O governo da igreja local (16)

Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue”

IV. QUALIFICAÇÕES DOS PRESBÍTEROS

21 – Prosseguindo na última qualificação: apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder para exortar pelo reto ensino, como assim, para convencer os que contradizem (Tito 1:9).

Nas “epístolas pastorais”, o Evangelho é incorporado dentro da “mensagem paulina ortodoxa” por isso que essa é a “palavra” que precisa ser defendida. Neste ponto ela é descrita como “fiel”.

Esta é a mensagem “digna de confiança”, a mensagem “certa”, da qual podemos depender no tocante ao nosso bem estar espiritual e salvação. O que Paulo está a enfatizar é que o apego deve ser ao seu ensino firmemente alicerçado na mensagem de Jesus Cristo, a Paulo transmitida por revelação, ou seja, revestida de “autoridade divinal”.

Paulo alinha esta qualificação tendo em vista a polêmica contra os gnósticos, à época, os quais tinham introduzido uma ”palavra estranha” uma mensagem “indigna de confiança”. Tal coisa pode ser confrontada com as “sãs palavras” mencionadas em 1 Timóteo 6:3, onde a mesma mensagem é a medida, embora com o uso de expressões diferentes.

Afirma, mais, Paulo, que o apego à Palavra deve ser “segundo a doutrina”. A palavra “doutrina” no original grego é “ditache” que significa “ensinamento”, isto é, tanto o ”ensinamento” em si como “o ato de ensinar”, a “instrução”.

Naturalmente Paulo está aludindo à doutrina cristã ortodoxa conforme a sua interpretação.  Devemos lembrar que era ele o instrumento do Senhor para nos transmitir o correto ensinamento dogmático.

A mesma palavra “doutrina” aparece em 2 Timóteo 4:2, traduzida do vocábulo no original grego sinônimo: “didaskalia”, termo este que é muito mais comum nestas epístolas paulinas (1 Timóteo 1:10). Em Tito 1:9 a palavra parece ter o sentido de “ato de ensinar”. Por isso mesmo trata-se de uma palavra firme que concorda com os “ensinamentos” recebidos.

Esta “palavra fiel”, precisa estar fundamentada sobre a “instrução” que outros receberam do ministro fiel Paulo (2 Timóteo 2:2). O uso reiterado que Paulo fez do termo em suas epístolas indica a essencialidade da defesa da “ortodoxia“ do seu ensino em oposição aos assaltos que a heresia gnóstica fazia contra a igreja cristã. O presbítero deve estar bem fundamentado para este difícil mister nos nossos dias, defendendo a pureza da doutrina contra as investidas dos erros tão em voga.

Já examinamos, portanto, a primeira parte desse texto “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina”. Vamos a ligeiras considerações sobre a segunda parte: “de modo que tenha poder assim para exortar pelo reto ensino, como para convencer os que contradizem”.

A característica dos hereges era possuir a forma exterior da piedade, mas não o poder prático da mesma. É o que Paulo mostra em 2 Timóteo 3:5... “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. O verdadeiro ministro, munido da sã doutrina, prega uma mensagem revestida de poder. Deve ser “capaz” de exortar e convencer; então, sua mensagem será autêntica e eficaz em contraste com a mensagem dos hereges. Será “capacitado” para o trabalho que lhe compete fazer.

Nesse texto é usada a expressão grega “dunatos eime” com o sentido de “dunamai”, isto é “ser capaz” , “ser capacitado para realizar” alguma tarefa ou algum dever. Calvino disse: “O pastor deveria ter duas vozes: uma para reunir as ovelhas e a outra para espantar e expulsar os lobos e os ladrões”. O exercício desse poder apontado pelo apóstolo visava em primeiro lugar “exortar”.

O termo no original grego é “parakaleo”, usado cerca de cento e oito vezes no Novo Testamento, com as ideias de “consolar” e “exortar”.

No texto em Tito, sob exame, a ”exortação” está em foco, especialmente, para a repreensão das heresias confundindo os hereges para convencê-los e convertê-los a Cristo. A exortação só terá eficácia se for feita através do reto ensino. Trata-se da “doutrina sã” que promove vida e bem espiritual.

A mesma expressão Paulo usa em outras passagens como em 2 Timóteo 1:13... “mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouvistes”; 2 Timóteo 4:3... “pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina”; Tito 2:1... “tu, porém, fala o que convém à sã doutrina”. Toda a “exortação” cristã deve ser feita mediante o uso dessa sã doutrina, ficando negadas as inovações dos hereges.

Em segundo lugar, o exercício do poder mencionado objetivava “convencer”. No grego é “elegcho” e significa “reprovar”, isto é, mudar a ideia através da reprovação. Vejamos 2 Timóteo 4:2... “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”; também a palavra pode significar “repreender”; veja Tito 1:13... “repreende-os, para que sejam sadios na fé”; 2:15... “repreende com toda a autoridade”.

O convencimento deve ser o resultado da reprovação e repreensão. É o que Paulo descreve como atitude assumida através desse processo em 2 Timóteo 2:25-26, a saber: “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda, não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se ele dos laços do diabo, tendo sido feito cativo por ele, para cumprirem a sua vontade”. A “exortação“ e o “convencimento”, com base na verdadeira doutrina, produzem esses notáveis resultados.

“Os que contradizem” são os que “falam contra”, “opõem-se e repelem”. No trecho é uma referência direta aos gnósticos que se opunham às doutrina paulina, com a suas doutrinas infundadas. A principal preocupação deles era contradizer os ensinamentos cristãos normais em seus sermões zombeteiros, menosprezando o valor do ensino cristão como inferiores.

Os mestres gnósticos eram orgulhosos de seu suposto elevado conhecimento. Os que têm liderança nas igrejas têm grande responsabilidade em adotar esta qualificação anotada pelo apóstolo Paulo, como meio de preservação da saúde espiritual do rebanho que o Senhor lhes confiou.

F I M 

autor: Jayro Gonçalves.