O princípio e as condições que regem o serviço cristão

Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segunda a sua boa vontade

Filipenses 2:13

O primeiro dia de maio é comemorado no Brasil como o dia do trabalho. O trabalho é fundamental para a realização dos propósitos e para as conquistas das aspirações do ser humano. Não se concebe a vida humana sem o trabalho, pois é através dele que o homem se realiza obtendo os recursos essenciais para a sobrevivência sua e dos que estão sob sua tutela.

Não poder trabalhar torna-se um grande problema e a razão de muita desgraça. Deus criou o homem para ser ativo, envolvendo-o com o trabalho para a realização do Seu programa na terra, onde o colocou, e alcançar, com os resultados do seu serviço fiel e dedicado, as bênçãos do Senhor na gratificante experiência da felicidade plena (Gênesis 1:28-29; 3:17-19; Salmo 104:23; Provérbios 21:25).

Vivemos época sobremodo problemática pela falta de trabalho, o que vem acarretando sérias, danosas e traumáticas consequências no seio da sociedade, como a fome, a miserabilidade, a violência e a devassidão no comportamento humano, nas várias áreas da convivência social. O panorama que o cenário carente de trabalho nos oferece é tristemente deplorável!

Trabalhar para ser feliz é a grande lição da Bíblia, corroborada pela própria natureza, no que respeita à vida natural. Mas é, também, o ensino que a Palavra de Deus oferece à nova criatura, quanto à vida espiritual. Paulo ensina: “somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Efésios 2:10).

A salvação, pela Graça, é mais do que uma concessão de benefícios espirituais (e sem dúvida o é), mas é, principalmente, o meio pelo qual Deus nos capacita a podermos servi-Lo e glorificá-Lo com a fidelidade e a consagração do nosso ser. É através de nosso dedicado e correto serviço cristão que abrimos o portal das bênçãos com as quais o Senhor nos quer aquinhoar.

Em Filipenses 2:12-18 Paulo nos oferece adequada lição sobre o assunto, registrando o princípio que rege o serviço cristão e as condições para que o mesmo funcione a contento. A aplicação correta desse princípio, respeitadas as referidas condições, nos trará a abençoada convicção de que “não corremos em vão, nem nos esforçamos inutilmente” (v.16). O versículo 13 consubstancia o precioso princípio do serviço cristão autêntico:  

 

A)    No serviço cristão o que vale não é a imposição do nosso “querer” nem a manifestação do nosso “realizar”. Deve ser sim, e sempre, o reflexo total do “querer” do Senhor e a evidência inconfundível do “fazer” de Deus.  Em outras palavras, quando realmente servimos ao Senhor, é Ele Quem atua ATRAVÉS DE NÓS.  Veja João 15:5... “sem mim nada podeis fazer”.

 

B)    O propósito de Deus, ao nos remir pela Sua Graça, foi o de NOS CAPACITAR PARA NOS USAR, exclusivamente, “segundo a sua boa vontade”. A vontade de Deus, e não a nossa, deve manifestar-se soberana no nosso serviço cristão. O Senhor Jesus afirmou: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15:16).

 

C) O Senhor somente atua quando PERMITIMOS QUE ELE OPERE EM NÓS através do Espírito Santo que em nós habita. Em Romanos 12:1-2, Paulo nos ensina essa grande verdade: “que apresenteis os vossos corpos... para que experimenteis a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Veja 1 Coríntios 6:19-20.

Encontramos no texto (Filipenses 2:12-18) sete condições que se tornam indispensáveis no serviço cristão, e que devem, necessariamente, ser adotadas em nosso comportamento, para que o princípio mencionado no versículo 13 efetivamente funcione:  

 

1.     Como sempre obedecestes” (v. 12) – Como já vimos todo o nosso serviço cristão deve estar submetido totalmente ao querer do Senhor. Isso implica em OBEDIÊNCIA. O programa de trabalho é, sempre, dEle e não nosso. Não há como servi-Lo sem obedecê-Lo. Assim sempre ocorreu, no relato bíblico, com todos os servos do Senhor. Veja o notável exemplo de Abraão mencionado em Hebreus 11:8 (“Abrão, quando chamado, obedeceu”. A verdadeira “obediência” (evidência exterior da vontade do Senhor) deve pressupor, necessariamente, a “submissão” (acatamento interior da vontade do Senhor). Ser submisso significa estar sob a “vocação” do Senhor no que fazemos ou no que somos.

 

2.     Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor(v. 12) – A salvação não é apenas uma situação estática, obtida pela fé na manifestação da maravilhosa graça de Deus. Não é, apenas, a segurança da eternidade. Não é, somente, um passaporte para os céus. Tornamo-nos uma nova criatura, como salvos, para vivenciar dinâmicas e notáveis experiências de nível espiritual, resultantes da atuação do Espírito Santo, que em nós habita. Revestidos do temor e de tremor, devemos permitir que essa preciosa salvação, que conquistamos pela manifesta Graça de Deus, se desenvolva em nós através da abundante e plena atuação do Espírito (Efésios 5:18-20). Não sejamos cristãos estáticos, mas dinâmicos, evidenciando uma SALVAÇÃO OPERANTE, alcançada, somente, pela manifestação permanente da plenitude do Espírito.

 

3.     “Fazei tudo sem murmurações e contendas(v. 14) – Os desentendimentos e as discórdias frustram o sucesso das realizações. O serviço cristão é o trabalho mais honroso que é dado ao homem fazer. Deve ser realizado em plena HARMONIA com os que dele participam, ativa ou passivamente. Quem nos compromete com ele é o Senhor e não os homens!  Mas atrapalhamos tudo e anulamos os bons resultados que o Senhor nos quer conferir por agirmos, no contexto do serviço cristão, com murmurações (falando mal uns dos outros), frontalmente condenada pelo Senhor, e com contendas, Veja: Filipenses 4:2 (“Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor”); atente, também, para 2:1-4.

 

4.     Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros (puros)... inculpáveis(v. 15) – As três expressões usadas aí por Paulo definem a condição essencial para o exercício do serviço cristão: SANTIDADE. Deus recusa o serviço dos que o fazem com mãos sujas (Salmo 24:3-4). Deus é Santo e exige santidade aos que O servem. 1 Pedro 1:15... “segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento”. O texto consagra três expressões que descrevem, no comportamento do cristão, a evidência da santidade: 1. “irrepreensível” – Aquele que nada faz que possa ser objeto de repreensão; 2. “sincero” (tem aí o sentido de “puro”) – Aquele que não tem evidência de contradições (sem misturas que lhe tiram a condição de autêntico) e de falsidades no comportamento; 3. “inculpável” – Aquele de quem nada se pode falar contra, porque nada faz que mereça censura. São três expressões que configuram a SANTIDADE, notável qualificação do verdadeiro serviço cristão.

 

5.     Resplandeceis como luzeiros no mundo(v. 15) – Temos a afirmação do imprescindível TESTEMUNHO POSITIVO que deve se manifestar no serviço cristão, já que o contexto em que vivemos é de uma “geração pervertida e corrupta”. É no meio desse contexto pervertido que devemos manifestar um testemunho positivo, resplandecendo como luzeiros no mundo. A metáfora “luz”, ilustrando essa condição do autêntico serviço cristão, foi usada pelo Senhor Jesus quando afirmou: “assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, PARA QUE VEJAM AS VOSSAS BOAS OBRAS e glorifiquem ao vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:16).

 

6.     Preservando a palavra da vida(v. 16) – Essa expressão referencia a indispensável FIDELIDADE que deve haver no serviço cristão, em relação aos solenes ditames da Palavra de Deus. Ela é a “palavra da vida” e só ela norteia corretamente o nosso porte servindo ao Senhor, no mais amplo sentido, pois, com diz o salmista “lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos” (Salmo 119:105). Tal atitude é fundamental para que possamos ser aprovados pelo Senhor quando tivermos, na Glória, o nosso serviço, feito aqui, sob a Sua solene avaliação, como diz o texto: “para que, no dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente”.

 

7.   Alegrai-vos” (v. 18) – ALEGRIA é um dos aspectos do fruto do Espírito (Gálatas 5:22) e deve manifestar-se em todo o serviço cristão em que nos envolvemos. Antes de exortar a que ajamos com ALEGRIA no exercício do serviço cristão, Paulo destaca isso na sua própria atitude, como digno exemplo de servo de Deus, afirmando: “mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, ALEGRO-ME e, com todos vós, me congratulo” (v. 17). Quando Paulo escreveu essas palavras estava preso e sofrendo por ser fiel servo do Senhor. E a grande mensagem que transmite aos cristãos é de que exercitem a ALEGRIA no serviço do Senhor, não importando as circunstâncias, mesmo que sejam tremendamente adversas, como ocorria no seu exemplo. Que notável exemplo!

 

 CONCLUSÃO – Estamos comprometidos com o Senhor para servi-Lo, não temos como nos escusar desse propósito divino, mas devemos levar em conta o que Paulo nos ensina, no texto meditado, relativamente ao princípio que rege o serviço cristão e as condições que permitem o seu efetivo funcionamento.

autor: Jayro Gonçalves.