A responsabilidade do cristão perante o mundo

“E, assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”

2 Coríntios 5:17

Conferência proferida pelo irmão Jayro Gonçalves no Congresso das Igrejas dos Irmãos de Portugal em 17/04/2010

INTRODUÇÃO

O texto acima de Paulo está, apropriadamente, no contexto posterior da passagem na qual o apóstolo trata do Tribunal de Cristo, que deverá, no tempo de Deus, avaliar e julgar o que cada cristão tiver feito aqui, “para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2 Coríntios 5:10). Os cristãos serão julgados segundo uma retrospectiva de suas obras, com o propósito de lhes conceder galardões ou receberem a reprovação do Senhor.

Em Romanos 14:10, afirma Paulo: “todos compareceremos perante o Tribunal de Cristo”. Portanto, o cristão dará contas ao Senhor pelo que tenha sido e pelo que tenha feito no mundo. Essa responsabilidade advém do fato inexorável de ser ele nova criatura. Deve, por isso, manifestar nova vida, um novo modo de proceder, compatível com a condição de cristão, deixando para trás as coisas antigas, inerentes à velha natureza.

O QUE É SER CRISTÃO

Ser cristão implica em ser “diferente” do homem natural, aquele que ainda não nasceu de novo. Uma manifesta e indisfarçável postura perante o mundo, a de “nova criatura”, em contraste com a postura do “homem natural” (a velha criatura).

É a postura de quem possui a “nova vida”, obtida pela fé (João 1:12), na Pessoa, na Palavra e na Obra do Senhor Jesus Cristo. Resulta, pois, de um “novo nascimento” (regeneração), operação de caráter espiritual, não natural, pela atuação da Palavra crida (Romanos 10:17; 1 Pedro 1:23) e do Espírito Santo, que convence o pecador do seu pecado, da Justiça e do Juízo (João 16:8).

O batismo nas águas simboliza bem esse fato, como vemos em Romanos 6:4... “fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”. O Senhor Jesus Cristo enfatizou essa verdade falando a Nicodemos, quando lhe disse ser necessário “nascer de novo”, pois quem não nascer da água (a Palavra) e do Espírito não pode “ver” o reino de Deus; não pode “entrar” no reino de Deus (João 3:5-8). Faz-se imperioso o novo nascimento, o qual nada tem a ver com o processo natural da geração humana, já que a “nova vida” resulta de um processo eminentemente espiritual.

Paulo, enfaticamente, afirma que somente aquele que está em Cristo é “nova criatura”. Isso implica, necessariamente, em que “tudo se faça novo”. Todas as “coisa velhas” já passaram (as que consistem na vivência do homem natural, isto é, sem Cristo). “Tudo se fez novo”, diz Paulo, porque a vida do homem espiritual (aquele que é nascido de novo) deve ser diferente da que tinha antes do novo nascimento. O seu comportamento, agora, não pode ter nada a ver com o da “velha criatura”. A mudança deve ser radical e deverá ser, inevitavelmente, notada pelos que não são cristãos.

COMO TORNAR-SE CRISTÃO

É o exercício da fé que viabiliza a conquista, pelo pecador, do benefício incomparável da “nova vida”, e de todos os demais benefícios que dela advém, no usufruto do maravilhoso processo da Salvação. Lemos, em Hebreus 11:6, que “sem fé é impossível agradar a Deus”.

Mas há mais duas expressões, de sentido fundamental para a correta realidade cristã, que definem o processo do verdadeiro “novo nascimento”: arrependimento e conversão. Ninguém se tornará um cristão autêntico, uma “nova criatura”, se não se arrepender dos seus pecados e se não se converter ao Senhor. Foram as expressões chaves usadas pelos apóstolos, para definirem a atitude indispensável do “velho homem”, a fim de se tornar uma “nova criatura”.

Tais expressões fundamentaram o surgimento da Igreja de Cristo na terra. “Arrependimento” é o que proclama Pedro ser indispensável na atitude do pecador, como resposta única e adequada à solução do dramático problema que o pecado trouxe à criatura humana. Fê-la no final da sua notável pregação, que alicerçou a edificação do corpo de Cristo (Atos 2:38). O próprio Pedro reafirma esse fundamento da “nova vida” em Cristo, em Atos 3:19... “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”. Não foi outra a mensagem do Senhor Jesus no início do Seu ministério (Marcos 1:15).

O problema do ser humano tem sido o pecado, que o afastou de Deus, anulando os seus valores morais e espirituais e qualquer possibilidade de ser ele, como Deus queria, instrumento da realização dos Seus propósitos soberanos no mundo. O pecado se tornou na maior tragédia para o homem no mundo! Isaías 59:2... “as vossas iniquidades fazem separação entre vós e vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”.

Deus detesta o pecado, mas ama o pecador e, por isso, manifestou o Seu amor e a Sua misericórdia, através da Sua Graça, para restaurar o homem perdido (João 3:16; Efésios 2:4-5; Romanos 5:8; 8:1). Sobre o Calvário o Senhor Jesus pagou a nossa conta, satisfez a Justiça divina, livrando-nos da condenação eterna dos nossos pecados, expiando-os no sacrifício solene do Seu próprio corpo, purificando-os através do sangue que ali, voluntariamente, derramou, sob tremendo e incomparável sofrimento. Esse foi o preço pago para a nossa redenção (1 Pedro 1:18-20)! O sepulcro, onde O colocaram, Ele o deixou vazio para nos garantir a ressurreição de nosso próprio corpo (1 Coríntios 15:13,14,16, 20). Aleluia!

O que nos resta fazer, pois, além do exercício da fé?

1. ARREPENDIMENTO sincero dos nossos pecados, confessando-os e deixando-os (Provérbio 23:18; 1 João 1:9). “Arrepender-se” significa:

  • a) Reconhecer o pecado;
  • b) Ficar triste e chorar, contritamente, pelo pecado cometido;
  • c) Confessar o pecado perante o Senhor;
  • d) Deixar o pecado.

Não há como chegar-se à condição de “nova criatura”, sem o arrependimento sincero que implica, necessariamente, nos passos acima referidos.

2. CONVERSÃO VERDADEIRA ao Senhor. “Converter” é mudar totalmente o rumo em que estamos para adotar outro completamente diferente. A conversão ao Senhor dá-se, somente, quando nos dispomos a “mudar o rumo” desastrado que estamos seguindo, o da “velha criatura”, para adotarmos o “rumo novo”, o da “nova criatura”, que o Senhor nos indica. Seguir na nova direção que nos leva aos alvos de Deus e às indizíveis bênçãos que Ele nos reserva (João 14:6; Salmo 37:5; Provérbios 3:5-6). Essa é a atitude da qual resulta, também, o “novo nascimento” e a experiência da “nova vida” em Cristo.

Digno exemplo dessa maravilhosa realidade cristã, temos no que aconteceu com os “discípulos” na igreja de Antioquia (Atos 11:26). Foram lá eles chamados, pela primeira vez, “cristãos”, pela notável evidência das características da “nova criatura”, expostas, amplamente, na vivência diária no contexto do “mundo” local. Não precisaram declarar-se cristãos ou usar identificações formais. A designativa lhes foi atribuída, pelos do local, em razão do que neles viram, identificando-os, claramente, com o Mestre que pregavam, por e para Quem viviam! A diferença de postura foi patente a todos e, por isso, foram distinguidos com essa preciosa identificação. Eram, realmente, “novas criaturas” em Cristo! Por isso o texto sagrado fala que “os discípulos” foram, pela primeira vez, chamados cristãos. Eram discípulos verdadeiros. Eram “diferentes” dos outros. Portanto, cristãos!

A “nova criatura” deve manifestar “vida nova”, “caráter novo”, “procedimentos novos”, “alvos novos”, enfim, “tudo novo”!

Vale muito para nós o digno exemplo de Paulo... “para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21). Jesus Cristo nos exorta: “Quem permanece em mim e eu nele esse dá muito fruto: porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5). Para sermos “diferentes” devemos assumir Cristo (“quem permanece em mim”) e Lhe dar espaço em nosso viver (“e eu nele”). A “diferença” do cristão, em relação ao homem natural, estará no “muito fruto” (“dá muito fruto”) que, inevitavelmente, terá que dar na total dependência e atuação de Cristo, pois sem Cristo nada poderá fazer!


OS PRIVILÉGIOS DO CRISTÃO

Pedro exalta, em 1 Pedro 2:9, os excepcionais privilégios que desfrutamos como “cristãos”, por sermos membros do corpo de Cristo, a Sua amada Igreja: “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus". Deus tem propósitos bem definidos para a Igreja, para cada cristão, como membro do corpo de Cristo. Fomos chamados das trevas para a Sua maravilhosa Luz, como povo de Deus que agora somos. A nossa vocação está bem explicitada: “a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou para a sua maravilhosa luz”. Que maravilhoso privilégio é esse!

A RESPONSABILIDADE DO CRISTÃO

Em contrapartida, que tremenda responsabilidade nos traz a condição de “cristão”, como nova criatura! Que irrecusável responsabilidade tem a Igreja perante o mundo! O Senhor Jesus orou intensamente para que possamos cumprir, com eficiência e êxito, essa nossa responsabilidade perante o mundo (João 17). Ele rogou ao Pai não só pelos Seus discípulos presentes, mas, também, por aqueles que viessem a crer nEle, por intermédio da Sua Palavra (João 17:20).

Afirmou o Senhor: “Eu lhes tenho dado a tua palavra, o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:14); “não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João 17:15); “assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” (João 17:18). Fica claro aí que estamos no mundo, pelo querer de Deus, e não podemos com o mundo e nem com o seu modo de ser e agir nos comprometer, nisso situa-se a responsabilidade da igreja, a dos cristãos individualmente, perante o mundo.

A RESPONSABILIDADE DE CRISTÃO PERANTE O MUNDO

Vamos considerar a expressão mundo em três aspectos diferentes, consoante o ensino da Palavra de Deus.

I - O MUNDO COMO ESPAÇO TERRESTRE: DEVEMOS TESTEMUNHAR DO EVANGELHO

1. CONCEITO BÍBLICO:

O mundo é todo o espaço terrestre que está disponível para o ser humano ocupar. Todos nós ocupamos espaço terrestre na medida em que nos movemos e nos locomovemos de um para outro lado. Somos habitantes neste mundo e isso significa que, necessariamente, sempre estamos ocupando algum espaço da terra.

Na verdade, é da natureza humana aumentar, cada vez mais, o espaço que ocupa. Sabemos que há no mundo grandes latifundiários que ocupam espaço terrestre imenso, enquanto outros têm tremenda dificuldade para poder ocupar um pequeno espaço. Mas o anseio de todos é sempre ampliar o espaço terrestre que ocupam.

É da índole do homem, no exercício maléfico de sua cobiça desmedida por espaço, avançar no espaço do semelhante, para tomar-lhe o que legitimamente lhe pertence. Surge aí a terrível e constante luta pelo espaço, luta na qual o homem se empenha recorrendo, inescrupulosamente, aos meios mais escusos e deploráveis que se possa imaginar. Grande número de pendências judiciais ocorre na disputa por espaço terrestre. Muito sangue se tem derramado na inglória disputa pelo espaço terrestre.

Esse tem sido um aspecto negro da história humana. Na verdade o homem busca ocupar o espaço terrestre, e dele ser o dono exclusivo, em detrimento do direito do seu semelhante de ocupá-lo, e sem levar em conta a ilicitude dos meios ignóbeis de que se vale para alcançar o seu propósito. Em resumo: o homem quer ocupar o espaço terrestre para ser o dono exclusivo do mesmo e dele, egoisticamente, usufruir o que este lhe possa oferecer.

Em Mateus 13:38, o Senhor Jesus referiu-Se ao mundo como espaço terrestre quando afirmou: “o campo é o mundo”. Essa declaração está inserida no texto em que o Senhor Jesus, a pedido de Seus discípulos, explica a parábola do joio do campo, onde adota, claramente, o conceito de mundo como espaço terrestre ocupado pelo homem. Esse conceito se infere dos seguintes textos sagrados que mencionam o alcance da expansão do Evangelho: “todo o povo” (Lucas 2:10); “todas as nações” (Mateus 28:19); “todo o mundo... a toda criatura” (Marcos 16:15); “até aos confins da terra” Atos 1:8). Disse, mais o Senhor Jesus: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (João 17:18).

2. O CONTEÚDO DO EVANGELHO A SER TESTEMUNHADO:

O Evangelho é a mensagem de Deus aos homens no pecado, para restaurá-los espiritualmente. Não é mensagem humana, mas divina. É a solução que Deus oferece para a Redenção do pecador. Quando Jesus Cristo nasceu o mensageiro angelical proclamou aos pastores em Belém: “Não temais; eis aqui vos trago boa nova (esse é o sentido da palavra Evangelho) de grande alegria, que o será para todo o povo (temos aí o alcance universal do Evangelho): é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10-11).

Nessa notável declaração do anjo, como porta-voz de Deus, vemos a abrangência do conteúdo do Evangelho, como “boa nova” (a mais sublime que se proclamou em todo o mundo), por Deus revelada ao ser humano, dEle afastado e sem esperança alguma (Efésios 2:12). O Evangelho (“boa nova”) consiste em:
■A PRESENÇA de Jesus Cristo, o Filho de Deus, na terra, para a REDENÇÃO do pecador perdido e afastado de Deus:
■O Seu MINISTÉRIO poderoso, atraindo e comovendo as multidões e confirmando a Sua divindade e a Sua disposição total de fazer a vontade de Seu Pai
■A Sua Obra eficiente e suficiente para ser o único SALVADOR do pecador em todo o mundo, conforme o plano do Pai;
■A Sua proclamação como o Ungido de Deus, o MESSIAS, amplamente prometido nas Escrituras; temos aí o lastro incontestável das Escrituras, assegurando-nos a verdade e a eficácia do Evangelho;
■A Sua condição inescusável de SENHOR do redimido, usando-o no Seu glorioso serviço.

Paulo diz que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Esse é o Evangelho que sustenta a nossa fé, cujo poder, através do Espírito Santo, opera a nossa regeneração (novo nascimento), quando nele cremos. Não há outro Evangelho! Paulo nos exorta: “Mas ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebemos, seja anátema” (Gálatas 1:8. 9).
■O Evangelho é a única solução para o maior problema do homem: o pecado;
■O Evangelho salva o homem da perdição eterna;
■O Evangelho restaura no homem os valores morais e espirituais perdidos;
■O Evangelho capacita o redimido para que possa cumprir o propósito divino;
■O Evangelho vitaliza espiritualmente o pecador salvo, dando-lhe vida abundante e a expectativa certa da eternidade com Deus.

Se já alcançamos esses benefícios espirituais que o Evangelho irrevogavelmente nos outorga, quando nele cremos, é nossa inequívoca responsabilidade, como cristãos perante o mundo, testemunhar desse Evangelho, fiéis ao seu conteúdo, em todos os espaços que venhamos a ocupar na terra (o mundo), o do lar, o da escola, o do trabalho, o do lazer, e qualquer outro onde estejamos.

O conteúdo do Evangelho é imutável e não se presta a contextualizações em razão de lugares distintos, culturas diferentes, raças diversas ou outras situações distintivas, como muitos hoje, indevidamente, estão a fazer. Podemos contextualizar os métodos adotados para se testemunhar do Evangelho, mas nunca a mensagem testemunhada.

O Evangelho é a única mensagem que serve como solução para o problema do pecado do ser humano, porque não vem do homem, mas vem de Deus. Não cabe ao homem mudá-la. A condição de pecador é universal, não comportando, por isso, modificações do conteúdo da mensagem, em razão de pretendidas contextualizações.

Note o que Paulo diz sobre o Evangelho que pregava e ensinava em Atos 20... “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar” (v. 20); “testificando o arrependimento para com Deus e a fé no Senhor Jesus Cristo” (v. 21); “testemunhar da graça de Deus” (v. 24); “pregando o reino” (v. 25); “anunciando todo o desígnio de Deus” (v. 27).

3. A EXPERIÊNCIA HISTÓRICA DA IGREJA:

O crescimento vertiginoso do Evangelho, no primeiro século do cristianismo, foi impressionantemente alcançado, pela fidelidade na exposição do conteúdo da mensagem evangelística dos cristãos daquela época em todos os espaços terrestres que ocuparam. E assim tem sido na história da Igreja, na medida em que o “testemunho” fiel dos cristãos se faz notório. Alguns registros neotestamentários atestam, com propriedade, esse procedimento de fidelidade no exercício da responsabilidade do testemunho do Evangelho perante o mundo, praticado por muitos servos do Senhor.

Em Atos 1:14-15 constatamos a eficiência do ministério de Paulo através do testemunho do Evangelho em todos os espaços terrestres que ocupou. Ele afirma: “Não me envergonho do Evangelho de Cristo”; e acrescenta: “Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes”. Notável! Sabia ele que o seu débito para com Deus havia sido totalmente quitado, pela eficaz Obra de Cristo no Calvário. No céu a sua conta-corrente que o colocara devedor para com Deus fora definitivamente encerrada.

Mas tinha ele a convicção de que nova conta-corrente se abrira, na qual ele figurava como “devedor” daqueles que ainda estavam perdidos no pecado. Só havia uma maneira de quitar essa conta: testemunhar-lhes com fidelidade a mensagem do Evangelho em todos os espaços terrestres em que se encontrassem. Diz, mais, Paulo, nesse seu belo testemunho: “por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o Evangelho também a vós outros que estais em Roma”. Até lá Paulo chegou: Roma. Talvez foi esse o espaço mais difícil que ocupou para testemunhar do Evangelho! Que digno exemplo nos deixa aí o grande apóstolo do cristianismo! Deve ter sido o cristão que mais espaço terrestre ocupou, como fiel testemunha do Evangelho.

Por outro lado, os muitos e melancólicos registros de fragilidade do cristianismo, no curso da sua história, devem-se ao fraco ou nulo desempenho dos cristãos no cumprimento da sua responsabilidade de corretamente evangelizar o mundo. Quantos espaços terrestres que ocupamos têm ficado sem a mensagem do Evangelho autêntica, deixando muitos pecadores perdidos, sem o privilégio de formarem no abençoado grupo dos salvos pela Graça de Deus, como novas criaturas em Cristo! Disto se prestará contas perante o Tribunal de Cristo!


I - O MUNDO COMO ESPAÇO TERRESTRE: DEVEMOS TESTEMUNHAR DO EVANGELHO

4. O QUE NOS FAZ EFICIENTES TESTEMUNHAS:

Anotemos três atitudes essenciais que nos levam ao cumprimento fiel da responsabilidade de testemunhar do Evangelho ao mundo:

• A instrução

A primeira atitude é aplicar-se, diligentemente, na obtenção, contínua e crescente, da instrução contida na Palavra de Deus, necessária para o fiel testemunho do Evangelho. É preciso que sejamos cristãos autênticos para podermos cumprir bem a nossa responsabilidade de verdadeiros evangelistas. Infelizmente a expressão “evangélico“ está vulgarizada, tornou-se um modismo dizer-se que se é “evangélico”, e se tornou conveniente para muitos, pois abre portas que facilitam a obtenção de pretensões humanas de caráter material e satisfazem a escusos interesses pessoais.

É lamentável ver-se a generalização do uso da expressão “evangélico” atribuída a pessoas interesseiras, de baixo caráter moral e de indecente comportamento, sem nenhum compromisso com Deus e com a Sua Palavra, e sem nenhuma capacitação espiritual. Portanto, é a “instrução” o elemento essencial para a nossa capacitação, na realização, com sucesso, de qualquer empreendimento.

Ser “evangélico” autêntico é aquele que está sempre se capacitando espiritualmente, através da constante e crescente instrução evangélica haurida nas Escrituras. No crescimento permanente do conhecimento das verdades evangélicas, nos capacitamos, mais e mais, para um eficiente testemunho do Evangelho. O Senhor Jesus preocupou-Se, sobremodo, em instruir amplamente os Seus discípulos sobre as verdades do Evangelho, tanto pelo Seu ministério verbal, como pelo Seu digno exemplo. Em Lucas 24:44-48, após a Sua ressurreição, na iminência de partir para a Glória, já cumprida a missão que o Pai Lhe entregara, de redimir o pecador, vemo-Lo reunido com os Seus discípulos para lhes dar a última e a mais consistente lição sobre o dever e a maneira de testemunharem do Evangelho no mundo. Diz o texto: “A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas dessas coisas”.

Sem dúvida, uma “instrução” oportuna, fundamental e abrangente sobre a necessária e fiel atuação evangelística. Note:
■A base da “instrução” eram as Escrituras (Lei de Moisés, Profetas e Salmos);
■Fora isso que sempre lhes falara durante o Seu ministério (“estando ainda convosco”). A “instrução” só aconteceria com a compreensão ampla das Escrituras (“lhes abriu o entendimento”);
■A Sua missão era o fiel cumprimento das Escrituras (“importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito”);
■A Sua missão consistia em padecer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro dia, conteúdo básico do Evangelho;
■Era fundamental a propagação desse Evangelho, pela pregação do arrependimento para a remissão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém;
■Os Seus discípulos foram, expressamente, responsabilizados como testemunhas de todas essas verdades (“vós sois testemunhas dessas coisas”).

Essa histórica “instrução” foi fundamental para a expansão do cristianismo no mundo, e tem tudo a ver conosco. Dela dependemos para sermos testemunhas fiéis do Evangelho. O Senhor Jesus, ao comissionar os Seus a esse precioso ministério disse: “fazei discípulos de todas as nações... ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mateus 28:19-20).

Não há como ser uma testemunha fiel sem ser um aluno dedicado e fiel no aprendizado! Jesus Cristo disse: “aprendei de mim” (Mateus 11:29). Os hipócritas religiosos, ao tempo de Cristo, sabiam muito das Escrituras, mas apenas tinham conhecimento intelectual-teológico; mera religiosidade sem nenhuma capacidade espiritual. De nada lhes valia esse tipo de conhecimento teórico. Faltava-lhes a aplicação humilde e correta na busca da “instrução” do Senhor, oriunda das Escrituras. Por isso o Senhor verberou a hipocrisia deles e lhes disse: “errais não sabendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mateus 22:29).

Este foi o Evangelho, ensinado pelo apóstolo Paulo! Apliquemo-nos, intensamente, na capacitação espiritual, somente obtida pela “instrução” do Evangelho, para dele sermos fiéis testemunhas.

• A proclamação

A segunda atitude que nos faz eficientes testemunhas é a prática diligente da proclamação do evangelho. A expressão “testemunhar” tem o sentido de “falar o que se viu”, “o que se sabe”, “do que se teve real experiência”, “do que tem convicção”. Vivo exemplo disso encontramos em Atos 4:18-20 onde se registra a resposta peremptória dada por Pedro e João ao sinédrio, que lhes ordenava que não falassem, nem ensinassem em Nome de Jesus: “não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”. E não se calaram mesmo!

A missão de “proclamar” o Evangelho é irrecusável na atuação do verdadeiro discípulo. Se aprendemos as verdades evangélicas, que tanto nos valem espiritualmente, não há como silenciá-las e deixar de proclamá-las em alto e bom som àqueles que ainda não as conhecem. Não estaremos cumprindo a nossa responsabilidade, como igreja e como cristãos, negligenciando nessa importante área de nosso testemunho. A ênfase que o Senhor Jesus deu, ao nos atribuir essa inescusável responsabilidade perante o mundo, tem caráter imperativo: “ide... fazei discípulos... pregai” (Mateus 28:19; Marcos 16:15); e “sereis minhas testemunhas” (Atos 1:8).

O apóstolo Paulo se declara exemplo vivo dessa irrecusável atitude do verdadeiro cristão: “Se anuncio o evangelho, não tenho do que me gloriar, pois sobre mim, pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1 Coríntios 9:16).

Há, pelo menos, três modos distintos pelos quais podemos cumprir a responsabilidade de testemunhar o Evangelho ao mundo, como igreja ou como cristãos individualmente considerados:
■Através do evangelismo público, o que é dirigido às massas. É praticado, em geral, nos cultos normais, em templos e em lugares próprios para grandes auditórios, através de campanhas especiais promovidas pelas igrejas locais. É o que mais se pratica no meio cristão atualmente. Bom é que seja praticado com amor e interesse real pela salvação dos pecadores perdidos, para que não resulte infrutífero! Devem os cristãos darem o seu suporte em oração pelos que pregam e pelos que ouvem a mensagem, bem como devem procurar trazer para esses ambientes coletivos os que ainda estão sem a Salvação.
■Através do evangelismo missionário, realizado pela atuação de missionários enviados a espaços terrestres muitas vezes longínquos, para alcançar povos e culturas sem o testemunho do Evangelho. O envio e a sustentação de missionários, bem como o acompanhamento do seu trabalho no campo em que se encontram, precipuamente é responsabilidade da igreja local. Nos dias que correm isso não é praticado com a força e amplitude de outros tempos. Os cristãos que não se sentem chamados para irem, devem participar desse tipo de ação evangelística missionária com o seu útil suporte de intercessão e financeiro. Quem não vai, manda!
■Através do evangelismo pessoal, pela prática do testemunho pessoal do Evangelho que incumbe a cada cristão fazer, nos espaços terrestres que ocupa, aos que nesse espaço venham a se encontrar, sem qualquer preconceito ou discriminação. Creio ser o mais eficiente meio de evangelização, como provam à saciedade, os abundantes resultados alcançados no curso do tempo.

Esse eficiente método de evangelismo tem sido utilizado desde o início da igreja e em muitos períodos áureos da sua história, marcando os melhores momentos do seu notório progresso. Lamentavelmente, tem sido deixado de lado, sendo, a meu ver, uma das razões do reduzido progresso na atuação evangelística atual. É porque exige, de cada cristão, consagração, porte espiritual, íntima e permanente comunhão com Deus e com o Seu povo, aplicação séria no exercício da oração, santidade prática evidente e constante, consciência de responsabilidade evangelística, testemunho correto em todas as áreas da vida, paixão pelas almas perdidas.

Exige, ainda, aplicação esmerada na busca e aproveitamento de oportunidades e na criação de pontos de contacto. Infelizmente há muita carência dessas qualificações espirituais no porte dos cristãos dos nossos dias. Na vida eclesiástica a disciplina é negligenciada, o comportamento espiritual é marcado pela indolência para com os princípios cristãos válidos, constantes da Palavra de Deus.

Há pouco interesse nas coisas de Deus. Igrejas que mais parecem clubes do que igrejas, preocupando-se com atividades afins, não especificamente de nível espiritual, que pouco ou nada têm a ver com o projeto de Deus para a Sua amada igreja. Esse contexto negativo da igreja resulta na inibição dos cristãos para a prática do eficiente Evangelismo pessoal, anulando, consequentemente, o progresso da Igreja nos nossos dias.

Foi o evangelismo pessoal que deu vertiginosa e ampla expansão ao cristianismo nos primórdios e no curso da sua história:

Atos 5:42 – “todos os dias no templo e de casa em casa não cessavam de ensinar e pegar Jesus Cristo”.

Atos 8:1,4,5 – “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria”... “entrementes, os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a palavra... Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo”.

Mostram-nos esses textos que a igreja em Jerusalém estava voltada para dentro, sem atuação evangelística fora do âmbito do templo. O martírio de Estevão aconteceu para reverter esse quadro de inércia, provocando uma grande investida expansionista do Evangelho, através de ampla e eficiente atuação de evangelismo pessoal praticado por todos os dispersos em várias regiões, por causa da perseguição que se seguiu ao martírio de Estevão.

Atos 11:19-20 completa esse notável relatório da expansão do Evangelho: “os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estevão se espalharam até a Fenicia, Chipre e Antioquia... anunciando... a palavra... aos judeus... falavam também aos gregos” O expressivo resultado dessa atuação evangelística pessoal foi o surgimento da primorosa igreja em Antioquia, onde os discípulos, pela primeira vez, foram chamados cristãos (v. 26), e de onde teve início a extraordinária e abençoada atuação missionária do apóstolo Paulo (Atos 13:1).

Creio que é tempo de a igreja reverter o quadro de indolência, negligência e desinteresse pelas almas perdidas, empenhando-se, através da atuação eficaz de todos os seus membros, no frutífero trabalho de evangelismo pessoal!


I - O MUNDO COMO ESPAÇO TERRESTRE: DEVEMOS TESTEMUNHAR DO EVANGELHO

4. O QUE NOS FAZ EFICIENTES TESTEMUNHAS:

• O viver cristão

A terceira atitude que nos faz “eficientes testemunhas” é a maneira como vivemos no mundo. Já vimos que ser cristão é ser uma nova criatura, isto é, ser diferente da velha criatura; que as coisas velhas devem passar e devem se fazer novas. Isso é fundamental para que o nosso testemunho se torne eficiente.

A eficiência do nosso testemunho não acontece só porque dissertamos bem sobre o conteúdo do Evangelho, mas pelo que mostramos desse conteúdo em nosso procedimento diário. A nossa vida é a melhor ferramenta para partilharmos o amor de Deus. O viver fala mais alto do que as palavras! A contradição entre o falar e o viver anula totalmente a eficácia de nosso testemunho. Existe alguma verdade bíblica que não estou obedecendo? A minha vida particular é condizente com o que prego e ensino? É fundamental refletirmos sobre isso!

É nossa responsabilidade evidenciar, pela nossa vida, tudo o que falamos aos outros sobre as verdades evangélicas. Só assim os que nos ouvem podem ser afetados profundamente por elas, impressionados muito mais por verem-nas expostas praticamente em nosso procedimento cristão. O impacto das palavras é tênue e agita a mente. O impacto das verdades evangélicas constatadas no nosso viver diário afeta positiva e profundamente a alma, estimula a emoção e leva à necessária convicção daqueles que queremos alcançar para Cristo. Nesta hipótese, o Espírito Santo atua fortemente através da constatação que o evangelizado faz, inequivocamente, da atuação efetiva do poder do Evangelho, transformando radicalmente o nosso viver.

A expressiva metáfora que o Senhor Jesus usou em Mateus 5:14-16 torna-se pertinente e preciosa lição: “Vós sois a luz do mundo”... “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Esta é uma das mais importantes declarações do Senhor a respeito da manifestação da vida cristã, pois define a vontade de Deus quanto ao porte cristão no cenário do mundo.

No contexto em Lucas 14:25-35, verifica-se que esta declaração do Senhor segue, imediatamente, à definição do verdadeiro discípulo. Esse ensino dado pelo Senhor sintetiza tudo o que Ele espera do verdadeiro cristão, para que o seu testemunho tenha valor e eficácia. O homem natural está em trevas (João 3:19). A luz que o Senhor menciona que devemos manifestar não é “luz própria”, mas “luz refletida”. Paulo ensina: “todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.

Em João 8:12, afirmou o Senhor: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, pelo contrário terá a luz da vida”. Ao afirmar “quem me segue” refere-se ao verdadeiro discípulo. A luz advém do Senhor Jesus, porque Ele é “luz e vida”, e só o verdadeiro discípulo poderá ter dEle “a luz da vida”. A mesma ideia vemos em João 1:4: “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens”. Essa luz só é alcançada mediante o Evangelho que aceitamos (2 Timóteo 1:10; 1 Pedro 2:9). Só os que têm a nova vida em Cristo podem manifestar a luz. Para refletirmos essa luz através de nosso viver diário, precisamos estar ligados à fonte de energia, que é Ele, para, por Ele, sermos continuamente alimentados da mesma. Sujeira na lâmpada diminui seu brilho e prejudica a luminosidade necessária! Curto-circuito na ligação anula o brilho da lâmpada! A sujeira ou o curto-circuito do pecado prejudicam a manifestação da luz que o Senhor quer ver em “nosso viver”, para afetar, favoravelmente, o mundo. Este jaz no maligno (1 João 5:19). Ama mais as trevas do que a luz, porque as suas obras são más (João 3:19).

O que o Senhor pretende de nós, como “filhos da luz”, é que afetemos positivamente o mundo, com o brilho da nossa luz, que emana dEle, para mudar a nossa atitude para com Ele (“brilhe também a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”). O resultado há de ser a glória dada a Deus pelos homens, que devem ver as nossas boas obras, ou seja, o brilho da nossa luz, que é o nosso viver, na plena vontade do Senhor. Importa muito mais, como testemunho nosso, o que o mundo vê do que o que o mundo ouve! O que se expõe não se pode esconder (v.14b); o que se esconde não se pode ver (v.15)!

Neste passo, vale lembrar o que nos ensina a Palavra de Deus sobre o “viver cristão”, adotando o verbo “andar” no sentido simbólico de “manifestação de caráter”:
■Romanos 6:4 - andar em novidade de vida;
■Romanos 13:13 – andar dignamente;
■Gálatas 5:16 – andar no Espírito;
■Efésios 5:2 – andar em amor;
■Efésios 4:1 – andar de modo digno da vocação a que fostes chamado;
■Efésios 5:8 – andar como filhos da Luz;
■Colossenses 2:6 - andar em Cristo Jesus, o Senhor;
■1 João 2:6 – andar assim como Ele andou;
■2 João 6 – andar segundo os seus mandamentos.

Busquemos cumprir, eficientemente, a nossa responsabilidade de “fiéis testemunhas” do Evangelho, perante o mundo, pelo nosso viver, na vontade soberana do Senhor. Vejamos, prudentemente, como andamos, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus (Efésios 5:15).



II - O MUNDO COMO A HUMANIDADE: DEVEMOS AMAR O NOSSO PRÓXIMO
■Conceitos bíblicos

O mundo - Até agora consideramos a expressão mundo como “espaço terrestre”. A Bíblia usa também a palavra mundo no sentido de “humanidade”. Em João 3:16 vê-se esse conceito adotado, quando o evangelista João fala sobre o amor de Deus: “Deus amou de tal maneira o mundo”. O que esse texto quer dizer é que Deus amou a humanidade, isto é, o ser humano. Amar o ser humano é, sem dúvida, a responsabilidade maior do cristão perante o mundo, como evidência natural de sua condição de nova criatura.

O amor - Há três sentidos específicos adotados para a palavra amor, definidos por três palavras gregas diferentes:

- “Eros”: refere-se ao “amor sexual”

- “Phileo”: refere-se ao “amor amizade”

- “Agape: refere-se ao “amor espiritual”

Trataremos aqui, preponderantemente, do amor no seu terceiro sentido acima mencionado.
■O amor no homem criado e frente à crise do pecado

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26,27). Assim, a criatura humana foi dotada de características do próprio Criador. Entre essas características, uma das mais notáveis foi a de ser dotado da capacidade de amar. Lemos em 1 João 4:8,10 que “Deus é amor”, do que se depreende que a melhor definição do amor é Deus!

Antes de pecar o homem usufruía da plena capacidade de amar. Privilégio inaudito! Mas o pecado, entre tantos malefícios contundentes que trouxe à raça humana, causou-lhe o imenso prejuízo de despojá-lo dessa capacidade. Desde então o ser humano ficou privado de exercer o amor, no seu sentido espiritual, pois foi separado de Deus, que é Amor, e dEle afastado (Isaías 59:2). Triste e dramática realidade que o infelicitou, afetando-o, terrivelmente, de forma negativa e definitiva! O pecado anulou completamente, no homem, a capacidade de amar, levando-o, inexoravelmente, às práticas mais reprováveis, inteiramente fora do padrão de Deus, prejudiciais a ele próprio e ao seu semelhante, afrontando rude e flagrantemente a Deus e a Sua Santidade (Gênesis 6:5; Jeremias 17:9; Romanos 3:10-18).

Viu-se o homem, ainda, na contingência dessa realidade, na absoluta impossibilidade de, por si mesmo, reverter tal situação.
■Amar é o grande e primeiro mandamento

Em Mateus 22:34-40 temos uma passagem na qual o Senhor classificou o exercício do amor como o grande e o primeiro mandamento. Ao ser interrogado por um saduceu a respeito, o Senhor disse: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e o primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

É oportuno verificar que o Senhor Jesus, no v. 40, realça o fato de que do exercício do amor “dependem toda a Lei e os Profetas”. Sabe-se que essa expressão - “Lei e Profetas” - é usada nas Escrituras para identificar a própria Palavra de Deus, no seu todo, que é o roteiro para o exercício da “religiosidade”. Prefiro a palavra “espiritualidade”. Com referida afirmação, o Senhor está a dizer que a “espiritualidade” inexiste se a prática da “religiosidade” não contempla e não vivencia o amor a Deus e o amor ao próximo. Conclui-se, pois, que sem amor não há “espiritualidade”, mas somente vã e inútil “religiosidade”, pois a Palavra de Deus perde a sua eficácia em nossa experiência de vida cristã.
■O processo divino para restauração, no homem, da capacidade de amar

Deus, que nunca deixou de amar a Sua criatura, apesar do pecado que Ele sempre detestou, não abandonou o Seu alvo eterno de fazê-la instrumento da prática do Seu amor. A restauração, no homem, da sua capacidade de amar, foi iniciativa de Deus, seguindo um maravilhoso processo do Seu próprio amor para conosco, a saber:

1. Deus declarou de forma expressa o Seu amor, já a partir do momento subsequente ao triste fato da queda do homem. A Sua Palavra, ao homem caído, fez-se logo ouvir: “Onde estás?” (Gênesis 3:9); “Que é isso que fizestes?” (Gênesis.3:13). Oportunas perguntas a evidenciar o Seu interesse amoroso na restauração do homem dEle afastado, já caído e carente de amor. A par de ser uma declaração para conscientizar o homem da sua desgraça irreversível, foi uma maravilhosa declaração do Seu amor restaurador. Na sequência do diálogo, fica patentemente declarada a garantia da restauração, no homem, da capacidade de amar, anulada pelo pecado.

O Senhor, solenemente, declara, que o “descendente” da mulher feriria a cabeça da serpente, figura de Satanás, agente da realidade pecaminosa do ser humano, espoliador da sua capacidade de amar! (Gênesis 3:15). Essa declaração foi alvissareira promessa, cabalmente cumprida na Obra Redentora de Cristo. A Palavra de Deus manifesta, em todo o seu bojo, expressada através de símbolos, figuras ou exemplos, a declaração do amor de Deus feita a raça humana. Afinal, em João 3:16, declara a Palavra de Deus essa preciosa verdade, na seguinte expressão “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira...”. A declaração do amor de Deus está na Sua Palavra.

2. Deus revelou o Seu amor, de forma objetiva, ao nos disponibilizar, graciosamente, o Seu próprio Filho, o Senhor Jesus Cristo, que é a personificação do Seu amor para conosco. Diz João 3:16: “que deu seu Filho unigênito...”. A Sua presença, a Sua palavra, o Seu poder, enfim o Seu substancial ministério entre os homens, feito na soberana e integral vontade do Pai, revelam a infinita grandeza do amor de Deus. Foi uma doação, sem qualquer contrapartida, da pessoa do Filho de Deus, manifestando a magnitude da Sua graça para conosco. A revelação do amor de Deus é Jesus Cristo.

3. Deus provou o Seu amor para conosco, como afirma Paulo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). A Sua morte expiatória no Calvário, em nosso lugar, pagando o preço de nossos pecados, recebendo o castigo que merecíamos e satisfazendo a justiça de Deus, foi a prova cabal do amor de Deus. Como diz Paulo: “aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). A prova do amor de Deus é o Calvário.

4. Deus derrama em nossos corações o Seu Amor pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Romanos 5:8). Uma vez estabelecida a nossa reconciliação com Deus (2 Coríntios 5:18), eis-nos em condições de sermos favorecidos com a interiorização do amor de Deus, o que nos recapacita a, também, exercitar o amor em toda a sua plenitude. Isso acontece pela operação maravilhosa do Espírito Santo, que em nós passa a habitar, a partir do exercício da nossa fé salvadora.

A interiorização do amor em nós é outorgada pelo Espírito Santo. Está aí exposto o maravilhoso processo de Deus para a recapacitação do homem para o exercício do amor.
■Condições para o exercício do amor e seus resultados

Em 1 João 4:7-18 encontramos alguns aspectos importantes que implicam no correto exercício do amor:

1. O amor procede de Deus, que é amor (vs. 7, 10). Deus é a fonte de todo o amor.

2. Só os que são nascidos de novo e conhecem a Deus têm capacidade de amar (vs.7, 8).

3. O amor é dever pessoal; ao cristão é imperativo amar (vs. 11, 20, 21).

4. O amor exige comunhão com Deus (vs. 12, 13, 15, 16).

O verbo “permanecer” implica com o exercício da comunhão com Deus: Deus permanece em nós (v. 12); permanecemos nEle (vs. 13,15); quem permanece no amor, Deus permanece nEle (v. 16); o amor produz confiança (v. 17); o amor afasta o medo (v. 18); o amor se aperfeiçoa em nós e nos aperfeiçoa (vs. 12, 17, 18).
■O amor não é mero sentimento, é atitude

Em 1 Coríntios 16:14, Paulo nos ensina: “Todos os vossos atos sejam feitos com amor”. Constatamos, assim, que amor não é mero sentimento, mas atitude, pois deve ser manifestado em todos os nossos atos.

Vemos em 1 Coríntios 13:4-8,13 algumas notórias e necessárias evidências do amor em nossa atitude: O amor é paciente; o amor é benigno; o amor não arde em ciúmes; o amor não se ufana; o amor não se ensoberbece; o amor não se conduz inconvenientemente; o amor não procura os seus interesses; o amor não se exaspera; o amor não se ressente do mal; o amor não se alegra com a injustiça; o amor regozija-se com a verdade; o amor tudo sofre; o amor tudo crê; o amor tudo espera; o amor tudo suporta; o amor jamais acaba; o amor é a maior virtude. São todas essas atitudes irrecusáveis no comportamento do cristão, como prova do correto exercício do amor.

Na verdade ao vivenciar tais características, estaremos obedecendo ao que o Senhor Jesus Cristo ordenou, com ênfase, aos Seus discípulos: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros“ (João 13:34). “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (João 15:12). “Isto vos mando: que ameis uns aos outros” (João 15:17).



II - O MUNDO COMO A HUMANIDADE: DEVEMOS AMAR O NOSSO PRÓXIMO

Conceitos bíblicos
■A responsabilidade do cristão, perante o mundo, quanto ao amor para com o próximo

Vistas todas essas considerações bíblicas, que demonstram a saciedade, a grande importância e a essencialidade do exercício do amor, como propósito eterno de Deus para com a Sua criatura, vejamos, finalmente, como deve agir a nova criatura, restaurada a sua capacidade de amar, para cumprir fielmente a sua responsabilidade de amar o próximo. Três são as atitudes essenciais que lhe cabem:

1. Valorizar a alma alheia - Em Mateus 16:26 diz o Senhor Jesus: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” Depreende-se dessa Escritura que a alma humana tem valor inestimável. Nenhum valor humano, por mais substancial ou maior que seja pode ser comparado com o valor da alma do homem.

O valor da alma independe de posição social, cultural, posses patrimoniais, raça, religião e tantas outras características distintivas do ser humano. Perante Deus o homem tem grande valor, pois é Sua criatura amada, apesar do seu pecado. Todos pecaram e destituídos (mas são carentes) estão da glória de Deus (Romanos 3:23). O salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). “Como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12).

Verificamos, assim, que a condição de todos os homens perante Deus é a mesma: é universal. Mesmo nessa triste condição, Deus valoriza, tremendamente, a alma alheia, pois ama a Sua criatura e quer vê-la restaurada, redimida totalmente, capacitada para cumprir a sua vocação celestial! Não há valor patrimonial humano que se compare ao valor da alma humana! Por isso, afirma Paulo que “Deus, nosso Salvador... deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:3-4).

Já vimos que Deus tem provado o Seu amor pela criatura, apesar do seu pecado, em que Cristo morreu por nós, sendo ainda pecadores! (Romanos 5:10). Podemos vislumbrar no sacrifício de Jesus Cristo para o nosso resgate o valor imenso que a alma tem para Deus: “Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro que fostes resgatados do vosso fútil procedimento... mas pelo precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula; o sangue de Cristo” (1 Pedro 1:18-19). Que preço inestimável pagou o Senhor pelo resgate de nossa alma!

Se Deus valoriza tanto a alma alheia, cabe-nos também, já privilegiados pela nova vida que pela Graça nos concedeu, resgatados pelo alto preço que o Calvário representou, a responsabilidade de amar o nosso semelhante, valorizando-lhe a alma, com o mesmo critério de valoração que moveu o coração de Deus. A alma alheia vale mais que o mundo inteiro!

2. Priorizar o nosso próximo no exercício de nosso amor – É tendência do comportamento humano se priorizar em detrimento do semelhante. O egoísmo e o egocentrismo são marcas proeminentes do porte do homem natural. Não é assim que deve agir o homem espiritual. Deus, no Seu infinito amor, priorizou o homem na sua condição de perdido para favorecê-lo com a manifestação da Sua maravilhosa Graça. Paulo ensina: “Não julgou ele (Cristo Jesus) como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem; e, reconhecido em figura humana, tornou-se obediente até morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).



Que sublime retrato da pessoa divina do Senhor Jesus, priorizando, humildemente, o homem na sua necessidade espiritual, perdido e sem esperança, ao fazer-Se, Ele mesmo, Deus que era, homem desprezado pelos homens, servo submisso à vontade do Pai e, humilhando-Se até a morte de cruz, assumir espontaneamente o lugar mais ignóbil que um homem poderia aceitar, o lugar de maldição. E o fez sem levar em conta que era Deus (e nunca deixou de ser Deus!), não julgando que o fato de ser Deus pudesse ser usado em benefício próprio, e fosse algo de que não pudesse abrir mão, em benefício da redenção espiritual do homem.

Se o Senhor Jesus Cristo agiu assim, priorizando a esse ponto a criatura humana, como não agirmos também da mesma forma, adotando a prática do amor para com o próximo, priorizando-o, mesmo em detrimento dos nossos interesses mais próximos e humanamente importantes. O amor ao próximo inclui solidariedade ativa, altruísmo manifesto, desprendimento aprazível dos nossos próprios interesses, para favorecer, antes de tudo, o nosso próximo, tão carente dessa nossa manifestação de amor.

A priorização do nosso semelhante, evidenciada pelo exercício abnegado de nosso amor verdadeiro, é o modo pelo qual cumpriremos bem a nossa responsabilidade de cristãos. Afinal, como já vimos, é mandamento grande e primeiro do Senhor, amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, mandamento que, não por acaso, se repete inúmeras vezes na Palavra de Deus!

O Senhor Jesus ilustrou bem essa necessária atitude do verdadeiro cristão, ao contar a parábola do bom samaritano (Lucas 10:29). Nessa história interessante, o Senhor respondeu ao interprete da Lei, que O interrogou, para se justificar, sobre quem seria o seu próximo, após dEle ouvir que devia amar o próximo como a si mesmo. Realçou o Senhor a atitude do samaritano, que agiu movido pelo amor, priorizando o seu próximo, passando por cima de circunstâncias que justificariam, no caso, a sua natural insensibilidade pela necessidade do mesmo. Não foi o que fizeram o sacerdote e o levita (ilustrando a religiosidade vã que não prioriza o homem, na sua necessidade espiritual, mas os seus imediatos interesses), embora deles era de se esperar que fizessem exatamente o que o estranho samaritano fez. A recomendação peremptória do Senhor foi: “Vai e procede tu de igual modo”. Ajamos de acordo com essa recomendação do Senhor.

3. Levar o próximo ao exercício sincero da fé cristã - Toda realização humana tem como alvo um “bom resultado” a ser alcançado. O amor de Deus para conosco tem propósito bem definido. Assim o declara João: “para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

No exercício do nosso amor para com o próximo deve-se sempre almejar um “bom resultado”, sob pena de se tornarem infrutíferos a nossa atitude e o nosso esforço. A nossa responsabilidade, nesse caso, se cumpre plenamente, quando o exercício do nosso amor ao próximo alcançar o “bom resultado” de levá-lo à fé cristã. Levado por nós a Cristo, encontrará o caminho direto e seguro para a conquista da nova vida nEle, no exercício de fé sincera e fundamentada na Palavra.

Paulo testifica da sua atuação pessoal no ministério, quando afirma: “Pois o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14) referindo-se à tremenda responsabilidade que sentia de ser instrumento de bênção para os que estavam longe do Senhor e sem a convicção da Salvação, trazendo-os à fé cristã que opera eficazmente. Chama a isso o “ministério da reconciliação”, consistente em toda a Obra de Redenção, ou seja, a morte de Jesus Cristo por todos, “para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (v. 15). Que sublime alvo o de Paulo, constrangido pelo amor! Diz-se embaixador em nome de Cristo, como se Deus falasse por seu intermédio (v. 20), no exercício sublime do ministério da reconciliação do homem com Deus, ministério que Deus lhe entregou (v. 18).

Ele afirma, mais, que Deus lhe confiou a palavra da reconciliação (v. 19). Mostra o seu ardente desejo de “bom resultado” do exercício do seu amor ao próximo, rogando ao Senhor a reconciliação dos que buscou alcançar com o seu precioso ministério (v.20b).

Paulo testemunha assim o bom cumprimento da sua responsabilidade, a de levar o seu próximo, pelo exercício do seu amor por ele, ao resultado necessário e abençoado da fé cristã. Procuremos também fazer do exercício do nosso amor ao próximo um instrumento adequado para a regeneração do pecador, cumprindo a responsabilidade que a condição de cristãos nos incumbe.



III – O MUNDO COMO SISTEMA PECAMINOSO – DEVEMOS REJEITÁ-LO, VIVENDO EM SANTIDADE

1. Conceito básico

Consideramos, até agora, o mundo em dois conceitos diferentes: como “espaço terrestre” por nós ocupado, no qual nos cumpre testemunhar do Evangelho, e como “o nosso próximo” a quem devemos amar.

Vejamos agora o mundo como o “sistema pecaminoso”, ampla e fortemente atuante na experiência da realidade existencial do homem. Foi arquitetado habilidosamente, infiltrado e estabelecido sorrateiramente na Terra por Satanás, para influenciar negativamente o comportamento do homem, e levá-lo a se conduzir contra a vontade de Deus, para longe dEle e à perdição eterna.

Um ardiloso esquema para a destruição dos valores morais e espirituais do ser humano atuou com sucesso desde o início da criação, conseguindo, numa gestão enganosamente hábil, abalar a credibilidade da criatura no Seu Criador, levando-a à desobediência e à consequente separação e à alienação de Deus. A consequência foi trágica, pois o homem, além de despojado daqueles valores, viu também anulada a possibilidade de ser instrumento da realização dos Seus propósitos, razão da sua existência. Além disso, perdeu a vida eterna que possuía, consequência pré-estabelecida por Deus, pelo cometimento voluntário do seu pecado, ficando sujeito, como justo e merecido castigo, à morte física, espiritual e eterna.

Trágica situação por causa do sucesso conseguido por Satanás na execução do seu sistema pecaminoso. E continua ele a atuar maldosamente, operando eficazmente seu diabólico sistema para a desgraça e degradação do ser humano, até e enquanto o Senhor lhe permite. O Senhor Jesus referiu-Se a essa sistemática ação diabólica e ao seu agente, o Diabo, que chamou de ladrão, nestes termos: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir” (João 10:10). A Bíblia diz mais: “O mundo inteiro jaz no maligno” (1 João 5:19), reportando-se ao fato de que o ser humano está sob a ação perniciosa do maligno. Cuidemos para que não nos atinja e nos prejudique espiritualmente!

2. Consciência das realidades opositoras, produzidas pelo “sistema pecaminoso”

A melhor estratégia do inimigo para derrotar o seu adversário é fazê-lo ignorar a sua existência e os seus artifícios cuidadosamente sistematizados para a ação destruidora. Anulada a consciência da existência do inimigo e do seu ardiloso sistema de ação, tem este o caminho fácil para dominar e derrubar o adversário, agindo de forma sub-reptícia, surpreendendo-o e apanhando-o desprevenido, sem recursos de defesa.

Devemos, pois, estar bem conscientes das realidades opositoras à nossa realidade espiritual, para que não sejamos apanhados de surpresa e cheguemos ao vexame de acachapante derrota na vida espiritual, imposta pelo inimigo mor de nossas almas: Satanás!

Infelizmente, vivemos época de um cristianismo anêmico e pouco interessado quanto a essas verdades consagradas nas Escrituras. É lamentável ver-se uma total indiferença quanto à necessidade da consciência das realidades opositoras à nossa realidade espiritual, por parte de muitos cristãos e, até, de lideranças evangélicas, o que resulta em inevitável e deplorável derrota na vida espiritual. Chegam alguns até, em reprovável tom de deboche, a negar a existência de Satanás, que é o que ele mais deseja que aconteça, para favorecê-lo na ação perniciosa de envolver os cristãos em seu sistema pecaminoso e derrotá-los fulminantemente.

Vejamos as três realidades opositoras das quais devemos ter consciência, para não sermos envolvidos pelo sistema pecaminoso administrado por Satanás. Na verdade os três aspectos se relacionam estreitamente e compõem o referido sistema pecaminoso.

1. Consciência da realidade satânica - Como acima já afirmamos, o que mais Satanás quer é que o ignoremos, inclusive a sua própria existência, e, como já dissemos, há os que negam a própria existência de Satanás. É lamentável! Isso serve bem à maldosa intenção do inimigo de afetar negativamente a nossa espiritualidade. A realidade satânica é abundantemente explicitada nas Escrituras. Do Gênesis ao Apocalipse deparamo-nos com ele, pessoal ou figuradamente, agindo perniciosamente para “matar, roubar e destruir”, com artifícios eficientes do seu sistema pecaminoso.

É denominado nas Escrituras como “adversário”, “caluniador”, “sedutor”, “astuto” e até como “anjo de luz”. Manifesta-se das mais diversas formas, como pessoas, animais, coisas etc., disfarçando-se de várias maneiras, para poder se aproximar e atuar com sucesso. Adota meios de atuação diversificados que mistificam e enganam, com os recursos ignóbeis de ciladas e ardis. Pedro nos adverte que “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando para devorar” (1 Pedro 5:8).

Já vimos acima que Senhor Jesus o identifica como “ladrão” que “vem somente para roubar, matar e destruir”. Temos exemplos na Bíblia de sua atuação envolvendo pessoas, com clara intenção de desmoralizá-las e derrotá-las em seus bons propósitos. O Senhor Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou, para vos peneirar como trigo!” (Lucas 22:31). Referiu-Se ao fato de que O haveria de negar, o que aconteceu (Lucas 22:54-62). O Senhor identificou Satanás falando pela boca de Pedro, quando este O reprovou por falar sobre Sua morte e ressurreição, dizendo-lhe: “Arreda, Satanás” (Mateus 16:23). Lemos em Lucas 22:3 que “Satanás entrou em Judas”, referindo-se à decisão deste de trair Jesus Cristo.

A realidade satânica está sobejamente provada nas Escrituras. Não podemos ignorá-la para que não sejamos vítimas do sistema pecaminoso urdido e administrado por Satanás.

2. Consciência da realidade carnal – Em que pese termos nascido de novo e agora sermos uma nova criatura, não podemos ignorar que continuamos com a velha natureza. A Bíblia nos ensina que há três condições possíveis na realidade humana: o “homem natural”, aquele que ainda não nasceu de novo; o “homem espiritual”, que nasceu de novo e não vive na carne que ainda está nele; e o “homem carnal”, o que nasceu de novo, mas não vive no Espírito, mas na carne.

A realidade carnal é claramente afirmada na Palavra de Deus. Paulo escrevendo aos cristãos de Corinto diz-lhes: “não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo” (1 Coríntios 3:1). Adiante escreve: “Porquanto havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”.

A carnalidade nada mais é do que a cobiça de nossos desejos e paixões da carne. Pedro refere-se aos que o Senhor reserva, sob castigo, para o Dia do Juízo, declarando-os como aqueles que, segundo a carne, andam em imundas paixões (2 Pedro 2:10). Em Romanos 7:18, Paulo fala que na sua carne não habita bem nenhum, pois querer o bem estava nele, não, porém, o efetuá-lo. Em Romanos 8:8, ele afirma que os que estão na carne não poderão agradar a Deus.

Todos esses textos dão-nos a convicção da realidade carnal, que faz parte do sistema pecaminoso ministrado por Satanás. Não podemos, pois, ignorá-la, para não darmos lugar para o diabo agir.

3. Consciência da realidade mundana – A realidade mundana é também ingrediente muito bem manipulado por Satanás para nos emaranhar no sistema pecaminoso e nos anular espiritualmente.

Tiago ensina: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?” (Tiago 4:4). Está aí bem definida a condição do mundano: Infiéis! Ser mundano é adotar no nosso comportamento, que deve ser espiritual, a maneira de viver do próprio mundo, com os seus métodos e atitudes pouco recomendáveis, inteiramente incompatíveis com os que decorrem da agência do Espírito. Agir de conformidade com o mundo é ser inimigo de Deus.

Fujamos do porte mundano que forma no sistema pecaminoso, articulado e administrado por Satanás, em detrimento de nossa espiritualidade.



I


3. A santidade prática afasta-nos do sistema pecaminoso

A santidade é fundamental para que a Igreja exerça, com resultado eficiente, a sua gloriosa missão no mundo. É uma área, pouco levada a sério, nos dias de hoje, quando suportamos terrível pressão que o contexto em que estamos metidos nos impõe. A poluição moral do mundo é intensa e afeta, seriamente, a santidade necessária da Igreja, através de todos os meios de informação disponíveis.

Paulo, em Efésios 5:25-27, refere-se à Igreja dizendo: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”. A santidade é assunto muito importante em todas as Escrituras.

É mandamento inescusável do Senhor que devemos ser santos porque Deus é Santo, registrado tanto no Velho como no Novo Testamento (Levítico 11:44-48; 1 Pedro 1:14-16). “Deus é Santo, Santo, Santo...” (Isaías 6:3), e não usa os que não sejam santos! O desafio do Senhor, no Salmo 24:3-4, continua válido: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração”.

1. O que santificação não é!

Afastamento de seres humanos (João 17:15) - O Senhor nos envia a pregar no mundo (Marcos 16:15). Não podemos viver isolados (1 Coríntios 5:9-10); temos que viver no mundo sem sermos contaminados pelo mundo (João 17:15; 1 João 2:15-17).

Conformação com certo padrão de vida (Colossenses 2:16-23) - O budismo, o confucionismo e outras ideologias ou formas religiosas consistem em doutrinas com conteúdo filosófico moralista, mas nem por isso são santas consoante o conceito bíblico de santidade.

Abstinências de certas comidas ou bebidas - Obediência às regras ou ritos de formalismo religioso (Gálatas 4:8-10; 6:15). A fonte de santificação do cristão não é o “legalismo”! Paulo condena os ensinadores falsos que querem impor à igreja regras e regulamentos que não conduzem à santificação (Colossenses 2:8-15).

Manifestações ruidosas ou emotivas e beatices - Consoante se constata em 1 Tessalonicenses 4:1-7, a santificação tem a ver com a nossa postura ética, moral e espiritual (condições do “ser” interior) e não com as levianas e até hipócritas manifestações exteriores de religiosidade vã, flagrantemente contraditórias com a nossa postura de vida diária. Essa falta de autenticidade não condiz com a necessária santidade.

2. O que é santificação?

No seu sentido primário a santificação consiste em “separação” e “dedicação”. “Separação” de tudo o que é comum e profano (mundano). “Separação” para Deus, o que significa “dedicação”. Alguns exemplos históricos referentes ao povo de Israel: dias (Deuteronômio 5:12); casas ou campos (Levítico 27:14-22); objetos (Êxodo 29:37; Deuteronômio 30:25-29); pessoas ou animais (Êxodo 13:2; 29:44; Levítico 11:43-45). O ato de separar exige, necessariamente, purificação. Esse conceito primário da santificação tem aplicação clara na experiência da santificação do cristão.

Deus quer que o cristão seja absolutamente separado do pecado (2 Coríntios 7:1) e de toda a forma de mal e, ao mesmo tempo, que cada um seja um vaso de honra apropriado para o Seu uso e a realização plena da Sua soberana vontade (2 Timóteo 2:21; Romanos 12:1-2).

No sentido posicional todo o verdadeiro cristão é santo de Deus. Destacamos alguns aspectos da santificação posicional: É ato soberano de Deus, mediante a obra de Cristo (Hebreus 10:9-10); o cristão verdadeiro é santificado em Cristo (1 Coríntios 1:2); o cristão verdadeiro é santificado por vocação divina (Romanos 1:7; Hebreus 3:1); a santificação posicional independe de nossas falhas ou imperfeições pessoais (1 Coríntios 3:1-3, conforme 6:11). Isso não significa liberdade para andarmos como queremos, há necessidade da santificação prática.

No sentido prático, a santificação é resultante da operação constante da Graça de Deus na nossa vida (1 Tessalonicenses 4:1-7), quando lhe abrimos espaço para uma verdadeira e efetiva experiência da plenitude do Espírito Santo (Efésios 5:8). Em 1 Tessalonicenses 4:1 Paulo usa a expressão “continueis progredindo cada vez mais”, o que nos leva a perceber o aspecto progressivo da santificação, que é operada pela graça do Senhor, mas que implica, necessariamente, na nossa disposição de vontade e atitude sincera de permissibilidade da ação do Senhor, operadora da santificação. Paulo fala também nesse texto da relação da nossa santificação com a “vontade de Deus” (v. 3).

Somos chamados para a santificação prática (também chamada de “santificação progressiva”). A santidade prática é que nos afasta do sistema pecaminoso e é operada, eficientemente, através das seguintes atitudes seriamente adotadas pelo cristão: pela busca de progressiva manifestação de semelhança a Cristo (2 Coríntios 3:18); pelo andar humilde, obediente e agradável a Deus (Filipenses 2:5-8; 1 Tessalonicenses 4:1); pela obediência à Sua Palavra (João 17:17; 1 Pedro 1:14-15, 22, 25); pela atitude constante e eficiente da separação do pecado e da rendição pessoal, integral e incondicional a Deus, para a realização da Sua vontade (Romanos 5:11-14, 19-22; 12:1-2); pela ocupação pessoal com o Senhor (2 Coríntios 3:18 conforme João 16:26; 16:13-14).

4. A responsabilidade da igreja ou do cristão perante o mundo para repulsar o seu sistema pecaminoso

Vamos considerar três atitudes essenciais para o efetivo cumprimento da responsabilidade de repulsa frontal ao mundo, como sistema pecaminoso:

1. Não amar o mundo - Lemos em 1 João 2:15-17... “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa bem como a sua concupiscência, aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.

O mundo é o sistema organizado e dirigido por Satanás, caracterizado por rejeitar a Deus e opor-se a Ele. Embora Deus ame o mundo no que diz respeito aos seres humanos (João 3:16), os cristãos não devem amar aquilo que leva os seres humanos a organizar-se contra Deus (1 João 5:19; João 3:10; Tiago 1:27; 4:4). Quem ama o mundo manifesta clara ausência do amor do Pai nele, o que o torna vulnerável ao seu envolvimento com o sistema satânico. O amor ao mundo, como sistema pecaminoso, designa, de maneira especial, os que se opõem à vontade de Deus (v. 17) e inclui todas as realidades que podem fazer com que as pessoas se afastem de Deus.

O texto distingue três modos diferentes de envolvimento com o amor ao mundo: 1. Concupiscência da carne, aquilo que tem por base a nossa natureza pecaminosa, voltada totalmente para as coisas da “carne” e não do “Espírito”. É o desejo de “fazer” o que apetece à carne; 2. Concupiscência dos olhos, aquilo que, com frequência, conduz à ganância e à cobiça, o desejo de “ver” que estimula a prática pecaminosa; 3. Soberba da vida, que é a presunção, a ostentação ou a vangloria em relação aquilo que se possui. O termo grego aí traduzido por “vida” também pode ser traduzido por “riquezas”, referindo-se aos bens materiais e a tudo aquilo que pode dar lugar à ostentação e ao orgulho. É o desejo desmedido de “possuir”.

Não amemos o mundo, como sistema pecaminoso organizado e agilizado ardilosamente por Satanás, repulsando-o, firmemente, pela prática constante da santidade.

2. Não se conformar com o mundo - Paulo nos exorta, em Romanos 12:1-2... “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Esse notável apelo à consagração de vida é dirigido aos cristãos (como também se vê em 1 Coríntios 6:19-20 e em Tiago 4:7), “pelas misericórdias de Deus”, que é tudo o que ele expôs nos capítulos anteriores da epístola. A expressão ”apresenteis” refere-se a uma decisão categórica (veja Romanos 6:13) e se constitui em atitude fundamental e indispensável para a experiência de uma vida santificada, repulsiva do sistema pecaminoso gerido por Satanás. A expressão “sacrifício vivo” é usada em contraste com os sacrifícios dos animais mortos e demonstra a importância e o alto valor da atitude a ser assumida pelo cristão. A expressão “culto racional” tem o sentido de “inteligente”, “sensato” e “ponderado”.

O alvo do texto é o de levar o cristão a não se conformar com o mundo, como sistema pecaminoso. A expressão “não vos conformeis” significa não viver de acordo com o estilo ou a tendência da era presente. A única outra ocorrência da expressão grega no Novo Testamento se encontra em 1 Pedro 1:14, onde o apóstolo exorta a não nos amoldar às paixões tidas anteriormente, na ignorância.

A expressão “transformai-vos” refere-se a um contínuo processo de mudança, que ocorre de dentro para fora. Essa mesma palavra é usada para a transfiguração de Cristo (Mateus 17:2) e, também, em 2 Coríntios 3:18, referindo-se à nossa transformação de glória em glória, ou seja de um grau de glória para outro superior, como resultado de nossa contemplação constante da glória divina de Cristo. A “mente” deve ser o centro dessa transformação, como se vê em Efésios 4:23 e em 2 Coríntios. A expressão “experimenteis” tem importância fundamental no texto, pois define o resultado abençoado do cristão que não se conforma com o mundo. Tem o sentido de “averiguação”. A dedicação dá ao cristão a capacidade de discernir a vontade de Deus, que é o resultado final de não se conformar com o mundo.

Não nos conformemos com o mundo, como sistema organizado e agilizado por Satanás, repulsando-o, firmemente, na prática constante da santidade.


 


4. A responsabilidade da igreja ou do cristão perante o mundo para repulsar o seu sistema pecaminoso (continuação)

3. Equipar-se espiritualmente - Faz-se mister que nos equipemos adequadamente com os recursos espirituais que o Senhor nos fornece, para repelirmos as investidas satânicas na gerência do seu sistema pecaminoso.

Em Gálatas 5:16, Paulo nos indica o forte recurso que o Espírito Santo representa e nos exorta: “Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”. Em Efésios 6:10-18, Paulo oferece sete equipamentos indispensáveis ao exercício vitorioso da repulsa ao sistema pecaminoso satânico. No versículo 10 recomenda que nos fortaleçamos no Senhor e na força do Seu poder. Do Senhor é que nos advêm todos os recursos espirituais necessários ao sucesso nessa dura luta em que estamos empenhados, e somente nEle é que encontraremos a força e o poder necessários para a vitória. A vida cristã autêntica é uma guerra permanente contra um inimigo sagaz, insinuante, ardiloso e dissimulador, portador de amplos e vigorosos recursos de combate constante.

Por isso, como afirma Paulo, devemos nos revestir de toda a armadura de Deus (v. 11). Paulo, no versículo 12, esclarece sobre as características da luta em que estamos empenhados, e as do nosso inimigo voraz, afirmando que a nossa luta é contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Ele reafirma, no v. 13, a exortação de que devemos tomar toda a armadura de Deus, para que possamos resistir no dia mau e, depois de termos vencido tudo, permanecermos inabaláveis! Nos versículos 14 a 18 seguem os sete equipamentos espirituais que o Senhor nos oferece:

1. “Cingindo-vos com a verdade” – O Senhor Jesus Cristo é a verdade absoluta (João 14:6) em que nos firmamos para refutar, firmemente, as aleivosas e mentirosas insinuações verbais de que se utiliza o inimigo para nos desviar dos alvos de Deus para o nosso viver.

2. “Vestindo-vos da couraça da Justiça” – É a roupagem com que somos vestidos, que garante a eficácia da nossa justificação, pelo sangue de Jesus Cristo (Romanos 5:1). A alva vestidura da nossa Santidade posicional, que a Graça Redentora nos confere, é irremovível e nos coloca imune às investidas acusatórias do inimigo, frustrando-lhe as perniciosas intenções de nos condenar perante Deus (Romanos 8:31-39).

3. “Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz” - A evangelização, com a qual estamos irreversivelmente comprometidos, de forma intensa e constante, constitui-se em força poderosa e invencível, na conquista dos perdidos para o reino de Deus, pois a mensagem do Evangelho é o poder de Deus para salvar o que crê (Romanos 1:16).

4. “Embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” – A nossa resistência torna-se inexpugnável, pois é garantida pelo exercício correto da fé ativa (confiança no Senhor); é a vitória que vence o mundo, pois apaga totalmente todos os dados inflamados do maligno (1 João 5:4).

5. “Tomai também o capacete da salvação” – É a segurança irreversível da salvação eterna (João 1:12; 1 João 5:12-13), obtida pela Graça que resulta da riqueza da misericórdia de Deus e do Seu grande amor com que nos amou (Efésios 2:4-8).

6. “A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” – A Palavra de Deus, inspirada que é pelo Espírito Santo, opera viva e eficazmente para ensinar, repreender, corrigir e educar na justiça o homem de Deus, capacitando-o para toda a boa obra (2 Timóteo 3:14-17 e Hebreus 4:12).

7. “Com toda a oração e súplica, orando em todo o tempo no Espírito e para isso vigiando com toda a perseverança e súplica por todos os santos” – A vigilância e a oração são exercícios espirituais nos quais devemos nos aplicar permanente e resolutamente todo o tempo, com toda a perseverança e por todos os santos (Mateus 26:41; Filipenses 4:6-7; 1 Pedro 5:8), atitudes que nos impedem de cairmos em tentação e em desastrosa ansiedade e de sermos tragados pela ferocidade do inimigo. O uso adequado desses equipamentos espirituais constitui-se em segurança incontestável da vitória de todo cristão na inevitável guerra contra Satanás. Paulo afirma: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31); “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37); “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 15:57). João acrescenta ao ensino de Paulo: “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5:4).

Equipemo-nos espiritualmente de forma adequada, com todos os recursos espirituais que o Senhor nos concede, para obtermos a vitória da nossa fé, repelindo a perniciosa atuação satânica, ao pretender nos envolver com o seu sistema pecaminoso. Isso só será possível se procurarmos viver em santidade.

CONCLUSÃO

Ficou claro, à luz da Palavra de Deus, como nos é possível cumprir fielmente a responsabilidade como Igreja, ou como cristãos perante o mundo, considerado em três conceitos bíblicos distintos:

1. Como espaço terrestre que ocupamos, devemos ser testemunhas do Evangelho a todos os que ocupam esse espaço, de forma resoluta, permanente e eficientemente: instruindo-nos com o Evangelho; proclamando fielmente o Evangelho; vivendo corretamente o Evangelho.

2. Como o nosso próximo, devemos amá-lo: valorizando-o; priorizando-o; buscando levá-lo à fé cristã.

3. Como sistema pecaminoso, gerenciado por Satanás, devemos repulsá-lo: vivendo em santidade; não amando o mundo; não nos conformando com o mundo; equipando-nos com os equipamentos espirituais.

Creio que é chegada a hora de AGIR!

Não basta o conhecimento intelecto-teológico de todos os conceitos e princípios aqui desenvolvidos. Inútil será todo o tempo gasto com repetidos seminários, congressos, simpósios ou outros eventos, nos quais as constatações frustrantes são reiteradamente lamentadas e as propostas e os projetos são oferecidos à consideração, amplamente discutidos e deliberados como soluções viáveis, mas sem a necessária aplicação prática na vida da Igreja e de cada cristão.

Não bastam projetos, planos e discursos que ficam apenas no papel! Passemos à atuação humilde, firme, resoluta e constante dos conceitos e princípios bíblicos que informam o cumprimento correto de nossa responsabilidade perante o mundo. É preciso que nos apliquemos, como cristãos responsáveis, com determinação e seriedade, na prática do nosso viver diário de cada um desses conceitos e princípios expostos!

Só assim cumpriremos com fidelidade a nossa responsabilidade perante o mundo. A Deus, toda a glória!

autor: Jayro Gonçalves.