 13, Paulo destaca:

1) A habitação do Espírito no crente – “temos recebido... o Espírito que vem de Deus”. Os sábios pagãos têm o “espírito do mundo”. Nós o Espírito de Deus. O espírito do mundo é a razão humana que rege o mundo;

2) Foi-nos dado gratuitamente – Paulo afirma que “nos foi dado gratuitamente”, isto é, a revelação de Deus foi-nos dada completamente no passado, pela Obra redentora de Cristo, com eficácia sempre presente;

3) Para que conheçamos – No versículo 10, Paulo diz que o Espírito a todas as coisas perscruta e, no versículo 11, que as coisas de Deus ninguém conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, o nosso conhecimento dessas coisas somente será possível através do Espírito de Deus em nós. 

4) Para que falemos – No versículo 13, Paulo mostra que o cristão recebe o conhecimento para passar adiante.  A atividade do Espírito através de nós inclui a provisão das palavras empregadas, além do suprimento de ideias gerais. É um tipo de sabedoria em tudo diferente, contendo concepções diferentes e assim se expressando de modo diferente.  O Espírito ajudou os escritores a acharem as palavras certas para transmitir os conceitos espirituais.  A expressão “conferindo” (sunkrinontes=gr) tem o sentido de “combinando”, não propriamente “interpretando”. Dentro do âmbito dessa sabedoria espiritual há oportunidade para comparações de uma parte com outra.  A expressão “coisas espirituais com espirituais” (peneumakikois= espirituais), tem o sentido de combinando coisas espirituais (as palavras ditas) com coisas espirituais (as verdades expressas).

A essencialidade do Discernimento Espiritual – (vs. 14-16)

 O discernimento espiritual é uma notável evidência de nossa maturidade espiritual. As coisas espirituais são espiritualmente discernidas. 

No versículo 14, Paulo fala do “homem natural”. Nele não há o Espírito de Deus que o capacite a compreender. Não nasceu de novo. Tem, por isso, suas limitações.

A expressão (psuchikos=natural) refere-se à vida animal. Não significa propriamente “pecaminosidade”, mas indica ausência de discernimento espiritual.  Refere-se ao homem cujo horizonte é limitado pelas coisas da vida.  O homem de sabedoria do mundo.

A expressão “não aceita” tem o sentido de “boas-vindas”.  O homem natural não dá boas-vindas às coisas do Espírito, recusando-as ou rejeitando-as.  Um homem assim não está aparelhado para discernir as atividades do Espírito de Deus.  Ela lhe é “loucura”.  Não tem condição de “entendê-las”, porque elas só se discernem espiritualmente. 

A expressão “discernir” (anakrinetai=gr) tem o sentido de “exame preliminar”, anterior à audiência principal, isto é, “examinar” ou “avaliar”. 

Vemos, então, no versículo 15, que só o “homem espiritual” tem condição de formar juízo de todas as coisas.  O “homem natural” é o homem como ser inteligente, mas caído, e o homem como ser espiritual (regenerado pelo Espírito) (pneumatikos= espiritual), tem em si o Espírito de Deus, que lhe dá capacidade de julgar todas as coisas, sob uma verdadeira luz – a luz da verdade. Paulo não diz que o “homem espiritual” tem dotes naturais diferentes dos que possui o “homem natural”. Não é uma questão de dotação natural, mas de operação do Espírito de Deus dentro dele. Quando o Espírito penetra na vida de um homem tudo muda. Uma coisa nova que aparece é a capacidade de fazer o julgamento certo. Não significa que o homem é, agora, de algum modo, maior do que antes, mas porque o Espírito de Deus o equipa. 

A expressão “julga” é o mesmo verbo “discernem” dos versículos anteriores, é “julgado” no mesmo verso. O princípio espiritual é a base do julgamento do “homem espiritual” daquilo que os homens chamam de secular, bem como de sagrado. O “homem espiritual” não pode ser julgado pelo “homem natural”, pela mesma razão pela qual ele pode julgar todas as coisas. Ele tem o Espírito de Deus e o “homem natural” não o tem. Como o “homem natural” não pode saber as coisas espirituais (v. 14) não pode julgar o homem espiritual.  

No versículo 16, Paulo introduz uma interessante pergunta: “Quem conheceu a mente do Senhor”? Só o Espírito de Deus tem conhecimento das profundezas de Deus (v. 11), por isso é impossível ao “homem natural” ter conhecimento dessas profundezas e ter conhecimento do homem em quem está o Espírito. Por isso Paulo fala que “nós temos a mente de Cristo”. Ele não quer dizer que o cristão é capaz de compreender todos os pensamentos de Cristo. Mas, sim, quer dizer que o Espírito que nele habita revela Cristo. Assim, o “homem espiritual” não vê as coisas na perspectiva do homem do mundo. Ele as vê na perspectiva de Cristo, porque Cristo habita nele pela fé (Cl. 3:16).

Conclusão: É tempo de levarmos mais a sério a extraordinária importância da atuação indispensável do Espírito Santo na pregação do Evangelho, como “mensagem revelada”, tanto no que diz respeito ao seu conteúdo como na sua exposição, para que os resultados maravilhosos da autêntica conversão do pecador e a experiência da nova vida continuem a acontecer.

autor: Jayro Gonçalves.